segunda-feira, 30 de maio de 2011

Ginástica para o Cérebro


O simples gesto de trocar de mão para escovar os dentes é um exercício de neuróbica. o termo "neuróbica" utilizado por lawrence c. katz em seu livro "mantenha o seu cérebro vivo" refere-se à nova ciência do exercício do cérebro. Pesquisas indicam que o processo de envelhecimento do cérebro não anula a capacidade extraordinária que este tem de crescer e mudar o padrão de suas conexões.

Assim como os exercícios físicos ajudam a manter a boa forma física, a neuróbica pode ajudar a melhorar a capacidade mental, ativando circuitos da rede associativa do cérebro que estão quase fora de uso, possibilitando maior flexibilidade mental. 
Segundo katz, a neuróbica oferece ao cérebro experiências fora da rotina, usando várias combinações dos sentidos – visão, olfato, tato, paladar e audição – além da experiência emocional.

A neuróbica estimula padrões de atividade neural criando mais conexões entre diferentes áreas do cérebro e faz com que as células nervosas produzam nutrientes naturais do cérebro, as neurotrofinas, que têm a capacidade de fortalecer as estruturas de conexão.

Os adultos perdem experiências multisensoriais fazendo uso de apenas um ou dois sentidos e a medida que envelhecem fazem opção pela previsibilidade, tentando tornar a vida mais fácil e menos estressante. O que aparenta ser prático, por um lado, acomoda o cérebro, reduzindo as oportunidades de novas associações. por outro lado, o cérebro tem fome de novidade e reage ao que é inesperado, como novas informações inéditas provenientes do mundo exterior. A novidade é que estimula o cérebro, fortalece as conexões sinápticas e acelera a produção de neurotrofinas. A neuróbica é um programa com base científica para ajudar as pessoas a modificar comportamentos, introduzindo o inesperado em seus cérebros e mobilizando a ajuda de todos os seus sentidos no dia-a-dia. entre os inúmeros exercícios sugeridos por katz, envolvendo um ou mais dos sentidos em novo contexto, estão:

escrever com a outra mão;

usar o relógio de pulso no braço direito;

escovar os dentes com a mão contrária da de costume;

andar pela casa de trás para frente;

vestir-so com os olhos fechados;

estimular o paladar, comendo coisas diferentes;

ver fotos ou ler um livro de cabeça para baixo;

ver as horas num espelho;

fazer um novo caminho para ir ao trabalho;

conversar com o vizinho que nunca dá bom dia...

Os exercícios têm por objetivo reativar áreas do córtex que processam o tato, o paladar e o olfato, sentidos normalmente substituídos pela visão e audição.

Agora, feche seus olhos e tente escrever seu nome numa folha de papel ou digitá-lo no teclado. ou ainda: troque o mouse de lado. tente, invente, faça alguma coisa diferente... vale a pena! ao fazer isso você estará ativando circuitos cerebrais raramente utilizados, estará praticando a neuróbica.

Boas descobertas!!!

fonte: Lawrence c. Katz (Mantenha o seu Cérebro Vivo, Editora Sextante, Rio de Janeiro, 2000)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Altruísmo pode afastar alcoólatra da bebida

Veja

Segundo levantamento americano, 40% dos dependentes que ajudam pessoas com o mesmo problema se mantêm abstêmios por até 15 meses.

Dados do projeto Match, uma das maiores pesquisas americanas sobre alcoolismo, mostram que 40% dos alcoólatras que ajudaram outras pessoas com o mesmo problema conseguiram ficar longe da bebida por 15 meses - a taxa cai para 22% entre os dependentes que não prestaram assistência nenhuma a terceiros. A atualização dos dados foi publicada na revista Alcoholism Treatment Quarterly. Mais: 94% dos alcoólatras que ajudavam outros dependentes e que mantiveram a atividade apresentaram menores níveis de depressão.

Outra pesquisa, realizada com alcoólatras que sofriam de transtorno dismórfico corporal, mostrou que os dependentes que ajudaram outras pessoas tinham mais chances de permanecer sóbrios e desenvolver uma imagem mais positiva sobre si mesmos. As vítimas do transtorno desenvolvem uma preocupação excessiva com a própria aparência,

“Essa pesquisa indica que participar ativamente de serviços ajuda alcoólatras e outros viciados a ficar sóbrios", diz a autora do estudo, Maria E. Pagano, professora de psiquiatria da Universidade Case Western Reserve, nos Estados Unidos. "O levantamento sugere que essa abordagem é aplicável a todas as pessoas que desejam deixar a bebida ou as drogas.” Os benefícios também foram registrados entre pessoas que precisam lidar com condições crônicas, como depressão, aids e dor crônica.

