por
Adriana Dias Lopes e Natália Cuminale – Revista Veja –
22.08.2012
A
irisina pertence a um dos chamados circuitos hormonais paralelos. Ou
seja, ela é produzida por um órgão fora do eixo
hipotálamo-hipófise, da mesma forma que a insulina, sintetizada no
pâncreas, e a leptina, nas células de gordura. Imagine os 200
hormônios organizados como numa orquestra. Os sistemas paralelos
equivaleriam às orquestras de câmara, que, apesar de parecer
funcionar de forma independente, tem de seguir o ritmo do conjunto.
Nessa composição, o cargo de diretor artístico caberia ao
hipotálamo, uma glândula minúscula localizada no miolo do cérebro.
A regência dessa orquestra bioquímica, no entanto, seria a
hipófise, glândula do tamanho de um grão de feijão encontrada na
base do crânio. Descrita pela primeira vez no ano 150 pelo médico
grego Claudio Galeno (129-216), a hipófise só foi definida como o
maestro dos hormônios nos anos 1930, pelo endocrinologista americano
Philip Edvard Smith (1884-1970). Entre os vários hormônios
produzidos pela hipófise, seis estão envolvidos em 70% do
funcionamento da máquina humana. Essa glândula é tão vital que,
caso seja tomada por um tumor, perde suas funções gradativamente e
de acordo com uma hierarquia bem definida. Nela, os hormônios menos
importantes para a sobrevivência deixam de ser produzidos antes. As
primeiras células a entrar em falência são as produtoras de GH, o
hormônio do crescimento. “Se a reposição de GH não ocorre, o
paciente pode levar uma vida péssima, com alterações graves de
memória e perda de massa óssea e muscular, mas dificilmente morrerá
por causa desse desfalque hormonal”, diz Malebrancha Berado
Carneiro da Cunha Neto, neuroendocrinologista do Hospital das
Clínicas, em São Paulo.
Nas escala de prioridade, o ACTH, em caso
de comprometimento da hipófise, é um dos últimos que deixa de ser
fabricados. Tal composto é o precursor do cortisol, o hormônio do
stress. Entre as suas funções uma das mais importantes é manter a
pressão arterial. Sem ele, o sangue deixa de circular adequadamente
e, em consequência, os órgãos entram em falência. Não há vida
sem cortisol. Além disso, do ponto de vista evolutivo, o hormônio
tem um papel fundamental. Diante de um ameaça iminente, é ele que
nos põe em posição de alerta– para enfrentar o perigo ou fugir
dele.
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