sexta-feira, 29 de junho de 2012

Onde foram parar os Neuróticos?_3/3


Benedict Carey (The New York Times)
Tradução de: Celso Parciornik

Internet A mudança cultural pela qual passamos pode explicar os números. Hoje, jovens são inundados por confissões pessoais e pela disponibilidade cada vez mais pública de quase todo pensamento - via Facebook, Twitter e outras mídias sociais. Se a postagem crônica em Facebook e Twitter não é um exercício de neurose, então não é nada.

Além disso, características atribuídas a neuróticos foram normalizadas, diz Peter N. Stearns, historiador da Universidade George Mason em Virgínia. “Nos tornamos tão acostumados a pessoas com preocupações constantes que isso ficou obsoleto”.

O neurótico clássico continua entre nós, claro – mas com mais companhia. Mais razão, segundo Stearns, para preservar essa palavra que amplia a definição de normal no melhor da tradição americana – preserva a privacidade, num momento em que pode ser muito importante fazê-lo.

O historiador Edward Shorter argumenta que em alguns casos, como desconectar distúrbios de ansiedade da depressão, a precisão falha. Tristeza e preocupação são parceiras íntimas para muitas pessoas que visitam psiquiatras e os medicamentos conhecidos como antidepressivos são amplamente receitados para ansiedade também.

O termo neurose abarca a ambos e precede Freud em um século. Ele se referia originalmente a um problema dos nervos, não da mente, em contrates direto com “psicose”, que implica uma ruptura do pensamento lógico característico da esquizofrenia. “Perdemos essa visão de doença nervosa como uma doença do corpo inteiro, e agora a chamamos de transtorno do humor, disse Shorter. “Dizer às pessoas que elas têm um transtorno do humor as faz pensar que está tudo na cabaça, quando, na verdade, o sentem em seu corpo”.

Honestamente, que não se atiraria na chance de ter perspectivas menos danosas? Isso significa mais um voto para neurose, como um estado mental ao qual podemos confiavelmente retornar em tempos estranhos – se não no tratamento psiquiátrico, ao menos entre amigos e colegas.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Onde foram parar os Neuróticos?_2/3


Benedict Carey (The New York Times)
Tradução de: Celso Parciornik


Algumas razões para “neurótico” ter caído em desuso na linguagem coloquial são óbvias. A análise freudiana perdeu seu domínio sobre o imaginário comum, assim como na psiquiatria, e parte da linguagem de Freud perdeu o poder.

Os cientistas que definem distúrbios mentais fatiaram a neurose em pedaços mais finos, como distúrbio do pânico, ansiedade social e transtorno obsessivo-compulsivo – todos termos que caíram no uso das pessoas comuns, para não mencionar os grupos de usuários online, letras de rock e programas de TV.

Em 1994, após um debate áspero com psicanalistas, os médicos que compilavam o Manuel de Diagnóstico e Estatística, a enciclopédia da psiquiatria, tiraram a neurose do livro. “Com o que sabemos hoje o termo parece obsoleto“, diz Michael First, pesquisador de Columbia e ex-editor do manual. 

“Com o declínio geral da importância de Freud em nossa sociedade, o termo foi ficando anacrônico.”

Mesmo assim, o desejo de precisão e o declínio do pensamento freudiano não explicam por completo o desaparecimento do neurótico. Os psiquiatras não moldam a linguagem que usamos, afinal – nós todos o fazemos – e neurose tem ao menos tanta aceitação quanto outros termos freudianos duráveis, como ego e id.

A resposta pode residir em uma área na qual o espírito do neurótico continua vivo: a pesquisa psicológica. O “neuroticismo” é uma das “dimensões” do modelo de personalidade. Ele é medido com um questionário simples, no qual as pessoas reagem a declarações como “Eu me irrito facilmente” e “Eu me aborreço com coisas”. Muitos desses questionários não mudaram em adultos desde os anos ‘950. Mas estudos revelaram que, entre universitários, os níveis de neuroticismo aumentaram até 20%.  

