quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Os 4 Pilares da Alimentação Desintoxicante

Quando focamos a sustentação, tudo que tem 4 pés tem maior garantia de firmeza, de estrutura, de chão. E, um dia estava refletindo sobre os aspectos gostosos, além dos sucos, da alimentação desintoxicante, e me veio esta palestra.

Aliás, este é um poder pensante que coloco em tudo que faço: buscar integrar crescimento com prazer e alegria. Ganhamos tempo, energia e muito amparo.

Primeiro Pilar: Saúde com consciência

A conquista da saúde plena requer de cada um a sua parcela de comprometimento, busca pela informação assertiva que ecoa em nossa alma e coração: autoconhecimento. Costumo dar pouca importância para classificações rígidas dos seres humanos por tipos, para tabelas, dietas, suplementos ou receitas milagrosas e tudo o que nos é impingido sem esclarecimentos ou espaço de compreensão. Esta é uma das condições do poder pensante: tem sentido? Tem nexo? Tem fontes? Tem sustentação? Então vou experimentar.

Outra pergunta que coloco em todas as ofertas e novidades no universo da alimentação: industrializou? Tem muita propaganda? Ponha atenção multiplicada, pois tem grandes chances de você ser a primeira vítima deste capitalismo selvagem.

Cada pessoa é única e apresenta necessidades energéticas e nutricionais diferenciadas, inclusive a cada momento de sua vida. Portanto, quando estou grávida tenho uma necessidade nutricional, quando mudo de emprego outra, quando estou de férias outra, quando tenho 20 anos outra, quando tenho 30 outra; e assim é a dinâmica da vida: a biodinâmica. Ciência criada por Rudolf Steiner para a produção agro-pecuária, que valoriza a perfeita integração, e auto-sustentação, de cada planta ou animal com a estação, o solo, o clima, etc. que os cercam.

O sábio é que cada Ser humano se informe, estude, esclareça, traga para a consciência não só conhecimentos sobre os alimentos, o que se produz facilmente a sua volta, mas sobre o seu organismo, o metabolismo humano, suas necessidades básicas, como também se autoconheça para oferecer ao seu corpo e alma aquilo que ele realmente necessita e melhor assimila.

O Ser humano nasceu para ser saudável e longevo; jamais doente. Longevidade com significância, sentido, qualidade de vida é o propósito desta experiência evolutiva. O corpo físico é o instrumento encarnado desta experiência. A Alma o poder pensante que torna esta experiência animada e real, jamais doente ou iludida.

A Alimentação Desintoxicante tem como primeiro pilar, sólido e pró-ativo, o compromisso afetivo, o tesão por aprender, pela busca de muita informação clara, objetiva e assertiva (por que praticável com prazer e alegria), para diariamente aflorar mais consciência, motivação e a possibilidade de cura, transformação e superação. Uma roda que gira e não pára: quanto mais desintoxicado, mais pró-ativo, mais motivado, mais animado, mais vitorioso.

Num mundo onde os interesses econômicos predominam muitas vezes sobre a ética e a moral, aquele que não estuda, pesquisa e informa-se, fatalmente será uma vítima vulnerável ao desperdício, frustrações, doenças, distúrbios e desequilíbrios.

Segundo pilar: Baixo custo – Máximo benefício

A vida é simples, nós é que a complicamos, quando valorizamos prazeres absurdos, grandiosidades e sofisticações. A natureza nos fornece tudo o que precisamos para uma vida equilibrada e saudável. Valorizar o natural é uma atitude afetiva de gratidão e sabedoria: receber o que ela nos oferece. O consumismo nos faz esquecer dos valores e poder da natureza que, com sua simplicidade, está sempre deixando registros de seus reais efeitos positivos na humanidade. Um alimento maduro, na sua época, cai do pé e nos oferece seu Viço, cor, aroma, textura e sabor: nutrição e energias acumuladas da Terra, do Sol e de Deus.

Estamos falando das frutas, folhas, raízes, legumes, sementes, brotos e flores. Tudo isso enche nossos cestos e despensa, sem contudo, esvaziar nossos bolsos como os alimentos industrializados e vazios: os biscoitos, doces, bebidas, refinados, carnes, embutidos, laticínios e todos os enfeites (visuais e aromáticos) que a indústria do capitalismo selvagem faz questão de nos seduzir e vender.

Esquecemos dos alimentos que estão disponíveis à nossa volta e nos iludimos de comprar nossa saúde com importados como a quinua, algas, chás, linhaça dourada e tantas frutas exóticas. O que sei é que todos nós temos o direito à saúde, não importa o poder aquisitivo ou acesso aos textos científicos que valorizam os industrializados, encapsulados e engarrafados. Aliás, saúde não se compra, se conquista com bons hábitos, simples, porém diários.

Diante da esperteza de achar que iludimos nossas células subnutridas e fragilizadas com compensações compradas e artificiais, esvaziamos novamente nossos bolsos quando ficamos doentes, desequilibrados, viciados, intoxicados, desanimados: sem poder pensante, ansiosos, porque sem fé de um futuro melhor.

A Alimentação Desintoxicante incentiva o consumo dos alimentos naturais, nutritivos, que geram e ativam a vida para trazer o máximo benefício à saúde: vitalidade, inteligência plural e equilíbrio emocional. Nutrição verdadeira, que mantém e perpetua a vida. A Alimentação Desintoxicante incentiva gastar menos consumindo os alimentos naturais, crus e vivos, que nos oferece real nutrição e energia: saúde plural.

Terceiro Pilar: Versatilidade

O principal objetivo da Alimentação Desintoxicante é facilitar a limpeza, a purificação, do corpo e do poder pensante (a alma). Também, por escolhas e decisões mais conscientes, a entrada e produção de mais toxinas.

A prática e manutenção diária da Alimentação Desintoxicante irá proporcionar mudanças físicas e vibracionais, entre elas a precisão das percepções corporais (corporalidade) e as sensações emocionais positivas como lucidez e alegria (afetividade).

Mais vivos, reais e verdadeiros, o brinde diário será a capacidade de escolhas mais assertivas, maior liberdade de ação, mais leveza e novas perspectivas, a desidentificação e dissolução dos medos, a chegada na gratidão e no amor.

E este objetivo começa com o esclarecimento das várias formas que cada indivíduo pode acessar esta desintoxicação e limpeza. Os alívios são seus, só você pode acessar seus lastros, apegos e venenos. Só você deverá encontrar as melhores formas de desapego e libertação.

Na prática da alimentação desintoxicante só existe uma condição ideal: que o banho interno seja diário e pela manhã em jejum. Tudo o mais é deixado por conta das possibilidades e condições de vida e momento de cada pessoa. Comprometer-se e planejar é sábio, mas não se prenda em exigências e perfeccionismos.

Em jejum: uma cumplicidade oportuna de limpeza e purificação, pois justo das 4 às 10 horas da manhã nosso organismo, com seus horários, está 100% mobilizado para a eliminação de seus excretos. Então, nada mais amoroso que praticar este banho interno na hora certa: todos unidos no mesmo propósito! Se você acorda às 6, 8 ou 9 horas esta será sua hora do banho interno diário. Se você acorda depois das 10 horas a desintoxicação ainda será possível, mas terá menor impacto e resposta mais lenta. Paciência: é o seu possível.

