Estudos mostram que a maconha apressa o surgimento – e agrava os sintomas – de doenças mentais como a esquizofrenia
A esquizofrenia é um distúrbio psiquiátrico que afeta sete em cada 1.000 pessoas no mundo, com sintomas como alucinações, desvios de percepção, discursos confusos e isolamento voluntário. Acredita-se que metade dos casos tenha origem genética, mas ainda não se desvendou por completo sua patogenia. Uma das principais linhas de pesquisa relaciona a esquizofrenia ao consumo de maconha. Muitos estudos concluem que a droga pode estimular e ampliar os sintomas da doença. Essa tese ganhou força há duas semanas com a divulgação de uma pesquisa conduzida na Holanda. Um grupo de médicos avaliou o comportamento de oitenta usuários da droga – 42 deles portadores de distúrbios psicóticos, como a esquizofrenia. Eles foram acompanhados por seis dias. A cada 85 minutos, tinham de responder a um questionário sobre em que estágio do efeito da droga se encontravam e qual era o seu estado de espírito naquele momento. Nos usuários com psicoses, os efeitos colaterais da maconha, como as alucinações, continuaram a se manifestar e até se intensificaram após – e não apenas durante – o período ativo da droga.
O estudo concluiu que os pacientes esquizofrênicos são mais sensíveis aos efeitos da maconha. Disse a VEJA a psiquiatra Cécile Henquet, que conduziu o estudo holandês: “Embora o uso da droga tenha também seus efeitos positivos nos pacientes com esquizofrenia, como a perda de timidez, após horas do consumo as manifestações psicóticas aparecem em escala aumentada. Por isso, a exemplo do que concluiu um recente estudo americano, podemos sugerir que o consumo de maconha antecipa a manifestação da esquizofrenia”.
Há tempos a maconha é apontada como vilã para os portadores de distúrbios psiquiátricos. Estudos realizados há uma década nos Estados Unidos já mostravam que os esquizofrênicos usuários da droga eram hospitalizados com mais freqüência, respondiam menos a medicamentos e tinham dificuldade em completar testes de memória. A própria composição química da maconha sustenta essas teorias. Um componente chamado tetraidrocanabinol causa alucinações e, quando administrado em altas doses pode provocar crises de paranóia. Entretanto, outro componente químico presente na droga, o canabidiol, tem efeito contrário, antipsicótico. É nele que se baseiam aqueles que vêem na maconha uma erva medicinal. Em estados americanos em que a droga é legalizada para fins terapêuticos, como Califórnia e Nova York, existem cursos em universidades que estudam os efeitos medicinais da maconha e ensinam como cultiva-la. Para a maioria dos cientistas, difícil mesmo é engolir que uma droga que agrava as psicoses possa fazer bem.
Carolina Romanini
Revista Veja – edição 2176, de 04.08.2010 – pg. 125.
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