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Onde foram parar os Neuróticos?_1/3


Os cientistas que definem distúrbios mentais fatiaram a neurose em pedaços mais finos

Benedict Carey (The New York Times)
Tradução de: Celso Parciornik

Alguns arquétipos culturais saem do palco com um floreio, outros pisando firme. Os colonialistas de capacete, os poetas chapados por absinto e os gurus hippies fundadores de utopias nos anos 1970 fizeram algum barulho, nem sempre algum sentido, antes de serem engolidos pela história. Mas um tipo moderno está seguindo para o passado sem estardalhaço, sem até sua familiar lamúria – o neurótico.

Para uma geração de americanos do pós-guerra, ser neurótico significava mais que ser ansioso, e era diferente de exibir a histeria ou outros problemas de transtorno de humor para os quais Freud usou o termo. Significava ser interessante numa época em que a psicanálise reinava em meios intelectuais e Woody Allen reinava nos cinemas.

O fato de ele pouco significar hoje em dia é uma evidência da força com que a linguagem impulsiona a percepção da batalha mental, tanto suas fontes como suas curas. Nos últimos anos, os psiquiatras desenvolveram um vocabulário especializado para descrever a ansiedade, o componente central da neurose, e o público ganhou uma maior percepção de suas muitas dimensões.

No processo, contudo, perdeu-se o romantismo da neurose, além de sua concretização – a presença incessante, queixosa, carente que um dia funcionou na mente coletiva como uma voz interior que protegia contra o excesso de otimismo. Na era atual, o neurótico seria uma companhia nervosa para dias nervosos, pronto a oferecer doses de melancolia urbana hilariante.
“Eu ainda uso o termo de vez em quando, mas ele não diz muito”, diz Barbara Milrod, professora de psiquiatria no Weill Cornell Medical College. “Temos maneiras mais específicas de descrever comportamento de inadaptação”.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O que fazer para melhorar o cérebro ?


Parte da entrevista da revista PODER, ao neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, abaixo, quando lhe foi perguntado:

O que fazer para melhorar o cérebro ?

Resposta:
Vc tem de tratar do espírito. Precisa estar feliz, de bem com a vida, fazer exercício. Se está deprimido, reclamando de tudo, com a autoestima baixa, a primeira coisa que acontece é a memória ir embora; 90% das queixas de falta de memória são por depressão, desencanto, desestímulo. Para o cérebro funcionar melhor, você tem de ter alegria. Acordar de manhã e ter desejo de fazer alguma coisa, ter prazer no que está fazendo e ter a autoestima no ponto.

PODER: Cabeça tem a ver com alma?

PN: Eu acredito que a alma está na cabeça. Quando um doente está com morte cerebral, você tem a impressão de que ele já está sem alma... Isso não dá para explicar, o coração está batendo, mas ele não está mais vivo. Isto comprova que os sentimentos se originam no cérebro e não no coração.

PODER: O que se pode fazer para se prevenir de doenças neurológicas?

PN: Todo adulto deve incluir no check-up uma investigação cerebral. Vou dar um exemplo: os aneurismas cerebrais têm uma mortalidade de 50% quando rompem, não importa o tratamento. Dos 50% que não morrem, 30% vão ter uma sequela grave: ficar sem falar ou ter uma paralisia. Só 20% ficam bem. Agora, se você encontra o aneurisma num checkup, antes dele sangrar, tem o risco do tratamento, que é de 2%, 3%. É uma doença muito grave, que pode ser prevenida com um check-up.

PODER: Você acha que a vida moderna atrapalha?

PN: Não, eu acho a vida moderna uma maravilha. A vida na Idade Média era um horror. As pessoas morriam de doenças que hoje são banais de ser tratadas. O sofrimento era muito maior. As pessoas morriam em casa com dor. Hoje existem remédios fortíssimos, ninguém mais tem dor.

PODER: Existe algum inimigo do bom funcionamento do cérebro?

PN: Todo exagero.
Na bebida, nas drogas, na comida, no mau humor, nas reclamações da vida, nos sonhos, na arrogância, etc. O cérebro tem de ser bem tratado como o corpo. Uma coisa depende da outra. É muito difícil um cérebro muito bom num corpo muito maltratado, e vice-versa.

PODER: Qual a evolução que você imagina para a neurocirurgia?

PN: Até agora a gente trata das deformidades que a doença causa, mas acho que vamos entrar numa fase de reparação do funcionamento cerebral, cirurgia genética, que serão cirurgias com introdução de cateter, colocação de partículas de nanotecnologia, em que você vai entrar na célula, com partículas que carregam dentro delas um remédio que vai matar aquela célula doente que te faz infeliz. Daqui a 50 anos ninguém mais vai precisar abrir a cabeça.

