sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A Síndrome do Impostor_4/4

Quarta postagem da série com 4 postagens, publicada na Revista Mente & Cérebro, edição especial n° 213, de outubro/2010, por Birgit Spinath - Professora de psicopedagogia da Universidade de Heidelberg-Alemanha.

Afinal, quem ou o que é responsávl tanto pelos acontecimentos bons quanto ruins em nossa vida? Quando respondemos a essa questão, estamos fazendo uma "atribuição" - conferimos uma razão aos fatos estabelecendo relações de causa e efeito. Segundo o psicólogo Martins Seligman, da Universidade da Pensilvânia, Filadélfia, toda pessoa possui um estilo de atribuição com o qual explica preferencialmente os eventos de sua vida, que inclui três dimensões: os motivos para um acontecimento podem estar dentro ou fora da própria pessoa (interno versus externo); eles podem ser duradouros ou passageiros (estável versus instável); e eles podem se aplicar a várias situações ou a apenas uma única (global versus específico).

O estilo de atribuição já foi muitas vezes associado à saúde mental: as pessoas psiquicamente saudáveis tendem a considerar eventos positivos de forma internalizada, estável e global ("Nem sempre acerto, mas sou inteligente"); no caso de acontecimentos negativos, valorizam aspectos externos, instáveis e específicos ("Desta vez eu dei azar, mas isso não vai, necessariamente, acontecer sempre.") Pessoas depressivas frequentemente apresentam o padrão inverso: consideram-se sempre responsáveis pelos fracassos e explicam sus próprias realizações pela sorte. Evidentemente, não se trata de negar a realidade ou subestimar aspectos concretos ou subjetivos: realmente há fatores que escapam à compreensão racional e posturs psíquicas (ou mesmo dificuldades) que sabotam boas intenções. Mas analisar cada situação, sem tentar encaixá-la em "modelos prontos" - sempre sorte ou sempre incompetência - nos torna menos onipotentes e mais tolerantes com nossos erros e acertos.

De olho na trapaça

Segundo a psicóloga Pauline Clance, da Universidade do Estado da Geórgia, em Atlanta, o sentimento subjetivo de ser um farsante, em geral, surge pela primeira vez no início dos estudos universitários ou, ainda com mais frequência, no começo da vida profissional - uma fase em que mesmo pessoas acostumadas ao sucesso precisam lidar com exigências mais intensas. Muitas vezes, quem atravessou o período escolar sem grande esforço não aprendeu a se preparar adequadamente para situações que dependem de seu desempenho e a atribuir seu sucesso à própria capacidade.


Alguns especialistas se perguntam, entretanto, se as pessoas com síndrome do impostor realmente fingem ser mais do que são - o que, em parte, justificaria seu sentimento de estar enganando as pessoas. O psicólogo Joseph Ferrarri, da Universidade DePaul, investigou essa questão e constatou que os impostores imaginários tendiam menos a cometer atos fraudulentos do que as pessoas do grupo de controle que não se consideravam trapaceiras.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A Síndrome do Impostor_3/4

Terceira postagem da série com 4 postagens, publicada na Revista Mente & Cérebro, edição especial n° 213, de outubro/2010, por Birgit Spinath - Professora de psicopedagogia da Universidade de Heidelberg-Alemanha.



No caso do undergoing, ocorre inicialmente o contrário: as pessoas se preparam pouco ou tarde demais para uma situação de avaliação e, em vez disso, se ocupam de outras coisas. O psicólogo social Edward Jones (1717-1993) denominou esse comportamento como "self-handicapping" , referindo-se àqueles que colocam pedras no próprio caminho na medida em que pouco se esforçam ou rejeitam ajuda ofertada, protegendo-se, no caso de insucesso, de ter de atribuir o fracasso a si mesmo. E assim cultivam a crença de que teriam conseguido se realmente quisessem. Dessa forma, porém, sabotam o próprio desempenho.

Se, no entanto, a pessoa com a síndrome do impostor soluciona bem uma tarefa, apesar de ter criado obstáculos para si mesma, mesmo assim raramente atribui o sucesso a sua própria capacidade, mas à sorte. Por isso, os afetados que utilizam a estratégia do
undergoing também são bastante inseguros quanto ao próprio futuro.

