sexta-feira, 30 de julho de 2010

Dependência Química 3/3

Terceira parte da entrevista de Drauzio Varella entrevista o médico psquiatra Ronaldo Laranjeira.

Busca do Prazer Total

Drauzio - Você acha que um dia aparecerá uma droga cujo mecanismo de ação se encarregue de nos deixar felizes sem provocar malefícios no cérebro?

Ronaldo Laranjeira –Não acredito. Fica difícil imaginar uma droga que aja só no centro de prazer sem perturbar os demais mecanismos bioquímicos do cérebro que é um órgão complexo e evolutivamente preparado para vivenciar muitas formas de prazeres sutis. Para tais estímulos, está aparelhado. Para os advindos das drogas, não.

DrauzioVocê não acha que o homem está sempre à procura do prazer total?

Ronaldo Laranjeira – A busca do prazer é uma característica positiva do ser humano. No caso das drogas, porém, ao querer superar a própria biologia por um artifício grosseiro, ele acaba se empobrecendo. O desejo de intensificar o prazer ao máximo empurra o homem para uma guerra que jamais será vencida.

Campanhas contra as Drogas

Drauzio Quando analisamos as campanhas contra as drogas, verificamos que se baseiam muito nos aspectos negativos dessas substâncias. A idéia é sempre assustar o usuário: “droga mata”. Aí, o garoto fuma uma baseado e não morre. Ao contrário, sente-se bem e fica achando que tudo não passa de uma grande mentira. Você acha que o enfoque das campanhas é ingênuo?

Ronaldo Laranjeira – Estamos ainda muito no começo. Na criação de um modelo do que acontece com os usuários de droga, as campanhas estão numa fase bastante embrionária, mas acho que estão certas ao afirmar que drogas fazem mal. Ficar só nisso, porém, é passar uma informação de saúde ingênua e pobre. É preciso dizer como e por que as drogas são altamente prejudiciais ao organismo para que a pessoa tome uma decisão firme, bem alicerçada, e disponha-se a abandoná-las.
As evidências nos mostram que, quando se trabalha com a prevenção, a prioridade deve ser dada aos fatores de risco. Todavia, a partir do momento em que já está instalado o consumo (maconha, nos casos mais comuns), as estratégias teriam de ser bem diferentes.

Orientação dos Pais

Drauzio – Muitas vezes os pais ficam apavorados quando encontram maconha nas coisas dos filhos. Como você orienta quem vive esse problema?

Ronaldo Laranjeira –Na verdade, maconha é a primeira droga ilícita que a pessoa consome, mas antes disso, em geral, já experimentou álcool e cigarro. Já não se discute mais que, quanto mais cedo o adolescente tem contato com a droga, maior a probabilidade de “escalar”, isto é, de partir para outras drogas ou intensificar o uso da maconha. É muito difícil prever quem vai ou não embarcar nesse processo. Sabe-se, porém, que quantos mais amigos envolvidos com drogas ele tiver, maior risco correrá do uso tornar-se crônico.
O primeiro passo para enfrentar a situação é os pais se informarem sobre o que está acontecendo na vida dos filhos e voltarem a exercer controle mais efetivo sobre suas atividades. Em geral, esse problema reflete uma certa crise familiar. Por razões diversas, pais e filhos se distanciaram. Por isso, a estratégia básica é levar ao conhecimento dos pais o que está acontecendo com seus filhos e os riscos que eles correm.
Quanto ao adolescente, é complicado conversar sobre esses riscos. A tendência do jovem que já se envolveu com maconha é minimizá-los ao máximo. “Que mal existe em fumar um baseado por semana?” é a pergunta que muitos fazem. Acontece que, na maioria das vezes, quem começou precocemente, no espaço de seis meses, estará fumando um baseado por dia.
Na entrevista clínica, não dá para antever o caminho que cada um percorrerá no mundo das drogas. Quem já teve o desprazer de acompanhar um adolescente numa entrevista, tranqüilizar os pais, dizendo – “Olhem, ele só está usando uma vez por semana. Essa é uma experiência pela qual ele deve passar.” – e, depois de dois anos, ver esse jovem totalmente deteriorado, traficando drogas, fica muito preocupado com o momento certo em que deve interferir. Esse é o desespero dos pais e o dilema dos profissionais. Agir na medida exata da necessidade de cada caso. Nem todos precisam de tratamento, mas não se pode deixar escapar aqueles para os quais o acompanhamento clínico é indispensável.

DrauzioEm que você se baseia para julgar se um garoto, que afirma fumar maconha a cada dois meses , representa risco de tornar-se um usuário crônico?