PODER: Você acha que nós somos a última geração que vai envelhecer?

PN: Acho que vamos morrer igual, mas vamos envelhecer menos. As pessoas irão bem até morrer. É isso que a gente espera. Ninguém quer a decadência da velhice. Se você puder ir bem mentalmente, com saúde, e bom aspecto, até o dia da morte, será uma maravilha.

PODER: Hoje a gente lida com o tempo de uma forma completamente diferente. Você acha que isso muda o funcionamento cerebral das pessoas?

PN: O cérebro vai se adaptando aos estímulos que recebe, e às necessidades. Você vê pais reclamando que os filhos não saem da internet, mas eles têm de fazer isso porque o cérebro hoje vai funcionar nessa rapidez. Ele tem de entrar nesse clique, porque senão vai ficar para trás. Isso faz parte do mundo em que a gente vive e o cérebro vai correndo atrás, se adaptando.

PODER: Você acredita em Deus?

PN: Geralmente depois de dez horas de cirurgia, aquele estresse, aquela adrenalina toda, quando acabamos de operar, vai até a família e diz:

"Ele está salvo".

Aí, a família olha pra você e diz:

"Graças a Deus!".

Então, a gente acredita que não fomos apenas nós, que existe algo mais, independente de religião.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A vida não acontece para pessoas mornas

por OSHO



Por que tantas pessoas parecem tão obtusas, tão entediadas, simplesmente levando a vida de qualquer jeito? Desperdiçando um tempo imensamente valioso que nunca serão capazes de recuperar - e desperdiçando com tal tédio, como se estivessem esperando a morte.
     
O que aconteceu com essas tantas pessoas? Por que elas não têm o mesmo frescor que as árvores? Por que o ser humano não tem a mesma canção que os pássaros? O que aconteceu com os seres humanos?

Aconteceu uma coisa: o ser humano imita os outros, tenta ser como outra pessoa. Ninguém está em casa; todos estão batendo à porta de uma outra pessoa; daí o descontentamento, o tédio, o embotamento, a angústia.

Uma pessoa inteligente tentará ser apenas ela mesma, seja qual for o custo. Ela nunca copiará, nunca imitará, nunca será como um papagaio; ela escutará sua própria chamada intrínseca, sentirá seu próprio ser e caminhará de acordo com ele, seja qual for o risco.

Há risco! Quando você copia os outros, há menos riscos. Quando você não copia ninguém, você está sozinho - há risco! Mas a vida acontece somente para aqueles que vivem perigosamente, para a queles que são aventureiros, corajosos, atrevidos - a vida acontece somente a eles. A vida não acontece para pessoas mornas.

Osho, em "Inteligência - A Resposta Criativa ao Agora"

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Entre o Bem e o Mal_7/7


Por Sara Zimmermann, jornalista especializada em divulgação científica.

Da revista Mente & Cérebro n° 230, março/2012, págs. 25/31

Inibição de impulsos

Há alguns anos, cientistas cominam paradigmas experimentais da economia comportamental com modernos procedimentos por imagem dos estudos do cérebro. Entre eles estão a tomografia por ressonância magnética funcional (TRMf), que permite inferências sobe a ativação de determinadas áreas neurológicas em situações nas quais a pessoas busca manter autocontrole.

Enquanto os tomógrafos por ressonância magnética medem a porcentagem de oxigênio no sangue, a eletroencefalografia (EEG) ou a magnetoencefalografia (MEG) registram diretamente a atividade elétrica ou, respectivamente, magnética do cérebro.