Todos podem e devem praticar este banho interno diário, porque não importa a idade, raça, credo, classe social, econômica ou cor: todos, enquanto vivos, precisam ser livres das lixos tóxicos, dos escudos, das prisões, das ilusões; inevitáveis em organismos intoxicados, envenenados, subnutridos.

Quarto Pilar: Praticidade

A humanidade está cercada de regras e obrigações. O tempo está curto para atender a tantas demandas. Hoje só aceito coisas novas em minha vida se elas forem práticas, simples e objetivas. Caso contrário não me servem. A Alimentação Desintoxicante tem a magia de ser extremamente simples e prática.

Acordou? Levanta, vai lá na cozinha e toma o seu suco desintoxicante. Ou seja, liquidificador e panela furada sempre na bancada. O suco ideal são os verdes e vivos cujas receitas estão apresentadas no Capítulo 12 do meu livro Alimentação Desintoxicante (ver ref. abaixo).

Mas, não tem nada na geladeira? Não deu tempo de ir à feira? Baixou preguiça total? Certo, mas não deixe de tomar o seu sagrado banho interno. Pode ser com um simples copo de água filtrada tomado em oração com esta intenção. Ou, esprema aquele último limão (ou uma laranja, ou os 2 juntos) em meio copo de água e pronto.

A Alimentação Desintoxicante é tão simples que você pode seguir praticando mesmo estando em viagem, na rua ou na casa de amigos. Nestes casos use sua criatividade, seja flexível, mas não deixe de tomar seu banho interno. Aliás, se possível, contagie, preparando o banho interno também para quem está junto.

Orgânicos: se você não tem fácil na sua cidade ou bairro, ou mesmo poder aquisitivo para comprá-los, fique atento nas ofertas, nos alimentos da época e naqueles mais defeituosos, pois certamente serão os mais isentos de agrotóxicos. Importa muito mais a sua determinação do que a perfeição.

Logicamente que somente esta água (não estruturada) não irá dar a nutrição vital e volume fecal, mas você não deixou de tomar seu banho interno diário. O compromisso segue valendo. Na prática, fica a sua verdade e cumplicidade para cada célula do seu corpo e poder pensante. Células, órgãos e sistemas, cada dia mais fortes, nutridos e integrados, vão aumentando a confiança em você, por você, para você.

Enfim, existem muitos motivos e facilidades para praticar a Alimentação Desintoxicante. Meu convite é: comece ontem a tomar o seu prazeroso e saudável BANHO DIÁRIO INTERNO. Com uma semana de prática já são evidentes os resultados: mais vitalidade e disposição, melhor sono, agilidade mental e memória, intestinos mais ativos, visão mais clara, vontade de colocar as coisas em dia, enfim, mais vontade de viver e enfrentar os desafios do dia-a-dia.

Fonte: Doce Limão

Texto extraído do livro Alimentação Desintoxicante - editora Alaúde. Recomenda-se a sua leitura na íntegra, o que possibilitará a prática desta filosofia de vida com consciência e responsabilidade.

Conceição Trucom é química, cientista, palestrante e escritora sobre temas voltados para a alimentação natural, o bem-estar e a qualidade de vida.

Reprodução permitida desde que mantida a integridade das informações e citada a autora e a fonte.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Neurocientista brasileiro recebe prêmio de US$ 2,5 milhões para pesquisas sobre interfaces entre cérebro e máquina

Miguel Nicolelis é o primeiro pesquisador brasileiro a ganhar o mais importante incentivo americano da área de biomedicina

Acervo pessoal

O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, professor da Universidade Duke, é um dos ganhadores do prêmio Director’s Pioneer Award, oferecido pelo programa de apoio a pesquisas dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), nos Estados Unidos. O pesquisador receberá o auxílio de US$ 2,5 milhões por cinco anos para expandir seu trabalho sobre as interfaces entre funcionamento cerebral e máquinas. Nicolelis é o primeiro cientista brasileiro a receber a premiação americana, a mais importante oferecida para estudiosos da área de biomedicina. O Director’s Pioneer Award financia pesquisas consideradas de “criatividade excepcional e com propostas pioneiras” para desafios importantes na pesquisa médica e comportamental.

Há mais de 20 anos o cientista estuda os princípios neurofisiológicos básicos que permitem que circuitos neurais de mamíferos produzam comportamentos deflagrados por estímulos sensoriais, motores e cognitivos. Esse conhecimento tem possibilitado a evolução da tecnologia cérebro-máquina, um campo revolucionário, no qual Nicolelis é pioneiro. O neurocientista planeja usar o prêmio para desenvolver o primeiro ambiente em realidade virtual controlado pelo cérebro e projetado para investigar as propriedades dinâmicas de atividades cerebrais em grande escala. Outra aplicação será no desenvolvimento técnicas para o tratamento de distúrbios neurológicos.

Clique aqui e leia mais sobre a vida e o trabalho de Miguel Nicolelis.

Fonte: Revista Mente e Cérebro - edição 211 - Agosto 2010

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Drogas, o debate necessário

Carlos Alberto Di Franco - O Estado de S.Paulo

Frequentemente, a informação veiculada nos meios de comunicação produz um travo na alma. A sociedade desenhada no noticiário parece refém do vírus da morbidez. Crimes, aberrações e desvios de conduta desfilam na passarela da mídia. O goleiro Bruno foi o mais recente capítulo. Os telejornais, e até mesmo os diários mais sóbrios, ficaram de joelhos para o espetáculo. Assistiu-se ao circo da morte. O crime foi o resultado de alguns desvios: o machismo da sociedade que trata a mulher como objeto de posse descartável, a cultura da impunidade, a disseminação das drogas e os valores frágeis de garotas extasiadas com ícones de plástico, mas carregados de dinheiro e glamourizados pelas engrenagens do entretenimento.