Fonte: UNIAD

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Labrador Tubby é campeão de reciclagem

Um labrador chamado Tubby ajudou a reciclar 26 mil garrafas de plástico em seis anos no País de Gales, segundo estimativas de sua dona, Sandra Gilmore.

Em suas duas caminhadas diárias, o labrador recolhe, em média, seis garrafas encontradas no chão, antes de esmagá-las com a boca.

Tubby entrega todas as garrafas para sua dona, que mora no condado de Torfaen, sudeste do País de Gales, que as leva para serem recicladas.

"Fico feliz de ele ter um nariz farejador para garrafas, e não ossos", disse o parlamentar local John Cunnigham.

"Ele desenterra as garrafas em qualquer lugar e se enfia embaixo de arbustos e até dentro d'água para pegá-las", disse a dona, de 51 anos.

"Eu gosto de fazer a minha parte, reciclando o máximo que posso - o Tubby me ajuda a fazer um trabalho ainda melhor."

"O Tubby deve ser o cão reciclador mais dedicado e verde das redondezas", completou.

Gilmore acredita que seu cão de estimação é atraído pelas garrafas por causa do barulho que elas fazem quando ele as esmaga.

Apesar de elogiar a reciclagem de Tubby, Gilmore diz que o hábito, às vezes, pode ser irritante.

"Muitas vezes sobrou algum líquido no fundo das garrafas que ele traz para casa, e ele se espalha por toda a parte", afirma.

Fonte: BBC Brasil

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Creatina ajuda a controlar glicemia em diabete tipo 2

Suplementação alimentar aliada a exercícios
físicos melhora a taxa de açúcar no sangue

26 de julho de 2010 | 14h46

Agência USP

SÃO PAULO - A suplementação alimentar de creatina - composto derivado de aminoácidos - aliada a exercícios físicos regulares melhora o controle glicêmico de pessoas com diabete tipo 2.

Pesquisas do Laboratório de Nutrição e Metabolismo da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP revelam que a creatina ajuda a controlar a taxa de açúcar no sangue, elevada em diabéticos. A segurança do composto também foi comprovada, pois não foram observadas alterações ou sobrecarga das funções renal e hepática nos participantes do estudo.

A diabete tipo 2 é caracterizada pela incapacidade das células absorverem glicose da corrente sanguínea, o que é explicado pela resistência do organismo à ação da insulina. As principais indicações médicas para o controle da doença são a prática de atividades físicas e o uso de hipoglicemiantes orais.

“Ambos ajudam a jogar o açúcar para dentro da célula, e a creatina pode ter um papel nessa função também”, afirma Bruno Gualano, professor do Departamento de Biodinâmica do Movimento Humano da EEFE e autor da pesquisa.

Os estudos constataram que a suplementação de creatina, juntamente com os exercícios físicos, é mais eficiente no tratamento da doença que os exercícios praticados isoladamente, e tão eficiente quanto à metformina - medicamento mais empregado no tratamento da diabete tipo 2.

Além disso, Gualano ressalta que a eficácia da creatina foi observada em conjunto às atividades, ou seja, apenas a suplementação de creatina, sem treinamento físico, poderia não resultar em benefícios.

A melhora observada se explica porque a creatina atuou no deslocamento, chamado de translocação, da proteína GLUT-4. “Ela fica dentro das células. Sua função é se deslocar do interior até a superfície, ‘pegar’ o açúcar que está fora, no sangue, e transferi-lo para dentro da célula”, explica Gualano.

Em diabéticos tipo 2, essa função não é realizada em níveis adequados. “A creatina atuou nesse aspecto, elevando a translocação de GLUT-4 a níveis similares aos observados em pessoas sem a doença”, completa.

Proibição

Até o fim de abril, suplementos alimentares de creatina tinham comercialização proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pois se alegava que seus possíveis efeitos nocivos não eram conhecidos. Porém, várias pesquisas científicas já comprovaram que o composto - produzido naturalmente pelo organismo - não é prejudicial à saúde se ingerido com moderação.