Ronaldo Laranjeira – É preciso estar atento a três fatores que combinados são sinais de alerta e requerem algum tipo de acompanhamento. O primeiro é atitude por demais tranqüila do adolescente que considera a maconha inofensiva e destituída de inconveniências. Depois, é importante considerar a rede social em que está inserido. Os amigos com quem convive são usuários da droga? Por último, deve-se avaliar seu desempenho nas atividades cotidianas. É o caso do bom aluno até os 13 anos, que foi perdendo o interesse pela escola e não reage mesmo diante da ameaça de perder o ano.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Suco da Luz do Sol

Esquecemos que fazemos parte da natureza, do contato com a terra, com a água, com os alimentos. Adoecemos porque nos afastamos da origem. Os alimentos cozidos desencadeiam no organismo humano dificuldades digestivas, acidificação e estruturas viciantes. Isto é, cada vez mais o organismo deseja doses mais ácidas, e essa acidez gera euforia e depressão exatamente como acontece com as drogas. Um círculo vicioso, que torna “normal” quem vive nele e “anormal” quem sai por não se identificar com ele.

Mas existem maneiras de trazer a nossa vida de volta à vida. Sem radicalismos, ninguém precisa mudar 100% sua alimentação e escolher por viver somente da alimentação crua e viva. Até porque a intoxicação é tanta, tão imensa, que muitos organismos não agüentariam tal choque, tal como uma desintoxicação de drogas pesadas.

O Suco de Luz do Sol

Trata-se de um novo caminho. Para quem decidiu, chegou a hora de praticar uma alimentação que alcaliniza, mineraliza e vitaliza: “acorda”.

Quando a semente germina, torna o solo e tudo o mais alcalino, e alcalinização é sinônimo de vitalização, força. Quando deixamos a semente de molho em água à noite, sua latência termina e se dá início a liberação de comandos: é hora de germinar, de expandir, de virar planta. Durante este “despertar” da semente ocorre uma ampliação do valor nutritivo em até 20 mil vezes. Difícil explicar, pois é a alquimia da natureza. O invisível da energia cósmica, solar.

Mais fácil é vivenciar.

Sementes e grãos germinados são a base da alimentação viva. Puras, misturadas, trituradas nos sucos ou preparos culinários os mais criativos. Suco de Luz do Sol, é um suco verde, rico em clorofila, frutas, raízes e sementes germinadas. A energia solar, estocada em todos os ingredientes, principalmente nas folhas verdes (mínimo 50% da composição dos sucos), será “bebida” em copos. Quantas vezes por dia for necessário. Quanto mais doente e intoxicado, menor a dose, porém maior a frequência de tomas/dia.

Fáceis de digerir, até porque seus ingredientes estão plenos de enzimas digestivas, estes sucos são assimilados pelo organismo em 15 minutos máximo (quando em jejum), acelerando processos de desintoxicação, alcalinização, vitalização e cura.

Tomando o suco de Luz do sol todos os dias, a pessoa vai aos poucos recuperando sua vitalidade, criatividade, equilíbrio e lucidez . Não precisa ter pressa, basta ter ritmo.

A Receita Básica

Os Ingredientes:

* 1-3 maçãs picadas com casca e sem semente (a maçã irá dar o tom de doçura do suco)
* 1 pepino médio (cuidado pepinos não orgânicos contém elevado teor de contaminação por agrotóxicos)
* 3 folhas de couve manteiga ou outra hortaliça verde escura
* 3 ramos de hortelã, capim limão ou erva cidreira
* 1 xícara (chá) de girassol germinado
* 1 raiz como cenoura (inhame, batata baroa ou doce) ou meia beterraba
* 1 xícara (chá) de legume picado como abóbora ou chuchu


O Preparo:
Coloque a maçã picada no liquidificar e use o pepino como socador até que o primeiro líquido se forme. Coe e volte para o liquidificador. Acrescente as sementes germinadas, as folhas verdes, o legume e a raiz. Coe num coador de pano - panela furada - e beba imediatamente.

Importante: os ingredientes precisam ser necessariamente crus, maduros e frescos. Idealmente orgânicos.
JAMAIS hidropônicos.

Assista ao vídeo:


Os efeitos terapêuticos do suco da luz do sol (Trecho extraído do livro ALIMENTAÇÃO DESINTOXICANTE, pg. 129 - 2ª edição - Ed Alaúde):


- aumenta a contagem sanguínea,
- fornece ferro para todos os órgãos,
- reduz as toxinas ingeridas,
- reduz a anemia,
-
limpa e desodoriza os tecidos intestinais,
-
ajuda a purificar o figado,
-
reduz a taxa de açúcar no sangue,
- aumenta o conetúdo de ferro no leite materno,
-
ajuda a curar os ferimentos,
- elimina odores do corpo,
- resiste as bactéroas do corpo,
- limpa os dentes e as gengivas na pinorréia,
- melhora a drenagem nasal e expectoração nasal,
- reduz o corrimento nasal,
-
diminui a necessidade de desodorantes,
- elimina o mau hálito,
- excelente para gargarejo pós operatório bucal,
- elimina a inflamação das amidalas,
- cura as ulcerações dos tecidos,
-
reduz a dor causada por inflamações,
- melhora as varizes e revitaliza o sitema vascular das pernas,
- reduz a acidez intestinal
- nutre e fortalece os sistemas circulatório e intestinal


Fonte: Doce Limão
Conceição Trucom é química, cientista, palestrante e escritora sobre temas voltados para a alimentação natural, bem-estar e qualidade de vida.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Novo tratamento para a Depressão Pós-Parto

Estimulação magnética combate depressão pós-parto


Pesquisadores do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um novo tratamento para depressão pós-parto que dispensa medicamentos, não afeta o aleitamento e promove melhora dos sintomas depois de quatro semanas. A terapia se baseia na estimulação magnética transcraniana, técnica na qual um campo magnético estimula circuitos neurais com atividade reduzida em ração de diferentes distúrbios.