Observa-se, igualmente, um crescente movimento a favor da despenalização das drogas, sobretudo da maconha. O dependente, de fato, não deve ir para a cadeia. Precisa de ajuda, de apoio, de tratamento. Agora, o traficante, frio e calculista, deve pagar por seu crime com pena proporcional à gravidade da sua perversidade.
Não se devem, igualmente, subestimar os efeitos nocivos da maconha para a saúde do usuário.Mas não vou falar do goleiro. Vou escrever sobre o avanço das drogas, que ameaça transformar o sonho da juventude numa terrível frustração. A violência avança, impune, no Brasil e o seu principal estopim - a distribuição e o consumo de drogas - continua fora da agenda pública e do debate dos candidatos.No mercado da cocaína o Brasil exerce triste liderança. O País é hoje o maior espaço consumidor da droga na América do Sul e provavelmente o segundo maior nas Américas. Cresce em progressão geométrica a demanda doméstica. Ademais, somos, hoje, um importante corredor de distribuição mundial.
Ruy Castro, escritor de minha predileção e dono de uma sinceridade afiada, abordou o tema em artigo na Folha de S.Paulo. "A Secretaria Nacional Antidrogas, órgão do governo federal, quer criar uma agência para pesquisar os "efeitos medicinais" da maconha. Se trabalhar direito, será uma decepção para os usuários da erva: a maconha "medicinal" não viria para ser fumada - mesmo porque esta tem todos os males do tabaco e mais alguns."
"A lista das mazelas provocadas pela maconha fumada, estabelecida por médicos da Universidade de Oxford e citada na Folha (Tendências/Debates, 22/10) pelos doutores Ronaldo Laranjeira e Ana Cecília Marques, inclui dependência química, bronquite crônica, insuficiência respiratória, risco de doenças cardiovasculares, câncer no sistema respiratório, diminuição da memória, ansiedade, depressão, episódios psicóticos, leseira, apatia e baixa no rendimento escolar."Multiplicam-se, paradoxalmente, declarações otimistas a respeito das estratégias da redução de danos. O essencial, imaginam os defensores da nova política, não é a interrupção imediata do uso de drogas pelo dependente, mas que ele tenha uma melhora em suas condições gerais. A opção pela redução de danos pode ser justificada em determinadas situações, mas não deve ser guindada à condição de política pública. Afinal, todos sabem que, assim como não existe meia gravidez, também não há meia dependência. Embora alguns usuários possam imaginar que sejam capazes de controlar o consumo, cedo ou tarde descobrem que, de fato, já não são senhores de si próprios.
"Donde, se provadas as qualidades terapêuticas da maconha - embora ninguém tenha conseguido até hoje descobrir sua superioridade em relação às substâncias tradicionais -, seu uso deveria se dar em forma de gotas, pomada, supositório ou o que for, e não enrolada, queimada e tragada. (...) A secretaria faria melhor se concentrasse seus esforços numa guerra que o Brasil se arrisca a perder: contra o crack, a pior droga já inventada. E a mais covarde", conclui Castro.
A verdade precisa ser dita. Não se pode sucumbir à síndrome do avestruz quando o que está em jogo é a vida das pessoas. O hediondo mercado das drogas está dizimando a juventude. Ele avança e vai ceifando vidas nos barracos da periferia abandonada e no auê dos bares e boates frequentados pela juventude bem-nascida. Movimenta muito dinheiro. Seu poder corruptor anula, na prática, estratégias meramente repressivas. A prevenção e a recuperação, únicas armas eficazes a médio e a longo prazos, reclamam um apoio mais efetivo do governo e da iniciativa privada às instituições sérias e aos grupos de autoajuda que lutam pela reabilitação de dependentes.
Tenho acompanhado o excelente trabalho realizado por algumas comunidades terapêuticas. Sem uso de medicamentos e investindo num conjunto de providências que vão às causas profundas da dependência, essas comunidades têm obtido bons índices de recuperação. Visitei algumas dessas instituições. Aponto, entre outras, uma instituição de referência: a Comunidade Terapêutica Horto de Deus, em Taquaritinga, no interior de São Paulo (www.hortodedeus.org.br). Com gravíssimas dificuldades financeiras e sem nenhum apoio dos governos, embora não faltem falsas promessas de ajuda de políticos oportunistas, a entidade tem sido responsável pela recuperação de inúmeros dependentes químicos.
Merece um registro. Os governos não se dão conta de que o trabalho dessas instituições repercute diretamente na qualidade da segurança pública. Elas rompem o círculo vicioso das drogas e criam o círculo virtuoso da recuperação e da ressocialização.

Debates no Congresso Nacional sugerem que as comunidades terapêuticas, bem como as demais instituições idôneas que trabalham na recuperação de adictos, possam, num futuro próximo, receber recursos provenientes do Fundo Nacional Antidrogas e do Sistema Único de Saúde (SUS). Seria uma providência inteligente. É sempre melhor apoiar o que já funciona do que cair na tentação de criar novas estruturas. Afinal, um adicto recuperado é o melhor aliado na luta contra as drogas.

DOUTOR EM COMUNICAÇÃO, É PROFESSOR DE ÉTICA E DIRETOR DO MASTER EM JORNALISMO E-MAIL: DIFRANCO@IICS.ORG.BRF

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Quebrando Paradigmas

Imagine mais de 30 membros da Companhia de Ópera da Filadelfia, no meio do povo em um mercado, como transeuntes comuns e de repente começam a cantar La Traviata:





segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ligações entre estresse, ansiedade e depressão

Pesquisadores trabalham no desenvolvimento de substância para conter sintomas

©Nando Viciano/Shutterstock

Uma conexão biológica entre ansiedade, depressão e estresse foi identificada pela primeira vez por pesquisadores da Universidade de Ontário Ocidental, no Canadá. Publicada na revistaNature Neuroscience, a pesquisa revela o mecanismo cerebral responsável por essa ligação, demonstrando como o estresse e a ansiedade podem levar à depressão. Em experimentos com camundongos, os cientistas rastrearam essa conexão e testaram um inibidor da depressão. O mecanismo envolve a interação entre o receptor do fator de liberação de corticotropina 1 (que deflagra a ansiedade em resposta ao estresse) e tipos específicos de receptores do neurotransmissor serotonina (que induzem ao estado depressivo). O fator inibidor desenvolvido pelos pesquisadores atenuou comportamentos de ansiedade e de depressão. A próxima etapa da pesquisa tem como objetivo verificar se a substância pode resultar em um novo agente farmacológico.

Fonte: Revista Mente e Cérebro - 18 de agosto de 2010

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Os riscos da liberalização

Folha da Tarde
A liberalização de substâncias como a maconha destoa de todo o esforço da sociedade para o efetivo controle sobre outras drogas, inclusive as lícitas.

Basta observar o posicionamento restritivo em relação ao tabaco, que ofereceu benefícios amplos para a população e reduziu custos do Estado com a saúde.
Está claro que a liberalidade para com a maconha vai produzir mais usuários, pois a média dos candidatos ao uso, quando se depararam com o ilícito, recua, ao passo que na liberação, todo o tecido social passa a perceber como benigna uma substância que de fato não é. O consumo do álcool e tabaco serve como exemplo dessa perspectiva.

A equivocada convenção social de que existem drogas que não representam perigo resulta em um grande problema de saúde pública. E atualmente a maconha é um grande problema dessa ordem no mundo inteiro, por ser a droga mais consumida entre as ilícitas.
A substância é também uma das principais portas de entrada para o consumo de outras drogas, assim como ocorre com o tabaco, principalmente entre os jovens.
Argumentos como o de que a maconha poderia ter fim medicinal não justificam a liberalização, já que existem alternativas que não implicam o uso da substância ou seu extrato. Nesse sentido, é importante que não fiquem margens para que os pareceres e opiniões sejam interpretados de maneira equivocada, validando o consumo de drogas ilícitas.
Ao cogitarmos a liberalização é necessário lembrar que o consumo de substâncias lícitas ou ilícitas tende a desenvolver um processo de “evolução”. A estimativa é de que 1 em cada 10 usuários de maconha torna-se dependente em algum momento quando o consumo de estende por 4 a 5 anos.

Vale lembrar que a substância, fora a dependência, pode causas câncer de cabeça, pescoço e pulmão e uma série de outras complicações. A mais preocupante segue sendo o risco de psicose em sujeitos vulneráveis, com ou sem história familiar de esquizofrenia. Para esses indivíduos suscetíveis, a maconha pode acarretar a antecipação e o agravamento de uma doença muito grave.
As políticas públicas de combate às drogas e tratamento de dependentes, além do envolvimento da sociedade, são fundamentais para avanços.
Medidas como a distinção entre quem comercializa a droga e o usuário, que necessita de tratamento, são benéficas, mas isso não pode justificar a liberalização. Se esse fosse o caso, teríamos que liberar qualquer substância que o próprio usuário produzisse? É no mínimo preocupante.
Carlos Salgado, psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead).

