quarta-feira, 27 de março de 2013

Hormônios_8/8


por Adriana Dias Lopes e Natália Cuminale – Revista Veja – 22.08.2012


NA FALTA DE SINTONIA

O desequilíbrio na produção dos hormônios (para mais ou para menos) está associado a uma série de problemas. Há aqueles casos, como os de câncer de próstata e de mama, nos quais os hormônios, ainda que em taxas normais, servem de combustível para a doença.
Fontes: Marcos Tambascia, endocrinologista da Unicamp e Cesar Boguszewski, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Diabetes tipo 1

O que é - Doença autoimune, caracteriza-se pela incapacidade do pâncreas de produzir insulina, o hormônio responsável por tirar a glicose da corrente sanguínea e levá-la para dentro das células, onde é transformada em energia. O diabetes tipo 1 costuma se manifestar na infância.
Sintomas - Excesso de fome e sede, desidratação e perda de peso
Tratamento - Injeções diárias de insulina

Diabetes tipo 2

O que é - A obesidade leva o pâncreas a diminuir a produção do hormônio insulina. Nos casos mais graves, o órgão para de sintetizar o hormônio. O diabetes tipo 2 responde por 90% de todos os casos da doença
Sintomas - Excesso de fome e sede, desidratação e alterações visuais
Tratamento - Muitas vezes, a adoção de hábitos saudáveis é capaz de controlar a doença. Em alguns acasos é preciso recorrer a antidiabéticos mais ou injeções de insulina

Hipotireoidismo

O que é - Associado ao envelhecimento, os distúrbio se manifesta quando a glândula tireoide diminui o ritmo de seu funcionamento. Com isso, há uma queda na produção do hormônio tiroxina, ou T4, envolvido no controle do metabolismo
Sintomas - Sonolência, ganho de peso, inchaço e depressão
Tratamento - Comprimidos de T4 devem ser tomados diariamente pelo resto da vida

Hipertireoidismo

O que é - Caracterizada pela produção excessiva do hormônio tiroxina (ou T4), em 90% dos casos em adultos, a doença está associada a tumores benignos. Nos jovens, a principal causa é uma doença autoimune, conhecida como Graves
Sintomas - Agitação, excesso de transpiração, aumento do batimento cardíaco e perda rápida de peso, uma vez que o T4 regula o metabolismo
Tratamento - Pode ser medicamentoso, com antitireodianos, cirurgia para a remoção da glândula tireoide ou terapia à base de iodo radioativo

Distúrbio do crescimento

O que é - Ocorre quando não há produção suficiente de GH pela hipófise e a criança apresenta atraso no crescimento. Em geral, o problema é diagnosticado a partir dos 2 anos. Na maioria dos casos, a causa do distúrbio é desconhecida, mas ele pode ocorrer por tumores preexistentes ou em consequência de tratamento médico, como a radioterapia. Quanto mais precoce o diagnóstico, mais eficaz é o tratamento.
Sintoma - Baixa estatura
Tratamento - Injeções diárias de GH até que se alcance a altura ideal para a idade

Ovários policísticos

O que é - A doença é deflagrada pelo desequilíbrio entre aos hormônios sexuais. Há excesso de estrógeno, redução de progesterona e pode ocorrer aumento de testosterona. Como os hormônios femininos participam do controle de gorduras no sangue, a portadora da doença pode apresentar colesterol alto
Sintomas - Alterações menstruais, aumento de pelos no rosto e dificuldade para engravidar
Tratamento - Administração de anticoncepcional, ou de indutores de ovulação para quem deseja engravidar

segunda-feira, 25 de março de 2013

Hormônios_7/8


por Adriana Dias Lopes e Natália Cuminale – Revista Veja – 22.08.2012

SACIEDADE

Leptina – Ao contrário da grelina, a leptina é o hormônio do comedimento alimentar.Produzida pelas células de gordura, ela ativa as regiões cerebrais da sociedade. Por mecanismos ainda não completamente desvendados pela ciência, os obesos não respondem à ação da leptina. Um dos estudos mais fascinantes sobre o hormônio foi conduzido por pesquisadores da Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos: pessoas com baixos níveis do hormônio têm uma predileção especial por doces.

