quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Apendicite em crianças?


Audrey Campos - é formada em enfermagem e uma nova amante da alimentação viva.

 Posso dizer que tive uma alimentação relativamente ‘de bem com a natureza’ quando criança. Morava em um sítio, onde éramos supridos de todos os elementos necessários para uma boa alimentação. Lembro-me até hoje de ver minha mãe comendo, de tão fresquinhos, alguns legumes ainda no pé da horta: quiabo, vagem, etc.

Não tínhamos uma condição financeira que nos permitisse grandes extravagâncias. Assim, a carne era das galinhas, as frutas apenas as da estação. Bolo de milho ou curau só em janeiro ou fevereiro. E assim fui me desenvolvendo conforme o que nos doava a natureza, com suas estações.

Quando vim para São Paulo para cursar a faculdade de enfermagem, me deparei com várias doenças infantis que imaginava ocorrer apenas em adultos, salvo raríssimas exceções. E a mais impressionante delas foi a inflamação do apêndice: a apendicite. Quando aguda, se não socorrido a tempo, geralmente o paciente passa por uma extração cirúrgica, caso contrário, ela é responsável por elevada morbidade.

Em um hospital do ABC paulista onde tive a oportunidade de trabalhar na ala pós-cirúrgica pediátrica, em uma semana normal de trabalho, eram operadas de 4 a 5 crianças com apendicite. O que mais me impressionava era a idade dessas crianças: de4 a 7 anos.

Lembro que nesta idade minhas únicas “anormalidades” eram joelhos esfolados e um pulso “aberto” por cair de bicicleta.

Na época, não tive a oportunidade de aprofundar os estudos do motivo que levavam aquelas crianças, tão precocemente, à sala cirúrgica. Mas em conversas com médicos e enfermeiros pediátricos, ficou muito claro que o motivo era a péssima alimentação das crianças, baseada em muito açúcar e gordura: poucas fibras.

Hoje, passados mais de dez anos e, sabendo que o quadro alimentar infantil não deve ter melhorado neste período, me faço as seguintes indagações:

- Como introduzir um novo conceito alimentar para uma criança que está cercada por tantas guloseimas e “gostosuras” nefastas para serem digeridas? Alimentos vazios...

- Como fazer os familiares entenderem que essa “nova” maneira de alimentar uma criança não a deixa com vontade de mastigar frutas, saladas e legumes? Já vem tudo refinado, processado, colorido e aromatizado...

Não estou tentando aqui fazer uma dissertação acadêmica, mas uma reflexão, sobre como em poucos anos conseguimos desarranjar tanto um organismo, de forma a ser obrigado a fazer um processo operatório, uma mutilação, antes mesmo de completar os 7 anos de vida?

Então: como podemos fazer o “caminho de volta”?

Essa jornada não é apenas do paladar, mas uma verdadeira mudança dos 
hábitos alimentares, mentais e éticos.

Posso dizer que estou re-iniciando esta jornada, um reencontro com uma velha amiga, da qual nunca deveria ter se afastado: a natureza. E desta forma vou buscar responder as questões que fiz acima. Em outras palavras, tentarei reencontrar minha essência, através de uma alimentação mais “limpa, viva e vital”, para assim conseguir passar para meus filhos e familiares, que a natureza nos nutre de tudo o que necessitamos para uma vida plena e cheia de alegria: naturalmente! 

Nota: como os médicos de formação ortodoxa ainda não encontraram uma função clara para o apêndice, consideram um procedimento ‘natural’ a sua extração. Até porque quando a apendicite acontece é o único que se pode fazer para evitar uma infecção generalizada do abdômen.

Contudo, hoje já se vislumbra que a extração de amígdalas e apêndice gera conseqüências sim, como por exemplo, se extraídas antes dos 20 anos, maior probabilidade (em torno de 50%) de ataques cardíacos na idade adulta.

