quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Crônica de Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão.

O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo... Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam.

Então?

Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome. Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário.

Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a maior vocação para príncipe encantado, e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita de boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara? Não pergunte para mim. Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém.... Com um currículo desse, criatura, por que diabo está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é!

Autor: Roberto Freire

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Ondas cerebrais de alta frequência garantem noites mais tranquilas

Fonte: Revista Mente&Cérebro

Fusos do sono são responsáveis por permanecermos
adormecidos mesmo em locais barulhentos

© lasse kristensen/shutterstock

Algumas pessoas dormem tão profundamente que não conseguem acordar nem com o despertador. Outras sofrem com o sono leve, despertando com qualquer ruído. Na tentativa de entender essa diferença, o neurologista Jeffrey Ellenbogen, da Universidade Harvard, descobriu que o ato de dormir mesmo com barulho está relacionado a ondas cerebrais. Trabalhos anteriores haviam mostrado que, quando as pessoas dormem, o tálamo – uma estrutura que conecta as áreas superiores do pensamento com imagens e sons – produz ondas cerebrais curtas e de alta frequência chamadas fusos do sono. Em sua pesquisa, Ellenbogen levantou a hipótese de que essas ondas bloqueavam os sons do ambiente enquanto as pessoas dormiam. O cientista e integrantes de sua equipe acompanharam 12 voluntários saudáveis durante três noites enquanto dormiam em um laboratório do sono. Na primeira noite, mediram a atividade do sono enquanto os participantes dormiam sozinhos em quartos silenciosos. Na segunda e terceira noites, bombardearam-nos com gravações de barulhos como a descarga do vaso sanitário, telefones tocando e pessoas conversando. Os ruídos eram repetidos cada vez mais alto, até que a pessoa acordasse. E retomados assim que ela adormecia.

Os cientistas descobriram que quanto maiores são os fusos do sono mais há chances de alguém permanecer adormecido, apesar do som. Comparados com os que apresentaram poucos fusos na primeira noite, os que produziram muitos tinham de ser expostos a barulhos cada vez mais altos para acordar. Como essa produção diminui com a idade, a descoberta pode explicar por que as pessoas mais velhas frequentemente sofrem de insônia.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Profissão: A Importância da Escolha_6/6

por Luiz Arnaldo Stevanato

Professor universitário, consultor de RH e psicólogo

Matéria dividida 6 postagens, nos dias 15, 17, 19, 22, 24 e 26 de Agosto.


Fim do trabalho. E a identidade?

A última fase do ciclo de carreira/trabalho é bastante dedicada pelo impacto que tem sobre a pessoa como um todo É o momento dedo desligamento da carreira, ou pós-trabalho como está sendo chamado atualmente. Aqui a grande tarefa é (re)aprender a manter a identidade de a auto-estima, mesmo sem desempenhar o papel profissional a que se acostumou ou mesmo sem o status de antes.

Nesta fase, as pessoas costumam fazer uma avaliação da sua vida profissional, procurando compreender qual foi seu significado dentro da existência. É como se a pessoa se perguntasse: “Porque realizei estas coisas? Qual a importância disso tudo para a minha vida? Valeu a pena?”

Assim o trabalho mostra, de forma explícita, a sua função de foco orientador da existência. Nesta etapa da vida, dos 60 anos em diante, a busca do indivíduo é pelo seu senso de integridade e pela convivência tranqüila com os outros e consigo mesmo.

Famosas últimas palavras

Uma carreira gratificante não é obra do acaso, tão pouco existe sorte. Ela é fruto de escolhas inteligentes e muitas vezes corajosas. Demanda a solução das dúvidas na hora certa, a elaboração das perdas e a realização das mudanças necessárias. Uma carreira bem resolvida e plena se significado dá às pessoas a certeza de que valeu a pena ter sido vivida.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Profissão: A Importância da Escolha_5/6

por Luiz Arnaldo Stevanato

Professor universitário, consultor de RH e psicólogo

Matéria dividida 6 postagens, nos dias 15, 17, 19, 22, 24 e 26 de Agosto.


Etapas de vida e objetivos profissionais

O projeto profissional afeta a existência em toda sua extensão. Não basta ao adolescente equacionar as suas dúvidas vocacionais, para que todo problema da identidade ocupacional esteja resolvido.

Na verdade, a carreira profissional é um problema que acompanha a pessoa por toda a vida, sendo que, em que cada etapa de vida mudam as questões, que solicitam decisões, em relação à carreira profissional.

Edgard Schein, psicólogo e pesquisador americano, afirma que cada pessoa pode ser concebida como existindo num mundo no qual há múltiplas questões e problemas para serem resolvidos. Segundo este pesquisador, para os ocidentais, existiriam três categorias básicas de problemas.

