sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Dormir bem, comer melhor_5/8


Por Manfred Hallschmid e Jan Born

Revista Mente e Cérebro nº 235 - pgs 41-45

Mas por que quando a mente repousa e o corpo de mantém imóvel nosso organismo alimenta justamente essas áreas cerebrais? É possível que, nesses momentos particulares, seja ativado um processo importante: a consolidação de memórias. O mecanismo faz com que consigamos recordar por mais tempo o que acabamos de aprender durante o dia.

Há tempos sabemos que, para recordar melhor as coisas que acabamos de estudar, depois da “imersão” nos livros costuma ser útil tirar um cochilo, mas tudo isso não depende do efeito relaxante. O cérebro, de fato, faz com que durante o sono os conteúdos da memória que em do hipocampo, onde as recordações são conservadas apenas por um período de tempo limitado, sejam “transferidos” para a memória de longo prazo do córtex cerebral.

A consolidação das recordações, estritamente ligada ao sono, ocorre somente quando nosso cérebro tem à disposição reservas suficientes de energia. Essa espécie de estoque energético “reage” de maneira sensível também a pequenas quantidades de açúcares no sangue, como tivemos a oportunidade de demonstrar em nossos experimentos em laboratório . Á noite, após os participantes do teste terem memorizado duplas de palavras, no decorrer da noite reduzimos a quantidade de glicose em seu sangue com administração de insulina. Em comparação ao grupo de controle cujo nível de açúcares tinha sido mantido em níveis normais, na manhã seguinte esses voluntários não recordavam tão bem as informações aprendidas. Talvez a “diminuição de açúcares” induzida em laboratório tenha subtraído de seu cérebro o carburante necessário para a consolidação da memória.

Pela manhã, oferecemos às pessoas que sofreram de hipoglicemia durante a noite um suntuoso bufê: cada um consumia em média cerca de 150 kal a mais em relação ao valor ingerido depois de uma noite “normal”. Fi constatado que os voluntários preferiam lanches ricos em carboidratos, que fornecem energia ao cérebro mais rapidamente. Ao que parece, esse mecanismo é acionado também durante o sono, embora fique “desativada” a percepção da fome. Isso explica por que é muito mais comum ficarmos famintos quando estamos acordados.

Além disso, observamos que os participantes do teste tinham mais dificuldade de atingir a fase delta do sono durante a hipoglicemia noturna. Talvez isso dependa dos hormônios chamados orexinas (produzidas pelo hipotálamo que influenciam tanto o comportamento alimentar como o ritmo sono-vigília), que reagem à redução da glicemia. Sua atividade é indispensável para nos mantermos acordados durante o dia. Por isso, pessoas com deficiência de orexinas, como as que sofrem de narcolepsia, tendem a dormir de repente.

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