quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Dormir bem, comer melhor_1/8


Há uma forte e estreita relação entre insônia e excesso de peso; estudos recentes confirmam que quanto pior é a qualidade (e a quantidade) do sono, mais aumenta a probabilidade de acumularmos quilos indesejáveis

Por Manfred Hallschmid e Jan Born

Revista Mente e Cérebro nº 235 - pgs 41-45

Manfred Hallschmid é psicólogo, pesquisador do Instituto de Neuroendocrinologia da Universidade de Lübeck, na Alemanha. Jan Born dirige o Instituto de Psicologia Médica e Neurobiologia do Comportamento da Universidade de Tübingen, na Alemanha.

“Posso passar às 10 h ou nesse horário você ainda está dormindo?” José ouve muitas vezes esse tipo de pergunta. Sabem bem que, por estar acima do peso, muitas pessoas o consideram um dorminhoco. A verdade, porém, é que ele passa boa parte a noite virando-se inquieto, de um lado para outro na cama e olhando os números luminosos no despertador. O que o rapaz não sabe é que seus quilos a mais podem estar ligados a sua dificuldade de dormir.

Para muitos insones o problema é simplesmente não conseguir “se desligar”; para outros o desafio é não ter tempo para um repouso noturno eficiente. Na realidade, nos últimos 60 anos, moradores de países industrializados sofreram redução de um a duas horas no tempo de sono, que hoje é de certa de sete horas por noite. Ao mesmo tempo cresceu muito o número de pessoas com sobrepeso e obesidade mórbida; vários especialistas falam até em uma “epidemia de obesidade”. Dezenas de estudos epidemiológicos que associam os dois fenômenos indicam que entre eles há uma relação estatística. 
Quanto menos dormimos, mais aumenta a probabilidade de ganharmos alguns quilos a mais – um fato confirmado também por muitos estudos longitudinais.

Mas quais são os mecanismos biológicos da relação entre insônia e obesidade? Céticos ressaltam que a maior parte dos estudos sobre o assunto se baseia apenas nas autoavaliações dos participantes, sem se ater a dados confiáveis e objetivos sobre qualidade do sono obtidos somente com base em avaliações aprofundadas conduzidas nos laboratórios do sono. Por esse motivo são cada vez mais numerosos os pesquisadores que procuram compreender melhor a relação entre qualidade do sono e alimentação por meio de estudos experimentais controlados.

Uma dessas pesquisadoras é a endocrinologista Eve Van Cauter, da Universidade de Chicago. Em 2004 ela e seus colaboradores pediram a um grupo de rapazes que dormissem, por duas noites, apenas quatro horas, enquanto o outro grupo podia ficar na cama por nove horas. Em seguida, os pesquisadores aplicaram exames em todos os voluntários para avaliar índices hematoquímicos e constataram que a falta de sono fez aumentar a concentração de grelina em cerca de 30%. Esse hormônio, produzido principalmente no estômago, é responsável pela sensação de fome. Seriam talvez as noites ”breves” as responsáveis pelo aumento do apetite?

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