Aqueles que derivam de processos biológicos e sociais, os ligados às relações familiares e o terceiro derivaria do trabalho e da carreira. O ciclo trabalho/carreira envolveria assim, desde as primeiras imagens ocupacionais, a escolha vocacional pelo adolescente, depois os vários estágios da vida no trabalho com suas crises e mudanças e, finalmente, aposentadoria, que não precisa significar o fim do trabalho, mas que coloca novas questões sobre a careira.

Em nossa cultura ocidental, existe um complexo sistema de classificação etária, onde a cada categoria corresponderia um conjunto de expectativas. Assim, é esperado que a criança seja impulsiva e descompromissada. Do adolescente, espera-se que seja confuso e que esteja ansioso para atingir a idade adulta. Já os adultos devem ser responsáveis quanto às suas obrigações profissionais e familiares. E os velhos devem aceitar a diminuição da sua capacidade física e reduzir o nível de suas responsabilidades.

Em relação a carreia profissional podemos afirmar que existem ciclos, que variam de pessoa para pessoa, mas que de modo geral, apresentam problemas gerais e tarefas específicas. O adolescente enfrenta problemas para se auto-explorar e conhecer sues interesses, necessidades e habilidades. Deve desenvolver uma base realística para fazer uma escolha vocacional.

Uma vez resolvida a questão vocacional, o jovem deve começar a se preocupar em obter formação e treinamento adequado para a ocupação que escolheu. Ao completar seu ciclo básico de formação e treinamento, cabe ao jovem escolher como irá ingressar no mercado de trabalho. É o ritual de passam para o mundo adulto. Deve fazer uma avaliação sincera das oportunidades e dos seus pontos fortes e fracos, procurando traçar um plano de carreira de longo prazo, que leve em conta seus sonhos e ambições profissionais, bem como informações sobre sua ocupação em particular.

Mais à frente, o profissional deverá fazer uma reavaliação da sua trajetória, procurando “medir” o quanto conseguiu alcançar daqueles objetivos que traçou para ele mesmo. Aliás, deve reavaliar seus objetivos, talvez eles tenham mudado, talvez os seus valores enquanto pessoa tenham mudado. Esta seria uma etapa para se redimensionar o projeto profissional o que ocorreria por volta dos 30-35 anos. É nesta fase que tomamos consciência de modo bastante claro da finitude da vida. Por isso é fundamental reavaliar as opões de carreira, para poder escolher o que realmente for importante.

A fase seguinte poderia ser chamada de “crise do meio da carreira” (midcarrer crises). Esta fase começaria aos 45 anos. É um período de crise, mas não significa que seja desprazeroso, muito menos improdutivo. Pelo contrário, neste período atinge-se o ponto máximo de conhecimento e habilidades do papel profissional. Nesta fase, as pessoas costumam avaliar o que conseguiram realizar em termos profissionais e muitas vezes se descobrem insatisfeitas. Surge uma preocupação com outras esferas da vida e com a relação que estas mantém entre si. A pessoa passa a questionar o quanto seu papel profissional ajudou ou prejudicou outros papéis como de marido, esposa, pai ou mãe. É uma fase propicia a mudanças na vida profissional e pessoal, mas são mudanças com vistas a compromissos mais estáveis ou até definitivos. Funciona como uma preparação para a fase seguinte.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Profissão: A Importância da Escolha_4/6

por Luiz Arnaldo Stevanato

Professor universitário, consultor de RH e psicólogo

Matéria dividida 6 postagens, nos dias 15, 17, 19, 22, 24 e 26 de Agosto.



O papel dos objetivos profissionais

Existem vários instrumentos que podem auxiliar no processo de tomada de decisão sobre a carreira. Os inventários de interesse, planos de ação e matrizes de auto-percepção, etc., servem para tornar mais claro e organizado o processo de reflexão, elaboração e escolha profissional. Um dos papéis mais importantes destes instrumentos é o de facilitar a definição dos objetivos do projeto profissional e dos passos intermediários.

Frequentemente, as pessoas perguntam qual a finalidade de fazer planos e estabelecer objetivos para a vida profissional? Vejamos. Temos de reconhecer que o nosso tempo de vida consiste no recurso mais escasso de que dispomos. De fato, morrer não se coloca, exatamente, como uma opção. A morte é um dos únicos momentos da existência humana, onde nossa decisão não terá influência sobre a existência. Normalmente, não escolhemos quando morrer, muito menos temos o direito de escolher não morrer.

Então, se a existência é finita e nosso tempo escasso, por princípio, devemos escolher estabelecendo prioridades. Esta é uma das tarefas mais difíceis.

