Matéria dividida em 3 posts – dias 28, 30 de Novembro e 02 de Dezembro
Por Alexandre Salvador e Filipe Vilicic
Com reportagem de Carolina Melo
Revista Veja - Edição 2226, págs.86 a 91, de 20.07.2011
A pesquisa de Sparrow levanta entre muitos cientistas e educadores o temor de que estejamos nos transformando em terminais de informações, e não em agentes capazes de processar conhecimento por meio da memória e do raciocínio. A neurocientista Maryanne Wolf, diretora do Centro de Pesquisas de Leitura e Linguagem da Universidade Tufts, de Boston, trabalha com o desenvolvimento da leitura em crianças. Segundo ela, o cérebro é capaz de se adaptar de e formar sinapses entre os neurônios de acordo com o tipo de leitura que faz. Em seu livro Proust and the Squid: The Story and Science of the Reading Brain (Proust e a Lula: a História e Ciência do Cérebro que lê), Maryanne demonstra preocupação em como a leitura tem se desenvolvido. Ela diz:? “Livros sempre foram uma forma de se aventurar além das palavras, trabalhar a imaginação e crescer intelectualmente. Porém, na era da Internet, passou-se a ler rapidamente, sem análise nem crítica. Com consequência, o cérebro começou a ter dificuldades na hora de ler com concentração”; Na sua conclusão, os jovens estão desenvolvendo menos as conexões de seus neurônios.
Um estudo feito pela University College London mostrou que, mesmo no ambiente acadêmico, o estilo Google de assimilar conhecimento se disseminou. O estudo mapeou os hábitos dos usuários de dois sites com grande audiência entre universitários: o da British Library e o de uma associação de instituições de ensino inglesas. Os endereços dão acesso a e-books, artigos e pesquisas. O estudo mostrou que a maioria dos frequentadores dos sites acessava muitos itens do conteúdo, mas apenas uma ou duas páginas de cada um deles. O padrão era pular rapidamente de um artigo ou um livro para outro, o que constitui o que os pesquisadores chamaram de Power browsing - - em português, “navegação mecânica”. “As pesquisas mostram que nossa vida on-line é capaz de afetar a neuroquímica de nosso cérebro, disse a psicóloga americana Sherry Turkle, professora de estudos sociais e ciência da tecnologia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Os céticos das de que a internet está mudando radicalmente o cérebro humano sustentam que a história está cheia de exemplos de novas tecnologias que foram recebidas com uma desconfiança que, posteriormente se mostrou infundada. Na Grécia antiga, Sócrates lamentou a popularização da escrita. Ele defendia a tese de que a substituição do conhecimento acumulado no cérebro pela palavra escrita tornaria a mente preguiçosa e prejudicaria a memória. O advento da imprensa de Gutenberg, no século XV, suscitou prognósticos de que a facilidade de acesso aos livros promoveria a preguiça intelectual. Pode ser que esses paralelos seja corretos e tranquilizadores. Tanto a escrita quanto a imprensa potencializaram a capacidade cognitiva humana, especialmente pela facilidade na troca de informações entre mais gente. Talvez a salvação de nossa orquestra cerebral nos tempos da internet venha pelo mesmo caminho: a intensa troca de conhecimento e experiências.
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