Enviado por luisnassif, sex, 11/02/2011 - 12:01
Por Alexandra M. Mello
Caro Luis Nassif,
Há alguns meses, falei sobre a visão da pediatra Maria Aparecida Moysés no meu blog (coxi-Xan-do) e fiquei surpresa com a quantidade de reações desproporcionais que causei em pais de crianças com diagnóstico de dislexia. É bem provável que tenham chegado ao meu blog, por meio de buscas que tinham o nome dela como palavras-chave. Talvez, eu tenha sido infeliz com o título da postagem ("Dislexia existe?") e com ele, tenha causado tanto furor. Com "Dislexia existe?", eu questionava a existência dela como distúrbio neurológico e não, das dificuldades reais em leitura e escrita. Estas, podem ser determinadas por inúmeros fatores e combinações. A precipitação dos diagnósticos é realmente assustadora. Abaixo, está o link para a postagem e todos os comentários. Um abraço. Alexandra.
http://xan-mello.blogspot.com/2009/11/dislexia-existe.html
Do coxi-Xan-do
O que já foi cegueira verbal congênita, lesão cerebral mínima, dislexia específica de evolução, dislexia de desenvolvimento, entre outros nomes, é hoje a tão falada e tão pouco conhecida dislexia. Na Câmara Municipal de São Paulo, há um projeto de lei do vereador Juscelino Gadelha (PSDB), feito em parceria com a ABD (Associação Brasileira de Dislexia) e já aprovado em primeira instância, que propõe um programa para diagnosticar alunos disléxicos em toda a rede de ensino, e encaminhá-los para tratamento.
Especialistas de Instituições como o Conselho Regional de Psicologia, a USP e a Unicamp são contrários à aprovação do projeto por acreditarem que a dislexia, como doença neurológica de quem tem dificuldades para ler e escrever, nunca foi devidamente comprovada. Segundo eles, um projeto assim contribui apenas para a estigmatização de crianças, desconsiderando as questões sociais.
No dia 21 de setembro deste ano, houve um seminário na Câmara, para se discutir o tema antes da segunda votação. Uma das palestrantes convidadas, a Doutora Maria Aparecida Afonso Moyses, professora titular em Pediatria Social da Unicamp, fez uma brilhante explanação sobre as razões da não aprovação do projeto pelas Instituições citadas.
Ela traz inicialmente a definição da doença mais aceita pelos autores e entidades que defendem a existência da dislexia e à partir daí, vai questionando a falta de embasamento científico, tanto para o reconhecimento da dislexia como distúrbio neurológico, como para a forma como é feito o diagnóstico.
Segundo esta definição oficial, a dislexia seria um distúrbio neurológico, que comprometeria apenas a escrita e a leitura. Para confirmação, utiliza-se instrumentos de escrita e leitura. Ou seja, usa-se linguagem escrita para diagnóstico da dislexia que tem como único comprometimento justamente a linguagem escrita. Do ponto de vista médico e científico, isso é totalmente contraditório. Uma avaliação assim só vai confirmar a existência da própria dificuldade e não, se há ou não distúrbio neurológico.
Durante a palestra, a professora Maria Aparecida questiona a falta de rigor científico em alguns exames. Um exemplo é a existência de simetria de neurônios no plano frontal para comprovação do diagnóstico de dislexia. A falha no rigor é mostrada num estudo (curiosamente do mesmo autor que defende esse diagnóstico) que mostra que 16% da população "normal" também tem a tal simetria.
Um outro exemplo é a presença de ectopia neuronal (quando um neurônio que deveria estar numa região, vai para outra), em algumas áreas do cérebro. Aqui, a falta de rigor está na ausência de estudos da ectopia neuronal na população dita normal. Para a professora, é complicado dizer que uma doença neurológica se caracteriza por questões que também estão presentes em qualquer pessoa que tenha dificuldade para ler e escrever, pelos mais diferentes motivos. Ela dá como exemplo exames de neuroimagem que precisam ativar o cérebro na função que está sendo avaliada. No caso da dislexia, essa ativação se dá, novamente, por meio de instrumentos de escrita e leitura. Uma pessoa que não sabe ler, em consequência de uma alfabetização mal sucedida por exemplo, pode ter essa função diminuída como uma reação saudável a testes que tenham como objetivo avaliar seu desempenho em leitura. São duas as principais questões que ela nos deixa: uma, se as dificuldades em leitura e escrita não seriam reflexo da diversidade, não só de seres humanos, como também das condições a que estão expostos e não, consequência de distúrbios neurológicos. A outra, se os exames de neuroimagem não detectariam a consequência no cérebro de não saber ler, e não, a sua causa.
Fonte: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/dislexia-existe
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