SONO

Melatonina – Secretado na ausência de luz solar, a melatonina é o hormônio do sono. Ela faz com que o organismo passe a funcionar em ritmo mais lento, sem o qual o repouso noturno é inviável. Vários trabalhos científicos já relacionaram a baixa produção de melatonina a alterações de humor e comportamento agressivo.

PAZ E AMOR

Oxitocina – É um dos poucos hormônios produzidos no cérebro. Por isso, é também uma das substâncias que mais impactam o comportamento humano. Ela é o hormônio da paz e do amor. Até a década de 80, a oxitocina estava associada a dois processos fisiológicos envolvidos na maternidade: as contrações uterinas no momento do parto e a liberação de leite na amamentação. Hoje já se sabe que o hormônio ativa as regiões cerebrais relacionadas a sensações de autoconfiança, vínculos de afeto e relaxamento.

TPM

Progesterona – Se há um culpado pelas crises mensal de choro, mau humor e irritabilidade de uma mulher em TPM, ele é a progesterona. O hormônio atinge seu ápice no fim do ciclo menstrual. É a lógica evolucionista: a mulher se torna irascível de modo que os homens se afastem e ela possa se dedicar à gestação. Progesterona vem do latim pro gestare, a favor da gestação.

VIGOR MASCULINO

Testosterona – Produzida em quantidades trinta vezes maiores nos homens, a testosterona é o hormônio que determina o desejo sexual e as características físicas do sexo masculino. Por isso, eles têm mais músculo, falam mais grosso, têm ossos mais fortes e são mais peludos. Em excesso, o hormônio deixa tanto os homens quanto as mulheres mais agressivos, desconfiados e egocêntricos. 

sexta-feira, 22 de março de 2013

Hormônios_6/8


por Adriana Dias Lopes e Natália Cuminale – Revista Veja – 22.08.2012


Química e Comportamento

Além de regularem o bom funcionamento do organismo, os hormônios regem os mecanismos que determinam o comportamento humano.

STRESS

Cortisol Conhecido como o hormônio do stress, o cortisol tem um papel evolutivo importantíssimo. Diante de um perigo iminente, é ele que põe o indivíduo em estado de alerta. Não à toa é também o desencadeador da experiência física do ciúme – taquicardia, boca seca e estômago embrulhado. Em situações de segurança, as taxa de cortisol despencam – como quando se dorme ao lado do ser amado, conforme demonstrou um estudo da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos.

ALEGRIA E PRAZER

Dopamina – É o hormônio da felicidade e do prazer. A sensação deflagrada pela substância é tão intensa que, para evita um colapso, o organismo logo interrompe a sua produção. A dopamina participa do sistema de recompensa do cérebro, aquele que nos faz querer repetir uma experiência prazerosa. Não é de estranhar, portanto, que ela esteja envolvida no processo de estimulação e realização sexual. Uma comida saborosa eleva em até 50% as taxas do hormônio no cérebro.

CURVAS FEMININAS

Estrógeno – Feminino por excelência, o estrógeno é o responsável pelas formas curvilíneas das mulheres. Combustível para o desejo sexual, o hormônio atinge seu pico de produção no auge do período fértil da mulher, que ocorre no meio do ciclo menstrual –quando ela está mais apta a conceber, maior é a sua disposição para os encontros amorosos. Por isso, na menopausa, período em que quantidade de estrógeno circulante naturalmente cai, surgem alguns dos desconfortos associados à falta do hormônio: queda na libido, problemas de memória, depressão e ganho de peso, entre outros.