As pesquisas da EEFE constataram, mais uma vez, a segurança da creatina. Não houve nenhum tipo de prejuízo aos pacientes que ingeriram o composto, em doses de cinco gramas por dia, ao longo de três meses. Uma possível sobrecarga das funções renal e hepática também não foi observada.

“Um terço dos pacientes tinham doença renal crônica e, mesmo assim, não foram constatados problemas ou alterações. O mesmo vale em relação ao fígado”, aponta Gualano. Ele acrescenta: “A creatina tem um potencial terapêutico excepcional e pode ser essencial no tratamento de muitas doenças caracterizadas por perdas de força, massa muscular e óssea, cognição e sensibilidade à insulina".

O estudo foi orientado pelo professor Antonio Herbert Lancha Junior, do Departamento de Biodinâmica do Movimento Humano da EEFE.

Fonte: Estadão

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Diferentes sim, mas o que isso quer dizer?_3/3

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 3ª matéria, dividida em 3 partes: Diferentes sim, mas o que isso quer dizer?; que será publicada nos dias 16, 18, 20 de Maio.

por Lise Eliot

Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br

Estudos neurocientíficos mostraram que uma área cerebral responsável pela cognição social e pelo julgamento moral é proporcionalmente maior em “pessoas mais femininas”, independentemente de seu sexo biológico.



Cenas de BILLY ELLIOT, de 2000,
dirigido por Stephen Daldry, e
de MENINA DE OURO, de 2004,
de Clint Eastwood, apresentam
protagonistas com interesses que
desafiam estereótipos de gênero:
o garoto é apaixonado por balé e ela, por boxe.

Natureza ou educação?

Em outras palavras, parece haver vínculo entre o tamanho dessa área e a percepção social, mas não se trata simples diferença de macho-fêmea. Na realidade, o tamanho do giro reto parece refletir a feminilidade de uma pessoa, mais do que o sexo biológico: mulheres “menos femininas” apresentam um GR correspondentemente menor, comparadas às “mais femininas”, e idem para os homens.

Essa descoberta de que a estrutura do cérebro se correlaciona tão bem, ou até melhor, com o “gênero psicológico” que com o sexo biológico deve ser levada em consideração quando comparamos cérebro de homens e mulheres. Sim, pois eles são psicologicamente diferentes, e os neurocientistas têm comprovado isso., Mas só porque a diferença é biológica, não quer dizer que seja programada. Os traços de gênero dos indivíduos – suas preferências por roupas femininas ou masculinas, carreiras, hobbies e estilos interpessoais – são inevitavelmente moldados pelas criação e pelas experiências, o que não acontece com o sexo biológico. Da mesma forma, os cérebros que produzem os comportamentos masculinos ou femininos devem ser influenciados – pelo menos em algum grau – pela soma das experiências de cada um como meninos ou meninas.

Assim, cada vez que os cientistas relatam uma diferença entre cérebros segundo o sexo, cabe o questionamento “natureza ou criação?”. Afinal, o GR maior das mulheres é a causa de sua sensibilidade social ou conseqüência de uma prática de busca por percepções e respostas empáticas? Wood e seus colegas fazem parte dos poucos neurocientistas que analisam as diferenças entre o cérebro masculino e o feminino e sua relação com “tipo de gênero”, em vez de se basear estritamente no sexo biológico. Suas descobertas não provam que o aprendizado sustenta diferenças entre os cérebros masculino e feminino. E desafiam a ideia de que essas discrepâncias são simplesmente um produto do cromossomo Y. Ou X.

Para conhecer mais:

Meninos e meninas. David Dobbs. Especial Mente&Cérebro nº 10, pgs 56-61.

Arquitetura da diversidade. Larry Cahill. Especial Mente&Cérebro nº 10, pgs 42-49.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Diferentes sim, mas o que isso quer dizer?_2/3

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 3ª matéria, dividida em 3 partes: Diferentes sim, mas o que isso quer dizer?; que será publicada nos dias 10, 18, 20 de Maio.

por Lise Eliot

Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br

Estudos neurocientíficos mostraram que uma área cerebral responsável pela cognição social e pelo julgamento moral é proporcionalmente maior em “pessoas mais femininas”, independentemente de seu sexo biológico.