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A arte de caminhar

Desde a antiguidade movimentar o corpo ajuda as pessoas a pensar, tomar decisões e expressar indignação; na literatura artistas e apaixonados são andarilhos

Idoso caminhando no campo de centeio, óleo sobre tela, laurits andersen ring, s/d, coleção particular

A consciência da necessidade de praticar exercícios físicos é recente. “No começo, era o pé”, diz o antropólogo Marvin Harris. O pé, não a mão. A mão nos fez humanos – mas antes de sermos humanos somos parte do reino animal, e o nosso corpo precisa atender às necessidades que os animais enfrentam, entre elas a do deslocamento. O ser humano evoluiu, tornou-se bípede, mas continuou caminhando. E passou a usar a caminhada para outros fins que não o de chegar a um lugar específico: o de buscar determinada coisa. Praticar exercícios físicos é algo relativamente recente, mesmo porque, no passado, o sedentarismo era a exceção antes que a regra; caçadores, agricultores, trabalhadores em geral jamais pensariam nisso. Mas muito cedo o ato de caminhar adquiriu um significado psicológico, simbólico. O protesto político muitas vezes se fez, e ainda se faz, sob a forma de marchas, de caminhadas; foi o caso da Marcha dos 100 Mil (1968), um dos primeiros protestos organizados contra a ditadura no Brasil. Os filósofos gregos muitas vezes ensinavam a seus discípulos caminhando. “Levanta-te, toma teu leito e anda”, diz o Evangelho (João, 5:8), ou seja, vá em busca de seu destino, de seus objetivos. E Santo Agostinho cunhou uma expressão famosa: Solvitur ambulando, caminhar resolve (os problemas, as dúvidas). Por quê?

No livro Wanderlust: a history of walking (A ânsia de vagar: uma história da caminhada), de 2000, Rebecca Solnit diz que andar permite “conhecer o mundo através do corpo”, ou, nas palavras do poeta modernista Wallace Stevens (1879-1955): “Eu sou o mundo no qual caminho”. Trata-se, pois, de uma experiência cognitiva, muito necessária nesses tempos em que as pessoas se deslocam sobretudo utilizando carros, trens, aviões. Mas caminhar também envolve um processo de autoconhecimento, quando não de inspiração. “Os grandes pensamentos resultam da caminhada”, diz o filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), uma ideia que Raymond Inmon expressa de forma mais poética: “Os anjos sussurram para aqueles que caminham”. O escritor francês Anatole France (1844-1924) faz uma comparação interessante: “ É bom colecionar coisas, diz ele, mas é melhor caminhar. Porque caminhar também é uma forma de colecionar coisas: as coisas que a gente vê, as coisas que a gente pensa”. Esse processo é facilitado pela renovação da paisagem, seja ela rural ou urbana, e pelo próprio automatismo do ato de caminhar.

Não é de admirar, portanto, que muitos escritores tenham abordado o tema da caminhada. Foi o caso do filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), figura marcante do Iluminismo francês e precursor do romantismo – os românticos, sobretudo os alemães, eram grandes andarilhos. Em suas Confissões, disse Rousseau: “Só consigo meditar quando caminho. Minha mente só trabalha junto com minhas pernas”. À obra (publicada postumamente) que resume muito de sua biografia e de sua filosofia, Rousseau deu o título de Os devaneios do caminhante solitário (Lês rêveries du promeneur solitaire). Os dez capítulos são denominados promenades (caminhadas). Finalmente, temos um termo analisado tanto pelo poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) como pelo escritor alemão Walter Benjamin (1892-1940). Trata-se de flâneur, que vem do verbo flâner, vagar (em português temos o galicismo flanar). O flâneur, do qual Benjamin era um exemplo, vagava por Paris, observando o que se passava a seu redor, num claro desafio à moral burguesa então vigente, que via isso como vagabundagem. Uma vagabundagem da qual resultaram, contudo, textos admiráveis. Caminhar, como diz o escritor americano contemporâneo Gary Snyder, é a grande aventura.

Fonte: Revista Mente e Cérebro edição 211 - Agosto 2010

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Cannabis e humor

Revista Brasileira de Psiquiatria
Rafael Faria SanchesI, II; João Mazzoncini de Azevedo MarquesI

IDepartamento de Neurociências e Ciências do Comportamento, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil
IIInstituto Nacional de Ciência e Tecnologia Translacional em Medicina (CNPq), Ribeirão Preto, SP, Brasil

Alterações do estado basal do humor

O efeito euforizante da cannabis provavelmente é o fator mais importante relacionado com a sua ampla difusão e uso. Usuários relatam frequentemente que essa sensação de euforia, relaxamento e despreocupação ("o barato") é a razão do uso da substância. Pequenas doses, quando usadas em grupo, com muita frequência induzem a um comportamento loquaz, risonho e alegre, muito semelhante àquele observado quando o álcool é utilizado "socialmente". Com o uso continuado, pode ocorrer tolerância a esse efeito, contribuindo para que alguns usuários passem a utilizar doses cada vez maiores e com mais frequência, desenvolvendo quadros de abuso e dependência1-4.

Por outro lado, uma parcela significativa dos usuários, principalmente os iniciantes, relata reações disfóricas durante a intoxicação aguda, as quais podem incluir ansiedade importante (incluindo ataques de pânico com medo de morrer e de perder o controle), sensações corporais desagradáveis, inquietação, despersonalização, desrealização e ideias paranoides. Pode ocorrer alternância entre sensações de euforia e disforia no mesmo indivíduo. Essa variabilidade de efeitos relatados provavelmente está relacionada com características específicas da substância (dose, modo de administração), do contexto em que é usada (em grupo ou sozinho, local de uso etc.) e do próprio usuário (características de personalidade, expectativas referentes ao uso)1,2,4.

Cannabis and mood

Rafael Faria SanchesI, II; João Mazzoncini de Azevedo MarquesI

IDepartamento de Neurociências e Ciências do Comportamento, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil
IIInstituto Nacional de Ciência e Tecnologia Translacional em Medicina (CNPq), Ribeirão Preto, SP, Brasil

RESUMO

OBJETIVO: Avaliar as relações entre o uso agudo e crônico de cannabis e alterações do humor.
MÉTODO: Os artigos foram selecionados por meio de busca eletrônica no indexador PubMed. Capítulos de livros e as listas de referências dos artigos selecionados também foram revisados.
RESULTADOS:
Observam-se elevados índices de comorbidade entre abuso/dependência de cannabis e transtornos afetivos em estudos transversais e em amostras clínicas. Estudos longitudinais indicam que, em longo prazo, o uso mais intenso de cannabis está relacionado com um risco maior de desenvolvimento de doença bipolar e, talvez, depressão maior em indivíduos inicialmente sem quadros afetivos; porém, os mesmos não encontraram maior risco de uso de cannabis entre aqueles com mania ou depressão sem esta comorbidade. Outra importante observação é que o uso de substâncias psicoativas em bipolares pode estar associado a uma série de características negativas, como dificuldade na recuperação dos sintomas afetivos, maior número de internações, piora na adesão ao tratamento, risco aumentado de suicídio, agressividade e a uma pobre resposta ao lítio. Tratamentos psicossociais e farmacológicos são indicados para o manejo da comorbidade entre cannabis e transtornos afetivos.
CONCLUSÃO:
As relações entre o uso de cannabis e alterações do humor são observadas tanto epidemiologicamente quanto nos contextos clínicos.

