sexta-feira, 31 de agosto de 2012

QI e Inteligência Emocional: Tipos Puros_2/2


Do livro: Inteligência Emocional – Daniel Goleman, PhD – Editora Objetiva – pg. 56/58

As mulheres de alto QI puro têm a esperada confiança intelectual, são fluentes no expressar suas ideias, valorizam questões intelectuais e têm uma ampla gama de interesses intelectuais e estéticos. Também tendem a ser introspectivas, inclinadas à ansiedade, à ruminação e à culpa, e hesitam em exprimir sua raiva abertamente (embora o façam de maneira indireta).

As mulheres emocionalmente inteligentes, em contraste, tendem a ser assertivas e expressam suas ideias de um modo direto, e sentem-se positivas em relação a si mesmas; para elas, a vida tem sentido. Como os homens, são comunicativas e gregárias e expressam de modo adequado os seus sentimentos (não, digamos, em ataques de que depois se arrependem): adaptam-se bem à tensão . O equilíbrio social delas permite-lhes ir até os outros. Sentem-se suficientemente à vontade consigo mesmas para ser brincalhonas, espontâneas e abertas à experiência sexual . Ao contrário das mulheres de puro alto QI, raramente sentem ansiedade ou culpa, e tampouco mergulham em ruminações.

Esses perfis, claro, são extremos - todos nós mesclamos QI e inteligência emocional em graus variados. Mas oferecem uma perspectiva instrutiva do que cada uma dessas dimensões acrescenta, separadamente, às qualidades de uma pessoa. Na medida em que a pessoa tem tanto inteligência cognitiva quanto emocional, essas imagens de fundem. Ainda assim, das duas, é a inteligência que contribui com um número muito maior das qualidades que nos tornam mais plenamente humanos.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

QI e Inteligência Emocional: Tipos Puros_1/2


Do livro: Inteligência Emocional – Daniel Goleman, PhD – Editora Objetiva – pg. 56/58

O QI e a Inteligência Emocional não são capacidades opostas, mas distintas. Todos nós misturamos acuidade intelectual e emocional: as pessoas de alto QI e baixa inteligência emocional (ou baixo QI e alta inteligência emocional) são, apesar dos estereótipos, relativamente raras. Na verdade, há uma ligeira correlação entre o QI e alguns aspectos da inteligência emocional – embora bastante pequena para deixar claro que se trata de duas entidades bastante independentes.

Ao contrário dos testes conhecidos de QI, não há ainda nenhum formulário único de teste com papel e lápis que produza “uma contagem de inteligência emocional”, e talvez jamais venha a haver. Embora seja ampla a pesquisa sobe cada um de seus componentes., alguns deles, como a empatia, são mais bem testados pela amostragem da aptidão de fato de uma pessoa na tarefa – por exemplo, mandá-la ler os sentimentos de uma pessoa num vídeo de expressões faciais. Entretanto, usando uma mediação do que chama de “maleabilidade do ego”, que se assemelha bastante à inteligência emocional (inclui as principais aptidões sociais e emocionais), Jack Block, psicólogo na Universidade da Califórnia, em Berkeley, fez uma comparação dos dois tipos teóricos puros de pessoas de alto QI versus pessoas de altas aptidões emocionais. As diferenças são reveladoras.

O tipo alto QI puro (isto é, separado da inteligência emocional) é quase uma caricatura do intelectual, capaz no domínio da mente mas inepto no mundo pessoal .Os perfis diferem ligeiramente para homens e mulheres. O home de alto QI é tipificado – o que não surpreende – por uma ampla gama de interesses e capacidades. É ambicioso e produtivo, previsível e obstinado, e condescendente, fastidioso e inibido , pouco à vontade com a sexualidade e a experiência sensual , inexpressivo e desligado, e emocionalmente frio.