O apêndice intestinal é uma bolsa em forma de um dedo de uma luva, 
localizado no intestino grosso, que tem as mesmas funções na Medicina Tradicional Chinesa e na fisiologia ocidental: receber alimentos do intestino delgado, separar os fluídos e liberar o restante como resíduos. Geralmente, as disfunções no intestino grosso envolvem um transtorno em uma dessas atividades, normalmente devido a hábitos alimentares inadequados.

Outro dado triste é que se considera normal ter apendicite na adolescência (não na infância como constatado por mim fazem 10 anos atrás). Não seria muito mais educacional ensinar às nossas crianças, futuros adolescentes e adultos, bons hábitos alimentares, como o consumo saudável de fibras, ricamente presente nas frutas, folhas, legumes, sementes e cereais integrais? 

Que junto com a boa mastigação destes alimentos vivos, integrais, naturais, seriam uma bela prevenção para nos salvaguardar de inúmeros problemas digestivos e metabólicos?

Fonte: Doce Limão

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Saúde do Brasil em 2021


Reflexões sobre os desafios da próxima década
Prefácio
A saúde, maior bem do ser humano, é dinâmica. O perfil epidemiológico muda, a pirâmide etária se inverte e surgem novas doenças. O avanço tec- nológico é cada vez mais rápido e inclui, além das áreas próprias da medici- na, todo o arcabouço social e de comunicação, como os recursos da internet e das redes sociais.
Em 2021, o cenário da medicina estará mudado. Será possível então pensar em novos recursos e tecnologias que poderiam nos colocar – por que não? – frente a frente com nossos médicos em uma consulta virtual. Mas tudo isso terá seu preço. De imediato, diante das possibilidades, professores devem preparar seus alunos e profissionais para as mudanças da próxima década. O objetivo é atender as demandas da população, com o financiamento dis- ponível, eficácia e segurança.
Com a proposta de identificar cenários e discutir a melhor estratégia a ser adotada a partir do momento presente, a SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), com o apoio de outras entidades da me- dicina e da ciência no Brasil, promoveu entre os dias 2 e 3 de agosto de 2011, em São Paulo, o Fórum Internacional SPDM: Saúde em 2021. Espe- cialistas nacionais e internacionais e trezentos líderes de educação e saúde do Brasil testemunharam ideias e contribuições para o desenvolvimento da medicina de nosso país.
O fórum, que deu origem a este livro, apresentou palestras e intervenções focadas nos cenários que os profissionais de saúde encontrarão em 2021, com especial ênfase à inovação, planejamento estratégico e perspectivas de transformação por meio do ensino com motivação social. Especialistas estrangeiros e 63 dos maiores nomes da medicina nacional foram convida- dos pela SPDM a responder a seguinte pergunta: “Como será a saúde do Brasil em 2021?”.
A representatividade dos nomes aqui presentes e a qualidade dos artigos criam um livro muito especial, incentivado pela Interfarma, que poderá servir não só como consulta, mas como um registro de tendências. As res- postas são plausíveis, as visões são plurais e as opiniões democráticas. Em comum, colocam-nos diante de uma reflexão urgente para o enfrentamento dos desafios da saúde no Brasil.
Para finalizar, gostaria de dizer que a ideia do livro nasceu no próprio fó- rum, quando percebi que estávamos diante de um celeiro de celebridades da saúde e que a falta de registro poderia nos levar ao erro de, algum dia, al- guém nos perguntar por que não havíamos falado do futuro. Eis que agora, com o registro feito, é possível não só pensar no futuro como, em 2021, ver se, de fato, nossas perspectivas estavam corretas.
Boa leitura!
Fonte: UNIAD

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A danada pinga – dependência é prazer ou compulsão?