Todo orientador profissional já passou pela situação de atender a um adolescente que, na dúvida do que fazer, escolhe várias ocupações incompatíveis. Este seria um traço de onipotência do adolescente, que de alguma forma, o livraria da tarefa de escolher.

Escolher significa de devemos abortar as outras opções que foram preteridas. É esta responsabilidade que assombra ao adolescente e, mesmo, aos adultos.

Quando falamos em definir os objetivos do projeto profissional, queremos dizer que se deve

1º) escolher, dentre todos, os objetivos realmente significativos

2º) estabelecer uma ordem de prioridade entre eles

3º) definir as estratégias e as alternativas para tentar alcançá-los.

Os três passos, descritos acima, representam uma simplificação esquemática do trabalho de planejamento de carreira. O processo é muito mais complexo e sinuoso, do que faz supor este esquema.

O importante é que a pessoa faça um trabalho de reflexão, onde ela explore os seus interesses, valores e necessidades em relação ao trabalho. Além dessa auto-exploração do universo interior, o sujeito deve procurar elaborar as perdas pelas opções preteridas, bem como investigar a viabilidade técnica e econômica do seu projeto profissional. Este trabalho, de planejamento de carreira, trata maior clareza aos seus objetivos e, consequentemente, a pessoa se sentirá mais autoconfiante para tentar realizá-los.

Concluindo, o grande papel dos objetivos profissionais não está baseado tanto na certeza de sua execução, mais muito mais, no seu caráter motivador intrínseco que inspira as pessoas. O sentimento de auto-realização advém muito mais do percurso trilhado para realizar um objetivo, que do simples fato de atingi-lo.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Profissão: A Importância da Escolha_3/6

por Luiz Arnaldo Stevanato

Professor universitário, consultor de RH e psicólogo

Matéria dividida 6 postagens, nos dias 15, 17, 19, 22, 24 e 26 de Agosto.




Autonomia e limites para escolher

Existem condições concretas de vida, como mercado de trabalho, a posição social, o nível de educação formal etc, que impõe limites à liberdade de escolha ocupacional do indivíduo. Mas estes limites não invalidam o princípio da liberdade de escolha do indivíduo. Eles apenas definem a base real, dentro da qual o sujeito irá fazer suas escolhas profissionais Mesmo os limites dessa base real não são rigidamente definidos. Além destes limites concretos, existe uma outra ordem de problemas que recaem sobre o processo de escolha: são as dificuldades pessoais.

Uma vez que as decisões sobre a carreira só podem ser tomadas pelo indivíduo, toda a responsabilidade pelas consequências destas decisões, também pesam sobre ele. Para alguns chega a pesar de tal forma, que a solução encontrada é não tomar decisão alguma. Assim, muitas pessoas procuram “empurrar com a barriga” seu problemas profissionais. Acreditando que não tomando decisões também estariam livres das consequências. Porém, eles se esquecem que não tomar numa decisão importante também significa fazer uma escolha. E isto terá suas consequências.

Se uma pessoa está insatisfeita com seu trabalho atual, por achar que ele não oferece oportunidades e desafios condizentes, ela deveria procurar uma outra alternativa profissional. Mas, como é muito frequente, este pessoa argumenta consigo mesma que o mercado de trabalho está difícil e que no emprego atual ela já está bem integrada, logo decide deixar uma decisão sobre uma provável mudança para “mais tarde”.

Outro exemplo, bastante comum entre adolescentes é do indivíduo que deixa de escolher uma profissão que ele deseja muito, pela qual alimenta uma verdadeira paixão, para se dedicar a uma profissão que é valorizada pelos pais, pelos amigos, ou ainda porque dizem que paga muito bem.

O ponto em comum desses dois exemplos é que, em ambos, as pessoas não tomaram as decisões que lhes caberia, por medo das consequências, insegurança, etc., ou seja, recusaram-se a assumir a autoria das suas escolhas, condenando-se a viver de uma modo inautêntico.

Heidegger, outro filósofo existencialista, afirma que o vier de modo inautêntico leva o homem a agir de acordo com o que dizem que é certo ou errado, obedecendo a ordens e proibições, sem indagar suas origens e motivações. Lê o que todos Lêem, come o que todos comem, segue este ou aquele modismo (profissão?) que dizem mais conveniente. O homem inautêntico torna-se homem-massa, alheia-se a si mesmo.

Este viver inautêntico, em termos profissionais, condena as pessoas a trabalhos sem significado existencial, onde elas nunca encontram paixão, nem conseguem se reconhecer enquanto autores da sua obra, perdendo uma de sua s maiores oportunidades de se desenvolverem enquanto seres humanos.