Em contraste, os homens de alta inteligência emocional são socialmente equilibrados, comunicativos e animados, não inclinados a receios ou ruminações preocupadas. Têm uma notável capacidade de engajamento com pessoas ou causas, de assumir responsabilidades e ter uma visão ética; são solidários e atenciosos em seus relacionamentos. Têm uma vida emocional rica mais correta, sentem-se à vontade consigo mesmos, e com os outros e com o universo social em que vivem.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Existe saída para a tragédia_3/3


André Petry, de Nova York – Revista Veja n° 2277, págs. 86/87


A Lei do Anfitrião já teve reflexo nos acidentes de trânsito. A professora Angela Dills, do Proidence College, analisou os acidentes com vítimas fatais provocados pela embriagues de jovens entre 18 e 20 anos. Examinando os dados dos últimos trinta anos, Angela constatou que esse tipo de acidente caiu em todos os estados americanos, mas, naqueles que adotaram a Lei do Anfitrião é que a lei reduziu o número de jovens alcoolizados ao volante. As estatísticas ainda são uma tragédia – a cada ano, 5.000 americanos menores de 21 anos morrem em decorrência de algum acidente relacionado ao consumo de álcool – mas poderiam ser piores.

A experiência americana mostra que, para evitar o desperdício de vidas jovens, não é preciso invocar um milagre. A educação preventiva sobre os riscos do álcool é um imperativo no sistema escolar americano. Os especialistas dizem que a colaboração da comunidade, e sobretudo dos pais, é outro fator decisivo. Além disso, a sociedade americana sabe que há duas possibilidades diante da lei: cumpri-la ou ser punido por ela. Uma terceira alternativa – violar a lei e ficar tudo por isso mesmo – também acontece nos Estados Unidos., mas é um risco tão alto que, em geral, não vale a pena correr. Tiffany Clark aprendeu isso com a liberdade. Os donos do Best for Less, com o bolso.

Consumo em queda

Levantamento bianual com adolescentes matriculados em escolas de ensino médio (faixa etária de 14 a 18 anos) mostra queda no número dos jovens americanos que informam ter ingerido alguma bebida alcoólica os trinta dias anteriores à pesquisa.

1999 50%
2001 47,1%
2003 44.9%
2005 43,3%
2007 44,7%
2009 41,8%
2011 38,7%

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Existe saída para a tragédia_2/3


André Petry, de Nova York – Revista Veja n° 2277, págs. 86/87

Um caso desse tipo aconteceu em Riverview, perto de Tampa, na Flórida. No dia 28 de fevereiro de 2008, o adolescente David Holdsworth, então com 17 anos, entrou duas vezes no mercado Best for Less e comprou cerveja. Pagou mais caro pela bebida,ma usou dinheiro vivo e saiu do local com as garrafas dentro de uma sacola de papel pardo. O Best for Less era conhecido pelos jovens da região por vender bebida a menores de idade nessas condições: preço maior, dinheiro vivo e embalagem discreta. Holdsworth bebeu as cervejas e, na volta para casa, arrebentou seu Camaro na avenida à beira-mar. Agora, quatro anos mais tarde, o caso está encerrado. Holdsworth pegou cinco anos de prisão, mas os donos do Best for Less arcaram com a multa mais pesada a história; 716 milhões de dólares. Ao dar a sentença, o juiz Sam Pendino deixou claro que queria mandar uma mensagem: quem vende bebida a menores de idade está arruinando vidas – e o preço é incalculável. Com casos assim, o respeito à lei que proíbe a venda de bebida alcoólica a menores tem sido cada vez maior.

Os americanos estão abrindo outro capítulo na batalha contra o consumo de álcool pelos jovens. É a Lei do Anfitrião, que pune quem dá uma festa, mesmo que em sua casa, e permite o consumo de bebida alcoólica por menores de idade. Em alguns estados, a lei não se limita a festas. Em Washington, tornou-se crime oferecer bebida a menores em qualquer ocasião e em qualquer lugar. Em Massachusetts, um dos estados politicamente mais liberais, a Lei do Anfitrião já gerou um caso pedagógico. Tiffany Clark, 37 anos, foi mandada para a cadeia por deixar que menores bebessem numa festa em sua casa. Foi a primeira vez que um episódio em que não houve vítimas fatais acabou em prisão para o anfitrião. De novo, o juiz do caso quis mandar um recado à comunidade. Tiffany Clark ficará seis meses na cadeia e outros seis meses em prisão domiciliar, quando será de usar tornozeleira eletrônica. Por três anos estará sob a vigilância da lei. Se cometer alguma infração, voltará para a cadeia.