Por meio da estimulação magnética transcraniana (EMT), assim como da estimulação transcraniana por corrente direta (ETCD), os pesquisadores podem influenciar campos magnéticos ou elétricos externos à ativação de determinadas regiões cerebrais . A EMT de baixa frequência inibe provisoriamente a atividade neuronal na região estimulada e o enfraquecimento da capacidade de autodomínio em situações sócias em decorrência da inibição de determinada região indica sua participação nesse processo.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Entre o Bem e o Mal_6/7


Por Sara Zimmermann, jornalista especializada em divulgação científica

Da revista Mente & Cérebro n° 230, março/2012, págs. 25/31


Adeus ao Homo oeconomicus

O filósofo britânico Thomas Hobbes (1588-1679) declarou certa vez que o homem é um egoísta ávido de poder. “Homo homini lupus est” (o homem é o lobo do homem), afirmou, baseado no filósofo e dramaturgo romano Plauto (250-184 a.C.) Para Hobbes, na luta pela sobrevivência cada um seria seu próprio mais próximo. Posteriormente, o escocês Adam Smith (1723-1790) delineou uma imagem um pouco mais agradável da natureza humana: argumentou que realmente agimos, pelo menos em princípio, de forma egoísta – o que, aliás, seria muito bom, pois somente se cada um se preocupasse com a própria vantagem a economia poderia florescer. Em sua concepção, o anseio profundamente ancorado de aumentar o próprio ganho garantiria a “prosperidade da nação” e o bem coletivo.

Esse pensamento predominou na teoria econômica durante muito tempo, tendo como ícone o Homo oeconomicus: um ser essencialmente egoísta, racional e voltado para o ganho, proclamado pelo filósofo e economista John Stuart Mill (1806-1873). Segundo sua teoria, pessoas envolvidas com transações financeiras, empresários e homens de negócios costumam se comportar dessa forma egocentrada, visando apenas as próprias necessidades ou as daqueles que estão muito próximos – falam mais alto o “eu” e o “meu” -, porque acreditam que todos os outros agem da mesma forma e esperam por isso.

O especialista em ciências jurídicas e políticas Armin Falk, professor da Universidade de Bonn, questiona isso. Segundo ele, o ser humano se encaixaria muito mais no perfil do Homo reciprocans, que não busca a própria vantagem, mas a equidade. Falt está convencido de que somos, por princípio, seres reativos: ainda temos fortemente internalizado o preceito segundo o qual “o que você faz comigo eu faço com você” – o que supera até mesmo o desejo racional de obter o melhor para si. Quem é bem tratado pelos outros retribui; quem é injustiçado pune – mesmo que tenha que arcar com custos por isso.

Segundo essa teoria, as empresas deveriam apostar mais na confiança do que no controle. Estilos de liderança duros baseiam-se sobretudo no medo de que os funcionários sejam, no fundo, egoístas e na crença de que trabalhariam o mínimo possível pelo salário. No entanto, a relação de confiança com a equipe pode gerar muito mais ganhos, pois um profissional que se sente tratado com justiça, por exemplo, tende a “vestir a camisa” e a se esforçar para que toda a equipe obtenha bons resultados, mesmo que isso signifique fazer hora extra.

Em suas pesquisas, Falk entrevistou mais de 20 mil pessoas e as dividiu em dois grupos, que chamou de recíprocos positivos e negativos. Os primeiros preferem recompensar os bons atos, os outros tendem a punir as ações que consideram ruins, sejam elas endereçadas a si mesmos ou não. Na verdade, prevalece o foco de cada grupo: enquanto os primeiros, em geral, buscam ver o que há de bom à sua volta, os do segundo grupo parecem atraídos para o que está (ou acreditam estar) errado. FAlk pensa que , a longo prazo, aos positivamente recíprocos se dão melhor: não apenas parecem mais satisfeitos com a vida de maneira geral, mas também mantêm relações sociais mais prazerosas e estáveis.

“Mas quando nos comportamos de forma egoísta frequentemente há apelos institucionais em jogo”, ressalta o pesquisador. Sentimos a concorrência na pele, seja na escola, no trabalho ou em outros grupos sociais. Talvez por isso tantas pessoas tenham se acostumado a ser egoístas em situações “externas” e altruístas entre quatro paredes, com pessoas mais próximas. A isso se soma o fato de muitas vezes nos orientarmos pelo exemplo dos outros. Se muitos compram carros de determinado tipo, começamos a pensar se esse produto de fato não seria a melhor alternativa. O problema é nos acostumarmos a nos deixar levar, sem exercer o sagrado privilégio de escolher o que realmente nos faz bem.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Entre o Bem e o Mal_5/7


Por Sara Zimmermann, jornalista especializada em divulgação científica.

