sexta-feira, 29 de abril de 2011

Ele disse, ela disse_3/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 2ª matéria, dividida em 7 partes: Ele disse, ela disse; que será publicada nos dias 25, 27, 29 de Abril e 02, 04, 06 e 09 de Maio.

por Deborah Tannen

Professora de linguística da Universidade de Georgetown e autora de You Were Always Mum's Favorite!: Sisters in Conversation Throughout

Their Lives (Random House, 2009), entre outros, ver mais bibliografia na postagem do dia 09 de Maio de 2011.

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br

Mulheres e homens usam linguagens próprias – por isso nem sempre o entendimento é tão simples. Enquanto o discurso deles tende a se concentrar na hierarquia e na competição pelo poder, o delas é voltado ao objetivo de se aproximar ou se afastar do interlocutor

Melhor ou igual?

O foco contrastante entre a conexão e a hierarquia também lança luz sobre inúmeras conversas – e desentendimentos – de adultos. Vamos dizer que uma jovem conta a outra um problema pessoal e ouve em resposta: “Sei como você se sente” ou “A mesma coisa aconteceu comigo”. A “conversa sobre problemas” que se segue costuma reforçar a ligação entre elas. Na verdade, algumas mulheres sentem que devem escarafunchar os problemas e conta-los às amigas pra manter a intimidade. Como os homens não estão acostumados a esse ritual, é muito provável que se estivessem no lugar da amiga, fizessem uma leitura errada do pedido de ajuda. O resultado, nesses casos, é a frustração mútua: ela o culpa por mandá-la fazer o que ele quer e deixar de oferecer o amparo desejado; enquanto ele pensa que fez exatamente o que ela solicitou e não tem a mínima ideia do motivo pelo qual ela continua a falar sobre a questão, se não pretende resolvê-la da forma como ele orientou.

Situações semelhantes acontecem no ambiente profissional, onde os mal-entendidos podem ter sérias consequências na carreira. Por exemplo, se o chefe de uma mulher a ouve dizendo a um subordinado: “Você poderia fazer o favor de me trazer a cópia daquele relatório?”, é possível que pense que lhe falta confiança. Para ele, é como se ela sentisse que não tem o direito de pedir ao funcionário para fazer alguma coisa. Mas a verdade é exatamente o oposto. Ela sabe que o empregado tem de fazer o que ela pede. E quando diz “poderia fazer o favor” ela opta por não explicitar desnecessariamente esse fato. Enquanto os homens tendem a enxergar os ritos femininos como falta de assertividade (ou até de competência), as mulheres confundem rituais menos diretos com prepotência e insegurança. O pensamento delas: ele realmente deve ter baixa autoestima se precisa se impor dessa forma.

O que nos leva de volta à mulher e ao homem dentro do carro, que têm suposições diferentes quanto a como pedir auxílio para encontrar o caminho. Do ponto de vista dela, essa solicitação significa fazer uma conexão breve com um estranho e chegar ao ponto desejado sem perder nada. Da perspectiva dele, a atitude o coloca em uma posição inferior diante de um estranho – o que representa uma experiência desagradável. Projetivamente, ele pode até acreditar que o esforço seja contraproducente, pois um informante que não conheça o caminho pode enviá-lo para qualquer direção equivocada, apenas para não reconhecer que não sabe a localização. Por esses dois motivos, faz sentido para ele evitar o desconforto e encarar dez minutos – ou meia hora – tentando encontrar o caminho sozinho.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Ele disse, ela disse_2/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 2ª matéria, dividida em 7 partes: Ele disse, ela disse; que será publicada nos dias 25, 27, 29 de Abril e 02, 04, 06 e 09 de Maio.

por Deborah Tannen

Professora de linguística da Universidade de Georgetown e autora de You Were Always Mum's Favorite!: Sisters in Conversation Throughout

Their Lives (Random House, 2009), entre outros, ver mais bibliografia na postagem do dia 09 de Maio de 2011.

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br

Mulheres e homens usam linguagens próprias – por isso nem sempre o entendimento é tão simples. Enquanto o discurso deles tende a se concentrar na hierarquia e na competição pelo poder, o delas é voltado ao objetivo de se aproximar ou se afastar do interlocutor


Melhor ou igual?