Além do que, não existe nada pior do que sofrer as consequências de uma decisão que não reconhecemos como nossa. Deixando que os outros escolham por ele, o indivíduo será responsável, ainda que não queira, pelas consequências dessas decisões.

Por estes motivos é que a liberdade da escolha profissional deve ser encarada como um dos problemas mais sérios da vida das pessoas. Importante acrescentar que mesmo pessoas que têm vivido de modo inautêntico podem retomar a autoria da sua existência pessoal e profissional, desde que estejam dispostas a assumir as responsabilidades que este projeto impõe. Muitas vezes, isto só é possível com a ajuda de um profissional terapeuta ou orientador profissional. Eles não tomarão decisões pela pessoa, o que seria repetir a mesma inautenticidade, mas colaboram para tornar o processo mais fácil e consciente, na medida do possível.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Profissão: A Importância da Escolha_2/6

por Luiz Arnaldo Stevanato

Professor universitário, consultor de RH e psicólogo

Matéria dividida 6 postagens, nos dias 15, 17, 19, 22, 24 e 26 de Agosto.



O processo de escolha

Talvez seja um dos momentos mais difíceis e decisivos na vida de uma pessoa aquele no qual ela faz uma opção de carreira. Tal decisão, como bem o sabemos, terá consequências para toda sua vida.

Mas a escolha profissional não é apenas um momento localizado e sim um processo complexo, que envolve basicamente três etapas e começa por:

a) envolver adolescentes na definição de uma carreira, este processo de escolha terá continuidade quando:

b) ele for tomar a decisão de como iniciar sua carreira, qual será sua área de especialização (Direito Civil ou Tributário, Psicologia Clínica ou Escolar, etc) ou por onde começar a trabalhar (em que tipo de instituição). E mais ainda,

c) em todos os momentos que uma decisão importante em relação a carreira for tomada, lá estará o indivíduo fazendo escolhas.

Este processo de escolha irá acompanhá-lo por toda a sua vida.

A escolha como um processo fundamental na constituição da identidade do ser humano é um dos t5emas que mereceu a mais aprofundada reflexão filosófica, notadamente do pensador existencialista Jean Paul Sartre. Para ele, a escolha é o fundamento

da liberdade. Porque pode escolher, o ser humano é livre. E a liberdade é a qualidade que define o ser humano.

Uma pedra não escolhe ser uma pedra, mas o ser humano decide se vai ser corajoso ou covarde, engenheiro ou médico. Um tigre é um tigre, não lhe é dada outra opção. Já o homem torna-se ser humano, em função da sua liberdade de escolha.

Para o filósofo, é através da liberdade que o homem escolhe o que há de ser, escolhe sua essência e busca realizá-la. É a escolha que faz, entre as alternativas com que se defronta, que constitui sua essência. E é esta escolha que lhe permite criar seus valores. Não há como fugir a essa escolha, pois mesmo a recusa em escolher já é uma escolha.

Para o existencialismo não existe uma essência anterior à existência que determine ao indivíduo o que fazer, o que escolher. Mas é justamente o ato da escolha que definirá a essência ou a identidade do homem. A cada momento, o homem tem de escolher aquilo que será no instante seguinte. O homem deve ser inventado todos os dias, afirma Sartre.

Na medida em que o indivíduo vai fazendo suas escolhas profissionais, ele vai desenvolvendo a sua chamada identidade ocupacional. E esta identidade ocupacional constitui uma parcela importante da identidade ou personalidade como um todo. Assim, ao fazer escolhas profissionais o indivíduo estará escolhendo o que ele deseja ser como pessoa.

A forma que o indivíduo escolhe para se inserir no mundo do trabalho é cheia de significado existencial, porque ela aponta a maneira como o homem escolheu para se relacionar com os outros homens, com a natureza e com o mundo em geral.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Profissão: A Importância da Escolha_1/6

por Luiz Arnaldo Stevanato

Professor universitário, consultor de RH e psicólogo

Matéria dividida 6 postagens, nos dias 15, 17, 19, 22, 24 e 26 de Agosto.

A escolha da carreira profissional é um dos momentos mais importantes da vida humana. Através de seu trabalho o ser humano s manifesta, se define e se desenvolve.

Sem trabalho toda vida apodrece. Mas, sob um trabalho sem alma, a vida sufoca e morre” (Albert Camus)


Definitivamente o trabalho ocupa um papel de destaque na existência humana. A realização profissional mantém uma estreita relação com a realização pessoal. Por outro lado, uma vida profissional desprazerosa, muito provavelmente estará associada a uma existência pobre de sentido. Seja como fonte de prazer ou sofrimento, o Trabalho ocupa importante posição de foco orientador da existência humana. Muito da identidade do indivíduo é dado pelas opções profissionais que ele faz.