Numa terra em que a lei vale para todos, o filho do governador de Rhode Island também está enrolado com a Lei do Anfitrião. Caleb Chafee, 18 anos, deu uma esta na mansão do pai para comemorar a formatura do ensino médio. Serviu cerveja e vodca aos amigos menores de 21 anos. A polícia estadual soube da farra e abriu uma ocorrência. “Stephanie e eu ficamos muito chateados”, disse o governador, referindo-se á sua mulher. Ele acrescentou que o caso seria tratado como “assunto privado”, mas fez questão de explicar que nem ele e nem a mulher estavam em casa no dia da festa. Lei é lei: em abril, o filho do governador foi flagrado tentando comprar cerveja. Foi condenado a pagar 100 dólares mais – detalhes imperdível – 3,50 em custas judiciais.  

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Existe saída para a tragédia_1/3


Com educação e respeito à lei, os EUA estão fazendo o que parecia impossível: reduzir o consumo de álcool entre os adolescentes

André Petry, de Nova York – Revista Veja n° 2277, págs. 86/87

Aos olhos de um brasileiro, pode parecer um milagre, mas a obra é dos homens: os americanos estão conseguindo reduzir o nível de consumo de bebidas alcoólicas entre os jovens. Na última década, a fatia de adolescentes de 14 a 18 anos que consomem bebida alcoólica de vez em quando caiu de 50% para 38.7%. É um feito notável. Existem várias explicações para o sucesso, mas há algumas coisas evidentes: a educação preventiva é uma mania nacional, a lei é rigorosa e a punição, ainda mais.

Até 1984, cada estado americano definia a idade mínima para comprar bebida alcoólica. Desde então, criou-se uma regra nacional à qual os estados eram convidados a aderir: menores de 21 anos são proibidos de comprar qualquer tipo de bebida alcoólica. Todos os cinquenta estados americanos ratificaram a nova lei. Assim, os EUA tornaram-se o único país entre as democracias ricas com idade tão avançada para o consumo de bebida alcoólica. Cada estado é livre para legislar sobre os detalhes, mas, em geral, a venda de bebida a menor de 21 anos dá multa e, raramente, prisão. Vender bebida a menor de 18 anos, no entanto, quase sempre dá prisão. Nos últimos tempos, alguns juízes decidiram ar sentenças exemplares para reforçar ainda mais o respeito à lei pelos bares e mercados.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Vergonha Nacional_7/7


Revista Veja n° 2277, de 11.07.2012 – pags. 80/86
por Laura Diniz e Carolina Rangel
Com reportagem de Kalleo Coura, André Eler, Alessandra Medina e Manoel Marques


...E para a saúde

Cérebro

Com o cérebro ainda em formação, as atividades no hipocampo, onde se processam o aprendizado e a memória, diminuem , podendo prejudicar o desenvolvimento dessa área. O álcool causa ainda estragos no córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento de longo prazo e pelo controle das emoções. Estudos indicam que, nessa região, a morte de células entre os jovens é o dobro do que ocorre nos adultos.

Coração

O abuso do álcool destrói o tecido muscular, propiciando inflamações e reduzindo a circulação sanguínea. Pesquisas mostram que, como nos jovens as artérias são mais elásticas, elas tendem a cumular um volume maior de sangue em certos pontos. O que resulta em infartos ainda mais agressivos.

Fígado

Entre todas as células do corpo humano, as do fígado são a s mais vulneráveis à destruição pelo excesso de álcool. Em parte, elas se regeneram, mas leva tempo, comprometendo esse órgão, que, no adolescente, ainda não funciona com plena capacidade. Quanto mais cedo se começa a beber, maior a chance de desenvolver cirrose na vida adulta.

