Revista Mente&Cérebro
edição 225 - Outubro 2011
Em um único dia, um juiz analisa os pedidos de liberdade condicional de três presidiários cuja ficha criminal e sentença são semelhantes. No entanto, apenas um deles é libertado. Segundo pesquisadores da Ben-Gurion University, em Israel, e da Universidade Stanford, o veredicto pode ter sido influenciado por um curioso fator: o horário da audiência. O criminoso que teve seu pedido concedido compareceu ao julgamento no início da manhã, enquanto os outros dois o fizeram no final do dia. Em estudo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, os cientistas Jonathan Levav e Shai Danziger acompanharam a rotina de juízes experientes por um ano. Os dois chegaram a analisar mais de 1.100 julgamentos. Em média, foi concedido um de cada três pedidos de liberdade condicional. No entanto, foram libertados cerca de 70% dos prisioneiros julgados pela manhã, contra 10% dos que receberam a sentença no fim da tarde. Segundo os pesquisadores, os réus foram ajudados ou prejudicados pela chamada “fadiga de decidir” (decision fatigue), termo cunhado pelo psicólogo Roy Baumeister, da Universidade Estadual da Flórida. Para o psicólogo, a “força de vontade” necessária para evitar recompensas imediatas depende de atividades mentais que exigem a transferência de energia. Ou seja, após um dia cansativo de trabalho é muito mais difícil tomar iniciativas mais simples, como resistir ao desejo de comer uma caixa de doces, ou mais complicadas, como julgar a inocência de alguém. |
Outra pesquisa, conduzida pelo economista Dean Spears, da Princeton University, mostra o “cansaço” causado pela tomada de decisões. A equipe de Spears ofereceu a 20 pessoas de uma aldeia no noroeste da Índia a oportunidade de comprar duas barras de sabão, sendo uma delas de marca conhecida, custando cerca de 20 centavos a mais, quantia significativa considerando os índices de pobreza da região. Em seguida, pesquisadores pediram aos voluntários que os cumprimentassem com um aperto de mão. Observou-se que eles mantiveram as mãos unidas às dos estudiosos por menos tempo do que habitantes de outras aldeias mais abastadas. Para o economista, a obrigação de decidir qual sabão levar de certa forma esgotou a força de vontade dos participantes. A quantidade e a frequência com que pessoas em situação de pobreza têm de fazer renúncias, decidindo a todo o momento o que é mais importante para a sobrevivência, geram fadiga, o que impactaria a dedicação ao estudo, ao trabalho e a outros aspectos que melhorariam sua situação social.
Segundo Baumeister, “os melhores 'tomadores de decisão' são aqueles que sabem quando não confiar em si mesmos”. É possível que, no caso do experimento de Levav e Danziger, os magistrados tenham optado, mesmo inconscientemente, por não decidir no caso dos criminosos julgados ao fim do dia. Para Baumeister, escolher o que comer no café da manhã, para onde ir nas férias, quem contratar, quanto gastar, ou seja, as pequenas e grandes decisões do dia a dia mina a força de vontade. “Não é como ficar sem fôlego e desistir durante uma maratona – o cansaço se manifesta pela tendência a optar pelos ganhos a curto prazo, mesmo sabendo que teremos de arcar com os custos posteriormente”, diz. A análise irracional dessa relação custo-benefício pode ser a mesma que nos “autoriza” a comer a comida açucarada e gordurosa ao final de um dia estressante ou leva um juiz, esgotado, a tomar a decisão mais segura e fácil, mesmo que ela termine prejudicando alguém.
Segundo Baumeister, “os melhores 'tomadores de decisão' são aqueles que sabem quando não confiar em si mesmos”. É possível que, no caso do experimento de Levav e Danziger, os magistrados tenham optado, mesmo inconscientemente, por não decidir no caso dos criminosos julgados ao fim do dia. Para Baumeister, escolher o que comer no café da manhã, para onde ir nas férias, quem contratar, quanto gastar, ou seja, as pequenas e grandes decisões do dia a dia mina a força de vontade. “Não é como ficar sem fôlego e desistir durante uma maratona – o cansaço se manifesta pela tendência a optar pelos ganhos a curto prazo, mesmo sabendo que teremos de arcar com os custos posteriormente”, diz. A análise irracional dessa relação custo-benefício pode ser a mesma que nos “autoriza” a comer a comida açucarada e gordurosa ao final de um dia estressante ou leva um juiz, esgotado, a tomar a decisão mais segura e fácil, mesmo que ela termine prejudicando alguém.
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