Em seu sentido positivo, o trabalho se constitui como o meio privilegiado de expressão da humanidade. É através do trabalho que ela tenta realizar seus desejos e seus sonhos. O trabalho permite ao ser humano imprimir sua marca na história e na cultura. E é através do trabalho que a humanidade constrói o que convencionamos chamar de civilização.

Um simples vaso de barro feito por um artesão de uma antiga civilização quando é descoberto por uma arqueólogo, é percebido como um símbolo da inteligência e da ação transformadora do homem, que é capaz de deixar suas marcas para além da sua fugaz existência individual.

Da mesma forma que as descobertas arqueológicas dizem muito sobre as antigas civilizações, as opções em termos de carreira dizem muito sobre o indivíduo. Ao decidir por uma profissão ele está escolhendo o meio privilegiado através do qual irá expressar seus valores e habilidades, bem como satisfazer suas necessidades.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Beber muita cerveja aumenta o risco de câncer de estômago

Quem costuma abusar da cerveja tem um novo motivo para mudar seus hábitos. Cientistas descobriram que bebedores frequentes de cerveja ​​têm mais chances de desenvolver câncer no estômago, principalmente se eles possuírem uma determinada variante genética.

Pessoas que bebem de duas a três cervejas por dia durante muitos anos possuem um risco 75% maior de câncer gástrico. Quem tem a variante de gene chamado rs1230025, mesmo não sendo bebedor contumaz, é 30% mais propenso a sofrer da doença em comparação com pessoas que bebem menos de uma cerveja diariamente, segundo o estudo.

“Por sua vez, quem é bebedor crônico de cerveja e ainda ​​possui o rs1230025 corre um risco 700 vezes maior de desenvolver câncer de estômago em comparação com as pessoas sem a variação do gene que consomem menos de um drinque por dia”, afirma Eric Duell, epidemiologista do Instituto Catalão de Oncologia, em Barcelona, ​​Espanha. A variação do gene é comum e está presente em cerca de 20% da população em geral, informa.

Vinho e licor não parecem trazer os mesmos riscos, lembra Duell.

“O câncer parece estar mais ligado ao álcool especificamente da cerveja”, diz. Isso pode ocorrer porque bebedores contumazes são mais propensos a exagerar na cerveja do que em outras bebidas alcoólicas.

Os resultados são correlacionados, ou seja, existe uma relação entre o ato de beber cerveja e o risco de câncer de estômago, mas não se chegou à conclusão de que um causou o outro ou se há outro fator desconhecido na história.
Duell e seus colegas analisaram o consumo de álcool de 521 mil pessoas entre 35 e 70 anos que faziam parte da Perspectiva de Investigação Europeia em Câncer e Nutrição entre os anos de 1992 e 1998. Os pesquisadores observaram se os participantes do estudo consumiam vinho, cerveja ou outras bebidas alcoólicas regularmente, bem como a localização e a severidade do câncer de estômago, se houvesse.

Descobriu-se que as pessoas que consumiam mais de 60 gramas de álcool (o equivalente a quatro ou cinco cervejas) por dia tinham um risco 65% maior de desenvolver a doença no período do estudo do que pessoas que consumiam regularmente de 0,1 a 4,9 gramas de álcool por dia (menos de uma cerveja).

Quando os pesquisadores observaram puramente o consumo de cerveja (em vez do consumo de álcool em geral), o risco de câncer foi ainda mais alto. O mesmo aconteceu no caso de quem bebia muito e ainda contava com a variante genética rs1230025.

O câncer de estômago causou 10.570 mortes nos Estados Unidos ano passado e geralmente atinge pessoas com 65 anos ou mais, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer. Uma em cada 114 pessoas serão diagnosticadas com o câncer em algum momento de sua vida.

Os pesquisadores não sabem ao certo porque só a cerveja parece aumentar o risco de câncer gástrico, e o vinho ou licor, não. Entretanto, eles acreditam que seja uma combinação de maior consumo de cerveja do que vinho ou licor, com uma substância cancerígena específica, que é produzidas quando a cerveja é metabolizada.

Quando o álcool é metabolizado no organismo, uma substância cancerígena conhecida como acetaldeído é produzida. A cerveja, em particular, também contém níveis de uma substância cancerígena animal chamada de N-nitrosodimetilamina (NDMA). A exposição prolongada tanto ao acetaldeído quanto ao NDMA, através do hábito diário de beber cerveja, pode desempenhar um papel no risco de câncer gástrico, Duell explica.

“Por causa destes riscos, as pessoas devem evitar o consumo pesado de álcool, embora o consumo de leve a moderado seja aceitável”, diz.
Em seguida, Duell e seus colegas esperam fazer pesquisas adicionais para encontrar mais variantes do gene que pode ter um efeito sobre o risco de câncer de estômago.

