Primeira postagem da série com 4 postagens, publicada na Revista Mente & Cérebro, edição especial n° 213, de outubro/2010, por Birgit Spinath - Professora de psicopedagogia da Universidade de Heidelberg-Alemanha.
Muita gente acredita que não merece o sucesso, mesmo quando trabalhou duro para atingir seus objetivos e é reconhecida por suas realizações. Essas pessoas, na maioria mulheres, sentem-se farsantes e convivem com o medo constante de que o suposto engodo seja descoberto.
Foi realmente uma prova excelente. Você não quer iniciar seus créditos de pós-graduação sobre esse tema? Passe em minha sala para uma conversa." Assim a professora se despede de Lina após sua prova final do ano letivo. A matemática recém-formada, no entanto, não consegue se alegrar com o elogio. Em sua cabeça circula um turbilhão: "Essa professora é realmente simpática, e ela só me perguntou coisas fáceis. Foi sorte! Agora eu preciso evitar uma conversa mais técnica ou ela ainda vai perceber que só blefei - e vai descobrir que sei muito pouco, bem menos do que deveria!" Lina fica remoendo esses pensamentos até ter certeza: apesar de ter obtido excelente nota nos exames, não vai aceitar a oferta da professora em hipótese alguma.
Aprovada com louvor na prova para a qual estudou muito, a jovem sente-se uma farsante. Lina é atormentada pela "Sindrome do Impostor". Pessoas afetadas por esse fenômeno não acreditam que seus sucessos possam ser atribuídos à sua própria capacidade. Em alguns casos, estão convencidas que a boa avaliação de seu desempenho deve-se apenas ao seu charme ou a seus relacionamentos. Em outros, convencem-se de que foram beneficiadas simplesmente por um feliz acaso. Mas com frequência comparam-se a outras pessoas e duvidam da própria capacidade. Curiosamente, essas ideias surgem com frequência em pessoas com bom currículo e até com histórico de ótimos desempenhos.
Trata-se inicialmente da tendência a não se considerar responsável por resultados positivos, atribuindo-os a circunstâncias externas. Pessoas com essa síndrome, porém, vão além: elas se sentem realmente impostoras que obtiveram sucesso por meio de fraude e não o mereceram. E, por causa disso, vivem com o medo constante de que alguém descubra sua suposta farsa.
Nos últimos anos, alguns pesquisadores estudaram características psíquicas daqueles que costumam se torturar com esses pensamentos. O psicólogo Scott Ross, da Universidade DePauw, em Greencastle, no estado americano de Indiana, concluiu em 2001 que as pessoas afetadas pelo sentimento de que são uma fraude, de maneira geral, apresentam baixa autoestima, às vezes disfarçada por atitudes aparentemente arrogantes ou simpatia exagerada. Isso é associado à sensação frequente de medo, sem causa específica, segundo descobriram em 2006 as psicólogas Shamala Kumar e Carolyn Jagacinski, da Universidade Purdue, em West Lafayette, Indiana, ao realizar uma enquete com 130 estudantes.
Em alguns casos, o medo de ser descoberto pode estar associado a distúrbios psíquicos ou deficiências físicas. Em 2002, a psicóloga Naijean Bernard, da Universidade Southern Illinois, em Carbondale, coordenou uma equipe de pesquisadores que examinou quase 200 universitários por meio de questionários. Os estudiosos descobriram uma ligação entre os pensamentos associados à síndrome do impostor e tendências depressivas - uma constatação várias vezes confirmadas nos anos posteriores.
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