Descritores: Cannabis; Depressão; Transtorno bipolar; Fatores de risco; Estudos transversais


ABSTRACT

OBJECTIVE: Evaluate the relationship between acute and chronic use of cannabis and mood changes.
METHOD:
Articles were selected by electronic search in PubMed. Chapters in books and reference lists of selected articles were also reviewed. As the research did not involve humans, there was no evaluation by a Research Ethics Committee.
RESULTS: High rates of comorbidity between use/abuse/dependence of cannabis and affective disorders in longitudinal studies and in clinical samples were observed. Longitudinal studies indicate that, in long-term, the higher use of cannabis is associated with an increased risk of developing bipolar disorder, and probably, major depression in subjects initially without affective disorder, but was not found increased risk of cannabis use among those initially only with mania or depression. Another important observation is that substance abuse in bipolar patients may be associated with a number of negative characteristics, such as difficulty in recovering the affective symptoms, more hospitalizations, poor compliance with treatment, increased risk of suicide, aggression and a poor response to lithium. Psychosocial and pharmacological treatments are indicated for the management of comorbidity between cannabis and affective disorders.
CONCLUSION: The relationship between cannabis use and mood changes are observed both in the epidemiological research and in the clinical settings.

Descriptors: Cannabis; Depression; Bipolar disorder; Risk factors; Cross sectional studies


Introdução

Os efeitos gerais do uso de cannabis sobre o humor e as relações específicas com os transtornos afetivos (transtorno bipolar e depressão) são importantes epidemiologicamente, fornecendo informações significativas para a organização de serviços de saúde mental e para a clínica cotidiana.

De forma geral, pode-se considerar duas importantes relações do uso de cannabis com o humor: 1) alterações do seu estado basal, no caso de usuários sem um quadro psiquiátrico estabelecido e 2) desencadeamento ou intensificação de sintomas de alterações psiquiátricas específicas.

Os artigos selecionados para presente revisão foram identificados por meio de busca eletrônica no banco de dados PubMed, identificando-se os estudos e revisões da literatura sobre cannabis e humor. Capítulos de livros e as listas de referências dos artigos selecionados também foram revisados

Alterações do estado basal do humor

O efeito euforizante da cannabis provavelmente é o fator mais importante relacionado com a sua ampla difusão e uso. Usuários relatam frequentemente que essa sensação de euforia, relaxamento e despreocupação ("o barato") é a razão do uso da substância. Pequenas doses, quando usadas em grupo, com muita frequência induzem a um comportamento loquaz, risonho e alegre, muito semelhante àquele observado quando o álcool é utilizado "socialmente". Com o uso continuado, pode ocorrer tolerância a esse efeito, contribuindo para que alguns usuários passem a utilizar doses cada vez maiores e com mais frequência, desenvolvendo quadros de abuso e dependência1-4.

Por outro lado, uma parcela significativa dos usuários, principalmente os iniciantes, relata reações disfóricas durante a intoxicação aguda, as quais podem incluir ansiedade importante (incluindo ataques de pânico com medo de morrer e de perder o controle), sensações corporais desagradáveis, inquietação, despersonalização, desrealização e ideias paranoides. Pode ocorrer alternância entre sensações de euforia e disforia no mesmo indivíduo. Essa variabilidade de efeitos relatados provavelmente está relacionada com características específicas da substância (dose, modo de administração), do contexto em que é usada (em grupo ou sozinho, local de uso etc.) e do próprio usuário (características de personalidade, expectativas referentes ao uso)1,2,4.

Alterações psicológicas e comportamentais podem ser mantidas além da duração dos efeitos da intoxicação aguda por cannabis, incluindo sintomas afetivos como humor expansivo/eufórico e aumento de autoestima/grandiosidade, além de sintomas psicóticos (delírios e alucinações), despersonalização e desrealização, os quais geralmente se resolvem em poucos dias. Esses quadros são normalmente relacionados ao uso de grandes quantidades da substância e podem estar se tornando mais comuns com o surgimento de preparações cada vez mais potentes1-3,5,6.

A parada do uso crônico e intenso da substância pode levar ao aparecimento de sintomas como afeto disfórico (ansiedade, irritabilidade, tristeza), variações bruscas de humor, junto com outros sintomas psicológicos, comportamentais e somáticos. Até pouco tempo, persistia a controvérsia se estes sintomas constituem uma verdadeira síndrome de abstinência; porém, estudos recentes sugerem fortemente a existência desta7.

Uso de cannabis e transtornos afetivos

Diversos estudos têm encontrado uma associação importante entre o uso de cannabis e os quadros afetivos (transtorno afetivo bipolar, TAB, e depressão) nos serviços especializados de saúde mental, na assistência primária à saúde e na população como um todo. Inicialmente, discutiremos a relação entre o uso de cannabis e o transtorno bipolar e, depois, entre uso de cannabis e depressão, destacando os aspectos epidemiológicos e clínicos, os modelos etiológicos dessas comorbidades e as implicações quanto ao tratamento.

Uso de cannabis e TAB

1. Aspectos epidemiológicos e clínicos

O TAB apresenta a maior comorbidade com o abuso de substâncias entre todas as patologias do eixo I, sendo a cannabis a droga de escolha em cerca de 20% dos bipolares, índice que sobe quando se considera que dois terços deles já fizeram uso desta substância em algum momento de suas vidas8,9. Além disto, muitos estudos9-14 têm demonstrado que a comorbidade entre TAB e abuso/dependência à cannabis (A/DC) vai além do que seria esperado pelo acaso.

A associação destas duas patologias (TAB e A/DC) em um mesmo indivíduo pode ter um grande impacto na vida deste, como o observado em vários estudos. Sonne et al. e Feinman & Dunner encontraram que o aparecimento precoce do TAB aumentaria a probabilidade de um uso posterior de drogas (principalmente álcool e maconha)15,16. No entanto, Strakowski et al. consideraram que, independentemente do que ocorre primeiro, a comorbidade entre cannabis e TAB piorava o prognóstico de pacientes bipolares, quando comparados aos mesmos, porém sem uso de cannabis17. Em outro estudo, Henquet et al. acompanharam 4.815 sujeitos por um período de três anos, no qual foi verificado que o uso de cannabis no início do estudo aumentava significativamente o risco de aparecimento de sintomas maníacos durante o período de seguimento18. Os dados foram corrigidos para idade, sexo, nível educacional, etnia, estado civil, neuroticismo, sintomas depressivos e maníacos no período "baseline". Esta associação foi ainda independente da prevalência e incidência de sintomas psicóticos. Neste estudo não foi observado o inverso, ou seja, a presença de sintomas maníacos no baseline não aumentou o risco de uso da maconha no período de seguimento.