JUVENTUDE

GH – Sigla em inglês para hormônio do crescimento, o G é a substância da juventude. Está envolvido no processo de regeneraçãocelular de músculos, unha, pele e cabelos, estimula a formação óssea apeticipa da síntese de várias proteínas. No cérebro, ele é a chave que acende os circuitos da sensação de vitalidad e bem-estar. Aqquantidade da substância diponível no organismo varia de acordo com a idade. Sua p´roducção atinge o pico na adolescência e,p or volta dos 125 anos, começa a cair. Aos 16 anos, por exemplo, os níveis de Gh estão quatro vezes mais altos do que aos 60 anos. H é a substância da juventude. Está envolvido no processo de regeneração celular de músculos, unha, pele e cabelos, estimula a formação óssea e participa da síntese de várias proteínas. No cérebro, ele é a chave que acende os circuitos da sensação de vitalidade e bem-estar. A quantidade da substância disponível no organismo varia de acordo com a idade. Sua produção atinge o pico na adolescência e, por volta dos 25 anos, começa a cair. Aos 16 anos, por exemplo, os níveis de GH estão quatro vezes mais altos do que aos 60 anos.

FOME

Grelina – O hormônio da fome é secretado sobretudo quando o estômago está vazio. Ativando as regiões cerebrais associadas ao apetite. Vários estudos já demonstraram que alimentar-se de três em três horas reduz a produção de grelina e, consequentemente, diminui a sensação de fome. 

quarta-feira, 20 de março de 2013

Hormônios_5/8


por Adriana Dias Lopes e Natália Cuminale – Revista Veja – 22.08.2012

Graças aos progressos na área da biotecnologia, hoje é possível a fabricação de hormônios quimicamente idênticos aos produzidos naturalmente pelo organismo. “A reposição hormonal como a que é feita na menopausa, aplica-se a absolutamente todas as situações causadas pela falta de hormônio”, diz Marcos Tambascia, endocrinologista da Faculdade de Ciências Média da Universidade Estadual de Campinas. Um desafio ainda persiste: não basta que os hormônios sintéticos tenham a mesma estrutura química de seus equivalente naturais. É preciso fazer com que eles se submetam aos comandos do organismo como os originais. Por isso é tão complicado (mas não impossível) o tratamento , por exemplo, do diabetes. Em um organismo saudável, a insulina é liberada em doses precisas, que, ao longo de um único dia, variam muitas vezes em função de diferentes circunstâncias. A indústria farmacêutica tentou contornar o problema com a criação de insulina de longa e curta duração. Mas, apesar dos acertos, esses medicamentos ainda não conseguem acompanhar totalmente o ritmo natural do organismo. Como o mar de verdade, o de metáfora de Claude Bernard é vasto, fascinante e cheio de segredos ainda por desvendar. 

segunda-feira, 18 de março de 2013

Hormônios_4/8


por Adriana Dias Lopes e Natália Cuminale – Revista Veja – 22.08.2012


Chaves da vida, os hormônios têm uma complexidade de ação que fascina. Por vezes, é preciso que dois ou mais se aliem para cumprir uma mesma função. Para manter o equilíbrio hídrico do organismo, por exemplo, são necessários pelos menos quatro hormônios fabricados em locais diferentes. Um hormônio pode ainda servir para estimular a produção de outro. É o caso da grelina. Produzida pelo estômago com a função de abrir o apetite, na hipófise, ela tem a missão de ajudar na síntese de GH, o hormônio ligado ao crescimento. Um terceiro exemplo do intrincado funcionamento da tela hormonal é o fato de que, a depender da quantidade produzida, da sensibilidade do alvo atingido e do estímulo externo, um mesmo hormônio pode exercer funções completamente diferentes. 

É o que acontece com um dos mais intrigantes compostos produzidos pelo organismo, a oxitocina. Fabricada pelo hipotálamo e distribuída pela hipófise, ela auxilia a produção do hormônio insulina no pâncreas e participa do transporte do esperma nos testículos. É a oxitocina também a responsável pelas contrações uterinas no momento do parto e durante a relação sexual. Ela ainda está presente durante a amamentação, facilitando a liberação do leite materno. Por se um dos poucos hormônios produzidos diretamente no cérebro, a oxitocina é uma das substâncias que mais influenciam o comportamento humano. É ela que regula a intensidade dos vínculos afetivos, a autoconfiança e a sensação de relaxamento. A testosterona é outro hormônio curioso. Embora seja fabricada também pelo organismo feminino, ela é o hormônio masculino por excelência. Em ambos os sexos,a testosterona está envolvida na produção de ossos, massa muscular e oleosidade da pele. Ao agir no cérebro, estimula a libido. 