Como é possível romper o ciclo do pensamento daqueles que sofrem de síndrome do impostor? Pauline Clance, que estudou o fenômeno acredita que um ponto de partida central seja aprender a atribuir os sucessos à própria capacidade quando isso é justo. Ainda que no início pareça estranho, trata-se de suportar o sucesso - e arcar com as responsabilidades que advém dele. Por exemplo, se a pessoa recebe uma promoção no trabalho terá de se havr com mais tarefas, cobranças e necessidade de tomar decisões nem sempre confortáveis. Aceitar as próprias vitórias ajuda a lidar com efentuais frustrações, sem cultivar a ideia de que um eventual fracasso colocará absolutamente tudo a perder. Trata-se, na verdade, de compreender que temos capacidades e podemos, sim, eventualmente, errar - sem que isso seja irreparável. Também vale a pena rever a explicação "eu só tive sucesso porque me esforcei muito" - comumente bastante aceita. É fundamental aprender a adequar a quantidade de trabalho e os investimentos necessários em cada situação. Considerando o outro lado dessa moeda, pode parecer muito cômodo explicar insucessos com causas que podem ser facilmente modificadas - como o pouco esforço ou a estratégia de estudos inadequada. O problema é que, agindo assim, a pessoa nunca saberá, de fato, o que pode obter.

Um caminho possível para reverter essa forma de lidar consigo mesmo e com os desafios é fortalecer a autoestima, o que ao mesmo tempo diminui o medo e a tendência à invalidação de si. Exercícios práticos para aprender a reconhecer - e valorizar - realizações pessoais, como fazer listas dos próprios pontos fortes e rever situações em que a pessoa teve sucesso, destacando as qualidades que a favoreceram em cada ocasião, podem ser muito úteis. Mas o acompanhamento psicoterápico, que favoreça a elaboração de conflitos antigos que alicerçam as crenças equivocadas sobre si mesmo, é fundamental para rever posturas e formas prejudiciais de lidar consigo mesmo.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A Síndrome do Impostor_2/4

Segunda postagem da série com 4 postagens, publicada na Revista Mente & Cérebro, edição especial n° 213, de outubro/2010, por Birgit Spinath - Professora de psicopedagogia da Universidade de Heidelberg-Alemanha.


A expressão "fenômeno do impostor" foi usada pela primeira vez no final dos anos 70 pela psicóloga Pauline Clance, da Universidade do Estado da Geórgia, em Atlanta. Segundo ela, os pacientes que apresentavam essa manifestação têm uma dolorosa consciência de suas fraquezas. Ao mesmo tempo, tendem a supervalorizar a capacidade e os pontos fortes dos outros - e sempre se consideram em desvantagem. Não é de admirar que essas pessoas tenham baixa autoestima.

Clance já supunha que principalmente as mulheres eram sucetíveis a esse tipo de funcionamento psíquico. Em um estudo recente, realizada na Universidade de Heidelberg, Alemanha, Christiane Roth examinou, junto comigo, a disseminação da síndrome do impostor entre estudantes de psicologia. Como se trata de um curso com vagas limitadas e bastante concorrido, a maioria dos estudantes havia sido muito bem-sucedida na escola - eles preenchem, portanto, uma importante condição para o fenômeno do impostor. E, de fato, a porcentagem de mulheres dentro dogrupo que relatou ter esse tipo de pensamento autopersecutório era evidentemente mais alta do que entre os estudantes sem esse peso na consciência.

Vários outros estudos apoiam essa constatação. A suposição leva a crer que o fenômeno também contribui para o fato de as mulheres ainda estarem raramente representadas em posições de ponta em sua vida profissional. Apesar de as meninas terem, em média, melhores notas escolares e completarem os estudos universitários com frequência bastante aproximada à de seus colegas do sexo masculino, aparentemente o sucesso parece imerecido para muitas delas. O tema, entretanto, ainda é controverso.