Sistema Endócrino

O álcool afeta a produção de testosterona nos homens e de estrogênio nas mulheres justamente na fase em que essa produção está no ápice. Pode causar impotência e infertilidade precoces. As taxas de hormônio de crescimento também diminuem, bem como as do hormônio responsável pela calcificação, o que eleva as chances de osteoporose na vida adulta.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Vergonha Nacional_6/7


Revista Veja n° 2277, de 11.07.2012 – pags. 80/86
por Laura Diniz e Carolina Rangel
Com reportagem de Kalleo Coura, André Eler, Alessandra Medina e Manoel Marques

Dados

Quadro 1

Bebedeira precoce e em família

Pesquisa com 15.000 pessoas mostra que 11% dos adolescentes brasileiros esse embriagaram em companhia de pais e tios.
(Considera-se embriaguez o efeito produzido pelo consumo de cinco doses de bebida. Uma dose equivale a uma lata de cerveja ou bebida ice, uma taça de vinho ou 30 ml de destilado).
Fonte: Zila Sanchez, pesquisadora do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotópicas (Cebrid) da Universidade Federal de São Paulo.

Quantas vezes se embebedou
Uma vez na vida - 35%
Ao menos uma vez no último ano - 32%
Ao menos uma vez no último mês - 21%

Onde ficou embriagado
Bar - 25%
Casa de amigos - 21%
Casa de parentes - 9%
Própria casa - 8%
Festas ou praia - 8%

Com quem bebeu
Amigos - 33%
Irmãos e primos - 17%
Pais ou tios - 11%
Namorado - 3%
Sozinho - 2%

Quadro 2

Bebidas alcoólicas consumidas
*Os entrevistados puderam dar mais de uma resposta

Cerveja – 28%
Bebidas Ice (mistura de vodca com fruta ou refrigerante) - 25%
Vodca – 22%
Coquetéis - 20%
Vinho – 19%
Uisque – 12%


Quadro 3

Quem ficou bêbado no último ano
42% dos jovens da classe A
31% dos jovens da classe B
26% dos jovens da classe C
23% dos jovens das classes D e E

(Pelo critério Brasil: Classe A (renda média de 10.700 reais), B (renda familiar média de 3.500 reais), C (renda familiar média de 1.300 reais), e D e E (renda familiar média de 600 reais)

Quadro 4

Quanto mais cedo, pior

O adolescente que bebe em excesso não só desenvolve um comportamento de risco como pode causar graves danos ao seu organismo.
Os riscos do álcool para o comportamento:

Dos adolescentes             Não bebem      Bebem regularmente      Bebem pesado

Engravidar                            5%                   20%                        30%
Pegar uma doença                      2%                   30%                        45%
sexualmente transmissível
Sofrer um acidente de carro    5%                   40%                        60%
Envolver-se em brigas            15%                  70%                        80%
Tirar notas baixas na escola     20%                 60%                        80%




Quando os adolescentes se tornam adultos

Virar dependente de álcool       5%                  50%                        70%
Virar dependente de drogas ilícitas    5%                  60%                         70%
Desenvolver depressão/          10%                 30%                         75%
outro transtorno mental 



Fonte: Ronaldo Laranjeira, professor de psiquiatria da Unifesp e coordenador do Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Drogas

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Vergonha Nacional_5/7


Revista Veja n° 2277, de 11.07.2012 – pags. 80/86
por Laura Diniz e Carolina Rangel
Com reportagem de Kalleo Coura, André Eler, Alessandra Medina e Manoel Marques


Fotografias

Rio de Janeiro, quarta-feira, 16h – pg 81

Quando foi fotografado por VEJA, o estudante de 16 anos de pé à esquerda tomava a primeira das dez cervejas que cosumiria naquele dia. Com a mesada de 1.700 reais, patrocina a farra a turma na paria e na balada. Quando a mãe soube dos seus excessos, ele prometeu beber só em casa. Mas não cumpre o acordo. “Nunca tiver dificuldade para comprar bebida e entro na balada com uma identidade falsa infalível”, diz.

Campo Grande, quarta-feira, 20h – pg 83

A estudante de 14 anos juntou-se a outras 3.000 pessoas para assistir à final a copa Libertadores em um telão na Praça do Rádio e torcer pelo Corinthians. Em Campo Grande, é proibido beber em locais públicos, independentemente da idade. Mas ninguém incomoda os contraventores. No dia do jogo, todo mundo bebeu na praça, mesmo com a presença de policiais. “Aqui não tem o que fazer, o jeito é beber”, disse o jovem, que festejou tomando vocda com suco no gargalo da garrafa.