Jornal O Estado de S. Paulo - Danilel Martins de Barros
Quem conversa com dependentes químicos frequentemente ouve a seguinte explicação para sua incapacidade de conter o impulso de usar a droga: “É um demônio que toma conta de mim, parece que eu não sou eu. Isso é coisa do capeta”.
Se desde os primórdios da história os homens põe a culpa pelas suas bobagens no além – a Ilíada registra que Agamenon sequestra a amante de Aquiles e depois diz que o fez por ter sido possuído por espíritos, isso ocorre porque há situações em que se experimenta uma verdadeira perda de controle. O nível de desconexão entre as intenções e os atos se torna tão intenso que tem-se a sensação de que alguma força externa está no comando.
O caso das drogas é característico. Inicialmente usadas por trazerem sensações de prazer, progressivamente esse bem estar se perde, e em mais ou menos tempo a pessoa se vê compelida a usar a droga não mas para se sentir bem, mas apenas para deixar de se sentir mal. Mais curioso ainda é o caso de alguns psicotrópicos sintéticos que não dão prazer algum, mas levam os sujeitos a  repetir seu uso de forma contínua, tornando-se dependentes.
O querer e o gostar, tem-se descoberto, são coisas diferentes, não só do ponto de vista psicológico, mas em suas próprias raízes cerebrais. Há muito se sabe que o neurotransmissor dopamina é liberado em atividades prazerosas, levando as pessoas a repetirem-nas alimentação, sexo e até mesmo solução de problemas trazem um sensação boa, e tendem a ser repetidas. Nem é necessário explicar que o ganho evolutivo por trás disso é evidente, pois nossos antepassados que gostavam mais de comer, de se reproduzir e de resolver os desafios da sobrevivência deixaram mais descendentes. Mais recentemente, contudo, cientistas vêm mostrando que a dopamina não marca o prazer em si, mas a importância daquele comportamento, levando a pessoa a repeti-lo. Por isso, drogas que levam à liberação artificial da dopamina geram a compulsão por seu uso – independente da sensação que produzam. Inversamente, experimentos com ratos revelaram que mesmo com bloqueio artificial da ação da dopamina eles conseguem ter prazer em substâncias (como os cientistas sabem que eles gostaram do que provaram? Contando o número de vezes que eles lambiam os beiços, um marcador de prazer que está presente até mesmo em nós, humanos).
Essa compulsão sem prazer, desmascarada agora pelos cientistas, já fora descrita por C. S. Lewis, coincidentemente (ou não) no livro Cartas de um diabo a seu aprendiz, no qual narra as lições de um demônio experiente a seu jovem sobrinho. Numa das referências que faz ao prazer, o velho diabo ensina que a forma de atazanar os humanos é gerar “Um aumento considerável no desejo pela obtenção cada vez menor do prazer relacionado é a fórmula! Isto dá mais resultado, e é portanto o melhor estilo a adotarmos. Conseguir a alma do homem dando a ele NADA em troca é o que realmente aquece o coração de Nosso Pai Lá de Baixo”.
A neurociência vem mostrar que o desespero dos dependentes químicos pode até não ser “coisa do demo”. Mas ouvindo o relato deles e lendo essa descrição do C. S. Lewis, temos de convir que a armadilha da dependência parece, por assim dizer, diabólica.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Quando o Estresse Penetra na Pele_8/8


por Angelika Bauer-Delto, jornalista científica
Revista Mente e Cérebro – Ano XIX – nº 235 – pgs 18-21


Atenção e cuidado

É importante que pacientes com alergias, irritação e coceira aprendam procedimentos que ajudam a reduzir o desconforto. Veja algumas dicas:

Limpe a pele de forma suave e delicada

Evite, principalmente em situações de sobrecarga psíquica, a exposição da agentes como calor, fio e substâncias tóxicas.

Em vez de coçar, assopre, use loções refrescantes, massageie ou faça pressão sobre o lugar sensível

Combata tensões com a prática regular de esportes e passeios ao ar livre

Reserve todos os das pelo menos alguns minutos só para desenvolver atividade algo que lhe faça bem.