Mas como é possível que pessoas que sempre conseguem ter bons desempenhos, muitas vezes até acima da média, não acreditem em sua capacidade? Os sentimentos associados à síndrome do imostor são provavelmente tão perseverantes porque se estabilizam em um círculo vicioso psíquico. Para que a "fraude não seja revelada" em uma situação que dependa do deesempenho, como, por exemplo, uma prova, as pessoas adotam uma entre duas estratégias: "
overdoing" (fazer demais) ou "underdoing" (fazer de menos). No primeiro caso, se preparam de forma exageradamente longa e intensiva para uma situação onde seu desempenho será avaliado. Com isso, elevam a probabilidade de obterem um bom resultado. E, se isso ocorre - e geralmente ocorre - atribuem o sucesso não a sua capacidade, mas ao grande esforço. Ao mesmo tempo, têm consciência de que não poderão sempre empenhar-se, o que reforça o medo de não conseguir o resultado semelhante no futuro.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A Síndrome do Impostor_1/4

Primeira postagem da série com 4 postagens, publicada na Revista Mente & Cérebro, edição especial n° 213, de outubro/2010, por Birgit Spinath - Professora de psicopedagogia da Universidade de Heidelberg-Alemanha.

Muita gente acredita que não merece o sucesso, mesmo quando trabalhou duro para atingir seus objetivos e é reconhecida por suas realizações. Essas pessoas, na maioria mulheres, sentem-se farsantes e convivem com o medo constante de que o suposto engodo seja descoberto.

Foi realmente uma prova excelente. Você não quer iniciar seus créditos de pós-graduação sobre esse tema? Passe em minha sala para uma conversa." Assim a professora se despede de Lina após sua prova final do ano letivo. A matemática recém-formada, no entanto, não consegue se alegrar com o elogio. Em sua cabeça circula um turbilhão: "Essa professora é realmente simpática, e ela só me perguntou coisas fáceis. Foi sorte! Agora eu preciso evitar uma conversa mais técnica ou ela ainda vai perceber que só blefei - e vai descobrir que sei muito pouco, bem menos do que deveria!" Lina fica remoendo esses pensamentos até ter certeza: apesar de ter obtido excelente nota nos exames, não vai aceitar a oferta da professora em hipótese alguma.

Aprovada com louvor na prova para a qual estudou muito, a jovem sente-se uma farsante. Lina é atormentada pela "Sindrome do Impostor". Pessoas afetadas por esse fenômeno não acreditam que seus sucessos possam ser atribuídos à sua própria capacidade. Em alguns casos, estão convencidas que a boa avaliação de seu desempenho deve-se apenas ao seu charme ou a seus relacionamentos. Em outros, convencem-se de que foram beneficiadas simplesmente por um feliz acaso. Mas com frequência comparam-se a outras pessoas e duvidam da própria capacidade. Curiosamente, essas ideias surgem com frequência em pessoas com bom currículo e até com histórico de ótimos desempenhos.

Trata-se inicialmente da tendência a não se considerar responsável por resultados positivos, atribuindo-os a circunstâncias externas. Pessoas com essa síndrome, porém, vão além: elas se sentem realmente impostoras que obtiveram sucesso por meio de fraude e não o mereceram. E, por causa disso, vivem com o medo constante de que alguém descubra sua suposta farsa.

Nos últimos anos, alguns pesquisadores estudaram características psíquicas daqueles que costumam se torturar com esses pensamentos. O psicólogo Scott Ross, da Universidade DePauw, em Greencastle, no estado americano de Indiana, concluiu em 2001 que as pessoas afetadas pelo sentimento de que são uma fraude, de maneira geral, apresentam baixa autoestima, às vezes disfarçada por atitudes aparentemente arrogantes ou simpatia exagerada. Isso é associado à sensação frequente de medo, sem causa específica, segundo descobriram em 2006 as psicólogas Shamala Kumar e Carolyn Jagacinski, da Universidade Purdue, em West Lafayette, Indiana, ao realizar uma enquete com 130 estudantes.

Em alguns casos, o medo de ser descoberto pode estar associado a distúrbios psíquicos ou deficiências físicas. Em 2002, a psicóloga Naijean Bernard, da Universidade Southern Illinois, em Carbondale, coordenou uma equipe de pesquisadores que examinou quase 200 universitários por meio de questionários. Os estudiosos descobriram uma ligação entre os pensamentos associados à síndrome do impostor e tendências depressivas - uma constatação várias vezes confirmadas nos anos posteriores.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Consumo de crack atinge quase 4 mil cidades, diz CNM

Pesquisa da Confederação dos Municípios foi feita em 71% dos municípios. Segundo CNM, Plano Nacional de Combate ao Crack 'não surtiu efeito'.