Os resultados são preliminares e fazem parte do mestrado do psicólogo Martin Luiz Myczkowski. Dês mulheres com depressão pós-parto foram submetidas ao tratamento durante um mês. “Apesar da amostra pequena, percebemos uma melhora muito grande das voluntárias, em comparação com pacientes que não fizeram o tratamento. Depressões graves se tornaram leves ou praticamente sumiram”, afirma o psicólogo. Foram observadas melhoras na cognição e na memória das mulheres, bem como nos relacionamentos familiar e conjugal. Segundo Myczkowski, as mães ainda adquiriram mais confiança para cuidar do bebê. Na segunda fase do estudo, um número maior de pacientes deve receber o tratamento.

Fonte: Revista Mente&Cérebro, n° 204, de janeiro/2010

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Dependência Química 2/3

Segunda parte da entrevista de Drauzio Varella entrevista o médico psquiatra Ronaldo Laranjeira.

Características Comportamentais dos Usuários

DrauzioO uso crônico do álcool provoca uma série de alterações que todo mundo conhece e reconhece. Em relação às outras drogas, de acordo com sua experiência pessoal e não com as definições dos livros, quais as principais características do usuário?

Ronaldo Laranjeira – No ambulatório da Escola Paulista de Medicina que atende usuários de maconha, pude notar que há dois grupos distintos. Um é constituído por jovens que perderam o interesse por tudo o que faziam. Não estudam nem trabalham. Estão completamente desmotivados. É o que chamamos de síndrome amotivacional. O nome é feio, mas pertinente. O outro grupo é formado por pessoas nas quais se estabelece uma relação complexa entre maconha e doenças mentais como psicose e depressão. Não se sabe se a maconha produz a doença mental. O que se sabe é que ela piora os sintomas de qualquer uma delas, seja ansiedade ou esquizofrenia.

Ação e Efeito das Diferentes Drogas

Drauzio -Teoricamente, quando a pessoa ansiosa fuma maconha, fica mais relaxada. Você acha que isso é um mito?

Ronaldo Laranjeira – É importante distinguir, na droga, o efeito imediato do efeito cumulativo. No geral, sob a ação da maconha, a pessoa ansiosa relaxa um pouco, mas esse é um efeito de curto prazo. O álcool também relaxa num primeiro momento. No entanto, as evidências demonstram que nas pessoas ansiosas seu uso crônico aumenta os níveis de ansiedade, porque o cérebro reage tentando manter o sistema em equilíbrio. É o efeito de homeóstase. Se alguém usa um estimulante, passado o efeito, o cérebro não volta ao funcionamento normal imediatamente. Surge o efeito rebote. Isso ocorre com qualquer droga. Tanto com a maconha quanto com o álcool, findo o efeito depressor, o efeito rebote elevará os níveis de ansiedade.

DrauzioComo age a maconha na memória?

Ronaldo Laranjeira - A maconha diminui a concentração, a memória e a atenção. É um efeito bastante rápido. Estudos mostram que, se alguém usar maconha num dia e medir os níveis de memória e concentração no outro, eles estarão ligeiramente alterados. Isso tem um impacto bastante negativo na vida dos adolescentes.
Na verdade, não há droga que melhore o desempenho intelectual. Nós sabemos que pessoas criativas usam drogas e produzem coisas criativas. Se elas não fossem criativas por natureza, não haveria droga no mundo capaz de produzir esse resultado.

DrauzioQuais são os efeitos crônicos da cocaína?

Ronaldo Laranjeira – Em relação à saúde, o efeito mais grave da cocaína são os problemas cardíacos e cardiovasculares. Quando associada ao álcool, então, ela é uma das principais causas de infarto do miocárdio em adultos jovens.

Associação Perigosa da Cocaína com Álcool

DrauzioPor que o usuário de cocaína bebe tanto?

Ronaldo Laranjeira – De alguma forma, o álcool faz com que a pessoa se sinta mais liberada e use cocaína, um estimulante potente. Para diminuir a excitação, ela torna a beber e, como num círculo vicioso, a usar cocaína. A confusão cerebral aumenta consideravelmente e a tendência é beber ou cheirar mais. Trata-se de uma reação perturbadora em que o álcool incentiva o consumo de cocaína e vice-versa.