Da revista Mente & Cérebro n° 230, março/2012, págs. 25/31

Para testar a generosidade

Há jogos que ajudam os pesquisadores a entender o funcionamento mental. Conheça alguns:

Public Goods Dilemma

Como as pessoas se comportam quando interesses individuais e do grupo entram em conflito? Esse impasse pode ser avaliado experimentalmente quando os participantes decidem quanto dinheiro querem colocar em um caixa comunitário, sabendo que cada um receberá de volta só uma parte.

Jogo do Ultimato

Um participante recebe determinado valor (por exemplo, R$ 100) com a instrução de dividi-lo com um parceiro desconhecido. Se o outro aceita a oferta, ambos se beneficiam, mas se a rejeita, nenhum dos dois recebe nada. Do ponto de vista lógico, a pessoa deveria aceitar sempre, pois mesmo 1 real é melhor do que nada. No entanto, a ideia de ficar com 30% enquanto o outro recebe 70% parece tão injusta que a maioria dos participantes prefere ficar sem nada, desde que o outro também não ganhe.

Jogo do Ditador

Aqui quem recebe não tem escolha: precisa aceitar a oferta do doador. A proposta e revelar se a doação é feita por equidade ou por medo da punição.

Jogo da Confiança

Parte da quantia recebida por um jogador pode ser devolvida a quem fez a doação, depois de o valor inicial ter sido elevado pelo coordenador do estudo. Se quem fez a oferta confia no outro um valor maior, possivelmente receberá ainda mais – desde que o parceiro faça o mesmo.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Entre o Bem e o Mal_4/7


Por Sara Zimmermann, jornalista especializada em divulgação científica.

Da revista Mente & Cérebro n° 230, março/2012, págs. 25/31


De olho em você

Mas não seria simplista pensar que só agimos de forma altruísta porque queremos retribuir algo? Alguns cientistas supõem que o mecanismo que nos leva a ser generosos em relação às pessoas com as quais não nos relacionamos frequentemente está associado ao ganho de prestígio que essa atitude propicia. Como mostram as estatísticas, as pessoas se beneficiam com a reputação social que constroem: àquele que dá também é dado.

Psicólogos coordenados pela pesquisadora Melissa Bateson, da Universidade de Newcastle, na Grã-Bretanha, estudaram esse tema em 2006, recorrendo a um truque simples – colaram a foto de um par de olhos em uma máquina de bebidas automática e contaram o dinheiros que os estudantes jogavam em uma caixa de doações colocada ao lado. E veja só: o valor foi três vezes maior do que entre os estudantes que, no lugar dos olhos, viram imagem de flores. 

Se alguém está olhando, o lado bom do ser humano se mostra mais facilmente.

E quando se trata de uma situação sem paliativos? Será que na luta nua e crua pela sobrevivência não mostramos inevitavelmente nossa face egoísta? Para responder a essa pergunta, cientistas das universidades de Brisbane, na Austrália, e de Zurique pesquisaram em arquivos internacionais de navios. Como os passageiros de cruzeiros se comportam quando o navio está afundando? Resposta: depende muito de quanto demora para o navio afundar! O Titanic desapareceu depois de duas horas nas profundezas do oceano – tempo suficiente para manter as normas altruístas: mulheres e crianças primeiro! Seu um acidente, por outro lado, dura apenas poucos minutos, ocorrem tumultos muito mais frequentemente.

Há algo que parece deixar poucas dúvidas: o egoísmo é humano. À parte problemas de transporte público e descaso das autoridades, isso pode ser observado regularmente nas ruas, onde milhares de pessoas não abem mão de usar o próprio carro, em geral sozinhas, e escolhem toda manhã o caminho mais curto até o trabalho. Resultado: engarrafamento. Se, no entanto, uma tropa de mais de 10 mil formigas tiver de passar por um gargalo, isso não representa um empecilho. O que os animais fazem diferente de nós? Mantém a formação de marcha sem hesitar, o que lhes poupa o “preço da anarquia”, segundo físicos que simulam fluxo de movimento em computadores: quem quer passar à frente do outro acaba demorando mais no final das contas! 

Mesmo quando as formigas estão andando em um grande tumulto, mantém sua meta maior: a coletividade. Talvez tenhamos algo a aprender com esses pequenos seres.