Incorpore técnicas de relaxamento em sua rotina e pratique meditação

Para saber mais

Structured education program the coping with atopic dermtitis in children and their parents – A multicenter, randomized controlled trial. J Kupfer et al., em Journal of Psychosomatic Research 68, pags. 353-358, 2010.

Childhood and adulthood traumatic experiencies in patients with psoriasis. E. Simoni – et al., em Journal of Dermatology 37, pgs 793-800, 2010.

Effect os stress on atopic dermatitis: investigation in patients after the great Hanshin earthquake. A. Kodama et al., em Journal os Allergy and Clinical Immunology 104, pgs 173-176, 1999.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Quando o Estresse Penetra na Pele_7/8


por Angelika Bauer-Delto, jornalista científica
Revista Mente e Cérebro – Ano XIX – nº 235 – pgs 18-21

As marcas do vitiligo

A palavra latina, da qual deriva “vitiligo” significa “mancha branca na pele”, a palavra vitium, defeito físico ou “falta “ – aliás, do ponto de vista psicológico, esta última associação é bastante compatível com os sentidos dessa doença autoimune. Afinal é consenso que os sintomas aparecem vinculados a situações de estresse, ligadas a vivências de ameaça ou perda de algo ou alguém muito querido.

A alteração na pigmentação da pele é clinicamente caracterizada pela acromia (aparecimento de pontas claras). Segundo a dermatologista americana Caroline Koblenzer, experiências estressantes, que parecem excessivas para o psiquismo, aniquilam as defesas orgânicas, fazendo com que apareça uma espécie de falha do mecanismo de enfrentamento. Esse processo ativa “medias de emergência”, transmitidas neurologicamente, que alteram o equilíbrio biológico, fazendo com que a surja doença de pele.

Para controle do vitiligo são utilizados atualmente tratamentos à base de laser combinados com técnicas de relaxamento e acompanhamento psicológico (que ajuda a pessoa a lidar não apenas com a patologia em si, mas com fatores que possam ter construído para o seu aparecimento). 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Quando o Estresse Penetra na Pele_6/8


por Angelika Bauer-Delto, jornalista científica
Revista Mente e Cérebro – Ano XIX – nº 235 – pgs 18-21


Inflamação e coceira

A neurodermite (ou dermatite atópica) é uma das doenças da pele mais frequentes. Segundo dados do Censo Dermatológico da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBFD), é a 11ª doença, entre 25 patologias da pele, que mais atinge 2,4% dos brasileiros. Quando se trata de crianças e jovens até 14 anos o percentual sobre para 13,7%, ocupando o segundo lugar, atrás somente da acne (14%). Os principais sintomas são pele muito seca sensível, eczemas inflamatórios e forte coceira. As crises costumam ser desencadeadas pelo contato com produtos químicos (usados para limpeza, por exemplo), com superfícies e roupas ásperas, calor ou frio. Infecções, tensão e sobrecarga emocional podem deflagrar o problema. 

A dermatologista Sílvia Roberta Tirelli Rocha, membro a Sociedade Brasileira de Dermatologia, também enfatiza o estresse com um fator importante no agravamento da dermatite atópica. Portanto, aprestar atenção nos momentos me que a manifestação alérgica se apresenta pode ajudar a direcionar o rumo do tratamento.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Quando o Estresse Penetra na Pele_5/8


por Angelika Bauer-Delto, jornalista científica
Revista Mente e Cérebro – Ano XIX – nº 235 – pgs 18-21

Alguns programas de acompanhamento têm ajudado crianças, jovens e seus pais a lidar com a patologia. Na Alemanha foi desenvolvido o Consórcio para Treinamento para Conviver com Neurodemite (Agnes, na sigla alemã), com base na psicologia comportamental. Durante as reuniões, médicos e psicólogos oferecem informações sobre a a doença; ensinam, por exemplo, com agem os desencadeadores típicos das crises e como evitá-los. Os pacientes aprendem como cuidar corretamente da pele e o que podem fazer contra a coceira. 