O fato de o sexo masculino produzir cerca de trinata vezes mais testosterona do que o feminino explica por que os homens são em geral mais fortes e mais peludos, têm a voz mais grossa e estão sempre pensando naquilo.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Hormônios_3/8


por Adriana Dias Lopes e Natália Cuminale – Revista Veja – 22.08.2012

A irisina pertence a um dos chamados circuitos hormonais paralelos. Ou seja, ela é produzida por um órgão fora do eixo hipotálamo-hipófise, da mesma forma que a insulina, sintetizada no pâncreas, e a leptina, nas células de gordura. Imagine os 200 hormônios organizados como numa orquestra. Os sistemas paralelos equivaleriam às orquestras de câmara, que, apesar de parecer funcionar de forma independente, tem de seguir o ritmo do conjunto. Nessa composição, o cargo de diretor artístico caberia ao hipotálamo, uma glândula minúscula localizada no miolo do cérebro. A regência dessa orquestra bioquímica, no entanto, seria a hipófise, glândula do tamanho de um grão de feijão encontrada na base do crânio. Descrita pela primeira vez no ano 150 pelo médico grego Claudio Galeno (129-216), a hipófise só foi definida como o maestro dos hormônios nos anos 1930, pelo endocrinologista americano Philip Edvard Smith (1884-1970). Entre os vários hormônios produzidos pela hipófise, seis estão envolvidos em 70% do funcionamento da máquina humana. Essa glândula é tão vital que, caso seja tomada por um tumor, perde suas funções gradativamente e de acordo com uma hierarquia bem definida. Nela, os hormônios menos importantes para a sobrevivência deixam de ser produzidos antes. As primeiras células a entrar em falência são as produtoras de GH, o hormônio do crescimento. “Se a reposição de GH não ocorre, o paciente pode levar uma vida péssima, com alterações graves de memória e perda de massa óssea e muscular, mas dificilmente morrerá por causa desse desfalque hormonal”, diz Malebrancha Berado Carneiro da Cunha Neto, neuroendocrinologista do Hospital das Clínicas, em São Paulo. 

Nas escala de prioridade, o ACTH, em caso de comprometimento da hipófise, é um dos últimos que deixa de ser fabricados. Tal composto é o precursor do cortisol, o hormônio do stress. Entre as suas funções uma das mais importantes é manter a pressão arterial. Sem ele, o sangue deixa de circular adequadamente e, em consequência, os órgãos entram em falência. Não há vida sem cortisol. Além disso, do ponto de vista evolutivo, o hormônio tem um papel fundamental. Diante de um ameaça iminente, é ele que nos põe em posição de alerta– para enfrentar o perigo ou fugir dele. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Hormônios_2/8


por Adriana Dias Lopes e Natália Cuminale – Revista Veja – 22.08.2012


As descobertas sobre a irisina foram divulgadas pelas prestigiosas revistas científicas Nature e Cell. Os estudos conduzidos pelo médico Bruce Spiegelman, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, avaliaram o impacto da irisina em camundongos. Durante três semanas, as praticaram uma hora diária de atividade física sobre rodas (o equivalente a um exercício em esteira ergométrica), em ritmo de caminhada rápida. A partir do 21° dia (da décima semana no calendário humano), os animais produziram irisina em quantidade suficiente para ativar em determinadas células de gordura a termogênese, processo no qual ocorre a produção de calor. Ou seja, o que se mostra aqui é a que a irisina tem o podem de acelerar o metabolismo do tecido adiposo (em até cinquenta vezes) e, portanto, de fazer emagrecer.

De posse dessas informações, os pesquisadores desenvolveram em laboratório a versão sintética do hormônio. O composto foi então injetado em camundongos obesos e sedentários, alimentados à base de uma dieta hipercalórica, rica em gorduras. Ao cabo de dez dias, apesar da inatividade física e do excesso de comida gordurosa, os roedores perderam 2% do peso corporal – o que, entre homens e mulheres, equivale a uma redução de 4 quilos em seis meses. Nenhuma outra substância seja ela hormônio, alimento ou suplemento, é capaz de aumentar nesse grau (e de forma tão rápida) a velocidade de funcionamento do organismo .A As experiências com a irisina em humanos devem começar a partir de 2013. “Confirmados os resultados obtidos com as cobaias, estará deflagrada a maior revolução no tratamento da obesidade desde os tempos da descoberta dos anorexígenos, na década de 40”, diz o endocrinologista Antonio Carlos do Nascimento. Trocando em miúdos, a irisina é a ginástica em cápsula – ou em gotas.

