Com a imagem de super-heróis e sob pressão intensa, altos executivos evitam pedir auxílio
Folha de São Paulo - DE SÃO PAULO
Competitividade, pressão por resultados e solidão são uma combinação explosiva entre executivos. Com receio de perder o posto e impelidos a trazer retorno para a companhia, muitos escondem o uso de drogas -sejam ansiolíticos sejam drogas ilícitas.
"O executivo é muito solitário, e o ambiente é altamente competitivo. A demonstração de fraquezas é duramente tratada", afirma Antonio Carlos Worms Till, diretor da clínica Vita Check-Up.
A imagem que as corporações têm dos profissionais que compõem o alto escalão é a de heróis. "Se ele não for o super-homem, será preterido em relação a outros e malvisto politicamente", frisa.
O cenário torna a identificação de executivos para tratamento e auxílio dentro das companhias uma tarefa hercúlea. A dificuldade é sentida até mesmo em hospitais.
As psicólogas Mariana Guarize e Janaína Xavier Santos, que coletaram dados sobre uso de remédios controlados e drogas ilícitas para pesquisa no HCor, contam que, frequentemente, o profissional só assume o uso de psicotrópicos em entrevista, não em formulários.
"Muitas vezes, os executivos só falavam sobre o uso de remédios quando abordávamos insônia, ansiedade e depressão", destaca Guarize.
PRESSÃO
Não são apenas os altos executivos de empresas que têm medo de expor fragilidades no ambiente de trabalho.
Sob pressão intensa na companhia, a analista de sistemas M.Y., 39, teve um surto -que incluiu sintomas como dificuldade de respirar, sudorese e pressão alta.
Foi levada pelos colegas para o hospital. Lá, o médico receitou ansiolíticos.
O ataque ocorreu há um ano e, desde o episódio, a profissional toma o remédio.
Mas, sobre isso, ela não diz uma palavra no trabalho. "Podem achar que eu sou uma pessoa que não aguenta pressão", analisa.
Em segredo, a advogada P.W., 34, internou-se em uma clínica de reabilitação há dez meses. Ela tentava se livrar dos problemas com o consumo de drogas como álcool, cocaína e ecstasy.
Durante os 20 dias em que ficou internada, teve que "implorar para trabalhar, para não perder prazos importantes em processos". Após muita negociação, obteve acesso a computador com internet por algumas horas por dia.
"Tem gente que fuma crack e é presidente de empresa - e não o estereótipo do sujeito caído na rua. Muitos não pedem ajuda por causa da visão estereotipada de que quem se droga não tem trabalho", avalia a advogada.