segunda-feira, 2 de maio de 2011

Ele disse, ela disse_4/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 2ª matéria, dividida em 7 partes: Ele disse, ela disse; que será publicada nos dias 25, 27, 29 de Abril e 02, 04, 06 e 09 de Maio.

por Deborah Tannen

Professora de linguística da Universidade de Georgetown e autora de You Were Always Mum's Favorite!: Sisters in Conversation Throughout

Their Lives (Random House, 2009), entre outros, ver mais bibliografia na postagem do dia 09 de Maio de 2011.

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br

Mulheres e homens usam linguagens próprias – por isso nem sempre o entendimento é tão simples. Enquanto o discurso deles tende a se concentrar na hierarquia e na competição pelo poder, o delas é voltado ao objetivo de se aproximar ou se afastar do interlocutor


Estilos e objetivos

Apesar dessas diferenças, os estilos de conversa de homens e mulheres guardam inúmeras similaridades. E os estilos aparentemente opostos podem ser usados para os mesmos propósitos. Eles também estão preocupados com a conexão, elas querem poder – as formas de atingir esses objetivos é que são diferentes.

Os rituais verbais que se concentram na conexão geralmente envolvem igualdade de afirmação (como no diálogo das menininhas sobre as lentes de contato) e nas respostas familiares. “A mesma coisa aconteceu comigo” e “Sou igual a você”. Já os ritos de competição: “Isso não é nada! Veja o que aconteceu comigo...” são tipicamente associados aos homens e interpretados como competitivos, mas também podem criar conexão, ao implicar a seguinte mensagem: “Você não deveria se sentir mal com o que aconteceu com você, porque o que aconteceu comigo foi pior”. Em outras palavras, “superar” o interlocutor pode ser uma forma de expressar solidariedade.

De maneira semelhante, para meninas e mulheres, o que aparece na superfície, visto como conexão, também pode ser um modo de exercer poder. A lingüista Amy Sheldon, da Universidade de Minnesota, investigou esse processo ao filmar crianças da pré-escola do mesmo sexo brincando em grupos de três. Ela descobriu que tanto os meninos quanto as meninas buscam seus próprios objetivos, mas enquanto os meninos que ela filmou eram assertivos quanto a frustrar os objetivos dos outros, geralmente as meninas faziam isso de uma forma que parecesse honrar os objetivos da outra concorrente. Em um dos exemplos, duas meninas, Eva e Kelly, não estavam muito dispostas a incluir na brincadeira a terceira garota, Tulla. Em vez de dizer a esta última diretamente que ela não poderia brincar, as duas a incluíram, mas determinaram um papel para ela que não previa a interação: “Você pode ser o bebê, mas ele ainda não nasceu”. A pesquisadora enfatiza que esse é um movimento altamente assertivo, embora mantenha a aparência de conciliar o desejo de participação de Tulla no jogo.

Dessa forma, o comportamento da criança não é uma aplicação do tipo excludente ou da hierarquia ou da conexão, mas sim a mescla das duas. Podemos dizer que Eva e Kelly exerceram o poder para manter Tulla fora, mas também honraram a conexão ao oferecer um papel para ela. Em contraste, a lingüista observou que, quando os meninos brincam, costumam expor mais abertamente seus objetivos e até ameaçam os oponentes com força física. Por exemplo, quando Pedro, queria cortar um legume de plástico de um colega, gritou: “Tenho de cortar! Eu quero cortar! É meu!”. No entanto, Amy Sheldon enfatiza que, embora meninos e meninas tenham propensão a usar mais de uma estratégia, há casos em que eles tentam ceder e momentos em que elas recorrem à força física para se impor. A pesquisa de Sheldon nos lembra que não importa o quanto os padrões sejam reais – nunca são absolutos. Novamente, o exemplo de perguntar sobre o caminho é ilustrativo. Há casais em que é o homem quem prefere parar e pedir informações; e a mulher opta por se localizar no mapa.

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