Um pouco maior

Estudos recentes, conduzidos por Peg Nopoulos, Jéssica Wood e seus colegas da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, ilustram como é difícil desembaraçar as influências da natureza e da criação, mesmo no âmbito da estrutura cerebral. Num primeiro estudo, publicado em março de 2008, os pesquisadores revelam uma descoberta: a subdivisão do córtex pré-frontal ventral (uma área desenvolvida na cognição social e no julgamento interpessoal) é proporcionalmente maior nas mulheres que nos homens. (O cérebro dos homens, aliás, é, ao todo, aproximadamente 10% maior que o das mulheres; portanto, comparações entre áreas cerebrais específicas devem ser colocadas em escalas proporcionais a essa diferença). Essa subdivisão, é conhecida como giro reto (GR), uma estreita faixa do córtex cerebral que margeia a linha central sob a superfície do lobo pré-frontal. Wood e Nopoulos descobriram que o giro reto era cerca de 10% maior nas 30 mulheres que eles estudaram, comparados aos 30 homens (considerado o tamanho do cérebro deles). E mais: chegaram à conclusão de que o tamanho do GR se correlacionava com testes de habilidades sociais e as pessoas (de ambos os gêneros) que tinham maiores pontuações em cognição interpessoal tendiam também a ter GR maiores.

Em um artigo, Wood e sus colegas especulam sobre as bases evolucionárias dessa diferença sexual. É possível que, uma vez eu mulheres são as educadoras primárias, seu sistema cerebral tenha sido programado para desenvolver um GR maior, de forma a prepará-las para serem criadoras mais sensíveis. Sabe-se que hormônios sexuais pré-natais alteram o comportamento e certas estruturas cerebrais em outros mamíferos. Talvez esses hormônios – ou genes sexuais específicos – aumentem o desenvolvimento do GR feminino (ou diminua o masculino), levando ao aparecimento de diferenças inatas na cognição social.

A melhor maneira de testar essa hipótese é olhar as crianças. Se as diferenças sexuais no GR estiverem presentes no início da vida, a força da ideia de programação inata se fortalece. Wood e Nopoulos realizaram um segundo estudo, junto com a colega Vesna Murko, no qual eles mediram as mesmas áreas do lobo frontal de crianças entre 7 e 17 anos. Os resultados, porém, foram inesperados: descobriram que o GR é, na verdade, maior em meninos! O mesmo teste de consciência interpessoal mostrou que a habilidade nessa área está correlacionada ao GR menor, e não maior, como em adultos. Os autores reconheceram que suas descobertas são complexas e discutem se a reversão entre adultos e crianças reflete a maturação tardia do cérebro dos meninos comparado ao das garotas. (Cérebros adolescentes passam por uma poda substancial para redução do volume da matéria cinzenta – esse processo acontece dois anos antes em meninas que em meninos.

Entretanto, em ambos os estudos, Wood adicionou outro teste que nos lembra de ter cautela ao interpretar qualquer descoberta em relação a diferenças sexuais entre os cérebros. Em vez de simplesmente dividir os voluntários entre homens e mulheres, ele também deu a cada participante um teste psicológico de “gênero”: um questionário que avalia o grau de masculinidade ou feminilidade de cada um – independentemente do sexo biológico. E tanto em adultos como em crianças essa medição se correlaciona também com o tamanho do GR – o mais desenvolvido está relacionado às personalidades mais femininas em adultos e mais masculinas em crianças.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Diferentes sim, mas o que isso quer dizer?_1/3

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 3ª matéria, dividida em 3 partes: Diferentes sim, mas o que isso quer dizer?; que será publicada nos dias 16, 18, 20 de Maio.

por Lise Eliot

Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br

Estudos neurocientíficos mostraram que uma área cerebral responsável pela cognição social e pelo julgamento moral é proporcionalmente maior em “pessoas mais femininas”, independentemente de seu sexo biológico.



Por que mulheres não pensam como homem, e vice-versa? Eles se localizam no espaço sem grandes esforços, se destacam na elaboração de sistemas que exigem precisão, e lhes parece fácil tanto elaborar quanto compreender mapas. Elas são mais hábeis para memorizar palavras, discriminam melhor os fonemas, prestam atenção aos detalhes e se saem muito bem em tarefas que exigem ordenação motora fina. Elas conversam sobre seus sentimentos e fazem confidências sem grandes dificuldades. Eles preferem falar de temas concretos e se sentem perdidos quando são convocados a discutir o relacionamento. Em situações profissionais representantes do sexo masculino tendem a ser diretos, valorizam a execução de tarefas e a obtenção de resultados. Já o estilo feminino de gerenciamento costuma ser voltado para a consulta e a inclusão – afinal, quando se trata de empatia é difícil que um representante do outro sexo possa supera-las. Mesmo as estratégias de dominação são diversas: enquanto eles utilizam a autoridade e, em alguns casos, até a agressão física, elas recorrem às habilidades verbais e, em algumas situações, apelam para intrigas e manipulações.

