segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A mão esquerda sabe o que a direita está fazendo?

Metade do cérebro humano pode ser motivada a agir enquanto a outra parte é deixada na ignorância

© DORI OCONNELL/ISTOCKPHOTO

Você já se percebeu realizando algum gesto sem se dar conta dele? Sabemos, por exemplo, que é possível afastar um inseto que está voando na nossa frente antes mesmo de perceber conscientemente que ele está lá, ou ainda coçar uma picada de forma automática. Um estudo publicado no periódico Psychological Science realizado por cientistas do Institut National de La Santé (Inserm), em Paris, pode ajudar a explicar esse fato: metade do nosso cérebro pode ser motivada a agir enquanto a outra parte é deixada na ignorância.

Para chegar a essa conclusão, o grupo de cientistas mediu com que força 33 voluntários conseguiam apertar um cabo com cada mão. Em seguida, apresentaram a eles imagens com moedas de 1 euro e de 1 centavo de euro na tela de computador. As moedas eram visíveis apenas para um olho por vez e apareciam durante apenas 17 milissegundos – tempo suficiente para o processamento subliminar, mas não o consciente. Após cada imagem ter piscado, os participantes apertavam o cabo com a mão que o estivesse segurando. Os voluntários foram informados de que ganhariam uma fração maior de dinheiro de acordo com a força que usassem; cada um tentou quatro combinações de olhos e mãos: olho direito com a mão direita ou esquerda e olho esquerdo com a mão esquerda ou direita. Embora não pudessem saber qual moeda observaram – confirmando o fato de que não estavam conscientes do que tinham visto – quando viam a moeda com valor maior, apertavam com mais força se o cabo estivesse posicionado do mesmo lado do corpo que o olho que percebeu o dinheiro. Os apertos não se alteravam dependendo do que o olho oposto enxergava, indicando que apenas metade do cérebro estava sendo motivada.

O neurocientista cognitivo Mathias Pessiglione, coautor do estudo, explica que, às vezes, a motivação não é subconsciente; ela pode também ser “subpessoal”, isto é, parte pode ser estimulada enquanto a outra, não. Assim, na próxima vez que você for surpreendido em meio a uma ação estranha, tente perceber se é responsabilidade das metades independentes do cérebro.

edição 215 - Dezembro 2010

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