Meu interesse pelas diferenças linguísticas entre mulheres e homens aumentou com a pesquisa sobre conversas entre pessoas de variadas origens étnicas e regionais que conduzi no início da minha carreira. Essas interações geralmente levavam à falta de entendimento porque os membros de cada grupo tinham suposições diferenciadas sobre o que deveria ser dito e a forma adequada de faze-lo. Também constatei um padrão paralelo nas conversas entre as mulheres e os homens: uma espécie de choque cultural baseado na diferença de gêneros.

Costumo ilustrar e definir esse fenômeno usando filmagens de vídeo de crianças em idade pré-escolar em um jardim de infância. Em uma cena, quatro garotinhos estão sentados juntos, conversando sobre a altura da qual conseguem rebater uma bola. “A minha vai até aqui”, declara um deles, elevando o braço acima da cabeça. “A minha chega até o céu”, garante o segundo, apontando mais alto. O terceiro contrapôs: “A minha vai mais longe que o céu”. Por fim, o quarto menino afirmou: “A minha chega até Deus!”. É óbvio que a conversa dos garotos é um jogo de hierarquia, no qual cada menino alega ser melhor que o anterior.

Na mesma escolinha duas meninas estão sentadas em uma mesa pequena, desenhando. De repente, uma delas ergue a cabeça e fala (provavelmente se referindo a lentes de contato): “Você sabia que a minha babá, chamada Amber, já tem lentes?”. A segunda garota parece surpresa no começo, mas se recompõe rapidamente e anuncia com visível prazer: “Minha mãe já tem lentes, meu pai também!”. A primeira garota ri, divertida, com a resposta espelhada, que até lexicalmente se ajusta à fala dela. A constatação de “similaridade” propicia às garotinhas satisfação semelhante à que os colegas do sexo masculino experimentam tentando se superar.

Embora os movimentos específicos de conversa – superação em contraste com a chegada ao mesmo ponto – sejam diferentes, o que esses discursos diversificados têm em comum é que são rituais “disfarçados”. Há uma espécie de pressuposição implícita sobre como as conversas devem se encaminhar. Em geral, não reconhecemos esses rituais até conversarmos com pessoas (de outras culturas) que não compartilham deles. Pais e educadores que reconhecem esses padrões relacionados com o sexo encontram mais facilidade para lidar com comportamentos infantis que, de outro modo, seriam irritantes. Por exemplo, uma mulher se lembrou de ter ouvido seu filho e dois outros garotos pequenos conversando no banco de trás do carro, enquanto ela dirigia. Um deles disse: “Quando fomos para a Disneylândia, ficamos lá três dias”. O segundo garoto afirmou: “Quando fomos para lá ficamos quatro dias”. Então o seu filho declarou: “Nós vamos morar na Disneylândia”. Ela ficou incomodada em ouvi-lo contar uma mentira deslavada. Será que ela deveria interromper o filho e corrigi-lo? Eu a acalmei e disse que os outros meninos sabiam que sua família não se mudaria para a Disneylândia. Mas o filho dela tinha vencido aquela parada.

Um pai me contou uma confusão semelhante ao ouvir uma conversa entre a filha pequena e uma amiga, que havia dito: “Eu tenho um irmão que se chama Benjamin e outro que se chama Jonathan”. A outra respondeu: “Eu tenho um irmão que se chama Benjamin e um irmão que se chama Jonathan também”. Mas não era verdade. O pai ficou pensando qual o motivo de ela ter dito aquilo. Expliquei que simplesmente sua filha oferecida à amiguinha uma experiência semelhante como um sinal de boa vontade, para reforçar a amizade.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ele disse, ela disse_1/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 2ª matéria, dividida em 7 partes: Ele disse, ela disse; que será publicada nos dias 25, 27, 29 de Abril e 02, 04, 06 e 09 de Maio.

por Deborah Tannen

Professora de linguística da Universidade de Georgetown e autora de You Were Always Mum's Favorite!: Sisters in Conversation Throughout

Their Lives (Random House, 2009), entre outros, ver mais bibliografia na postagem do dia 09 de Maio de 2011.