Porto Alegre, quarta-feira, 20h45 – pg 84 e 85

As duas gauchas de 17 anos da foto ao lado fazem um brinde à impunidade. Elas começaram a tomar cerveja há pelo menos dois anos e hoje bebem quase diariamente. Nunca tiveram dificuldade para comprar as garrafas. Uma delas, estudante de filosofia, diz que as festas da turma na universidade pública em que estuda sempre têm gelatina com vodca. A outra, que ainda está no ensino médio, diz que só os religiosos de sua escola não bebem. As duas consideram o discurso antiálcool puro moralismo: “Café também já foi proibido para menores”.

Belém, quinta-feira, 23h30 – pg 85

O garçom Ricardo Omar, 35 anos, já vendeu cerveja a menores diversas vezes. “Eu trabalhava na praia, não tinha fiscalização nenhuma. Fico triste por ver adolescentes bebendo, mas, se eu não vendesse outro iria vender”, disse o garçom. Omar ficou decepcionado recentemente, quando descobriu que seu filho de 15 anos também consome bebida alcoólica, mas não o proibiu. “Beber um pouco não faz mal, o problema é descambar para as drogas”.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Vergonha Nacional_4/7


Revista Veja n° 2277, de 11.07.2012 – pags. 80/86
por Laura Diniz e Carolina Rangel
Com reportagem de Kalleo Coura, André Eler, Alessandra Medina e Manoel Marques

Entrevistas feitas por VEJA com jovens, pais e funcionários de bares de norte a sul do Brasil refletem com precisão a teoria do ”mal menor“ captada pelas pesquisas. Uma mãe de Porto Alegre, por exemplo, disse que incentiva os filhos a beber em casa com os amigos, para que não façam isso na rua, onde estariam desamparados. Ela acredita que assim está protegendo devidamente os meninos. Outros, como um garçom de Belém, admitem vender bebidas a menores, porque, se ele não o fizer, “outra pessoa vai fazer”. Documentos de identidade falsificados, companhia indispensável na noitadas, são aceitos à larga. E a completa falta de fiscalização por coibir tanto o consumo como a venda das bebidas é a regra. Vende-se livremente porque não há a menor possibilidade de punição. Algumas iniciativas isoladas, no entanto, começam a atacar o problema. Em outubro do ano passado, o governo paulista sancionou uma lei que prevê multa de até 92.000 reais a estabelecimentos que vendam bebida a menores, mudando o eixo da correção da pessoa física – o garçom incauto – para a jurídica – o dono do empreendimento. Quase 200.0000 locais já foram inspecionads, mas em menos de 1.000 ouve punição, o que demonstra que ainda há um longo caminho a percorrer. Campanhas mais localizadas também têm surtido efeito. Em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, moradores se mobilizam desde 2008 para diminuir o consumo de álcool entre os jovens. Nem o tradicional quentão é mais servido nas festas juninas, e o número de lugares que vendem bebida a menores caiu cerca de 50% - abaixo da média brasileira, mais ainda um escândalo.

Esse cenário de vergonha nacional requer, antes de tudo, uma mudança de mentalidade. Até recentemente, pouca gente achava que o cinto de segurança era um acessório útil – ou via algum problema em estar ao lado de um fumante num bar ou em outro ambiente fechado. Essas visões não mudaram a partir da criação de novas leis, mas a partir do momento em que a obediência às regras passou a ser cobrada. A fiscalização precisa ser apertada nas ruas e o rigor tem de aumentar em casa. Nos dois casos, o caminho mais seguro para proteger os adolescentes da ciladas do álcool é um só: seguir a lei. Bebida, só depois dos 18.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Vergonha Nacional_3/7


Revista Veja n° 2277, de 11.07.2012 – pags. 80/86
por Laura Diniz e Carolina Rangel
Com reportagem de Kalleo Coura, André Eler, Alessandra Medina e Manoel Marques