Administração do estresse e técnicas de relaxamento estão também entre os temas abordados. Além disso, os participantes têm a oportunidade de trocar experiências e buscar os possíveis sentidos que os sintomas ocupam em sua história de vida.

Ouro programa, Estudo Alemão sobre Intervenções em Dermatite, Atópica (Gadis, na sigla em inglês), realizado com mais de 800 crianças e adolescentes que sofriam de neurodermite, mostrou que um treinamento de seis semanas pode favorecer sensivelmente o estado da pele. Tanto as crianças quanto adultos que cuidavam delas passaram a lidar melhor com a doença e sua qualidade devida melhorou muito. Um anos após o treinamento os efeitos ainda permaneciam.

Atualmente, especialista concordam que aprender como superar o estresse psíquico, todos os dias, é essencial para nos sentirmos bem na própria pele. 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Quando o Estresse Penetra na Pele_4/8


por Angelika Bauer-Delto, jornalista científica
Revista Mente e Cérebro – Ano XIX – nº 235 – pgs 18-21


Agora cientistas buscam possibilidades de tomar a substância P inócua. “Um medicamento que inibice o efeito da substância poderia ser um importante elemento terapêutico para refrear as reações inflamatórias da pele”, acredita Eva Peters.

O problema é que nem sempre apenas medicamentos são suficientes para reverter processos orgânicos complexos. Hoje, médicos e psicólogos utilizam cada vez mais técnicas de relaxamento e psicoterapia para complementar os procedimentos de tratamento dermatológico ”. Parece inegável que doenças crônicas de pele estão, na maioria dos casos, associadas a doenças psíquicas como ansiedade de depressão”, afirma Uwer Gieler, da Clínica de Psicossomática e Psicoterapia da Universidade de Giessen, na Alemanha.

Muitas vezes, os problemas físicos e psíquicos entram em um ciclo vicioso: o estresse estimula as reações inflamatórias da pele e a coceira aumenta. Os pacientes se coçam , o que piora ainda mais a inflamação. Assim, principalmente as noites se tornam uma tortura. Instaura-se então um círculo viçoso: as pessoas dormem mal, sua disposição e desempenho durante o dia diminuem e elas tendem a sentir o estresse “normal” de forma especialmente pronunciada, o que prejudica ainda mais os sintomas. Além disso, devido às alterações visíveis da pele, frequentemente se sentem estigmatizados e emocionalmente fragilizadas. 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Quando o Estresse Penetra na Pele_3/8


por Angelika Bauer-Delto, jornalista científica
Revista Mente e Cérebro – Ano XIX – nº 235 – pgs 18-21

Em Desequilíbrio

Quando enfrentamos uma situação estressante, aos sistemas nervoso, hormonal e imunológico reagem com um complicado mecanismo de adequação. O corpo libera mais os chamados receptores adrenérgicos: adrenalina e noradrenalina. Essas substâncias elevam a frequência cardíaca e a pressão sanguínea – o que nos prepara para uma eventual fuga ou luta. Além disso, deflagram processos que podem culminar em inflamações: células do sistema imunológico se deslocam do sangue até os tecidos para atacar potenciais agentes patogênicos, caso estes sejam identificados.

Pouco depois, entra no jogo o cortisol, conhecido como o hormônio do estresse. Sua tarefa consiste em reverter as inflamações causadas pela adrenalina e noradrenalina. Problemas crônicos, principalmente na infância, costumam atrapalhar o equilíbrio dessas duas reações. Assim, em algum momento o corpo pode não produzir mais cortisol suficiente. Se essas pessoas são submetidas a fortes sobrecargas psíquicas, as inflamações resultantes não são mais aliviadas - um passe livre para as neurodermites e outros problemas de saúde.

Em 2008, pesquisadores coordenados por Eva Peters, da Santa Casa de Berlim, descobriram a importância de outro sistema bioquímico do estresse para doenças psicossomáticas de pele – o chamado eixo de neuropeptídeos e neurotrofinas. Durante um dia inteiro, os cientistas submeteram camundongos que sofriam de uma espécie de neurodermite a um barulho que causava temor.