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br

Mulheres e homens usam linguagens próprias – por isso nem sempre o entendimento é tão simples. Enquanto o discurso deles tende a se concentrar na hierarquia e na competição pelo poder, o delas é voltado ao objetivo de se aproximar ou se afastar do interlocutor


Volta e meia duas perguntas aparecem em comédias, shows de humor e programas de piadas:”Por que Moisés vagou pelo deserto durante 40 anos?”; “Por que é preciso tantos espermatozoides para encontrar apenas um óvulo? A resposta para ambas as questões é a mesma: porque os homens não gostam de pedir ajuda quando não sabem o caminho. Há alguns anos, chegam a ser vendidos nos Estados Unidos guardanapos de papel com a frase? “Homem que é homem não pergunta caminho”. Tanto interesse por esse aspecto do comportamento masculino – que, aliás, levantei em meu livro You just don’t understand: women and men in conversation, em 1990 – me surpreendeu. Na verdade, eu não sabia o quanto essa experiência era difundida, mas percebi que buscar informações sobre o endereço e direção parece cristalizar aspectos essenciais do fenômeno responsável por várias frustrações que homens e mulheres enfrentam na comunicação.

Passei mais de três décadas coletando e analisando milhares de exemplos de como as pessoas de cada sexo interagem e descobri que o discurso deles tende a se concentrar na hierarquia: a competição pelo poder relativo, enquanto isso, as mulheres geralmente dão prioridade para proximidade ou distância. Em outras palavras, um homem e uma mulher podem se afastar depois da mesma conversa, com questionamentos diferentes. Ele pensa: “Será que o que falamos me deixou um nível acima ou abaixo dela?” E ela reflete: “Isso nos aproximou ou nos afastou mais ainda?” Esses pensamentos, porém, nem sempre são percebidos de forma consciente.

Mas calma lá! Toda comunicação e todos os relacionamentos refletem uma combinação de hierarquia e conexão – as duas não são mutuamente excludentes; ao contrário, estão intimamente ligadas. De alguma forma, almejamos o poder e queremos nos conectar uns com os outros. Em minhas investigações tenho constatado que nuances na forma de homens e mulheres se expressar nos ajudam a esclarecer como o estilo de conversa de cada um revela modos diferentes de alcançar os mesmos objetivos. Mas como isso está ligado ao ato de perguntar o caminho?

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Dependência Química e o Cinema

Não é de hoje que o cinema tem demonstrado uma estreita relação com a psiquiatria. É possivel observar tanto a expressão dos elementos da doença mental na arte, quanto o aparecimento das influências dos filmes nos mais variados fenômenos psicopatológicos; incluindo também os diversos aspectos que estão relacionados á dependência química.

Assim, o cinema através da videoterapia tem sido uma valiosa ferramenta para profissionais que desejam trabalhar a psicoeducação com seus pacientes portadores de transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas, uma vez que consegue traduzir fenômenos e conceitos complexos para uma linguagem mais acessível e extremamente ilustrativa. Além é claro, de ser fonte de cultura, lazer e emoção.

Para saber mais sobre este assunto, sugerimos duas leituras, além da lista de filmes abaixo que podem ser muito bem, utilizados em settings de tratamento para dependentes químicos, desde que conduzido por profissional com habilidades de suscitar a discussão e promover o adequado debate.

1. Dependência Química e o Cinema. Pedalino MC & Cordeiro DC. IN: Diehl A, Cordeiro DC, Laranjeira R. Dependência Química: Prevenção, Tratamento e Políticas Públicas. CD Ron. Editora ARTMED, Porto Alegre, 2011.

2. Cinema e Loucura. Conhecendo os transtornos mentais através dos filmes. J . Landeira- Fernandez & Elie Cheniaux. Editora ARTMED, Porto Alegre, 2010.


