Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.
Aqui a 3ª matéria, dividida em 3 partes: Diferentes sim, mas o que isso quer dizer?; que será publicada nos dias 10, 18, 20 de Maio.
por Lise Eliot
Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)
Revista Mente e Cérebro
Ano XVII nº209 – Julho 2010
Estudos neurocientíficos mostraram que uma área cerebral responsável pela cognição social e pelo julgamento moral é proporcionalmente maior em “pessoas mais femininas”, independentemente de seu sexo biológico.
Um pouco maior
Estudos recentes, conduzidos por Peg Nopoulos, Jéssica Wood e seus colegas da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, ilustram como é difícil desembaraçar as influências da natureza e da criação, mesmo no âmbito da estrutura cerebral. Num primeiro estudo, publicado em março de 2008, os pesquisadores revelam uma descoberta: a subdivisão do córtex pré-frontal ventral (uma área desenvolvida na cognição social e no julgamento interpessoal) é proporcionalmente maior nas mulheres que nos homens. (O cérebro dos homens, aliás, é, ao todo, aproximadamente 10% maior que o das mulheres; portanto, comparações entre áreas cerebrais específicas devem ser colocadas em escalas proporcionais a essa diferença). Essa subdivisão, é conhecida como giro reto (GR), uma estreita faixa do córtex cerebral que margeia a linha central sob a superfície do lobo pré-frontal. Wood e Nopoulos descobriram que o giro reto era cerca de 10% maior nas 30 mulheres que eles estudaram, comparados aos 30 homens (considerado o tamanho do cérebro deles). E mais: chegaram à conclusão de que o tamanho do GR se correlacionava com testes de habilidades sociais e as pessoas (de ambos os gêneros) que tinham maiores pontuações em cognição interpessoal tendiam também a ter GR maiores.
Em um artigo, Wood e sus colegas especulam sobre as bases evolucionárias dessa diferença sexual. É possível que, uma vez eu mulheres são as educadoras primárias, seu sistema cerebral tenha sido programado para desenvolver um GR maior, de forma a prepará-las para serem criadoras mais sensíveis. Sabe-se que hormônios sexuais pré-natais alteram o comportamento e certas estruturas cerebrais em outros mamíferos. Talvez esses hormônios – ou genes sexuais específicos – aumentem o desenvolvimento do GR feminino (ou diminua o masculino), levando ao aparecimento de diferenças inatas na cognição social.
A melhor maneira de testar essa hipótese é olhar as crianças. Se as diferenças sexuais no GR estiverem presentes no início da vida, a força da ideia de programação inata se fortalece. Wood e Nopoulos realizaram um segundo estudo, junto com a colega Vesna Murko, no qual eles mediram as mesmas áreas do lobo frontal de crianças entre 7 e 17 anos. Os resultados, porém, foram inesperados: descobriram que o GR é, na verdade, maior em meninos! O mesmo teste de consciência interpessoal mostrou que a habilidade nessa área está correlacionada ao GR menor, e não maior, como em adultos. Os autores reconheceram que suas descobertas são complexas e discutem se a reversão entre adultos e crianças reflete a maturação tardia do cérebro dos meninos comparado ao das garotas. (Cérebros adolescentes passam por uma poda substancial para redução do volume da matéria cinzenta – esse processo acontece dois anos antes em meninas que em meninos.
Entretanto, em ambos os estudos, Wood adicionou outro teste que nos lembra de ter cautela ao interpretar qualquer descoberta em relação a diferenças sexuais entre os cérebros. Em vez de simplesmente dividir os voluntários entre homens e mulheres, ele também deu a cada participante um teste psicológico de “gênero”: um questionário que avalia o grau de masculinidade ou feminilidade de cada um – independentemente do sexo biológico. E tanto em adultos como em crianças essa medição se correlaciona também com o tamanho do GR – o mais desenvolvido está relacionado às personalidades mais femininas em adultos e mais masculinas em crianças.
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