De um modo geral, parece que o uso de substâncias psicoativas em bipolares pode estar associado a uma série de características negativas, como dificuldade na recuperação dos sintomas afetivos, maior número de internações, piora na adesão ao tratamento, risco aumentado de suicídio, agressividade e a uma pobre resposta ao lítio13,19-23. No estudo de van Rossum et al., no qual mais de três mil sujeitos foram acompanhados por um período de um ano, os prejuízos clínicos foram bem mais evidentes do que os prejuízos sociais20. Além disso, os bipolares que fizeram uso de cannabis tiveram maiores índices de uso de outras substâncias ilícitas. Assim, apesar do claro prejuízo em diversos aspectos clínicos que o uso da cannabis provoca em pacientes bipolares, a relativa preservação de alguns aspectos do funcionamento social pode desencorajar a busca por tratamento de modo precoce e, assim, piorar o seu prognóstico.

Outra questão importante nesta comorbidade é saber se o uso de cannabis aumenta o número de recaídas nestes pacientes. Strakowski et al. realizaram estudo prospectivo com um ano de seguimento e observaram que o uso da cannabis não está tão diretamente relacionado a recaídas (21% continuaram o uso de cannabis e não recaíram neste período), como ocorre com o uso do álcool24. Este mesmo autor e seus colaboradores também encontraram uma associação entre uso de cannabis e mania, enquanto que a depressão foi associada ao uso de álcool13. No estudo de Feinman e Dunner, observou-se que os bipolares com co-ocorrência de problemas relacionados a álcool e drogas apresentavam mais ciclagem do que os bipolares "puros", talvez pela ação das drogas aumentando a labilidade do humor nestes pacientes ou pelo fato de que indivíduos com ciclagem rápida apresentam maior propensão ao uso de álcool e maconha16.

Modelos etiológicos para a associação entre uso de cannabis e TAB

Alguns autores têm considerado o TAB como um transtorno com mais características biológicas quando comparado aos quadros depressivos e ansiosos25, facilitando, em parte, a investigação de teorias que possam explicar a co-ocorrência entre TAB e problemas relacionados a drogas. Os principais modelos para as possíveis explicações para a alta comorbidade entre estas duas patologias são: 1) fatores comuns; 2) uso secundário de substâncias; 3) desordens psiquiátricas secundárias; e, finalmente, 4) modelos bidirecionais.

No primeiro modelo haveria, por exemplo, uma vulnerabilidade genética ou presença de traços antissociais que seriam compartilhados tanto pelo TAB quanto pela dependência a drogas. No segundo modelo, o próprio TAB aumentaria a chance da ocorrência de uso de drogas. O terceiro modelo seria o oposto do segundo, ou seja, o uso de drogas levaria ao aparecimento de TAB em indivíduos não suscetíveis. No quarto e último modelo, tanto o TAB quanto o uso de drogas aumentaria a chance de ocorrência do outro transtorno. A seguir, serão apresentadas discussões relativas a cada um destes modelos.

1. Fatores comuns

Dentre os possíveis fatores comuns do TAB e do A/DC, merecem atenção os fatores genéticos, o transtorno de hiperatividade e déficit de atenção (TDAH), além traços de personalidade impulsiva e patologias específicas do eixo II.

Estudos em famílias de indivíduos bipolares, dependentes químicos e estudos com gêmeos mostram que fatores genéticos podem contribuir para o desenvolvimento de TAB e de A/DC. A questão é se a vulnerabilidade genética para um transtorno poderia facilitar o aparecimento do outro25,26.

Um dos fatores comuns a estes dois transtornos pode ser o transtorno de personalidade antissocial (TPAS). Estudos têm demonstrado que o TPAS e os transtornos de conduta na criança são fortemente associados ao uso de drogas na idade adulta e doenças psiquiátricas do eixo I10,27,28. Um fato que precisa ser considerado em futuros estudos refere-se à possibilidade de que o uso de drogas possa causar ou ser acompanhado de comportamentos antissociais, levando a um diagnóstico errôneo de TPAS25.

Outra característica comum que pode estar envolvida na comorbidade TAB e A/DC é a impulsividade enquanto traço do indivíduo. Neste sentido, há estudos que demonstram níveis aumentados de impulsividade basal (fora dos episódios de uso de substância e entre os episódios de mania), sendo que nos indivíduos comórbidos estes níveis são ainda maiores29,30. Distúrbios como o transtorno de personalidade borderline e o TDAH, que apresentam a impulsividade como uma de suas características, também são comuns tanto no TAB quanto nos indivíduos com problemas de A/DC31,32.

2. Uso secundário de substâncias

Neste modelo, o estímulo para o uso de cannabis seria reforçado pela presença de um quadro bipolar prévio. No estudo de 20 anos de seguimento, de Merikangas et al., a presença de sintomas maniatiformes (abaixo da linha de corte para o transtorno bipolar) foi associado a um aumento no risco de desenvolvimento de abuso e dependência ao álcool, aos benzodiazepínicos e à cannabis33. Neste mesmo sentido, talvez o uso da cannabis possa ocorrer em decorrência de um pródromo do TAB, no qual a presença de oscilações bruscas do humor, impulsividade e julgamento crítico da realidade prejudicado predisporiam ao uso da cannabis13,34.

Outra possibilidade para o aumento da comorbidade entre o TAB e o A/DC poderia ser decorrente de uma hipersensibilidade a substâncias ilícitas. A hipótese segue o modelo proposto para a esquizofrenia e, embora não possa se estender diretamente ao transtorno bipolar, o mesmo raciocínio pode ser válido. De acordo com este modelo, indivíduos com vulnerabilidade psicobiológica, determinada pela combinação de fatores genéticos e eventos ambientais precoces (período perinatal), reagem negativamente com estressores ambientais e desenvolvem o transtorno psiquiátrico, esquizofrenia ou TAB. Nesta situação, as medicações psicotrópicas diminuiriam a vulnerabilidade, enquanto que as drogas poderiam aumentar esta vulnerabilidade25.

No modelo da automedicação, os pacientes procurariam a droga numa tentativa de alívio de vários sintomas do TAB, como por exemplo, a disforia25,35. Esta pode ser entendida como um dos sintomas-chave para o uso secundário de drogas, incluindo a cannabis. Sabe-se que pessoas bipolares são propensas a frequentes episódios de disforia, assim sendo, é sensato imaginar que esta sensação de mal-estar leve o indivíduo a procurar substâncias psicoativas. Em um primeiro momento, haveria alívio dos sintomas, até a instalação da adição a drogas, que então passaria a piorar o estado mental do paciente. Muitos estudos suportam a hipótese de que bipolares apresentam altos índices de disforia25, embora outros mostrem o contrário36,37.

Propõe-se também um modelo no qual múltiplos fatores de risco frequentemente ocasionados pelo transtorno mental - como isolamento social, pouca habilidade interpessoal, dificuldades cognitivas e/ou escolares, pobreza, falta de estrutura nas atividades diárias, associação com "turmas desviantes" - poderia levar ao uso secundário de drogas em pacientes bipolares. Esta ideia é reforçada pela observação de que alguns pacientes poderiam ter a sensação de uma melhora no convívio social ao fazerem uso de maconha20,25.

