Matéria dividida em 3 posts – em 05, 07 e 09 de Dezembro.
Da revista VEJA – edição 2226, págs. 90/91, de 20.07.2011
O que o senhor achou da pesquisa que ostra que o cérebro tende a esquecer o que pode ser achado facilmente na internet?
A pesquisa é fascinante. Ela ostra a enorme plasticidade do cérebro. Claro que a memória humana já passou por mudanças com o advento de outras tecnologias de comunicação e informação, mas nunca tivemos à nossa disposição um estoque tão vasto e tão fácil de acessar como a internet. Talvez estejamos entrando numa era em que teremos cada vez menos memórias guardadas dentro do cérebro.
Quando descarta a memória fácil de recuperar e armazena a memória que pode sumir, o cérebro está sendo inteligente?
Não. Acho isso perigoso. A perda de motivação para memorizar informações pode degradar nossa capacidade cognitiva. Na história humana, sempre guardamos memórias em lugares externos, fora do cérebro. A diferença, agora, é que a internet é imensa. O cérebro pode descartar um enorme volume de informações. Ou seja: no passado, tínhamos lugares externos para complementar nossa memória. É um perigo. A memória fora do cérebro não é igual à memória dentro do cérebro. O que guardamos na cabeça nos permite fazer associações, conexões, aprofundar o conhecimento, elaborar, reelaborar. É isso que nos torna únicos.
Sócrates, o filósofo grego, reclamava do advento da escrita dizendo que era um estímulo ao esquecimento. A internet não é a mesma coisa, em nova escala?
Há uma diferença importante. Sócrates reclamava do ato de escrever antes de a forma do livro ter sido inventada. Ele estava certo no estímulo do esquecimento proporcionado pela escrita, mas a chegada do livro ajudou a ampliar a memória humana ao contribuir com o aumento da nossa atenção, da nossa capacidade de concentração. É possível que a internet, em algum momento no futuro, também seja complementara por outra invenção ou comece a ser usada de um jeito diferente, de modo a passar a exercer um papel semelhante ao que o livro teve para a escrita. Mas, examinando-se a historia da internet nos últimos vinte anos, o que se vê vai na direção contrária. Cada vez mais, a maioria das pessoas usa a internet para ter acesso a informações rápidas, curtas.
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