Há uma forte e estreita
relação entre insônia e excesso de peso; estudos recentes
confirmam que quanto pior é a qualidade (e a quantidade) do sono,
mais aumenta a probabilidade de acumularmos quilos indesejáveis
Por
Manfred Hallschmid e Jan Born
Revista
Mente e Cérebro nº 235 - pgs 41-45
Manfred Hallschmid é psicólogo,
pesquisador do Instituto de Neuroendocrinologia da Universidade de
Lübeck, na Alemanha. Jan Born dirige o Instituto de Psicologia
Médica e Neurobiologia do Comportamento da Universidade de Tübingen,
na Alemanha.
“Posso passar às 10 h ou nesse
horário você ainda está dormindo?” José ouve muitas vezes esse
tipo de pergunta. Sabem bem que, por estar acima do peso, muitas
pessoas o consideram um dorminhoco. A verdade, porém, é que ele
passa boa parte a noite virando-se inquieto, de um lado para outro na
cama e olhando os números luminosos no despertador. O que o rapaz
não sabe é que seus quilos a mais podem estar ligados a sua
dificuldade de dormir.
Para muitos insones o problema é
simplesmente não conseguir “se desligar”; para outros o desafio
é não ter tempo para um repouso noturno eficiente. Na realidade,
nos últimos 60 anos, moradores de países industrializados sofreram
redução de um a duas horas no tempo de sono, que hoje é de certa
de sete horas por noite. Ao mesmo tempo cresceu muito o número de
pessoas com sobrepeso e obesidade mórbida; vários especialistas
falam até em uma “epidemia de obesidade”. Dezenas de estudos
epidemiológicos que associam os dois fenômenos indicam que entre
eles há uma relação estatística.
Quanto menos dormimos, mais
aumenta a probabilidade de ganharmos alguns quilos a mais – um fato
confirmado também por muitos estudos longitudinais.
Mas quais são os mecanismos biológicos
da relação entre insônia e obesidade? Céticos ressaltam que a
maior parte dos estudos sobre o assunto se baseia apenas nas
autoavaliações dos participantes, sem se ater a dados confiáveis e
objetivos sobre qualidade do sono obtidos somente com base em
avaliações aprofundadas conduzidas nos laboratórios do sono. Por
esse motivo são cada vez mais numerosos os pesquisadores que
procuram compreender melhor a relação entre qualidade do sono e
alimentação por meio de estudos experimentais controlados.
Uma dessas pesquisadoras é a
endocrinologista Eve Van Cauter, da Universidade de Chicago. Em 2004
ela e seus colaboradores pediram a um grupo de rapazes que dormissem,
por duas noites, apenas quatro horas, enquanto o outro grupo podia
ficar na cama por nove horas. Em seguida, os pesquisadores aplicaram
exames em todos os voluntários para avaliar índices hematoquímicos
e constataram que a falta de sono fez aumentar a concentração de
grelina em cerca de 30%. Esse hormônio, produzido principalmente no
estômago, é responsável pela sensação de fome. Seriam talvez as
noites ”breves” as responsáveis pelo aumento do apetite?
Nenhum comentário:
Postar um comentário