Há variações nas maneiras masculinas e femininas de olhar para si mesmo e para o mundo ao redor; há especifidades na forma de pensar, aprender, compreender e resolver problemas e, muitas vezes, até mesmo de sentir e desejar. Uma melhor compreensão das influências ambientais nos ajuda a analisar discrepâncias – no desempenho escolar, na propensão a correr riscos, na competitividade, na empatia e no zelo, por exemplo – já que, embora sob alguns aspectos diluídas, elas se apóiam em aspectos neuroquímicos, anatômicos, culturais e evolutivos. Entre tantos campos de estudo e possibilidades de olhares, a cognição social é uma área na qual a pesquisa de diferenças sexuais cerebrais pode ser especialmente proveitosa. Mulheres de todas as idades superam em testes que exigem o reconhecimento da emoção ou relacionamento com outras pessoas. O aparecimento precoce de qualquer diferença entre os sexos sugere que essa característica é programada de forma inata – selecionada ao longo da evolução e fixada em nosso desenvolvimento comportamental por meio da exposição pré-natal a hormônios ou da diferente expressão precoce de genes.

À primeira vista, estudos do cérebro parecem oferecer uma saída para o antigo dilema entre natureza e criação. Qualquer discrepância na estrutura e ativação de cérebros masculinos e femininos é biológica. Entretanto, pensar que tais diferenças são exclusivamente inatas ou programadas é inválido, visto tudo que aprendemos sobre a plasticidade e maleabilidade cerebral. Afinal, sabemos que, de forma simples, experiências mudam nosso cérebro.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

SÍNDROME DE DEPENDÊNCIA DE MACONHA

SÍNDROME DE DEPENDÊNCIA DE MACONHA

Analice Gigliotti (1); Cristiane Lopes (2); Ronaldo Laranjeira(3)

(1) médica psiquiatra, especialista em dependência química – UNIFESP –Mestre em Psiquiatria – UNIFESP – Chefe do Setor de Dependência Química da Santa Casa do Rio de Janeiro


Introdução

A maconha, nome comum da Cannabis sativa, é a droga ilícita mais usada em todo mundo, o que justifica o aumento das pesquisas em relação ao sistema canabinóide nos últimos 15 anos. Apesar do aumento dos estudos, principalmente em humanos, em torno das propriedades de abuso da maconha, ainda não são bem conhecidos seus efeitos psicotrópicos responsáveis por desenvolverem uma síndrome de dependência. Entender as mudanças que a maconha provoca no indivíduo ao longo do tempo é importante por várias razões, dentre elas, a prevenção de suas conseqüências, tais como prejuízo acadêmico, diminuição da produtividade laborativa e aumento do risco de uso de outras drogas.

Há ainda uma certa controvérsia a respeito da existência de uma síndrome de dependência da maconha, o que provoca grande polêmica na população leiga e principalmente entre os usuários de canabis, mas nos últimos anos, vem se acumulando evidências desta síndrome.


O reconhecimento da existência dessa síndrome é importante, pois seu desenvolvimento pode aumentar o risco de transtornos psiquiátricos como depressão, ansiedade e psicopatologias da personalidade. (1)


Em 1992 uma pesquisa feita pelo National Comorbidity Survey, com amostra representativa da população americana, mostrou que 4% dos indivíduos entrevistados de idade entre 15 e 54 anos preencheram critérios para dependência de maconha na data da avaliação. (2)


Além disso, em 1994, Anthony et al mostraram que de cada 11 indivíduos que usaram cannabis pelo menos uma vez na vida, um usuário desenvolveu síndrome de dependência de maconha de acordo com os critérios da DSM IV num período de 10 anos após o seu primeiro uso. Observou-se, também, que há um risco maior de desenvolvimento de dependência entre 1 e 3 anos após a primeiro experiência. (2) Newcomb et al (3) , mostrou em seu estudo prospectivo, iniciado em 1970, com acompanhamento por 12 anos, que 1 em cada 4 usuários de maconha desenvolveram síndrome de dependência no período compreendido entre a adolescência e a idade adulta jovem. Se esse risco fosse distribuído igualmente ao longo desses 12 anos ter-se-ia que cerca de 4% dos usuários tornaram-se dependentes a cada 2 anos.