Drauzio Fico assustado com a quantidade de bebida destilada que o usuário de cocaína consome.

Ronaldo Laranjeira – A cocaína aumenta a resistência ao álcool, porque um pouco de seu efeito depressor é atenuado pela cocaína. Por outro lado, a pessoa tolera quantidades maiores de álcool porque precisa abrandar os efeitos altamente excitantes da cocaína.
Sempre é válido repetir que álcool e cocaína representam uma das associações de drogas mais perigosas que existem. Ao que parece, tal associação dá origem a uma terceira molécula extremamente tóxica para cérebro e para o músculo cardíaco.

DrauzioNo Carandiru, vi meninos de 20 e poucos anos com infarto do miocárdio ou derrame cerebral puxando o braço ou a perna depois de uma seção de crack ou de uma overdose de cocaína. Isso acontece freqüentemente?

Ronaldo Laranjeira – Infelizmente, no Brasil, não há dados precisos sobre o que aconteceu com os usuários de cocaína porque o sistema médico não é muito coordenado. Se eles existissem, ficaríamos horrorizados.
Tivemos uma pequena experiência acompanhando, por cinco anos, o primeiro grupo de usuários de crack que foi internado em Cidade de Taipas, interior de São Paulo. Era uma população de classe média baixa. No final desse período, 30% tinham morrido em acidentes ou por morte violenta. Neste caso, as famílias não sabiam dizer quem eram os responsáveis pelas mortes: os traficantes ou a polícia.

Não sabemos se isso ocorre com todos os usuários de crack. Temos certeza, porém, de que poucas doenças apresentam esse índice de mortalidade.

Síndrome de Abstinência/Efeito Rebote

DrauzioComo se manifesta o efeito rebote?

Ronaldo Laranjeira – O mecanismo de recompensa cerebral é importante para a preservação da espécie e ninguém é contra o prazer. Ao contrário, deveríamos estimular o surgimento de inúmeras fontes de prazer. A dependência química, entretanto, cria uma ilusão de prazer que acaba perturbando outros mecanismos cerebrais. Se fumando um baseado a pessoa relaxa, findo o efeito, a ansiedade ganha força, pois a síndrome de abstinência é imediata. É o chamado efeito rebote.
A cocaína age de forma diferente. O efeito rebote está na impossibilidade de sentir prazer sem a droga. Passada a excitação que ela provoca, a pessoa não volta ao normal. Fica deprimida, desanimada. Tudo perde a graça. Como só sente prazer sob a ação da droga, torna-se um usuário crônico. Às vezes, tenta suspender o uso e reassumir as atividades normais, mas nada lhe dá prazer. Parece que, por vingança divina, o cérebro perdeu a capacidade de experimentar outras fontes que não a desse prazer artificial que a droga proporciona.
Essa é uma das tragédias a que se expõem os dependentes químicos. No processo de reabilitação, quando a pessoa pára de usar droga, é fundamental ajudá-la a reencontrar fontes de prazer independentes da substância química.

Drauzio Quem está de fora dificilmente entende o comportamento do dependente. “Esse cara, em vez de estar namorando, indo ao cinema, estudando, fica cheirando cocaína ou fumando crack”, é o que normalmente todos pensam. Isso dá a sensação de que o outro é fraco, com comportamento abjeto, digno de desprezo. Quem está passando por isso, vê a realidade de forma diferente?

Ronaldo Laranjeira – Na verdade, essa pessoa está doente. Seu cérebro está doente, com a sensação de que não existe outro prazer além da droga. Isso acontece também com o cigarro, uma fonte preciosa de prazer para os fumantes que adiam a decisão de parar de fumar por medo de perdê-la. De fato, 30% dos fumantes, logo depois que se afastam da nicotina, apresentam sintomas expressivos de depressão e precisam ser medicados com antidepressivos.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O Poder das Palavras

As palavras influem na sua realidade muito mais do que você imagina. Veja como trabalhar com elas e aproveitar ao máximo sua força.

Palavras mágicas - quais você deve usar ou evitar. Algumas expressões condicionam especialmente o cérebro e influenciam as ações.

Veja quais você deve usar e quais evitar, segundo as especialistas de neurolingüística Deborah Epelman e Maria Olívia de Almeida:

Ainda
Uma palavra positiva que abre muitas possibilidades. Por exemplo, na frase "não tenho namorado ainda". Está implícita a idéia que posso não ter alguém neste momento, mas que isso só é questão de tempo. Mas atenção: evite dizer frases como "com tantos assaltos por aí, nunca fui assaltado ainda".

Tentar
Verbo de má vontade, este. "Não sei, vou tentar", então, é ainda pior. É quase uma frase declarada de que é possível tentar, mas é difícil conseguir.

Experimentar
Ótimo verbo. Experimentar inclui ação, curiosidade. Substitua a frase "vou tentar" por "vou experimentar". A segunda é muito mais dinâmica.