Fonte: UNIAD

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Casamento

por José Ângelo Gaiarsa


O segredo da felicidade


Não dá para pensar num casamento feliz para todo o sempre. O segredo da felicidade é perceber quando ela chega na nossa vida, e aproveitá-la até que esse momento se esgote.

Casamento não foi feito para amor nem pra felicidade

O casamento foi feito para impedir o desenvolvimento das pessoas. Criança desenvolve, adolescente desenvolve, e depois você fica maduro e aí não muda mais… Pais e mães não podem se desenvolver muito, sair de casa, procurar cursos, não podem. Em todas as civilizações conhecidas o adulto é tido como o ideal da educação, a criança tem que se tornar igual ao adulto, e aí ela está educada… Isso é um horror!!! Casamento não foi feito para amor nem pra felicidade, mas para garantir o patrimônio e a continuidade do patriarcalismo, porque criança não tem direito nenhum.

Casamento

Casei cinco vezes e diria que um casamento que dura de quatro a sete anos pode ser interessante, dependendo da pessoa, circunstâncias e tudo mais. A segunda: hoje o que eu consideraria ideal, eu diria que é poder ter duas, três, quatro mulheres, amigas, eventualmente coloridas, e elas também terem dois, três, quatro homens. Eu acho que era a solução. Mesmo os bons amigos você não tem vontade de ver sempre. Há certos dias em que você diz: “Ih! Se ele vier aqui hoje vai ser um saco”. E quando se está casado é a mesma coisa.

Autor: José Ângelo Gaiarsa

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Vovó e vovô sem sede? Eles precisam de água!

de Conceição Lemes*

23 de janeiro de 2011 às 18:00



Sempre que a vovó ou o vovô têm confusão mental, duas hipóteses atemorizam os familiares: será tumor na cabeça ou mal de Alzheimer?

Na imensa maioria dos casos não é nem um nem outro”, afirma o clínico geral Arnaldo Lichtenstein, do Hospital das Clínicas de São Paulo, professor colaborador do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP e um dos especialistas entrevistados no livro Saúde — A hora é Agora (leia no pé deste texto). “Os principais responsáveis são diabetesdescontrolado, infecção urinária e família que passa o dia inteiro no trabalho, no shopping ou no clube, fora de casa.”

Parece brincadeira, mas não é. Constantemente vovó e vovô não têm sede e deixam de tomar líquidos. Como não há gente em casa para lembrá-los, desidratam-se com rapidez. E a desidratação no idoso tende a ser grave, afetando todo o organismo. Pode causar confusão mental abrupta, queda de pressão arterial, aumento dos batimentos cardíacos (“batedeira”), angina (dor no peito), coma e até mesmo morte.

Impossível?! Não. Ve ja por quê:

• Ao nascermos, 90% do nosso corpo é constituído de água. Na adolescência, isso cai para 70%. Na fase adulta, para 60%. Após os 60 anos, temos pouco mais de 50% de água. Isso faz parte do processo naturalde envelhecimento. Portanto, de saída, os idosos têm menor reserva hídrica.

• Mas há outro complicador. Mesmo desidratados, eles podem não sentir vontade de tomar água, pois os seus mecanismos de equilíbrio interno funcionam menos.

• Explicamos. Nós temos sensores de água em várias partes do organismo. São eles que verificam a adequação do nível. Quando o nível cai, esses detectores acionam automaticamente o “alarme”. Pouca água significa menor quantidade de sangue, de oxigênio e de sais minerais circulando nas nossas artérias e veias. De imediato, então, o corpo “pede” água. Essa informação é passada ao cérebro, a gente sentesede e sai em busca de líquidos. Nos idosos, porém, esses mecanismos atuam menos.

A detecção de falta de água corporal e a percepção de sede estão diminuídas. Alguns ainda, devido a certas doenças, como artrose avançada, evitam se movimentar até para tomar água.

• Resultado: os idosos desidratam-se facilmente não apenas porque possuem reserva hídrica menor, mas também porque sentem menos sede. Além disso, para ter desidratação grave, eles não precisam de grandes perdas — por exemplo, diarreias, vômitos ou exposição intensa ao sol. Basta o dia estar bastante quente ou a umidade do ar baixar muito. Nessas situações, perde-se mais água pela respiração e suor e, se não houver reposição adequada, é desidratação na certa. Mesmo que o idoso seja saudável, essa perda prejudica o desempenho das reações químicas e das funções de todo o organismo.