Do G1, em Brasília

Pesquisa divulgada nesta segunda-feira (13) pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) informa que o crack é consumido em 3.871 de 3.950 municípios pesquisados pela entidade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 5.565 municípios. O universo pesquisado pela confederação equivale a 71% do total de municípios brasileiros.

Nas cidades pesquisadas,a CNM ouviu os secretários de Saúde, no período de 2 a 23 de novembro. Em 98% desses municípios, segundo o levantamento, há problemas relacionados ao crack.

O presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkosky, afirmou que há uma estimativa de que haveria 1,2 milhão de pessoas consumindo crack no Brasil.

Segundo ele, o Brasil "não tem política de enfrentamento ao crack" e o Programa Nacional de Combate ao Crack, lançado em maio deste ano pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva "não surtiu efeito". O G1 procurou a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e aguarda resposta.

"Um programa foi lançado na marcha dos prefeitos, em maio, e ele já foi extinto agora em 29 de novembro. Terminou. Um programa de R$ 482 milhões, é um gesto que o governo tomou, mas é um programa que não aconteceu, praticamente nenhum centavo chegou para o combate do uso ao crack", disse Ziulkosky.

"Falta ao país uma estratégia para o enfrentamento do crack, não há uma integração entre União, estados e municípios, isso é o que mais nos preocupa", disse o presidente da CNM. "Não houve nada de efetivo neste programa. O que eu estou dizendo é que ainda não há nada de real".

Convênios
Segundo a pesquisa, somente 134 municípios declararam ter firmado convênio com o governo federal no âmbito do Plano Nacional de Combate ao Crack. A maior parte dos pesquisados, de acordo com a CNM, não encaminhou ou não teve projeto aprovado.

Segundo a CNM, os editais para que as prefeituras pudessem se habilitar a receber recursos do programa foram lançados no início de novembro, e o prazo para a apresentação dos projetos terminou no dia 29 de novembro.

A CNM criticou também o fato de o plano de combate ao crack ser voltado apenas para cidades com mais de 20 mil habitantes. Para os municípios com menos de 20 mil habitantes, segundo a CNM, foi disponibiizada somente a possibilidade de implantação de núcleos de apoio à saúde da família.

Ainda de acordo com a pesquisa, apenas em 8,43% das cidades pesquisadas há programas municipais de combate ao crack. Em 48,15% dos municípios pesquisados, estão em andamento campanhas de combate ao crack.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Caminhos Promissores_6/6

Sexta postagem da série com 6 postagens sobre o Alzheimer, publicadas Revista Mente & Cérebro, edição especial n° 1, de maio/2010, por Michael S. Wolfe.



Outro empolgante avanço recente é a terapia celular. Mark Tuszynski e seus colegas da Universidade da Califórnia em San Diego realizaram biópsias da pele de pacientes com doença de Alzheimer na forma branda e inseriram nela o gene codificador do fator de crescimento neural (NGF, sigla em inglês). As células geneticamente modificadas foram então introduzidas cirugicamente no cérebro desses pacientes. A idéia era que elas produzissem e secretassem NGF, o que preveniria a perda de neurônios produtos de acetilcolina e melhoraria a memória. A terapia baseada em células foi uma estatégia inteligente para distribuir o NGF, proteína de tamanho grande que, de outra maneira, não conseguiria entrar no cérebro .Embora o estudo tenha incluído poucos indivíduos e carecido de controles importantes, pesquisas de acompanhamento mostraram redução do declínio cognitivo nos pacientes. Os resultados foram bons o bastante para justificar testes clínicos adicionais.

Embora algumas dessas terapias não cumpram suas promessas, os cientistas esperam encontrar ao menos um agente que possa efetivamente desacelerar ou interromper a perda gradual de neurônios no cérebro - o que salvaria milhões de pessoas.