É difícil
Expressão bloqueadora, paralizante. Ela retira a energia necessária para a ação. Troque pela expressão "é desafiante" ou "é um desafio". Essa simples troca pode abrir uma maior possibilidade de sucesso.

Gostaria, queria
Usar esses verbos no futuro do pretérito distancia ainda o objetivo. Eles devem ser empregados sempre no presente: "Eu quero" ou "eu gosto".

Mas
"A gente só conhece o que uma pessoa realmente pensa da outras depois do 'mas'", diz um ditado americano. O "mas" suaviza o que foi dito até aquele momento e enfatiza o que vem depois. O ideal é dizer antes o que desaprovamos. Por exemplo: "Ela é superficial, mas é inteligente e capaz".

Nunca, jamais, sempre
Expressões que restringem a realidade. Ninguém pode dizer que nunca fará ou será tal coisa - não controlamos a vida a esse ponto.

Não
O cérebro não registra o não quando acompanhado de uma imagem. Por exemplo, quando se diz "não pense num gatinho", a primeira coisa que se pensa é justamente num gatinho - o não é simplesmente ignorado. Por exemplo, pessoas que dizem "não quero gritar igual minha mãe" cada vez que dizem isso têm um flash de milésimos de segundo da imagem da mãe gritando. O que está sendo reforçado é essa imagem, e não o contrário.
O "não" só é registrado no cérebro quando é uma negativa simples - o "não quero" ou o "não posso", por exemplo e quando vem desacompanhado de uma imagem.

Texto:
Liane Camargo de Almeida Alves
Fonte:
Bons Fluídos

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Educação

Crianças com Down vão bem em escolas regulares


Estudo reforça importância da inclusão social para
estudantes dom trissomia do Cromossomo 21

O desenvolvimento escolar de crianças com síndrome de Down é muito semelhante ao das que não apresentam prejuízos cognitivo, sensorial ou motor. As conclusões de um estudo realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto (FMRP-USP) reforçam a importância da inclusão social desses alunos e o acesso às escolas regulares.

Resultado da dissertação de mestrado da terapeuta ocupacional Patrícia Páfaro Gomes Anhão, a pesquisa comparou seis crianças, entre 3 e 6 anos, portadoras da síndrome, também conhecida como trissomia do cromossomo 21, com outras seis, da mesma faixa etária, sem nenhum distúrbio, por meio de filmagens em cinco escolas da rede municipal da cidade. Dois tipos de habilidades foram analisados: interpessoal e de autoexpressão. Na primeira, o foco foi a interação com outras crianças e adultos, disputa pela atenção da professora, estabelecimento de contato inicial, ocorrência de brigas e comportamentos de autodefesa. Nas habilidades de autoexpressão foram incluídos o choro e o riso, como a criança agia ao ficar sozinha, o canto e imitação dos colegas e da educadora.

As filmagens revelaram que as crianças com Down só se diferenciaram das demais em dois dos 15 comportamentos analisados. Elas imitaram os coleguinhas com maior freqüência e tiveram mais dificuldade para estabelecer contato no primeiro momento. Para a autora, que trabalha na área de estimulação precoce da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), de Ribeirão Preto, esses resultados devem ajudar os pais a entender que seus filhos precisam do ensino regular e não apenas do especial. A motivação da pesquisa, segundo ela, foi o Plano Social regulamentado pelo Governo Federal em 2007, que prevê a adaptação das escolas públicas, com o objetivo de incluir pessoas com deficiência até 2010. Embora a garantia já faça parte da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), esse processo ainda causa medo e angústia nos pais, afirma a pesquisadora. “O estudo também vai contribuir para que surjam novas pesquisas sobre outros aspectos da relação dessas crianças com o meio na chamada primeira infância, uma vez que a interação social é um dos principais aspectos de seu desenvolvimento”, declarou a autora.

Por Luciana Christante

Revista Mente & Cérebro n° 201, de outubro/2009

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Dependência Química 1/3

Drauzio Varella entrevista o médico psquiatra Ronaldo Laranjeira. Ronaldo é PhD em Dependência Química na Inglaterra. coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas na Faculdade de Medicina da UNIFESP (Universidade Federal do Estado de São Paulo).

Entrevista dividida em 3 partes com postagens nos dias 16, 23 e 30 de Julho.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Perspectivas, Visão e Escolhas

Palestra Perspectiva, Visão e Escolhas de Nick Vujicic.

Vídeo em 3 partes, legendados em português.

Parte 1


Parte 2


Parte 3

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Universo formado por sons, imagens e letras

As palavras e o mundo, em cartaz em São Paulo, é um convite à brincadeira e à imaginação. A exposição interativa, dirigida principalmente a crianças, apresenta instalações artísticas, adereços e espaços lúdicos que propõem brincadeiras com os sons, sentidos, significados e usos de vocábulos.