Ao analisarem a pele dos animais procurando diversos marcadores de inflamações, os pesquisadores alemães perceberam a presença de um tipo específico de célula nervosa que se multiplica de forma especialmente rápida em situações de estresse. Nessas ocasiões, os neurônios liberam diversas moléculas mensageiras, entre elas a proteína “substância P”. Esta, por sua vez, põe em cena os mastócitos – agentes do sistema imunológico que liberam histamina (substância que aparece em caso de alergias, causa coceiras insuportáveis e faz a pele inchar.). Aparentemente ela também é responsável pelo surgimento de eczemas em fazes de turbulências psíquicas.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Quando o Estresse Penetra na Pele_2/8


por Angelika Bauer-Delto, jornalista científica
Revista Mente e Cérebro – Ano XIX – nº 235 – pgs 18-21


Em várias ocasiões a origem do problema está na infância. É o que demonstraram em 2010 a psicóloga Edita Simoni – e seus colegas do Departamento de Dermatologia do Hospital das Clinicas da Universidade de Rijeka, na Croácia. Os pesquisadores entrevistaram pacientes com psoríase e pessoas saudáveis do grupo de controle, perguntando sobre experiências traumáticas que tinham vivido na infância. De fato, aqueles que sofreiam de psoríase relataram com muito mais frequência experiências dolorosas e estressantes. Vários, no entanto, começaram a sofrer com as descamações de pele somente na adolescência. Os pesquisadores supõem que, provavelmente, a instabilidade emocional tão presente nessa fase da vida reforça os efeitos negativos das vivências traumáticas.

Mas por qual caminho o estresse “penetra na pele”? Segundo médicos e psicólogos, a tensão e a sobrecarga emocional crônicas desequilibram as defesas do corpo – principalmente se faltam estratégias pessoais adequadas de superação (por exemplo, acompanhamento psicológico, hábito de praticar meditação e espaço entre os afazeres diários pra simplesmente se dedicar a atividades prazerosas).

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Quando o Estresse Penetra na Pele_1/8

por Angelika Bauer-Delto, jornalista científica
Revista Mente e Cérebro – Ano XIX – nº 235 – pgs 18-21



A sobrecarga psíquica pode piorar significativamente algumas doenças. Pesquisadores investigam como preocupações e tensões constantes contribuem para que a neurodermite e outras inflamações não só apareçam, mas também se agravem




Às 5h45 do dia 17 de janeiro de 1995 a terra tremeu no sul do Japão. Em apenas 20 segundos, a catástrofe natural em Kobe eliminou ávida mais de 6 mil pessoas e aniquilou 300 mil casas. A violenta destruição não passou incólume pelo psiquismo dos afetados. Conforme comprovam inúmeros estudos, nas áreas destruídas repentinamente muito mais gente passou a sofrer de doenças vasculares associadas ao estresse, em comparação às estatísticas nas regiões não afetadas.

No entanto, a sobrecarga emocional não prejudica apenas o coração. O dermatologista Atsuko Kodama, do Centro Médico de câncer e doenças Cardiovasculares de Osaka, observou em 1999 que a catástrofe provocou um efeito surpreendente: piorou sensivelmente também a situação da pele de muitas pessoas com neurodermite . Mais de um terço da população passou a sofrer de eczemas, coceiras e inflamações cutâneas com mais frequência.

Essa constatação não surpreende pessoas que sofrem com problemas de pele. Em geral, elas sabem que irritação, preocupações e tensão podem piorar os sintomas. Principalmente as doenças de pele inflamatórias como a neurodermite, a psoríase (uma manifestação autoimune que acusa uma forte escamação da pele) ou o vitiligo, pioram justamente quando estamos diante de uma situação na qual nos sentimos avaliados, enfrentamos uma grande frustração ou em casos de conflito.