“Por isso, vovós e vovôs, se habituem a beber líquidos”, alerta Lichtenstein. Por líquido entenda-se água, sucos, chás, água de coco, leite. Sopa, gelatina e frutas ricas em água (melão, melancia, abacaxi, laranja e mexerica) também funcionam como líquido. O importante é, a cada duas horas, botar algum líquido para dentro. Lembrem-se disso!

O segundo alerta de Lichtenstein é para os familiares. Ofereçam constantemente líquidos aos idosos da casa. Lembre-lhes de que isso é vital. Ao mesmo tempo, fiquem atentos. Ao perceberem que eles estão rejeitando líquidos e, de um dia para outro, ficam confusos, irritadiços, fora do ar, atenção. É quase certo que esses sintomas sejam decorrentes de desidratação. Líquido neles e rápido para um serviço médico.

****

* O doutor Arnaldo Lichtenstein é clínico geral, médico do Hospital das Clínicas de São Paulo, professor colaborador da Faculdade de Medicina da USP e um dos 70 profissionais de saúde entrevistados por esta repórter para o livro Saúde — A Hora é agora, do qual é coautora.

Meu twitter: @conceicao_lemes, siga à vontade.

Fonte: Vi o Mundo

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A dor da alma dói no corpo_3/3

por Laura Ming

Qual é o risco de não tratar a dor na depressão?

Enorme. É grande a probabilidade de o doente entrar em um círculo vicioso infernal. O cérebro funciona graças a uma rede precisa de conexões, em que um circuito depende de outro. Na depressão, alguns desses circuitos funcionam mal, o que leva à falta de vitalidade, aos problemas de sono e à dor, entre outros sintomas. Se apenas parte desses circuitos é tratada, é grande o risco de o circuito doente prejudicar o equilíbrio dos outros. E quanto mais o tempo passa, pior. Os circuitos responsáveis pela sensação de dor são diabólicos. Se não forem cortados, eles se fortalecerão. É como um músculo. Se usamos a musculatura, ela enrijece. Do contrário, atrofia. Uma pessoa que sente dor durante muito tempo tem circuitos de dor viciados e terá mais dificuldade de ser tratada.

Há casos em que o tratamento se torna inviável?

Para metade dos pacientes que me procuram, os remédios já não funcionam. É tarde demais: a área cerebral responsável por receber a informação de dor está danificada. É como se os circuitos cerebrais da dor estivessem “queimados”. A medicina ainda não descobriu como reverter esse quadro. O máximo a que se chegou até hoje foi uma redução no desconforto causado por essa dor.

Mas diminuir os sintomas já não é um avanço?

Na psiquiatria, um medicamento que apresente melhora de 50% dos sintomas já é aprovado pra tratamento. Nossa meta, contudo, deve sempre ser 100%. Do contrário é como se um médico se desse por satisfeito ao transformar a pneumonia de um paciente em tosse crônica. A depressão é uma doença tão complexa que nos habituamos a buscar apenas a diminuição dos sintomas. Com os antidepressivos mais modernos, em muitos casos, já conseguimos livrar o doente de todos os sintomas. Buscar a remissão da depressão é alinhar a psiquiatria com o resto da medicina.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A dor da alma dói no corpo_2/3

por Laura Ming

Qual a diferença na manifestação da dor decorrente de um quadro depressivo e dos outros tipos de dor?

Nenhuma. Ela pode se manifestar de várias formas – como a provocada por uma gastrite, cefaléia ou lesão muscular. A sensação é a mesma, mas, quando procuramos o que há de errado no organismo do paciente, não encontramos nada. Apesar de se manifestar em determinada região do corpo (ou nele todo, como acontece em boa parte dos casos) a dor física da depressão está no cérebro do paciente, onde é processada equivocadamente. Dadas as suas características, muitas vezes, o paciente não acredita quando o médico diz que aquele sofrimento físico pode ser sintoma de depressão. A dor causada pela depressão é muito semelhante à chamada dor-fantasma, comum entre os amputados. Uma pessoa que perdeu a perna, por exemplo, pode sentir o pé doer. Isso acontece porque os circuitos da medula espinhal, responsáveis pela transmissão dos estímulos entre o pé e o cérebro, ainda estão lá, funcionando. A percepção da dor é no pé – e não no cérebro.

Analgésicos, portanto, não resolvem o problema.

Não. Esses remédios funcionam bem para uma dor de dente, por exemplo. Normalmente, o cérebro envia estímulos nervosos pela medula espinhal para inibir as sensações consideradas irrelevantes. Não percebemos, por exemplo, quando piscamos ou estamos digerindo o almoço. Existe a sensação, mas o cérebro a interpreta como inútil, não a processa e, portanto, não a sentimos. Quer ver outro exemplo desse mecanismo cerebral? Se eu levar um tiro e precisar fugir, só vou sentir dor quando estiver a salvo. O organismo me protege contra essa dor em defesa da minha sobrevivência. Essa inibição é resultado de um processo químico que se intensifica em situações de emergência. Na depressão, esse processo fica enfraquecido. Ou seja, o paciente sente dor sem que haja estímulo doloroso.