1. Ray

2. Gia

3. Meu nome não é Johnny

4. Cazuza: o tempo não para

5. Elvis

6. Piaf

7. Despedida em Las Vegas

8. Quando um homem ama uma mulher

9. 28 dias

10. Profissão de Risco

11. Diário de um adolescente

12. Últimos dias

13. Cristiane F

14. Garrincha

15. Farrapo Humano

16. O Milagre da Rua Central

17. Réquiem para um sonho

18. A Vida Intima de Pipa Lee

19. Tina

20. É proibido Fumar

21. Trainspotting

22. Traffic

23. Drugstore Cowboy

24. Maria Cheia de Graça

25. Beleza Americana

26. Spun- sem limites

27. Dançando como loucos

28. Candy

29. Pulp Fiction - Tempo de Violência

30. Dois perdidos em uma noite suja

31. Coisas que perdemos pelo caminho

32. - Sob o efeito da água

33. - Alfa Dog

34. - Jonny e June

35. - O casamento de Rachel

36. - Medo e delírio

37. O psicólogo


FONTE: Daniel Cruz Cordeiro & Alessandra Diehl

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Nutrição Solar


por Flávio Passos



O desenvolvimento de nossa civilização certamente nos trouxe muitos benefícios e confortos, mas também, como já é de conhecimento comum, severas consequências. Uma das mais significativamente detrimentais à saúde do corpo, da mente e da consciência é sem dúvida a quantidade de tempo que passamos em ambientes fechados, distantes da luz do sol.

Estudos recentes comprovam aquilo que muitos já desconfiavam: a exposição ao sol não causa doenças, nem mesmo o câncer de pele (até hoje não foi registrado um único caso de câncer de pele em populações nativas, aquelas que a cada dia realizam a maior parte de suas atividades sob os raios dourados). O que pode acontecer é uma mutação do tecido epitelial causada pela reação dos raios solares com substâncias artificiais presentes no organismo, as quais podem ter sido ingeridas através de alimentos artificializados ou assimiladas de cosméticos com elementos químicos inadequados.

Embora os meios de comunicação tradicionais se esforcem em nos convencer do contrário, o fato é que quanto mais nos distanciamos do sol, mais debilitamos nossa qualidade de vida. O assunto do momento no meio especializado é a Vitamina D, aquela sintetizada pelo organismo quando este se expõe aos raios solares do tipo UVA, e as implicações causadas pela deficiência desta. Um dos elementos essenciais para o funcionamento adequado do sistema imunológico, da assimilação de cálcio pelos ossos e diversas outras funções, a vitamina D foi detectada em níveis muito abaixo dos recomendáveis em cerca de 80% da população herdeira da cultura ocidental, incluindo crianças.

O PHD Joseph Mercola afirma que, dentre todos os fatores que exercem um efeito decisivo na prevenção e tratamento do cancer, a presença de quantidade suficiente de Vitamina D no organismo é a mais significativa. Nutricionistas especializados e médicos conscientes tem recomendado o uso de suplementos de Vitamina D3 por todo aquele que não passa ao menos 2 horas de seu dia sob a luz do Astro Rei. E com um mínimo de roupas cobrindo a superfície da pele. Se esta prática não se encaixa em seu estilo de vida atual, considere um suplemento de Vitamina D3 de boa procedência. Ou um ajuste de seu estilo de vida.

A participação na síntese da vitamina D é apenas um dos fatores através dos quais o sol contribui para a Saúde. São comprovados os efeitos benéficos da luz solar sobre as funções cognitivas e ao equilíbrio psico-emocional, incluindo-se o bom-humor e à própria alegria. O sol não é apenas essencial para a vida, mas amigo dela também.

Assim sendo, não se deve fugir do sol e proteger-se deste a todo custo, mas conscientemente alimentar-se de sua luz em todos os sentidos. Inclua em sua dieta diária uma generosa e farta porção diária daqueles alimentos especiais que através da fotossíntese capturam a luz do sol em seu interior, combinando-a com diversos elementos e sintetizam vitaminas e enzimas especiais. Refiro-me às folhas verdes comestíveis.