Como os estudos que investigam diretamente esta condição são escassos, não se pode confirmar esta teoria. Além disso, alguns autores13 relatam que, na maioria dos casos, o uso de drogas precede o aparecimento do TAB, evidência contrária à hipótese de A/DC secundária ao TAB.

3. Desordens psiquiátricas secundárias

Baseando-se na hipótese das catecolaminas do transtorno bipolar, pode-se supor que drogas que tenham ação em neurotransmissores são potencialmente relacionadas ao TAB25. Evidências como as mostradas por D'Souza et al.38 e Murray et al.39, de que o tetraidrocanabinol (THC) aumenta a atividade dopaminérgica mesolímbica e também os níveis glutamatérgicos no córtex pré-frontal podem estar relacionadas ao desenvolvimento de sintomas maniatiformes, uma vez que estas mesmas alterações são observadas na mania40-43.

Modelos animais ("kindling" e sensibilização comportamental)44 têm demonstrado ação sensibilizadora das drogas psicomiméticas sobre respostas eletrofisiológicas e comportamentais. Estes modelos podem estar associados ao mecanismo pelo qual as drogas de abuso precipitam o aparecimento de um quadro de esquizofrenia ou TAB45,46.

Os principais estudos nesta área não apresentam resultados unânimes, porém, a maioria deles tem indicado que o uso em idade precoce e regular de cannabis está associado a um risco aumentado de aparecimento de ideação/tentativa de suicídio, de sintomas maníacos ou até mesmo de um quadro afetivo18,36,47. No trabalho de Laar et al., o risco de desenvolvimento de TAB foi bastante expressivo, com aumento no risco de até cinco vezes mais chances de desenvolvimento de TAB em usuários regulares de maconha48.

4. Modelos bidirecionais

Os modelos bidirecionais sugerem interações dos efeitos do TAB e do uso de drogas contribuindo para o aumento da comorbidade. Por exemplo, o uso de drogas poderia desencadear o aparecimento do TAB em indivíduos com predisposição genética. O TAB seria subsequentemente mantido pelo uso contínuo da droga por questões culturais. Este modelo carece de evidências sólidas e de um número maior de estudos que possam testá-lo. Por hora, ele permanece no campo das hipóteses25.

Tratamento na comorbidade uso/abuso/dependência de cannabis e TAB

Há poucos estudos na literatura que delineiam as bases do tratamento de pacientes com comorbidade entre TAB e A/DC. Porém, independentemente da escolha medicamentosa, o suporte psicoterápico tanto para o paciente quanto para seus familiares é de suma importância. Neste sentido, destacam-se três tipos de terapias, que têm sido mais bem avaliadas neste grupo de pacientes: abordagens baseadas em entrevista motivacional, em terapias cognitivo-comportamentais e terapias comportamentais baseadas em manejo de contingências (fornecimento de incentivos para pacientes que realizam determinados comportamentos, como abstinência, por exemplo)49. O trabalho conjunto com grupos de autoajuda e outras fontes de apoio na comunidade para o paciente é frequentemente possível e desejável, melhorando os resultados do tratamento50. O foco principal deve ser o controle (abstinência total, se possível) do uso de drogas e a estabilização do humor. Sabe-se que a interrupção do uso de drogas já pode, por si só, melhorar o quadro afetivo do paciente51,52.

O divalproato sódico e a carbamazepina são medicações com resultados satisfatórios em pacientes com TAB e abuso de substâncias, porém são medicações com risco de dano hepático; assim, devem ser usadas com cautela e com avaliação clínica rigorosa, pois pacientes com esta comorbidade apresentam, com frequência, hepatite viral ou alcoólica52.

O lítio apresenta bons resultados em alguns estudos, mas não em outros. Seu uso necessita de controle laboratorial rigoroso e apresenta risco significativo de intoxicação e/ou interações clinicamente significativas com outras substâncias52. Além disso, Weiss et al. relataram maior adesão com o valproato quando comparado ao lítio em bipolares com A/DC53.

O uso de antipsicóticos típicos pode estar relacionado a um aumento da procura por drogas ilícitas nestes pacientes. Entretanto, há relatos de que o uso da clozapina, um antipsicótico atípico, está associado a reduções no consumo de substâncias psicoativas22. A quetiapina, outro medicamento atípico, mostrou-se eficaz na redução média do consumo de maconha de 35g por semana para apenas 1g/semana em oito pacientes estudados por Potvin et al.54.

Importante observação foi relatada no estudo de Strakowski et al., que após um período de internação por um quadro de mania, há uma janela na qual estes pacientes permanecem em abstinência à maconha, e sugerem, desta forma, intervenções incisivas e precoces neste período a fim de manter estes pacientes em abstinência à droga, o que se torna um desafio, visto que a maioria dos serviços públicos não têm por hábito agendar retornos precoces a pacientes egressos de internações integrais17.

Possíveis efeitos benéficos da cannabis sobre o TAB

Discute-se a possibilidade de que as propriedades neurofarmacológicas dos canabinoides poderiam ajudar no tratamento de sintomas depressivos e/ou maníacos. Os canabinoides encontrados na planta da maconha poderiam exercer este efeito terapêutico por meio de suas ações anticonvulsivantes (possível ação estabilizadora) e protetoras contra a neurotoxicidade glutamatérgica8,35,55. Alguns poucos relatos de caso favorecem esta ideia, como as descrições de Grinspoon e Bakalar, que citaram cinco pacientes que apresentavam melhora dos sintomas maníacos quando faziam uso de maconha, inclusive com descrições de que ainda que o lítio pudesse também equilibrar o paciente, este não proporcionava a sensação de bem-estar que a cannabis causava55.

Gruber et al., por sua vez, relataram cinco casos de alívio de sintomas depressivos após o uso de cannabis, com eficácia superior ao uso de antidepressivos convencionais56. Estes possíveis efeitos terapêuticos são justificados pela literatura como decorrentes de certas propriedades farmacológicas tanto do THC quanto do canabidiol (CBD) - entre elas, pode-se citar a ação anticonvulsivante, ansiolítica e antipsicótica do CBD e o efeito antidepressivo do THC35,56-59.

Desta forma, a combinação de vários efeitos produzidos pelo THC (ação ansiolítica e antidepressiva) e pelo CBD (ação antipsicótica, anticonvulsivante e neuroprotetora) poderia apresentar ação terapêutica em pacientes bipolares60,61. No entanto, evidências iniciais do uso do CBD em modelos animais e no tratamento de episódio maníaco não confirmaram o efeito terapêutico desse canabinoide62,63. Assim, há que se ter em mente que estas "possíveis" ações terapêuticas proporcionadas pela maconha necessitam de comprovação sistemática e como os estudos até o momento mostram mais riscos da associação da cannabis no TAB do que benefícios, conclui-se que o uso da cannabis como adjuvante no tratamento do TAB deve ser restrito aos ambientes de pesquisa, exclusivamente17.

Uso de cannabis e depressão

1. Aspectos epidemiológicos e clínicos

Há décadas existem relatos de casos de desenvolvimento de sintomas depressivos relacionados ao uso de cannabis. No entanto, como já citado anteriormente, também foram descritos casos nos quais ocorreu o desenvolvimento de sintomas maníacos após o uso e também da cannabis sendo usada como antidepressivo ou estabilizador do humor36,56-58.