A abstração do som e sua transformação em imagem inspiram a aventura humana de criação da escrita, permitindo que histórias, memórias e conhecimentos sejam imortalizados em livros. Os organizadores encaram a palavra como uma espécie de personagem, de sujeito desejante: “Em sua ânsia por tornar-se fala, ela ensina o homem a explorar seu corpo articulando sons de maneira ordenada, aprendendo a produzir o som. Em seu desejo de significar, obriga-nos a trocar palavras e, para tanto, criar significados, nomeação e conceitualização do mundo, estruturando-os em uma linguagem comum”, diz a coordenadora técnica do projeto Vânia Freichas Vieira.

Algumas atrações também convidam o visitante a participar, interagir, transformar pensamentos, grafia e som. No “Muro das escrevinhações”, por exemplo, as pessoas podem enviar gratuitamente um cartão-postal da exposição para alguém, no “Pesca palavras” é possível jogar uma cesta no lago e “capturar” seus próprios vocábulos; no espaço “Palavrices” caixas de madeira funcionam como um grande dicionário. Outra atração, o “Berçário do abedecário”, voltado para crianças de até 6 anos, tem brinquedos concebidos para atrair a atenção dos pequenos. Há ainda uma programação de animações no cinema “Lanterna mágica” e apresentação de peças curtas no auditório das “Histórias no pé do ouvido”.


Fonte: Revista Mente & Cérebro n°210, de julho/2010, pág. 10.

Fonte das Imagens: Fred Chalub/Folhapress

Depoimentos da Folha On Line:

Gostei mais da pescaria, em vez de peixes tem palavras na água.
DIOGO FERREIRA, 5

A exposição é sobre palavras, paz, compreensão. É bem colorida e cheia de coisas para ver. Gostei do telefone de lata, em que você escuta a conversa de um casal.
GUSTAVO FERREIRA, 9

Gostei dos armarinhos com desenhos e palavras. Aprendi o que significa a palavra "filosofia".
FRANCISCO ARID, 11

Estou enviando um postal para meus irmãos, contando sobre a exposição. Achei a pescaria de palavras o mais legal.
MANUELA DELLOSSI, 6

As palavras e o mundo. Área de convivência do Sesc Pompéia, Rua Clélia, 93, Pompéia, São Paulo. Tel (11) 3871.7700. Terça a sábado das 10 h às 20 h; domingos e feriados, das 10h às 19 h. Grátis. Até 17/10.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Porres da Elite

Folha de São Paulo - GILBERTO DIMENSTEIN

É claro que as drogas merecem atenção, mas as pesquisas mostram que o grande problema é o álcool
Um bar em São Paulo, próximo à PUC, decidiu cobrar bebida por hora: a pessoa paga uma quantia fixa e bebe o que quiser durante o tempo estipulado. Esse tipo de promoção ilustra uma informação revelada, na semana passada, por uma pesquisa da USP: 1 em cada 5 universitários brasileiros corre o risco de desenvolver dependência do álcool.
Esse dado surpreende a opinião pública, para quem, segundo recentes pesquisas, as drogas são objeto de crescente preocupação, mas o álcool não. Essas pesquisas refletem-se nas posições assumidas por Dilma Rousseff e José Serra, os principais candidatos à Presidência.

Dilma apresentou seu projeto contra o crack. José Serra arrumou uma briga com a Bolívia, acusando (e com certa razão, diga-se) suas autoridades policiais de conivência com o tráfico. Por tabela, o ataque bate em Lula, aliado de Evo Morales. É eleitoralmente compreensível, portanto, que o ex-governador, embora metido nas universidades nos anos 60 e 70, tenha dito que nunca sequer experimentou maconha.

É claro que as drogas merecem atenção, mas as pesquisas mostram que o grande problema é a bebida.

Neste ano, depois de descobrir que 30% dos estudantes das escolas particulares da cidade de São Paulo se tinham embebedado no mês anterior à pesquisa, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) decidiu estender o levantamento para todo o Brasil, incluindo também a rede pública. "Não tínhamos a menor ideia de que faríamos essa descoberta", conta a coordenadora da pesquisa, Ana Regina Noto, do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas).

Os dados da Unesp e da USP ajudam a explicar a polêmica provocada na semana passada pela notícia de que a festa de formatura organizada por estudantes de uma tradicional escola paulistana ofereceria "open bar".
Segundo o trabalho da Unifesp, são os estudantes das escolas mais caras que revelam maior propensão a exagerar na bebida.

Temos, no Brasil, cerca de 50 milhões de jovens. Se 30% deles (15 milhões de pessoas) ficam "altos" pelo menos uma vez por mês, é fácil imaginar a dimensão dos riscos de acidentes, de prática de sexo inseguro ou da própria dependência.