Em estudo realizado em 2005, Campton et al (1) estudaram não somente a progressão como a prevalência do uso de maconha entre os anos de 1991-1992 e 2001-2002 em uma amostra de 42.862 e 43.093 pessoas, respectivamente, e observaram que não houve aumento significativo dos resultados na população geral, onde a prevalência de uso foi de 4% em ambos os períodos. Entretanto, houve um aumento significativo das taxas de abusadores ou dependentes entre os usuários de maconha entre os anos de 1991-1992 e 2001-2002 (30,2% e 35,6%, respectivamente). Este aumento, segundo os autores, pode estar relacionado, em parte, ao aumento do potencial adictivo da maconha, ou seja, houve um amento de 66% no teor de THC na amostra de maconha analisada em 2001-2002 (5,11%) comparativamente a de 1991-1992 (3,01% de THC).

Estudos realizados em humanos e em animais de laboratório comprovaram o efeito reforçador da maconha, através da auto-administração de canabinóides, ou seja, aqueles que foram expostos à substância tiveram maior probabilidade de procurar repetir seu uso, o que pode implicar um aumento da risco de abuso de maconha (4).

Acumulam-se também evidências de que o uso eventual de maconha tende a evoluir para o uso regular e daí para a dependência. Um estudo retrospectivo do grupo de trabalho de Transtornos por Uso de Substâncias da DSMIV, mostrou resultados consistentes com uma progressão para dependência nos abusadores de álcool e cannabis, mas não nos de cocaína e de opiáceos (5).


Neste estudo, feito com 1.226 indivíduos, mostrou-se que o diagnóstico de dependência de maconha era raro na ausência de um diagnóstico prévio de abuso. Tal achado tem importante implicação, indicando que medidas preventivas podem impedir tal progressão para a dependência e com ela todo o corolário de consequências que a acompanha.


Os critérios diagnósticos para dependência

O DSM-IV-TR (6) elenca sete critérios para diagnosticar a Síndrome de Dependência de Substâncias, que leva a deterioração ou sofrimento clinicamente significativo e que se manifesta por três (ou mais) dos seguintes itens, ocorrendo a qualquer momento no mesmo período de 12 meses:


1) Tolerância;


2) Abstinência;


3) A substância é consumida com freqüência em quantidades maiores ou durante períodos mais longos do que se pretendia (consumo maior que o pretendido);


4) Existe um desejo persistente ou esforços sem sucesso para eliminar ou controlar o uso da substância (tentativas frustradas de interrupção do uso);


5) Uma grande quantidade de tempo é despendida nas atividades necessárias para obtenção da substância, no uso e na recuperação de seus efeitos (tempo gasto com a droga);


6) Existe o abandono de importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreacionais em função do uso da substância (droga como prioridade);


7) O uso da substância é continuado, apesar do conhecimento de ser um problema persistente ou recorrente físico ou psicológico que tenha sido causado ou exacerbado pela substância (uso da droga a despeito dos problemas por ela causados).


A seguir faremos um paralelo para sabermos se estes critérios aplicam-se a uma Síndrome de Dependência de Maconha.


1) Tolerância

Pesquisas com animais foram importantes para comprovar um dos critérios que compõe a síndrome de dependência, que é o aumento da tolerância, ou seja, a necessidade de doses maiores de maconha para obter os mesmos efeitos outrora atingidos com doses menores. Em sua pesquisa Gatley e Volkow (1998) (7), mostraram a ocorrência da diminuição do metabolismo cerebelar em ratos afetando, desta forma, a coordenação motora, a aprendizagem e a propriocepção, o que evidencia mudanças neuroadaptativas no cérebro, após exposição prolongada a canabinóides. A administração crônica de canabinóide resultou também no desenvolvimento de tolerância nos animais em relação aos efeitos agudos, incluindo os efeitos motores (8, 9). Em relação aos seres humanos os sinais de aumento de tolerância são bem documentados e, regra geral, aparecem com doses acima de 3mg/kg/dia. (10,11,12)