Um dos dados que mais chamam atenção na pesquisa é o que mostra que, ao contrário de países como os Estados Unidos, por exemplo, no Brasil, os jovens mais ricos são os que mais tê m o hábito de se embebedar. O estudo mostrou que quase metadoe dos jovens da classe A, em que a renda familiar média supera os 10.000 reais, se embriagaram aos menos uma vez no último ano. É quase o dobro do índice registrado entre as classe D e E (renda familiar média de 600 reais). Segundo uma das autoras do estudo, Zila Sanches, isso se deve sobretudo ao fato de que os brasileiros anda relevam os riscos do álcool, ao contrário do que ocorre entre os americanos. Além disso, jovens ricos têm uma vida social mais ativa e maior autonomia financeira do que os mais pobres, o que facilita o acesso à bebida. Influenciaria, ainda um menor temor dos pais dessa classe média alta de que seus filhos se tornam marginais ou fracassados em razão do contato com o álcool, já que o ambiente de proteção social e o histórico familiar não apontam nessa. Direção. Essa realidade já influencia também a oferta de serviços de saúde. Há cerca de dois anos, os médicos do Hospital Israelita Albert Einstein, reduto da classe A, começaram a notar o fenômeno. “Não era comum atendermos adolescentes de 13 e 14 anos com intoxicações alcoólicas. 

Agora, dois ou três costumam dar entrada aqui por noite à sextas-feiras e aos sábados”, explica a pediatra Paula Cristina Ranzini, da Unidade de Pronto Atendimento Infantil da unidade Morumbi do Einstein. Os jovens chegam entre 23 horas e meia-noite e são levados pelos pais ou por pais de amigos. A situação mais comum é terem exagerado em bebidas ice (como é conhecida a mistura de vodca com refrigerante ou suco de fruta) e destilados em festas na casa de amigos, chamadas de ”esquenta”. Os pais ficam perplexos e, muitas vezes, trocam acusações na frente dos médicos. Diante da situação, o hospital montou um protocolo de atendimento especial para adolescentes embriagados, que prevê encaminhamento para consulta com terapeuta e, nos casos mais graves, avaliação psicológica antes da alta.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Vergonha Nacional_2/7


Revista Veja n° 2277, de 11.07.2012 – pags. 80/86

por Laura Diniz e Carolina Rangel

Com reportagem de Kalleo Coura, André Eler, Alessandra Medina e Manoel Marques

Levantamentos feitos no Brasil e no exterior comprovam que beber – em qualquer idade – potencializa comportamentos temerários. No adolescente, com uma onipotência e impulsividade características, o risco de o álcool provocar ou facilitar situações como gravidez precoce, contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, envolvimentos com a criminalidade e uso de drogas ilícitas é perigosamente maior. Junte-se a isso o fato de que, num organismo jovem, o impacto e as consequências da ingestão de bebida são muito diferentes do que os que incidem sobre um adulto e a conclusão – unânime – dos especialistas é: menores de 18 anos não devem beber sequer uma gota de álcool.

A experiência de muitos adultos, no entanto, ajuda a enfraquecer o que, para os cientistas, é uma certeza. Muitos pais pensam: “Tomei minhas doses quando era jovem e hoje tenho um emprego estável, uma família feliz e uma relação saudável com a bebida” . Por causa disso, novas pesquisas têm tentado matizar as categorias de bebedores jovens e precisar os riscos associados a cada perfil. Esse tipo de estudo é realizado há pelo menos uma década no exterior, mas só há pouco tempo começou a ser feito também aqui. Um precioso levantamento, a ser publicado no mês que vem na revista científica Drugs and Alcohol Dependence, ouviu 15.000 jovens nas 27 capitais brasileiras para mapear como, onde, quanto e o que bebem os adolescentes brasileiros. O foco escolhido foi o grupo que mais preocupa quem trata do problema: jovens que bebem ao menos cinco doses de álcool em uma única ocasião - ou seja, que incorrem na popular “bebedeira”. O cenário que emerge do estudo é alarmente. Ao longo de uma ano, um em cada três jovens brasileiros de 14 a 17 anos se embebedou ao menos uma vez. Em 40% dos casos mais recentes, isso ocorreu na sua casa ou na de amigos e parentes. Os números confirmam também a leniência com que adultos encaram a transgressão. Em 11% dos episódios, os menores estavam acompanhados dos próprios pais ou de tios.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Vergonha Nacional_1/7


Revista Veja n° 2277, de 11.07.2012 – pags. 80/86

por Laura Diniz e Carolina Rangel


Com reportagem de Kalleo Coura, André Eler, Alessandra Medina e Manoel Marques

A lei proíbe menores de beber, mas ninguém, nem mesmo os pais, a respeita. Os jovens pagam o preço por isso, e ele é alto