Do ponto de vista evolucionista, até determinado grau, a dor é útil por funcionar como um alerta para o organismo de que algo não vai bem. A dor não teria também essa função na depressão?

Não. O que acontece é que, muitas vezes, por causa da dor, o paciente procura ajuda médica. Quando o especialista tem em mente que esse pode ser um sintoma de depressão, ele pode faze o diagnóstico correto, depois de descartar outras causas possíveis. Em geral, o sofrimento emocional é carregado de estigma. As pessoas têm vergonha de admitir suas angústias e aflições. Parece mais digno dizer que está com dor no pescoço do que dizer que a vida perdeu o sentido. O problema é que a maioria dos médicos não foi treinada para enxergar além da queixa física. Mesmo os psiquiatras têm dificuldade de perceber o que está acontecendo. Em geral, os psiquiatras tem medo da dor física porque não sabem o que fazer com ela. Eles precisam entender que isso faz parte da depressão.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A dor da alma dói no corpo_1/3

Matéria da Revista Veja – edição 221 – ano 44 – nº 14, de 06 de abril de 2011 - págs. 100/101, dividida em 3 partes, nos dias 01, 03 e 05 de Agosto.

por Laura Ming

Há 30 anos, motivado pelas queixas constantes de seus pacientes, o psiquiatra americano Stephen Stahl, de 59 anos, professor da Universidade da Califórnia, decidiu estudar a relação entre dor física e depressão. Apesar de acometer até 80% dos doentes, um problema raramente á associado ao outro. Especializado em neurologia e farmacologia, ele se dedica a desvendar (e tentar reverter) o desequilíbrio cerebral que faz com que a vida dos deprimidos seja ainda mais penosa. Stahl esteve em São Paulo recentemente para dar uma palestra sobre depressão e dor para médicos brasileiros.

Nessa ocasião, falou a VEJA:

Quando foi estabelecida a relação entre depressão e dor?

No dia a dia dos consultórios, percebíamos que os pacientes deprimidos se queixavam muito de dor – de todos os tipos e intensidades. Vejo isso desde o início da minha carreira, nos anos 80. Por muito tempo, no entanto, eu interpretei essas reclamações como uma fantasia dos doentes. Tenho uma formação acadêmica extensa, especializei-me em neurologia e farmacologia. Olhava para essas queixas com muita desconfiança. Conforme fui me aprofundando nos estudos sobre o cérebro e os circuitos cerebrais, comecei a perceber que estava totalmente enganado. Entendi que os neurotransmissores (substâncias químicas responsáveis pela comunicação entre os neurônios) envolvidos nos quadros depressivos estavam associados também à sensação de dor e poderiam ser afinados com medicamentos, tal qual um músico afina seu instrumento. Fiquei com muita vergonha ao descobrir que as queixas de meus pacientes eram reais. Em meados dos anos 90, surgiram os antidepressivos com ação em seretonina e noradrenalina (neurotransmissores associados à sensação de bem-estar). Pudemos perceber então que os pacientes relatavam uma melhora no quadro da dor. Essa é a prova de que algumas dores são decorrentes do mau funcionamento dos neurotransmissores. Hoje tento passar esse aprendizado para os médicos mais jovens, para que eles não cometam o mesmo erro que cometi no passado. É assim que a medicina funciona, mudando paradigmas.

Por que até hoje o diagnóstico da dor física associada à depressão é tão difícil?

Nos manuais de medicina, os sintomas da depressão são os seguintes: perda de vitalidade ou de interesse pela vida, dificuldade de concentração, sentimento de culpa, problemas de sono (excesso ou falta dele), pensamentos ou atos suicidas, fadiga, alterações de apetite e peso (tanto ganho quanto perda), comprometimento da habilidade psicomotora (agitação ou lentidão). Nenhum deles está associado à dor. Se um paciente me procura reclamando de insônia, tristeza e dor, não adianta nada eu só tratar a insônia e a tristeza, como a maioria dos psiquiatras faz. O conceito de remissão, de cura completa, prevê o desaparecimento de todos os sintomas depressivos. Oito de cada dez pacientes com depressão moderada ou grave apresentam algum tipo de dor, em maior ou menor grau. Ou seja, estamos falando de milhões de pessoas em todo o mundo que não se recuperam do quadro depressivo completamente, porque continuam a sentir um sintoma que não é reconhecido como do âmbito da doença.