Mirar na A-beta pode impedir o início do Alzheimer ou retardá-lo precocemente, mas se essa estratégia irá curar aqueles em estágios mais avançados da doença ainda não se sabe. Mesmo assim, os pesquisadores têm bons motivos para o otimismo cauteloso. A recente enxurrada de descobertas nos convenceu de que a busca por maneiras de prevenir e tratar a doença de Alzheimer não será em vão.

Correlação significativa

Muitos estudos têm sido feitos com base na hipótese de que pacientes tratados com estatinas (drogas utilizadas na redução do colesterol) têm menos chance de desenvolver Alzheimer que os demais. Até agora, porém, os resultados se mostraram controversos e não definitivos.

Em 2009, pesquisadores holandeses do Instituto Rotterdam parecem ter posto fim à controvérsia ao revelar a diminuição significativa do risco de doença de Alzheimer nos usuários de estatinas em comparação com aqueles que nunca fizeram uso da substância.

O estudo - até o momento o maior nessa linha de pesquisa - foi feito em 6.992 pessoas, acompanhadas por nove anos, e publicado no Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychiatry.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Caminhos Promissores_5/6

Quinta postagem da série com 6 postagens sobre o Alzheimer, publicadas Revista Mente & Cérebro, edição especial n° 1, de maio/2010, por Michael S. Wolfe.




Aposta na imunoterapia

Outra estratégia para combater a doença é livrar o cérebro dos aglomerados tóxicos de A-beta depois que o peptídeo é produzido. Uma abordagem é a imunização ativa, que pressupõe recrutar o próprio sistema imunológico do paciente para atacar a proteína. Em 1999, Dale B.schenk e seus colegas da Elan Corporation fizeram uma descoberta pioneira: a injeção de A-beta em camundongos geneticamente projetados para desenvolver placas amiloides estimulou uma resposta imune que impediu a formação de placas no cérebro dos animais jovens e limpou as já existentes nos mais velhos. Os roedores produziram anticorpos que reconheceram a A-beta e aparentemente estimularam as células imunes do cérebro - micróglias - a atacar conglomerdos do peptídeo. Em camundogos houve melhoras no aprendizado e na memória, o que levou ao início de testes em humanos.

Infelizmente, embora a injeção de A-beta tenha passado pelos teste de segurança iniciais, diversos pacientes desenvolveram encefalite - inflamação no cérebro -, o que acarretou a seuspensaõ prematura do estudo em 2002. A pesquisa de acompanhamento indicou que o tratamento pode ter causado a inflamação ao estimular as células T do sistema imunológico a executar ataques excessivamente agressivos aos depósitos de A-beta. No entanto, a pesquisa confirmou que muitos pacientes produziram anticorpos contra a A-beta, e aqueles que o fizem mostraram sinais sutis de melhora de memória e concentração.

As preocupações de segurança com a imunização ativa levaram alguns pesquisadores a tentar a imunização passiva, cujo objetivo é eliminar o peptídeo por meio da injeção de anticorpos nos pacientes. Produzidos em célualas de cobaias e programados geneticamente para impedir a rejeição em humanos, esses anticorpos dificilmente provocariam encefalite, já que não disparariam uma resposta nociva das céluas T no cérebro. Um tratamennto por imunização passiva desenvolvido pela Elan Corporation já avançou para os testes clínicos e humanos.

Como a imunização ativa ou passiva remove a A-beta do cérebro é, de certa forma, um mistério, uma vez que os anticorpos são macromoléculas e dificilmente utrapassam a barreira hematoencefálica. Algumas evidências sugerem que a entrada no cérebro pode nem ser necessária.

A proteína amiloide, contudo, é apenas metade da equação da doença de Alzheimer; a outra metade, os filamentos de tau que causam emaranhados neurais, é considerada um alvo promissor na prevenção da degeneração dos neurônios cerebrais. Pesquisadores estão concentrados em projetar inibidores que possam bloquear as quinases que fixam uma quantidade execesiva de fosfatos na tau - passo essencial para a formação de filamentos. Tais esforços ainda não resultaram em drogas candidatas a testes clínicos, mas a esperança é que, uma ves sintetizados, esses agentes possam atuar à semelhança daqueles cujo alvo é a A-beta.

