Terceira postagem da série com 8 postagens, publicada na Revista Mente & Cérebro, edição especial n° 214, de novembro/2010, por Christof Uhlhass.
Como deve ser o estímulo para que passe despercebido? Pode ser de vários tipos, como demonstraram experiências desenvolvidas por psicólogos e neurocientistas. Sem que saibamos, o cérebro entende palavras, intterpreta a mímica dos rostos, decifra símbolos e capta sons. Numerosas experiências de priming (facilitação) desvendam a influência dos símbolos que escapam à consciência: um impulso desencadeado abaixo do patamar limite, o prime, influencia a reação a um estímulo percebido conscientemente, o target (alvo). Os exemplos clássicos dessas experiências têm base nos números; os participantes veem na tela um número entre 1 e 9 e devem classificá-lo apertando a tecla esquerda se inferior a 5 e a direita, se superior. É uma tarefa tão simples que, em geral, ninguém costuma errar.
A ação dos estímulos subliminares se manifesta principalmente no tempo da reação: os indivíduos reagem mais rápido se, antes do estímulo-target percebido conscientemente, aparecer ligeiramente um estímulo-prime subliminar, que requer apertar a mesma tecla. Se, por exemplo, um 7 for rapidamente iluminado antes de um 8 percebido conscientemente, os participantes decidem com mais rapidez apertar a telca correta. Ao contrário, um 4 subliminar os faria hesitar por mais tempo. A experiência também funciona se o número estiver escrito por extenso, como no caso de "sete". As palavras com significado emotivo, como "medo", também influenciam a escolha, e a mímica dos rostos, mais ainda.
A elaboração subliminar da expressão facial foi acompanhada em 2007 pelos psicólogos Monika Kiss e Martin Eimer, pesquisadores da Universidade de Londres, por meio do registro de medidas com o eletroencefalograma (EEG). Durante a experiência, 14 participantes eram orientados a diferenciar as fotos de pessoas com expressão assustada ou neutra. Os voluntários conseguiam realizar a tarefa com desenvoltura se o rosto fosse exibido por 200 milissegundos. Quando o tempo era reduzido para 8 milissegundos, as respostas eram eventuais. Neste caso, o estímulo podia ser definido como subliminar. Mesmo assim, o eletroencefalograma mostrava as mesmas variações que têm origem também com a percepção consciente. O "mito da ação subliminar" tem, portanto, uma base empírica: estímulos não captados conscientemente provocam reação que pode ser medida no cérebro. Não é aceitável, porém, falar de uma manipulação profunda dos nossos julgamentos e decisões.
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