2) Abstinência

Pode-se traçar um paralelo entre o reconhecimento de uma síndrome de abstinência de maconha e da nicotina. Durante anos a comunidade científica negou a existência de uma dependência física da nicotina, uma vez que os sintomas da abstinência eram mais subjetivos, tais como ansiedade, depressão, irritabilidade, inquietação, ou seja, entendiam, por isso, que o tabagismo levava tão somente a dependência “psicológica”. Atualmente não há quem tenha dúvidas da existência de uma abstinência da nicotina, mas o mesmo ainda não ocorre com a maconha, apesar de vários estudos já viram deixando clara a existência da síndrome. Um estudo comparativo recente (Am J Addiction, 2005, jan-feb; 14(1):54-63 (13), mostrou que ambas as abstinências, de nicotina e de maconha, são similares tanto em magnitude quanto no curso do tempo.

Um estudo feito em uma população de 72 adolescentes, com idades entre 14 e 19 anos, que procuraram tratamento no Centro de Tratamento e Pesquisa da Universidade de Vermont mostrou que o tipo de sintomas de abstinência nesta população é praticamente igual aos sintomas em uma população de adultos na mesma situação, diferindo, somente, em incidência e magnitude, uma vez que são mais brandos na adolescência. Isto indica que o tempo de uso aumenta as chances e a intensidade da abstinência e, provavelmente, da dependência. (14)


Em busca de comprovação científica do desenvolvimento da síndrome de dependência, alguns pesquisadores comprovaram a semelhança entre os sintomas apresentados pelos animais e pelos seres humanos após a retirada da droga. Inicialmente foram feitos estudos em macacos (15,16,17,18), nos quais o THC foi administrado pelas vias intravenosa, intramuscular e oral, e observou-se sintomas de abstinência após a interrupção da administração da substância, tais como, agressividade, anorexia, bruxismo, irritabilidade, que são também observados em humanos durante a síndrome de abstinência. Posteriormente a administração de antagonista do receptor canabinóide CB1 (SR141716A) em ratos tratados cronicamente com THC resultou no aparecimento de sintomas de abstinência como piloereção, tremores, ptose entre outros.


Em seres humanos foram feitos estudos com pacientes internados e em tratamento ambulatorial. Em 1999, uma pesquisa feita por Haney et al. (19), durante 20 dias, em amostra de 12 usuários de maconha em regime de internação, durante a qual foi administrado placebo (nos dias 1-3, 8-11 e 16-19), 20 mg de THC oral (nos dias 4-7) e 30mg de THC oral (nos dias 12-15). Ao término deste estudo observaram que os sintomas apresentados durante a fase de uso do placebo estavam associados à abstinência de THC: aumento da ansiedade, depressão e irritabilidade, e diminuição da qualidade e da quantidade de sono.

A importância de um estudo com pacientes tratados ambulatorialmente se dá à medida que fatores ambientais são levados em consideração como influenciadores do padrão de consumo (20,21). Uma pesquisa realizada por Kouri et al. (22) observou, durante 28 dias, a agressividade em pacientes que tinham interrompido (comprovado por testes toxicológicos de urina diários) o uso de maconha desde o início do estudo. O resultado foi um aumento significativo da agressividade desses pacientes, observado, principalmente, do terceiro ao sétimo dia de abstinência. Os pacientes que faziam uso de maconha diariamente ficaram visivelmente mais agressivos do que os que fumavam eventualmente.


Uma revisão do conceito de Síndrome de Abstinência da Maconha feita por Smith em 2001, deixou clara a existência desta síndrome, porém ressaltou a importância do desenvolvimento de mais estudos, uma vez que alguns fatores podem interferir no aparecimento dos sintomas de abstinência, tais como: uso concomitante de outras drogas, ambiente social em que vive e personalidade do usuário. (23)


3) Consumo maior do que o pretendido

Outro critério importante na descrição de um quadro de Síndrome de Dependência de Maconha é o aumento progressivo da freqüência e quantidade de droga consumida, sem que isso seja previamente programado pelo usuário.


Pesquisa (24) realizada pela Addiction Research and Treatment Service, estudou o padrão de consumo de 229 jovens (165 meninos e 64 meninas), entre 13 e 19 anos, e comprovou que a progressão do consumo de maconha, desde a primeira vez até o uso regular, é mais rápida que a progressão do consumo de álcool e tabaco. Nesta pesquisa 53% dos jovens afirmaram consumir maconha em quantidades maior e durante mais tempo do que o pretendido.