ALTRUÍSMO – capacidade de empenhar-se para o bem-estar alheio sem pensar em um ganho pessoal

EGOÍSMO – motivação de obter um ganho exclusivamente para si, muitas vezes prejudicando outros

EQUIDADE – reconhecimento do princípio de que todas as pessoas têm direitos iguais.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Entre o Bem e o Mal_3/7


Por Sara Zimmermann, jornalista especializada em divulgação científica.

Da revista Mente & Cérebro n° 230, março/2012, págs. 25/31

Mau humor e injustiça

Nos últimos anos, um novo conceito ganhou contorno e chamou a atenção dos pesquisadores: o da equidade, que é o reconhecimento do princípio de que todas as pessoas têm direitos iguais. Essa ideia sustenta uma lógica: quem se sente tratado injustamente age de forma mais egoísta. Isso pôde se comprovado por pesquisadores da Universidade Stanford em 2010. Psicólogos pediram a voluntários que pensassem em uma situação na qual haviam sido injustiçados. Após sofrerem punição sem motivo na sala de aula ou receberem uma nota supostamente equivocada, ao alunos ficaram mais dispostos agir de forma egoísta do que pessoas do grupo de comparação, que haviam pensado em outra coisa., Em um questionário, as “almas feridas” se decidiram mais frequentemente em se próprio favor: doar sangue? Não, nem pensar. Tomar um longo banho relaxante, apesar da falta de água? Sem problema. Separar o lixo? Os outros que o façam.

Mesmo depois do término oficial do experimento, os “prejudicados” largaram utensílios sobre a mesa ou “se esqueceram” de devolver a caneta do coordenador da pesquisa com mais frequência. Os cientistas reforçam que essa oscilação comportamental não pode ser explicada apenas pela frustração. Mau humor não cria egoístas. Somente quando também somos tratados de forma injusta nos sentimos livres das obrigações morais costumeiras.

A busca pela equidade está tão profundamente ancorada no ser humano que às vezes nos leva a agir de forma irracional. Em seus experimentos, o cientista econômico Ernst Fehr, da Universidade de Zurique, demonstrou que se um participante do estudo tem a possibilidade de castigar adversários pelo comportamento egoísta com uma multa em dinheiro, por exemplo, ele recorre a esse recurso mesmo que a ação lhe traga desvantagem.

A discussão atual sobre a mudança climática global é um bom exemplo de quanto os outros influenciam nosso comportamento. Aqui, parece que não se trata apenas de quais normas valem – por exemplo: “isolamento térmico é importante!” -, mas também quantos de nossos semelhantes as respeitam. 

Quem mora em uma região onde cada vez mais casas são isoladas termicamente vai se comportar de forma semelhante – mesmo que não esteja convicto disso. Nos jogos de trocas de laboratório, os doadores fazem ofertas injustas quando saem que outros fizeram o mesmo antes deles. Mas se os primeiros jogadores respeitam as regras de equidade, seus sucessores fazem o mesmo. Essa situação pode nos fazer pensar na importância que o exemplo dos adultos comprovadamente tem para as crianças.  

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Entre o Bem e o Mal_2/7


Por Sara Zimmermann, jornalista especializada em divulgação científica.

Da revista Mente & Cérebro n° 230, março/2012, págs. 25/31

Uma espécie de compensação

Isso pode ter consequências paradoxais: quem acabou de ajudar uma senhora a atravessar a rua tem mais probabilidade de empurrar outras pessoas para o lado, logo em seguida. “Após um ato supostamente benévolo deixamos de buscar ‘satisfação altruísta’, como se já tivéssemos adquirido certo ‘crédito’, o que de alguma forma nos deixa à vontade para nutrir menos preocupação com o bem estar alheio”, diz Sorya. A disposição para comportamentos abnegados, que priorizem a coletividade ou outro indivíduo, só volta a aumentar quando os louros éticos já foram esquecidos. A pesquisadora denomina esse fenômeno, que observou em inúmeros estudos, de “licença moral”.

Em 2009, a psicóloga e sua equipe demonstraram esse efeito em um experimento muito simples. Os participantes do estudo deviam conversar um pouco sobre a própria vida utilizando adjetivos fornecidos pelos cientistas. Só que enquanto parte dos voluntários recebeu propositadamente vocábulos que aludiam a características positivas, os demais tiveram de usar adjetivos que evocavam defeitos. Imediatamente depois dessa tarefa, foi pedido a cada um que doasse qualquer quantia fictícia a uma causa humanitária. Os pesquisadores constataram que os voluntários que se descreveram com palavras claramente elogiosas ofereceram muito menos dinheiro que aqueles que relataram fraquezas.