Em São Paulo, a cada 39 minutos, o trânsito despeja uma pessoa no pronto-socorro do Hospital das Clínicas. Todos sabemos que boa parte dos acidentes está associada ao álcool. Mais graves ainda são os registros de atos de violência ligados à bebida.
Por falta de informação, a sociedade aceita muito mais um adolescente tomando um porre por mês do que fumando um "baseado". Toleram-se até mesmo as mensagens que glamorizam o álcool, a exemplo do que se fazia no passado, quando fumar era charmoso e sexy.
Cientificamente está provado que a maconha provoca muito menos danos do que o álcool, a principal causa de internação nos hospitais psiquiátricos. Nem a cocaína e o crack causam tantos danos. O crack, por exemplo, quase não aparece na pesquisa da Unifesp.
Pergunto: quantos bares são punidos por vender bebida a menores de 18 anos?

Não há solução simples. Além de fazer cumprir a lei que proíbe a venda de álcool a menores de 18 anos, é preciso alertar sobre os perigos do vício nas famílias, nas escolas e nos meios de comunicação.

O levantamento da Unifesp dá uma boa notícia: entre jovens, cai o consumo de tabaco. Isso é resultado de décadas de campanhas que associam o fumo não ao charme e à sensualidade, mas ao câncer e até à impotência sexual.

Cigarro não é igual a álcool. Beber moderadamente e com responsabilidade dá prazer e não prejudica a saúde. O desafio para os governos e para a sociedade, além da indústria da bebida e dos publicitários, é encontrar um meio de gerar essa atitude responsável.

Debater o tema nas eleições sem preconceitos e moralismos já seria um bom começo.

PS- A Unifesp vai ampliar a pesquisa para descobrir os fatores que previnem o abuso do álcool e das drogas. Já se sabe, porém, que é preciso ajudar os jovens a ter autoestima e projetos de vida. Respeitar-se, apostar no futuro e ter diálogo familiar são a chave para minimizar o problema. Esse estudo, especialmente as recomendações, é leitura obrigatória (www.dimenstein.com.br). gdimen@uol.com.br

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Um mundo sem r.e.c.l.a.m.a.ç.õ.e.s!

Campanha por mundo sem reclamações, distribui pulseiras na internet.


O pastor de uma igreja cristã do Estado do Kansas, Will Bowen, criou uma campanha em Julho de 2006, chamada “A Complaint Free World”, que estimula as pessoas a não reclamarem, criticarem ou serem sarcásticas durante um período de 21 dias. A ideia explodiu em todo o mundo e 3,6 milhões pulseiras da Queixa, roxas foram enviadas para pessoas em mais de 106 países.

Funciona assim: a pessoa coloca a pulseira no braço e tem como objetivo manter a pulseira nesse braço por 21 dias (número de dias para se criar um novo hábito), só que a cada reclamação, crítica, qualquer uma que seja, a pessoa deveria trocar a pulseira de braço e começar a contagem dos dias de novo.

Para divulgar sua ideia, construiu um
site, onde seguidores podem pedir as pulseiras da campanha.

A página da Internet oferece um formulário, através do qual é possível adquirir gratuitamente o bracelete, produzido para que as pessoas se lembrem que prometeram ser mais pacientes e não reclamar.

A distribuição é gratuita. Contudo, quem adquirir as pulseiras tem a opção de fazer uma doação em prol da causa.

Os pedidos são enviados por países do mundo inteiro. O público varia, os interessados vão de grupos civis e escolas a times esportivos e grupos de reabilitação.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Vitória dos Anos

A depuração das memórias e o uso da mente e do corpo são a melhor terapia para combater doenças degenerativas do envelhecimento


Poucas coisas são mais deploradas na cultura ocidental quanto o envelhecimento, sinônimo de fragilidade física e decadência mental. De fato, as grandes mudanças corporais que a idade traz são muitas vezes seguidas por doenças neurodegenerativas que terminam por conduzir à demência. Uma delas, a doença de Alzheimer, se caracteriza pelo acúmulo cerebral de neurofibrilas e placas compostas por proteínas tau e peptídeos beta-amiloides, respectivamente. A imunização contra peptídeos beta-amiloides é uma das possibilidades de cura desse distúrbio (Monsonego e Weiner, 2003, Science 302: 834-838).

Experimentos com camundongos transgênicos demonstraram que os déficits de memória que acompanha a excessiva produção de proteína tau podem ser revertidos pela interrupção da sua síntese (Santacruz et al, 2005, Science 309: 476-481). Boas notícias chegam ainda de estudos sobre os hábitos de gêmeos idosos nos quais apenas um dos indivíduos apresenta demência, os resultados indicam que a intensa atividade intelectual retarda o aparecimento do Alzheimer (Crowe et al, 2003, J.Gerontol Psycol, Sci. 58B: 249-255), reforçando a idéia de que o uso constante da mente e do corpo é a melhor terapia contra a erosão do tempo.

No entanto, mesmo superadas as patologias, o idoso parece fadado a deparar com limites inflexíveis. Dizia Luiz Fernando Gouveia Labouriau (1921-1996), primeiro bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e motor crucial da fisiologia vegetal no Brasil, que com o passar do tempo seu cérebro (poderoso, diga-se de passagem) parecia haver chegado ao limite de sua capacidade de armazenamento: para aprender o nome de um aluno novo, necessitava esquecer o nome científico de alguma planta. A brincadeira, proferida em tom sereno, expressava um leve inconformismo com o horizonte intelectual humano. Por ser um sistema finito, o cérebro possui um máximo de estocagem mnemônica, mesmo naqueles que escolhem exercitá-lo por toda a vida.

