por
Adriana Dias Lopes e Natália Cuminale – Revista Veja –
22.08.2012
As
descobertas sobre a irisina foram divulgadas pelas prestigiosas
revistas científicas Nature e Cell. Os estudos conduzidos
pelo médico Bruce Spiegelman, da Universidade Harvard, nos Estados
Unidos, avaliaram o impacto da irisina em camundongos. Durante três
semanas, as praticaram uma hora diária de atividade física sobre
rodas (o equivalente a um exercício em esteira ergométrica), em
ritmo de caminhada rápida. A partir do 21° dia (da décima semana
no calendário humano), os animais produziram irisina em quantidade
suficiente para ativar em determinadas células de gordura a
termogênese, processo no qual ocorre a produção de calor. Ou seja,
o que se mostra aqui é a que a irisina tem o podem de acelerar o
metabolismo do tecido adiposo (em até cinquenta vezes) e, portanto,
de fazer emagrecer.
De
posse dessas informações, os pesquisadores desenvolveram em
laboratório a versão sintética do hormônio. O composto foi então
injetado em camundongos obesos e sedentários, alimentados à base de
uma dieta hipercalórica, rica em gorduras. Ao cabo de dez dias,
apesar da inatividade física e do excesso de comida gordurosa, os
roedores perderam 2% do peso corporal – o que, entre homens e
mulheres, equivale a uma redução de 4 quilos em seis meses.
Nenhuma outra substância seja ela hormônio, alimento ou suplemento,
é capaz de aumentar nesse grau (e de forma tão rápida) a
velocidade de funcionamento do organismo .A As experiências com a
irisina em humanos devem começar a partir de 2013. “Confirmados os
resultados obtidos com as cobaias, estará deflagrada a maior
revolução no tratamento da obesidade desde os tempos da descoberta
dos anorexígenos, na década de 40”, diz o endocrinologista
Antonio Carlos do Nascimento. Trocando em miúdos, a irisina é a
ginástica em cápsula – ou em gotas.
Depois
de ser liberada pelas fibras musculares, a irisina chega às células
de gordura, onde estimula a produção da enzima UCP1. A célula
sofre então uma alteração em sua estrutura química e, em vez de
estocar a gordura, passa a queimá-la, sob a forma de calor. As
células transformadas pela irisina foram chamadas de células bege,
já que, no processo de termogênese, absorvem mais ferro e, por isso
, escurecem. A pesquisa publicada na revista Cell mostrou que
as células bege possuem, em relação às células adiposas normais
(as brancas), uma quantidade cerca de vinte vezes superior de
mitocôndrias, as pequenas usinas de energia localizadas no interior
dessas estruturas. Normalmente, a maioria dessas miniusinas se mantém
desativada, e elas só entram em funcionamento sob a ação de
hormônio – liberado pelo exercício físico. Suspenso o estímulo
da ginástica, essas mitocôndrias são desativadas e a célula
retoma seu comportamento original, de estocar energia na forma de
gordura. Até o artigo na revista Cell descrever as células
bege, acreditava-se que a irisina agia nas células marrons,
encontradas sobretudo em recém-nascidos. Nas primeiras semanas de
vida, quase um terço da gordura corporal dos bebês é formada pela
gordura marrom, que, sob temperaturas baixas, produzem intenso
calor. Em outras palavras, as células marrons fazem o mesmo que as
bege, só que sem precisar da irisina. Elas são importantes para a
adaptação do recém-nascido à temperatura fora do útero materno.
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