No mesmo ano, os psicólogos canadenses Nina Mazar e Che-Bo Zhong aplicaram o modelo do balanço moral ao dia a dia. Eles partiram da ideia de que a compra de produtos ecológicos (desde cadernos feitos com papel reciclado até detergentes biodegradáveis, por exemplo) é geralmente mais bem vista do ponto de vista ético do que a aquisição de produtos fabricados de forma convencional . Para descobrir que efeito isso tinha na prática, Nina e Zhong pediram que metade dos participantes do experimento fizesse compras on-line em duas lojas virtuais – uma delas só trabalhava com mercadorias ecológicas, enquanto a outra vendia produtos convencionais. Enquanto isso, os demais voluntários deviam apenas observar a lista de bioprodutos. Os que podiam fazer compras tinham US2 25 em sua carteira virtual.

Em seguida, os compradores participaram de um jogo, no qual cada um deveria escolher quanto da quantia recebida inicialmente queria ceder a um parceiro de jogo. As pessoas que apenas observaram os itens disponíveis na loja ecológica foram claramente mais generosas que aquelas que adquiriram algo.

Curiosamente, quem havia realmente comprado os bioprodutos cedeu muito menos de seu dinheiro. Ou seja, a compra “politicamente correta” havia tornado as pessoas momentaneamente mais egoístas – o que, de acordo com o modelo da licença moral, leva a pensar que, naquela situação, a conta moral do voluntário estava cheia.

O estudo revela um ponto interessante da natureza humana: muitas vezes, basta um pensamento para despertar o egoísta que mora dentro de nós. Uma equipe de cientistas econômicos e sociais americanos demonstrou em 2008, quão casualmente isso ocorre. Pendurando no laboratório quadros com fotos de cédulas de valores variados, eles discretamente levaram os voluntários de seu experimento a pensar em dinheiro. Em seguida foi encenada uma situação na qual uma pessoa parecia precisar de ajuda, obviamente sem que os jovens soubessem que se tratava de uma simulação. O que se viu foi que o desemparo alheio despertou pouca comoção. No grupo de controle, que não havia visto as notas de dinheiro, a solidariedade diante da mesma cena foi significativamente mais intensa.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Entre o Bem e o Mal_1/7


Por Sara Zimmermann, jornalista especializada em divulgação científica.

Da revista Mente & Cérebro n° 230, março/2012, págs. 25/31

Costumamos pensar que de um lado estão o egoísmo, o fascínio pelo poder e a competição desenfreada; do outro, o desprendimento, a solidariedade e o altruísmo. Esses extremos, porém, estão mais próximos e mesclados do que imaginamos. Pesquisadores acreditam que, inconscientemente, procuramos mante rum equilíbrio ético – um bom “saldo positivo” que nos permite cometer, às vezes, alguns “deslizes morais”.

Tom sai da agência bancária com sentimentos ambíguos. Acabou de doar R$ 100 para uma organização beneficente, mas percebe que não viu a fila quando se encaminhou para o caixa e simplesmente passou na frente de todos. Enquanto atravessa o saguão, sente os olhares reprovadores em sua direção. “Ah, que posso fazer, afinal, já realizei uma boa ação”, pensa. E termina se convencendo de que a sorte das pessoas que estão morrendo de fome na África é mais importante que os 90 segundos que roubou dos outros clientes do banco.

A liste de delitos “leves” praticados por egoísmo é longa e se traduz em gestos corriqueiros, como andar de ônibus sem pagar, tentar levar a melhor na estrada trafegando pelo acostamento para fugir do trânsito ou sonegar impostos. De maneira geral, julgamos o comportamento dos outros de forma mais severa do que avaliamos o nosso – e quando se trata de nos justificar tendemos a recorrer a todo tipo de argumento.

Porém, certamente a maioria das pessoas concorda em sacrificar algumas coisas pelo bem geral. Costumamos pagar impostos, doar sangue e ceder o lugar a idosos e gestantes, por exemplo. Isso não é prova suficiente de altruísmo? Mas algo é inegável: ninguém está sempre pronto a ajudar qualquer pessoas, em qualquer circunstância, nem age sempre e incondicionalmente de forma egoísta.