Pesquisadores examinam também se as estatinas - drogas para baixar o colesterol, amplamente usadas para reduzir o risco de doenças cardíacas - poderiam atuar contra a doença de Alzheimer. Estudos epidemiológicos sugerem que pessoas que tomam estatinas têm menos risco de desenvolver a doença. Ao baixar o nível do colesterol, é possível que essas drogas reduzam a produção de APP, ou afetem diretamente a criação de A-beta por meio da inibição da atividade das secretases responsáveis. Nos últimos anos, vários testes clínicos vêm tentando estabelecer o efeito protetor das estatinas contra a doença de Alzheimer.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Caminhos Promissores_4/6

Quarta postagem da série com 6 postagens sobre o Alzheimer, publicadas Revista Mente & Cérebro, edição especial n° 1, de maio/2010, por Michael S. Wolfe.

Como a beta-secretase se encaixa nessa família, os pesquisadores puderam tirar proveito do amplo conhecimento que se tem sobre essas proteases, chegando a uma compreensão de como silenciá-la. Sua estrutura tridimensional, que já era conhecida, foi utilizada como parâmetro na realização de um projeto computadorizado com o objetivo de produzir potenciais drogas inibidoras. Estudos genéticos sugerem que bloquear a atividadade da enzima não levará a efeitos colaterais prejudiciais; o desligamento do gene codificador da beta-secretase eliminou a formação de A-beta no cérebro de roedores sem trazer nenhuma consequência negativa aparente.

Até o momento, porém, tais inibidores ainda não foram utilizados em testes clínicos. O maior desafio é desenvolver compostos potentes pequenos o suficiente para penetrar o cérebro. Diferentemente dos vasos sanguíneos em outras partes do corpo humano, os capilaress cerebrais são forrados de células endoteliais bem comprimidas. Como há pouco espaço entre as células, os inibidores de protease têm de ser capazes de passar pelas mebranas celulares para chegar aos tecidos cerebrais posteriores, e a maioria das grande moléculas não consegue ultrapassar essa barreira hematoencefálica.




A enzima conhecida como gama-secretase executa o passo seguinte na formação de A-beta, rompendo o fragmento de APP restante depois da clivagem feita pela beta-secretase. Sabemos hoje, entretanto, que o potencial da gama-secretase como alvo terapêutico é moderado pelo fato de que essa enzima desempenha papel crucial na maturação de células precursoras indiferenciadas em várias partes do corpo, tais como as células-tronco na medula óssea, que evoluem para as hemácias, os linfócitos e as plaquetas. Especificamente a gama-secretase catalisa a clivagem de uma proteína da superfície celular denominada Notch, que, liberada da membrana para o interior da célula, envia um sinal ao núcleo que controla o destino da célula.

Doses altas de inibidores de gama-secretase provocam efeitos tóxicos severos em camundongos em virtude da interrupção do sinal da Notch, o que gerou receio quanto a esse potencial tratamento. Contudo, uma droga candidata desenvolvida pelo fabricante farmacêutico Eli Lilly passou pelos testes de segurança em voluntários. Esta substância, em breve, será testada em pacientes com a forma precoce da doença de Alzheimer. Além disso, pesquisadores identificaram moléculas que ajustam a gama-secretase de modo que a produção de A-beta seja bloqueada sem afetar a clivagem da Notch. Tais moléculas não interagem com os ácidos aspárticos; eles se atam a outro ponto da enzima e alteram sua forma.

Alguns inibidores conseguem até reduzir a criação da versão de A-beta mais propensa a se agregar em favor de um peptídeo mais curto, que não se cristaliza tão facilmente. Uma dessas drogas, Flurizan, identificada por uma equipe de pesquisadores liderados por Edward Koo, da Universidade da Califórnia, em San Diego, e Todd Golde, da Clínica Mayo, ostrou-se consideravelmente promissora em pacientes nos estágios iniciais de Alzheimer e já está sendo submetida a testes clínicos em humanos, em um projeto que incluirá mais de mil pacientes nos Estados Unidos.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Caminhos Promissores_3/6

Terceira postagem da série com 6 postagens sobre o Alzheimer, publicadas Revista Mente & Cérebro, edição especial n° 1, de maio/2010, por Michael S. Wolfe.