Num estudo com amostra representativa da população alemã, constatou-se que o progresso do uso experimental para o regular de maconha era mais comum do que se esperava. Neste estudo 45,5% da amostra de 1.228 indivíduos respondeu que usavam maconha durante um tempo maior do que pretendiam. (25)


4) Tentativas frustradas de interrupção ou diminuição do uso

É comum o usuário passar por algumas tentativas de parar de usar a substância, o que não ocorre apenas no caso da maconha. Uma vez instalada a síndrome de dependência é natural que se desenvolvam mudanças neuroadaptativas no organismo do indivíduo o que certamente dificulta a interrupção do uso, do ponto de vista neurobiológico do consumo. Além da justificativa neurobiológica existem outros fatores que podem agravar ou perpetuar o uso, como fatores ambientais, comportamentais, psicológicos e socioculturais.


No estudo feito pela Addiction Research na Treatment Service (24) com jovens norte-americanos, 35% afirmaram sentir vontade de parar de usar maconha, mesmo tendo história de tentativas anteriores frustradas. Esse dado mostrou que aproximadamente 1/3 da amostra admite não ter controle sobre seu consumo. Já no estudo com a população alemã 27,3% da amostra, que compreendia jovens entre 14 e 17 anos, afirmaram ter vivenciado algumas tentativas frustradas de interrupção do uso. (25)

5) Tempo gasto com a droga

Com a evolução do consumo o usuário passa a gastar seu tempo preocupado em gerar recursos para aquisição da maconha, quer seja com atividades voltadas para obtenção e uso, quer seja na busca por seus efeitos.

Na pesquisa, feita por Crowley et al.,77% da amostra afirmaram gastar grande quantidade de tempo em atividades necessárias para obtenção, uso e recuperação dos efeitos da maconha. (24) Um estudo feito por Perkonigg et al. Com 1228 indivíduos mostrou que 72,7% dos usuários afirmaram gastar cada vez mais tempo usando a droga. (25)


6) A droga como prioridade

Em um determinado momento do processo de desenvolvimento da Síndrome de Dependência, o consumo e a busca pela droga passam a ser mais importantes do que atividades antes prioritárias. O usuário passa a dar prioridade ao ato de fumar maconha em detrimento do lazer, crescimento profissional e interação social.

Aproximadamente 155 jovens (66%) que participaram da pesquisa feita por Cowley et al., afirmaram abandonar atividades diárias importantes em função do aumento do uso de maconha, e este mesmo critério foi preenchido por 54,5% dos jovens que participaram da pesquisa realizada na Alemanha. (24,25)


7) Uso da droga a despeito dos problemas por ela causados

Na pesquisa de Cowley et al., 97% dos jovens americanos continuaram a usar mesmo depois de vivenciarem situações prejudiciais associadas ao consumo de maconha, enquanto que na pesquisa realizada por Perkonigg...(Patterns of Cannabis) este valor foi de 81,8%. (24,25) A amostragem de Cowley já é, por si só, de jovens provenientes de órgãos ligados à justiça, que provavelmente já tiveram problemas legais associados ao uso de drogas. Esta constatação está de pleno acordo com o sétimo critério descrito no DSM-IV-TR, que afirma exatamente o fato do usuário ter problemas físicos ou psicológicos causados ou agravados pela droga e isso não ser um elemento motivador para o abandono da droga.


Quem tem mais risco de ficar dependente?

Embora seja clara a evidência de uma Síndrome de Dependência de Maconha nem todo usuário tende a desenvolvê-la. Alguns fatores de risco devem ser levados em consideração como uso de três ou mais drogas antes do primeiro uso de cannabis, uso antes da adolescência tardia, renda familiar baixa, além de ambiente familiar, personalidade e influências específicas da idade, que são considerados fatores de risco relativos, uma vez que dependendo do contexto podem funcionar como fatores de proteção. (26,27)

Conclusão

Ainda que haja extenso debate sobre a existência de uma Síndrome de Dependência de Maconha, não se pode negar que se acumulam inúmeras evidências da mesma. O conhecimento de tal evidência é fundamental para que se possa elaborar políticas preventivas, particularmente em populações de risco e estratégias para tratamento de dependentes.


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Fonte: UNIAD