De todas as leis ignoradas no Brasil – e a lista é longa -, poucas são descumpridas com tanta naturalidade, e na escala, como aquela que proíbe menores de 18 anos de beber. Pesquisa inédita feita em sete capitais do país – São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Belém e Campo Grande – mostra que adolescentes que tenta comprar bebidas alcoólicas têm sucesso em, pelo menos, 70% das vezes. Na capital paraense, esse índice chega a estupefacientes 88%, recorde seguido de perto pelo Rio, com 86%. Mesmo em São Paulo, onde uma norma estadual aumenta o rigor das punições aos donos de estabelecimentos que vendem bebida para menores, 71% dos adolescentes têm trânsito livre para o balcão do bar. As décadas de descumprimento da lei fizeram mais do que consolidar a ideia de que ela não passa de letra morta – contribuíram para que os adultos se habituassem a ver o consumo de bebida por adolescentes como um “mal menor”, comparado aos perigos do mundo. “Não é, afirma o autor do estudo e uma das principais autoridades brasileiras no assunto, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Drogas. “Os pais precisam entender que o álcool potencializa o risco de que aconteça aos seus filhos o que eles mais temem”. Leia-se: que eles se metam em encrencas, e das grandes.  

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Quietos sim. E daí?_8/8


Por Susan Cain – Escritora e Consultora empresarial formada em direito pelas Universidades de princeton e Harvard. Este artigo foi adaptado do original “O Poder dos Quietos” (Agir, 2012) com a autorização da Editora.

Da revista Mente & Cérebro n° 233, Junho/2012

Coisa demais para o cérebro resolver

Há alguns anos, o neurocientista Matthew Lieberman, na época um aluno de pós-graduação em Harvard, propôs o seguinte experimento: 32 pares de introvertidos e extrovertidos, todos desconhecidos uns dos outros, conversaram por alguns minutos ao telefone. Quando desligavam, pedia-se que preenchessem questionários detalhados, avaliando como haviam se sentido e se comportado durante o diálogo. “O quanto você gostou de seu parceiro?” “O quanto você foi amigável?” “O quanto gostaria de interagir com essa pessoas novamente?”. Também foi pedido que os voluntários se colocassem “na pele” de seus parceiros de conversa: “O quanto acha que ele gostou de você?”, “O quanto ele foi sensível a você?”, “Quão encorajador lhe pareceu?”.

Lieberman e seus colaboradores compararam as respostas e ouviram os diálogos e fizeram seus próprios julgamentos a respeito de quanto os participantes se sentiam um em relação ao outro . Eles descobriram que os extrovertidos eram muito mais preciosos do que os introvertidos em perceber se seus parceiros haviam gostado de falar com eles. 

Essas descobertas sugerem que pessoas com esse traço são mais eficientes em decodificar pistas sócias do que os introvertidos. Em um primeiro momento, isso não pareceu surpreendente, já que prevalece a hipótese popular de que extrovertidos são melhores na leitura de situações sociais. Por meio de um desdobramento de sua experiência,a porém, Lieberman mostrou que essa hipótese não está correta.

O neurocientista e sua equipe pediram a um grupo de pessoas que ouvissem as gravações das conversas que haviam acabado de ter – antes de preencher um questionário. Eles descobriram que nesse grupo não havia diferença entre introvertidos e extrovertidos em sua habilidade de ler pistas sociais . Por quê? A resposta é que os indivíduos que ouviram as gravações puderam decodificar pistas sociais sem ter de fazer mais nada ao mesmo tempo. Mais: introvertidos são decodificadores bastante bons, até melhores que os extrovertidos. Mas esses estudos mediam quão bem os mais retraídos observam dinâmicas sociais – e não quanto se envolvem nelas, já que isso impõe demandas ao cérebro muito diferentes das exigidas na observação. Participar requer uma espécie de cumprimento mental de várias tarefas ao mesmo tempo: a capacidade de processar muitas informações de curto praz de umas só vez sem se distrair ou se estressar demais. Esse é o tipo de funcionamento neurológico no qual extrovertidos geralmente têm facilidade.

