Por
Manfred Hallschmid e Jan Born
Revista
Mente e Cérebro nº 235 - pgs 41-45
Mas por que quando a mente repousa e o
corpo de mantém imóvel nosso organismo alimenta justamente essas
áreas cerebrais? É possível que, nesses momentos particulares,
seja ativado um processo importante: a consolidação de memórias. O
mecanismo faz com que consigamos recordar por mais tempo o que
acabamos de aprender durante o dia.
Há tempos sabemos que, para recordar
melhor as coisas que acabamos de estudar, depois da “imersão”
nos livros costuma ser útil tirar um cochilo, mas tudo isso não
depende do efeito relaxante. O cérebro, de fato, faz com que durante
o sono os conteúdos da memória que em do hipocampo, onde as
recordações são conservadas apenas por um período de tempo
limitado, sejam “transferidos” para a memória de longo prazo do
córtex cerebral.
A consolidação das recordações,
estritamente ligada ao sono, ocorre somente quando nosso cérebro tem
à disposição reservas suficientes de energia. Essa espécie de
estoque energético “reage” de maneira sensível também a
pequenas quantidades de açúcares no sangue, como tivemos a
oportunidade de demonstrar em nossos experimentos em laboratório . Á
noite, após os participantes do teste terem memorizado duplas de
palavras, no decorrer da noite reduzimos a quantidade de glicose em
seu sangue com administração de insulina. Em comparação ao grupo
de controle cujo nível de açúcares tinha sido mantido em níveis
normais, na manhã seguinte esses voluntários não recordavam tão
bem as informações aprendidas. Talvez a “diminuição de
açúcares” induzida em laboratório tenha subtraído de seu
cérebro o carburante necessário para a consolidação da memória.
Pela manhã, oferecemos às pessoas que
sofreram de hipoglicemia durante a noite um suntuoso bufê: cada um
consumia em média cerca de 150 kal a mais em relação ao valor
ingerido depois de uma noite “normal”. Fi constatado que os
voluntários preferiam lanches ricos em carboidratos, que fornecem
energia ao cérebro mais rapidamente. Ao que parece, esse mecanismo
é acionado também durante o sono, embora fique “desativada” a
percepção da fome. Isso explica por que é muito mais comum
ficarmos famintos quando estamos acordados.
Além disso, observamos que os
participantes do teste tinham mais dificuldade de atingir a fase
delta do sono durante a hipoglicemia noturna. Talvez isso dependa dos
hormônios chamados orexinas (produzidas pelo hipotálamo que
influenciam tanto o comportamento alimentar como o ritmo
sono-vigília), que reagem à redução da glicemia. Sua atividade é
indispensável para nos mantermos acordados durante o dia. Por isso,
pessoas com deficiência de orexinas, como as que sofrem de
narcolepsia, tendem a dormir de repente.
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