Depois de ser liberada pelas fibras musculares, a irisina chega às células de gordura, onde estimula a produção da enzima UCP1. A célula sofre então uma alteração em sua estrutura química e, em vez de estocar a gordura, passa a queimá-la, sob a forma de calor. As células transformadas pela irisina foram chamadas de células bege, já que, no processo de termogênese, absorvem mais ferro e, por isso , escurecem. A pesquisa publicada na revista Cell mostrou que as células bege possuem, em relação às células adiposas normais (as brancas), uma quantidade cerca de vinte vezes superior de mitocôndrias, as pequenas usinas de energia localizadas no interior dessas estruturas. Normalmente, a maioria dessas miniusinas se mantém desativada, e elas só entram em funcionamento sob a ação de hormônio – liberado pelo exercício físico. Suspenso o estímulo da ginástica, essas mitocôndrias são desativadas e a célula retoma seu comportamento original, de estocar energia na forma de gordura. Até o artigo na revista Cell descrever as células bege, acreditava-se que a irisina agia nas células marrons, encontradas sobretudo em recém-nascidos. Nas primeiras semanas de vida, quase um terço da gordura corporal dos bebês é formada pela gordura marrom, que, sob temperaturas baixas, produzem intenso calor. Em outras palavras, as células marrons fazem o mesmo que as bege, só que sem precisar da irisina. Elas são importantes para a adaptação do recém-nascido à temperatura fora do útero materno. 

segunda-feira, 11 de março de 2013

Hormônios_1/8


Eles comandam tudo, do Humor ao Emagrecimento

Por acelerar o metabolismo, a irisina vem sendo chamada de “ginástica em gotas”. Ela é o mais novo achado da intrincada e fascinante rede hormonal que rege nosso corpo e nossa mente

por Adriana Dias Lopes e Natália Cuminale – Revista Veja – 22.08.2012

A existência humana é definida por um mar interior”. Com essa certeza, o médico francês Claude Bernard (1813-1878), considerado o pai da fisiologia, entrou para a história da medicina. O “mar interior” foi a metáfora usada para sintetizar o seu último (e maior) achado: o de que o organismo é controlado por “fluídos que circulam pelo corpo”. Até então, acreditava-se que as células trabalhavam em circuitos fechados, sem comunicação entre eles. A mudança de paradigma aconteceu em 1848, a partir de experimentos com cachorros. Ao analisar as entranhas dos animais, Bernard percebeu que substâncias produzidas no pâncreas e no fígado poderiam se encontradas também em órgãos distantes, como os intestinos. Foi dado ali, em um laboratório do Collège de France, em Paris, o primeiro passo para a descoberta dos intrincados mecanismos reguladores do mar interior que determinaram a existência humana – os hormônios.

Até agora, contam-se duas centenas de hormônio e, graças a eles, nossas células são abastecidas de energia, nosso coração bate, nossas artérias pulsam, temos fome e nos saciamos, dormimos, acordamos e nos emocionamos. Tão Poderosos são que, caso fossem agrupados, todos os hormônios circulantes em nosso organismo somariam apenas dez gotas. Ao longo do século XX, a compreensão sobre eles avançou extraordinariamente, mas as pesquisas estão em constante ebulição. Data apenas de um mês, por exemplo, a anúncio do detalhamento da ação da irisina, o hormônio produzido pelos músculos com ação nas células de gordura – ele próprio revelado no início do ano. A medida da importância desse achado é dada pelo endocrinologista Freddy Eliaschewitz, diretor do Centro de Pesquisas Clínicas (CPClin): “Fazia pelo menos duas décadas que não se via uma novidade tão importante na área”.