Mas se até o idoso mais sadio precisa contentar-se com a substituição de suas representações cognitivas em lugar da expansão mental fácil da juventude, que vantagem, utilidade ou beleza há na velhice? A resposta a essa pergunta importante encontra-se justamente na receptividade que Labouriau dedicava aos estudantes de todas as idades. Diante do dilema, ele optava por se desprender da memória querida – o nome de uma planta – para cuidar da germinação de mais um jovem cientista em potencial. O investimento do mestre era a fundo perdido, mas para ele a chance de sucesso bastava. A troca de nomes sempre valeu a pena, pois fertilizava o mundo.

Eis aqui a chave do enigma: a grande, incalculável riqueza do envelhecer é a depuração extrema dos pensamentos e atos. Não apenas carregar mais memórias, e sim memórias melhores. Por ser uma propriedade do tecido nervoso, essa depuração pode ocorrer em representações mentais de qualquer tipo, em qualquer ofício humano, a despeito do enfraquecimento de músculos e ossos. Quem duvidar que observe o jogo fabuloso dos legendários João Grande e João Pequeno, mais antigos e respeitados mestres da capoeira de Angola, ainda em atividade, praticantes há quase 60 anos da fina arte de mestre Pastinha. Homens idosos e brilhantes que facilmente derrotam qualquer jogador mais novo, por mais robusto que este seja, com o suprassumo da arte de se mover.

Daí o profundo valor atribuído aos velhos sábios, em tantas culturas do mundo. As melhores árvores espalham fortes sementes. Cabe a estas vingar.


Por Sidarta Ribeiro é neurobiólogo com Ph.D. pela Universidade Rockefeller e pós doutorado pela Universidade Duke. Atualmente é chefe de laboratório do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde investiga as bases neurais do aprendizado, comunicação, sono e sonhos.

Revista Mente e Cérebro, edição especial n° 21

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Neuroquímica

Dopamina, o neurotransmissor para prever o futuro


Além de proporcionar sensação de bem-estar, substância age em ares de recompensa no cérebro, aumentando expectativas positivas; pesquisadores buscam entender mecanismos do otimismo.

A dopamina é neurotransmissor frequentemente associado ao prazer. Saborear um alimento gostoso ou ter um orgasmo, por exemplo, faz com que neurônios de áreas específicas do cérebro sejam banhados por essa substância endógena. O resultado é a sensação de plenitude, que também faz com que muitas pessoas abusem de drogas psicoativas, em sua maioria ilícitas. Essa visão da dopamina como molécula do prazer, porém, é limitada. Pelo menos é o que garantem neurocientistas do University College de Londres, na Inglaterra: segundo eles, o neurotransmissor tem também a função de nos ajudar a prever o futuro.

Não se trata de adivinhação. No artigo publicado na revista Current Biology, os pesquisadores mostraram como a dopamina é importante na avaliação de expectativas. Os voluntários foram medicados com L-dopa, um precursor do neurotransmissor que aumenta a concentração de dopamina no cérebro. Logo em seguida, foram estimulados a pensar em 80 destinos turísticos, que incluíam Grécia e Tailândia, por exemplo. Um novo encontro foi marcado para o dia seguinte, quando L-dopa já teria exercido seus efeitos, para que eles dissessem para quais lugares preferiam viajar. Os resultados foram comparados aos de outro grupo submetido ao mesmo procedimento, mas os participantes haviam ingerido comprimidos que continham vitamina C, sem efeito algum no cérebro.

De volta ao laboratório, os coordenadores do estudo notaram que os resultados dos participantes dos dois grupos foram bem diferentes. Aqueles que tinham ingerido L-dopa tiveram uma percepção muito mais prazerosa dos destinos escolhidos. Segundo os autores, a explicação é simples: pense no futuro com mais dopamina no cérebro e ele parecerá muito mais divertido. Os pesquisadores ressaltam, porém, que no momento em que foram apresentados aos roteiros de férias, todos os voluntários tinham praticamente o mesmo “nível de felicidade”, segundo questionários de avaliação psicológica. O que mudou foi a forma como o cérebro processou essas informações, o que leva a crer que esse neurotransmissor maximiza as expectativas de recompensa.

A maneira como a dopamina exerce este efeito, no entanto, ainda é um mistério. O conhecimento dessa nova faceta da molécula ainda é incipiente. Estudos nessa área podem abrir novos caminhos para compreensão de como avaliamos o prazer e a dor e fazemos escolhas com base nessas estimativas. É um caminho que pode ajudar a entender melhor a neurobioliga do otimismo.

Da revista Mente&Cérebro n° 204, de janeiro/2010