Estudos sobre as relações entre uso de cannabis e depressão em populações realizando tratamento psiquiátrico sugerem que a presença de abuso/dependência está relacionada com um maior número de episódios depressivos ao longo da vida e que o tratamento da dependência comórbida com depressão maior está associado a um pior resultado no sexo masculino36,64.

Estudos de prevalência realizados com amostras não representativas da população em geral (entre adolescentes, jovens adultos, universitários e pacientes de serviços de cuidados primários) encontraram resultados conflitantes entre si, difíceis de interpretar em conjunto pelas diferentes metodologias e definições usadas (p.ex. quanto ao que é considerado usuário pesado ou ocasional), além de envolverem amostras pequenas que frequentemente não eram representativas da população específica estudada36.

Desde a publicação dos resultados do Epidemiologic Catchment Área (ECA)9, vêm sendo descritos estudos envolvendo amostras representativas da população em geral, alguns dos quais avaliaram as associações transversais entre o uso de cannabis e depressão.

Alguns desses estudos descreveram a incidência de depressão maior ou transtornos afetivos em usuários de cannabis comparada com a incidência nos adultos em geral ou em adolescentes e adultos jovens. Dois estudos norte-americanos abordaram a questão: um deles encontrou, na população adulta, um risco 6,4 vezes maior de apresentar depressão entre aquelas pessoas que sofriam de abuso ou dependência de cannabis65 e o outro estudo encontrou um risco 3,4 vezes maior66. Na Austrália, encontrou-se que os usuários de cannabis apresentavam um risco maior que a população em geral de apresentarem transtornos afetivos, com a prevalência desses transtornos chegando a 14% entre os dependentes de cannabis em comparação com os não usuários67.

Outros estudos em amostras representativas de adolescentes e jovens adultos também encontraram resultados semelhantes. Um trabalho australiano encontrou entre os adolescentes que já tinham usado cannabis uma chance três vezes maior de desenvolver depressão em comparação com aqueles que nunca haviam usado68; um estudo neozelandês encontrou um risco progressivamente aumentado de depressão conforme o aumento da frequência do uso de cannabis69.

Quanto à incidência de uso frequente de cannabis ou A/DC entre os indivíduos deprimidos, um dos estudos norte-americanos já citados encontrou que a chance de um adulto apresentar dependência de cannabis era 2,4 vezes maior entre aqueles que apresentaram depressão maior em relação à população em geral66. Um estudo europeu encontrou um risco 2,3 vezes maior de uso semanal de maconha entre adultos jovens com depressão em comparação com aqueles não deprimidos70.

Modelos etiológicos para a associação entre uso de cannabis e depressão

A associação entre uso de cannabis e depressão, como no caso da associação com transtorno bipolar, também pode ser explicada por basicamente quatro modelos: 1) existem fatores comuns que causam tanto depressão como uso de cannabis; 2) depressão é causa do uso de cannabis; 3) o uso de cannabis é causa de depressão; e 4) modelos bidirecionais. Provavelmente, a melhor maneira de avaliar essas possibilidades é por meio de estudos longitudinais3,36,71-73.

Assim, estudos longitudinais que avaliaram se a presença de depressão na adolescência estava relacionada com um risco aumentado de usar de cannabis posteriormente não encontraram associações significativas36,47,74,75.

Uma revisão sistemática76 publicada em 2007 avaliou 10 estudos que examinaram a relação entre o uso de cannabis na adolescência e/ou início da vida adulta e o diagnóstico de depressão posteriormente (feito por meio de entrevistas estruturadas ou com o uso de questionários validados). Cinco desses estudos47,69,77-79 encontraram associações significativas mesmo após ajustamento estatístico considerando outras variáveis. Os outros estudos encontraram associações não significativas ou não encontraram associação de todo74,80-83. No conjunto de estudos (cinco no total) que avaliaram a exposição à cannabis por meio de medidas de frequência - o qual foi considerado adequado para metanálise pelos autores -, quatro descreveram uma associação tipo dose-resposta entre frequência de uso de cannabis e risco de desenvolver depressão; encontrou-se um risco relativo de 1,4976. Os autores optaram por não realizar uma metanálise dos 10 estudos devido à heterogeneidade das medidas de exposição à cannabis (que incluíam qualquer uso, frequência de uso e abuso e dependência)76.

Em outros três estudos - publicados posteriormente à confecção desta metanálise - foram descritos tanto resultados apontando para não associação entre uso de cannabis e depressão84,85 como para associação significativa48.

Então, podemos considerar que - tanto pelo conjunto dos resultados como pela qualidade metodológica insatisfatória de vários estudos - não está definido claramente se o uso de cannabis implica em risco aumentado de depressão.

Caso esse risco aumentado realmente ocorra, as razões para isso podem estar relacionadas com vários fatores. Não parece que ações da cannabis em sistemas neurotransmissores estejam relacionadas com a facilitação da instalação de quadros depressivos. Provavelmente, os efeitos do uso de cannabis relacionados com o aumento do risco de depressão são mediados socialmente, pois existem evidências de que o uso regular e/ou precoce dessa substância possa facilitar situações como desemprego, dificuldade de acesso à educação e envolvimento em crimes. Finalmente, ainda não é possível descartar completamente que fatores comuns relacionados à família e/ou ao meio social possam ser a causa da associação36.

Para esclarecer essas questões são necessários mais estudos longitudinais populacionais e entre gêmeos discordantes para uso e/ou abuso e/ou dependência de cannabis e depressão36,74.

Tratamento da comorbidade uso/abuso/dependência de cannabis e depressão

Como já referido quanto ao TAB, existem poucos estudos abordando especificamente o tratamento da comorbidade depressão e uso/abuso/dependência de substâncias psicoativas.

As terapias baseadas em entrevista motivacional, cognitivo-comportamentais e de manejo de contingências também são úteis para tratar essa comorbidade49. A entrevista motivacional especialmente tem demonstrado bons resultados no tratamento da dependência de cannabis em estudo multicêntrico86. Quanto ao tratamento medicamentoso, apenas um estudo randomizado duplo-cego pesquisando a resposta a inibidores seletivos da recaptação de serotonina incluiu adolescentes com abuso e dependência de cannabis, encontrando que essas medicações são eficazes para tratar depressão nesta população. Um achado interessante do mesmo estudo foi o alto índice de resposta ao tratamento de depressão com terapia cognitivo-comportamental associada a placebo, mostrando novamente a importância das terapias não farmacológicas87.

Conclusão

Assim como para psicose88 e ansiedade89, esta revisão reforça a necessidade de investigação cuidadosa de presença concomitante de uso de maconha em pacientes com transtorno bipolar e depressão, bem como a possível presença de transtornos afetivos em indivíduos diagnosticados como usuários dessa substância. Isto pode proporcionar uma abordagem mais adequada, com chances de melhor prognóstico. O tratamento deve abranger as duas condições e as outras necessidades individuais de cada paciente.

Revista Brasileira de Psiquiatria version ISSN 1516-4446 Rev. Bras. Psiquiatr. vol.32 no.2 São Paulo June 2010 doi: 10.1590/S1516-44462010000200014
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Correspondence:
Rafael Faria Sanches
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14049-900 Ribeirão Preto, SP, Brasil
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Submetido: 15 Fevereiro 2010
Aceito: 8 Março 2010