segunda-feira, 9 de abril de 2012

O Perigo do Infarto Silencioso_1/2

por Adriana Dias Lopes

Revista Veja n° 2258, de 29/02/2012, págs. 84/85


Um estudo baseado nos prontuários de quase 1,2 milhão de pacientes internados em 1.600 hospitais nos Estados Unidos, entre 1994 e 2006, dá a real dimensão de um dos maiores desafios da cardiologia – a fragilidade e as peculiaridades do coração feminino. Publicado na mais recente edição da revista da Associação Médica Americana (Jama), o trabalho mostra que, para quase metade das mulheres, o infarto provoca um desconforto de baixa ou média intensidade, atingindo sobretudo as costas, o estômago e as mandíbulas. Muito diferentes dos sintomas clássicos do infarto em homens, que são dor aguda no peito, com irradiação para um ou os dois braços e suor frio intenso. O sexo feminino sofre com o infarto silencioso. “Quando os sinais da doença são camuflados, médicos e pacientes podem subestimar o problema, adiando o diagnóstico e, consequentemente, o seu tratamento”, diz Roberto Kalil, diretor do Instituto do Coração (Incor) e do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, ambos em São Paulo0 .Por causa do atendimento médico tardio, o número de mulheres vítimas fatais de um infarto é 50% maior que o de homens. Todos os anos, 31.000 brasileiras morrem infartadas - o triplo das mortes por câncer de mama.

O atendimento a um infartado, mulher ou homem, é sempre uma prova de velocidade. Quanto mais tempo o coração fica sem receber oxigênio, maior o volume de músculo cardíaco lesionado. Os mais recentes protocolos de atendimento preconizam que os exames e o tratamento devem ser realizados na primeira hora depois do início do infarto – “a hora de ouro”, no jargão dos médicos. “Nesse período os índices de pacientes recuperados sem nenhuma sequela chegam a 75%, diz o cardiologista Marcus Bolivar Malachias, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Três horas depois, as taxas de recuperação caem para 25%. Em decorrência da falta de sintomas específicos, as mulheres levam, em média, justamente três horas para procurar ajuda. Além disso, muitas ainda descrevem o mal-estar como suspeita de gastrite ou má digestão. Não é raro uma mulher em processo de infarto receber o diagnóstico de falta de ar.

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