Por
Manfred Hallschmid e Jan Born
Revista
Mente e Cérebro nº 235 - pgs 41-45
Dormir pouco também altera a taxa
glicêmica. Essa reação foi demonstrada pela equipe de Eve Van
Cauter. Os pesquisadores pediram a alguns rapazes que dormissem
apenas quatro horas por seis noites seguidas e nas seis noites
sucessivas podiam ficar na cama por até 12 horas. No quinto dia de
cada período foi realizado um teste no qual os participantes
receberam uma solução açucarada.
Após o aumento considerável da
concentração de glicose no sangue, os níveis voltaram a diminuir
pouco a pouco. Mas os pesquisadores perceberam que os valores de
glicemia desciam mais lentamente depois de noites “breves”, em
comparação ao das pessoas que tinham dormido. O motivo? O organismo
produzia menos insulina, hormônio que tem a tarefa de concentrar no
fígado, nos músculos e nos tecidos adiposos a glicose presente no
sangue. Além disso, as células não reagiram no mais com a mesma
sensibilidade ao neuro-transmissor: a chamada “sensibilidade à
insulina”, caia dramaticamente, estabilizando-se em um nível que
os médicos verificam, normalmente nos pacientes com alterações do
metabolismo.
O fato de um sono repousante influir na
glicemia já havia sido demonstrado em um estudo realizado nos
Estados Unidos, o Nurses’Health Study. No qual foram examinadas, em
um período de 30 anos e a intervalos regulares, cerca de 70 mil
enfermeiras. A diminuição da quantidade e da qualidade das horas de
sono aumentava o risco de ficarem doentes e de se tornarem
diabéticas. Essa possibilidade aumentava em mais de 50% entre
profissionais com menos de cinco horas de sono, em comparação às
que dormiam mais de oito.
Para o equilíbrio energético do
organismo o elemento decisivo é a qualidade do sono. Durante a fase
profunda, que se instaura principalmente nas primeiras horas da
noite, o organismo produz muitos hormônios que agem sobre o
metabolismo dos glicídios. Essa etapa, medido por
eletroencefalograma (EEG), mostra ondas lentas, as chamadas “delta”.
Em 2008, o grupo de Eve Van Cauter
afirmou que a alteração do sono delta pode desorganizar o mecanismo
de controle dos glicídios no sangue. A pesquisadora fez com que um
grupo de indivíduos que estavam dormindo ouvisse alguns sons de
frequência e intensidade tais que impediam que acordassem, mas que
também não entrassem no sono delta. A equipe registro consequências
dramáticas: a tolerância à glicose e a sensibilidade à insulina,
de fato, diminuíam para um quarto.
Durante o repouso noturno o cérebro
supre a própria necessidade energética recorrendo quase
exclusivamente aos açúcares. Embora essas substâncias constituam
apenas 2% da massa corpórea, o consumo cerebral de glicose e
oxigênio corresponde a 20% de seu consumo total.
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