Porque em um mesmo dia somos capazes de atitudes generosas e no momento seguinte desprezamos nossos semelhantes, somos ríspidos ou até cruéis? “Nossas ações são constantemente acompanhadas de um autojulgamento moral”, afirma a psicóloga Sonya Sachdeve, pesquisadora da Universidade do Noroeste em Evanston, em Illinois. Segundo ela, quando nos lançamos sobre o balcão de uma loja disputando uma peça em promoção com outra pessoa ou seguramos a porta para alguém passar, acrescentamos essas ações a uma “lista mental” permanente de prós e contras – mesmo que não tenhamos consciência clara de sua existência. A pergunta geralmente não verbalizada que move essa “contabilidade psíquica” é uma só: sou bom ou mau? Na esteira dela surge outro questionamento: deve ser solidário ou apenas levar a melhor? A resposta depende de como está nossa autoimagem no momento.  

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Prática de Yoga traz benefícios Afetivos e Cognitivos, aponta estudo brasileiro_3/3


por Alexandre Gonçalves / Mariana Lenharo / Jornal da Tarde

No aspecto emocional, o yoga ensina a permanecermos serenos e positivos diante da vida e a respirarmos da maneira correta mesmo nos momentos de estresse. Nos ensina que o equilíbrio é sempre a melhor solução. Dai até pôr tudo isso em prática, ainda é um longo caminho que estou só começando a percorrer.

Efeitos

Concentração melhora, dizem praticantes

Eles também afirma que, com o yoga, passaram a ter maior controle emocional.

Os benefícios da prática do yoga ligados ao cérebro estão entre os principais motivos que levam as pessoas a se interessar pela modalidade.

A afirmação é do professor de ioga José Luiz Jabali Coradi, de 41 anos. Para ele, os resultados do estudo desenvolvido no Instituto do Cérebro não são surpresa, mas algo que já é observado no dia a dia dos praticantes.

“O primeiro objetivo do yoga é ativar o cérebro. Isso é feito durante a aula por meio da respiração, da concentração e dos mentalizações”, explica.
Corradi lembra que o yoga funciona como uma preparação para a meditação: o alongamento, a estabilidade e a resistência física treinados na prática são essenciais para os que pretendem permanecer sentados e imóveis durante alguns minutos para meditar.

“O aluno vai ter mais facilidade para meditar no fim da prática de yoga. Como já passou a respirar corretamente, alongou-se, acalmou-se e se cansou um pouco também, a mente e o corpo estão mais tranquilos e preparados”, diz.

Consequências

Entre os praticantes do yoga, os efeitos mentais mais citados são o aumento da concentração e o maior controle emocional.

A relações publicas Maria Lúcia Vieiras de Carvalho Zaidan, de 26 anos, começou a frequentar aulas de yoga há três anos. Um dos principais motivos que estimularam a trocar a academia pela ioga foi a questão do autocontrole abordado nas aulas.

“A mente fica mais calma, você passa a se policiar mais no dia a dia para respirar, para organizar a cabeça e, principalmente, fazer com que você saiba o que está pensando”. Para ela, isso é o mais importante: prestar atenção em si próprio.

Já a arquiteta e artista plástica Verônica Dubin, de 40 anos, conta que as principais diferenças que sentiu depois que começou a praticar yoga foram em relação ao aumento da flexibilidade e do tônus muscular.

Além disso, ela também se tornou uma pessoa mais calma. “Sinto que você consegue disciplinar sua mente em horas de estresse. É a prática do yoga não só física, mas mental”, diz.
Corradi diz que grande parte dessa calma relatada pelas alunos vem da respiração correta. “Primeiro, é preciso levar o ar ao lugar certo. Se estou usando só 10% da capacidade do pulmão, vou ter de acelerar muito. É como uma fábrica funcionando várias vezes para produzir pequenas quantidades de energia”.

Quando se aumenta a capacidade respiratória, segundo ele, aumenta-se a circulação e também a energia para as atividades do organismo. Ele também lembra dos benefícios morais proporcionados pela ioga. “Gera gentileza, compreensão, bem-estar. É uma prática extremamente antidepressiva, que leva as pessoas a conviverem melhor com as outras.