Antes de ser retirada, uma parte da A-beta fica no interior da membrana on de a APP se ligou, entre suas porções interna e externa. Como as membranas são compostas por lipídios hidrofóbicos, a região da proteína que atravessa a membrana contém aminoácidos hidrofóbicos. Quando a A-beta é arrancada da APP pelas beta e gama-secretases e é liberada no ambiente aquoso fora da membrana, as áreas hidrofóbicas de diferentes moléculas A-beta unem-se umas às outras, formando pequenos blocos solúveis. No início dos anos 1990, Peter T.Lansbury Jr., hoje na Escola Médica de Harvard, mostrou que, em um tubo de ensaio, em concentrações altas, as moléculas A-beta podem se unir na forma de estruturas fibrosas similares às encontradas nas placas da doença de Alzheimer. Tanto as formações solúveis quanto as fibras de A-beta são tóxicas aos neurônios cultivados em laboratório, e as primeiras podem interferir em processo de aprendizado e memória em camundogons.

Essas descobertas apoiam a hipótese da cascata amiloide, mas a evidência mais forte veio do estudo de famílias com alto risco de desenvolver Alzheimer, com mutações genéticas raras que as predestinam à doença precocemente - antes dos 60 anos. Em 1995, Peter St.George-Hyslop e seus colegas da Universidade de Toronto identificaram mutações em dois genes relacionados, batizados de presenilina 1 e 2, causadoes das formas mais precoces e agressivas de Alzheimer, aparecendo tipicamente na faixa dos 30 ou 40 anos de idade. Tais mutações aumentam a proporção de A-beta propensa a se aglomerar. Hoje se sabe que as proteínas codificadas pelos genes presenilina são parte da enzima gama-secretase.

Dessa forma, dos três genes reconhecidos como causadores da forma precoce da doença de Alzheimer, um codifica o precursor da A-beta e os outros dois especificam componentes de uma enzima protease que ajudam a produzir o peptídeo maligno. Além disso, cientistas descobriram que pessoas portadoras de certa variação no gene que codifica a apolipoproteina E - que ajuda a agrupar os peptídeos A-beta em conglomerados e filamentos - têm risco elevado de desenvolver Alzheimer posteriormente. Diversos fatores genéticos provavelmente tenham papel no princípio da doença, cada qual dando uma pequena contribuição, e estudos em camundongos indicam que fatores ambientais alteram o risco da enfermidade; já exercícios podem reduzi-lo.





Os cientistas ainda não descobriram como os blocos solúveis e os filamentos insolúveis de A-beta rompem e destroem neurônios. Acredita-se que conglomerados de A-beta no exterior de um neurônio podem iniciar uma cascata de eventos que inclui a alteração das proteínas tau no interior da célula. Em particular, os conglomerados A-beta chegam até a modificar a atividade celular de enzimas quinases, que instalam fosfatos nas proteínas. As quinases afetadas adicionam fosfato em excesso à tau, alterando as propriedades químicas das proteínas e fazendo com que formem filamentos espiralados. As tau modificadas, de algum modo, destroem o neurônio, talvez rompendo os microtúbulos que transportam proteínas através dos axônios e dendritos. Mutações no gene da tau geram filamentos na proteína e causam outras doenças neurodegenerativas. Assim, a formação de filamentos de tau é aparentemente um evento mais geral que leva à morte neuronal, enquanto a A-beta é um promotor específico da doença de Alzheimer.

Dado o papel crítico da A-beta no processo da doença, as proteases que produzem esse peptídeo são alvos certos de drogas potenciais para inibir sua atividade. Inibidores de protease provaram-se muito eficientes no tramento de doenças como aids e hipertensão. O primeiro passo na formação da A-beta é dado pela beta-secretase, que rompre a maior parte da APP imediatamente externa à membrana celular. Em 1999, cinco diferentes grupos de pesquisa descobriram essa enzima, particularmente abundante nos neurônios cerebrais. Embora a beta-secrease esteja aderida à membrana, ela se parece muito com um conjunto de proteases encontrado em ambientes aquosos dentro e fora de células. Membros desse conjunto usam ácido aspártico, um tipo de aminoácido, para catalisar a reação de quebra de proteína. Todas as proteases usam água para quebrar suas respectivas proteínas, e enzimas da família aspartil-protease empregam um par do ácido para ativar a molécula da água para esse fim.