Considere que a mais simples interação social, mesmo entre duas pessoas, requer a realização de uma impressionante quantidade de tarefas: interpretar o que o outro está dizendo; interpretar sua linguagem corporal e as expressões faciais; sutilmente se revezar entre falar e ouvir; responder ao que a outra pessoa disse; perceber se está sendo compreendido; determinar se é bem recebido e, se não, encontrar uma forma de melhorar a situação ou retirar-se dela. Pense no que é necessário para processar tudo isso de uma só vez! E isso numa conversa com uma só pessoa. Agora pense na quantidade de tarefas simultâneas que é necessária em uma configuração de grupo. Por isso, quando introvertidos assumem o papel de observadores, escrevem romances ou se atêm a uma teoria, por exemplo, não estão demonstrando falta de vontade e ou de energia – simplesmente estão fazendo o que sua constituição manda.

Para Saber Mais.
O Poder dos Quietos – Como os tímidos e introvertidos podem mudar os mundo que não pára de falar. Susan Cain. Agir, 2012

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Quietos sim. E daí?_7/8


Por Susan Cain – Escritora e Consultora empresarial formada em direito pelas Universidades de princeton e Harvard. Este artigo foi adaptado do original “O Poder dos Quietos” (Agir, 2012) com a autorização da Editora.

Da revista Mente & Cérebro n° 233, Junho/2012


Lentidão e cachos

Em 1921, o psiquiatra suíço Carl Jung, criador da psicologia analítica, publicou um livro bombástico: Tipos psicológicos. A obra foi fundamental para a popularização dos termos “introvertido” e “extrovertido” como os pilares da personalidade. Pessoas que se adequam ao primeiro grupo são atraídas pelo mundo interior do pensamento e do sentimento e os demais pela vida externa: outras pessoas e o ambiente lhes parecem mais atraentes. Enquanto os introvertidos focam no significado que tiram dos eventos ao seu redor, extrovertidos mergulham nos próprios acontecimentos, de forma mais concreta. É como se os retraídos recarregassem suas baterias ficando sozinhos e os expansivos o fizessem por meio da socialização.

Um fato a ser considerado é que não há uma definição geral para introversão ou extroversão – não se trata de categorias unitárias, como “cabelos cacheados” ou “40 anos”, que permitem perceber claramente quem se enquadra em uma delas. Por exemplo, a introversão pode se entendida tanto como sinal de uma rica vida interior quanto como falta de autoconfiança e de capacidade de socialização. Além disso, alguns argumentam que as ideais de Jung são datadas, enquanto outros concordam entusiasticamente com elas.

Ainda assim, os profissionais tendem a concordar em vários pontos importantes:

1. Introvertidos e extrovertidos diferem quanto ao nível de estímulo externo de que precisam para funcionar bem.

2. Há diferenças na forma de trabalhar. Extrovertidos tendem a terminar tarefas rapidamente, tomam decisões rápidas (e às vezes drásticas) e sentem-se confortáveis com muitas tarefas ao mesmo tempo: gostam da “excitação da caça” por recompensas como dinheiro e status. Já os introvertidos costumam ser mais lentos e ponderados, gostam de focar em uma atividade cada vez e podem ter um grande poder de concentração, além de serem relativamente imunes às tentações da fama e fortuna.

Vale lembrar que nossa personalidade molda também nossos estilos sociais. Extrovertidos são pessoas que darão vida a um jantar entre amigos e rirão generosamente de suas piadas. Eles tendem a ser assertivos, dominantes e necessitam muito de companhia. Eles pensam em voz alta e rapidamente; preferem falar a escutar, raramente se encontram sem palavras e ocasionalmente vomitam palavras que nunca quiseram dizer. Sentem-se confortáveis em conflitos, mas não com a solidão. Os introvertidos podem ter várias habilidades sociais e até gostar de festas e reuniões de negócios, mas depois de um tempo desejam estar em casa, de preferência de pijama. Eles preferem devotar suas energias sociais aos amigos íntimos, colegas e família. Ouvem mais do que falam e muitas vezes sentem que se exprimem melhor escrevendo do que falando. Tendem a não gostar de conflitos, têm horror a jogar conversa fora, mas apreciam discussões profundas. E podem ser reclusos ou misantropos, mas a maioria é perfeitamente amigável, acredite.