Graças aos esforços de diversos educadores de saúde, o suco verde já é conhecido por milhões de pessoas como uma importante ferramenta de saúde. Uma bebida simples, fácil e acessível, de preparo rápido e sabor agradável que traz diversos benefícios à saúde e que é a maneira mais fácil de se ingerir o potencial nutritivo e medicinal das folhas verdes na dieta diária.

Um dos fatores nutricionais exclusivamente obtidos através do consumo de folhas verdes é a Vitamina K. Até recentemente vista como meramente útil para a coagulação sanguínea adequada, a importância da Vitamina K foi recentemente enaltecida como essencial para diversas funções. Uma delas, de acordo com o American Journal of Clinical Nutrition, é a prevenção do cancer. Neste ultimo mês, este instituto publicou um estudo que revela 30% na redução de taxas de mortalidade por cancer em organismos com presença de quantidades significativas de vitamina K, especialmente quando esta está associada à níveis saudáveis de vitamina D, pois ambas trabalham sinergisticamente.

Como a maior parte das pessoas praticam dietas deficientes em vegetais, especialmente folhas verdes e frescas em quantidade suficiente, a adição de um copo diário de suco verde se faz importante. A seguir, uma receita simples, fácil e deliciosa para você banhar o interior de seu corpo com a luz dourada do sol, transformada em verde pela planta.

Suco de Maçã, Manjericão, Salsa e Cardamomo

Ingredientes:

3 Maçãs Gala Pequenas, apenas lavadas e cortadas em quatro.

1 Xícara de Folhas de Manjericão

1 Xícara de Folhas de Salsa

2 Bagas de Cardamomo e/ou 1 cm de Raiz de Gengibre.

Preparo:

Passe todos os ingredientes em um juicer ou centrífuga ou liquidifique com água de coco (neste caso coando a fibra para obter um sumo leve).Beba imediatamente, 5 minutos antes do almoço. Observe como os elementos do suco ajudam na digestão do almoço, conferindo-lhe uma sensação de leveza mesmo de estômago cheio.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A verdade sobre meninos e meninas_7/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 1ª matéria, dividida em 7 partes: A verdade sobre meninos e meninas, que será publicada nos dias 04, 06, 08, 11, 13, 15 e 18 de Abril.

por Lise Eliot

Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br

A preferência por jogar futebol ou brincar de casinha está longe de ser imutável. Elas são mesmo mais empáticas e eles agressivos ou apenas confirmamos o que esperamos ver? A ciência tem mostrado que, no nível neurológico, as diferenças sexuais são menores do que as pessoas costuma imaginar – mas podem se tornar mais marcadas quando as expectativas dos adultos as reforçam


MAIS FÁCIL PARA ELAS: meninas que
praticam esportes, usam calças e gostam de
construções com brinquedos de montar não
são reprimidas; já garotos que insistem em
brincar de boneca, sofrem preconceitos

Conceitos-chave

A maior parte as distinções entre os sexos não é especialmente pronunciada. Por exemplo, a diferença no desempenho intelectual, na empatia e mesmo na maioria dos tipos de violência é, em geral, muito menor do que a disparidade de altura na idade adulta (considerando que um homem de estatura mediana é mais alto que mais de 90% das mulheres).

Pesquisadores encontraram poucas diferenças de grande escala entre meninos e meninas no que se refere às estruturas ou ao funcionamento cerebrais. O cérebro dos garotos é maior, enquanto o delas termina de crescer mis cedo. Mas nenhuma dessas descobertas explica por que eles são mais ativos e elas mais verbais, nem revela um fundamento plausível para nenhuma das outras diferenças emocionais e cognitivas entre os sexos.

A própria experiência altera a estrutura e o funcionamento cerebral. A maioria das diferenças entre os sexos começa pequena, como meras tendências no temperamento ou no estilo das brincadeiras, mas é amplificada pela interação social e afetiva entre as crianças, sofrendo também fortes influências da cultura.

Para conhecer mais:

Sex differences in cognitive abilities. Diane Halpern. Lawrence Eribaum Associates, 2000.

Gender, nature, and nurture. Richard A. Lippa. Lawrence Eribaum Associates, 2002.

Brain gender. Melissa Hines. Oxford University Press, 2005.

The gender similarities hypothesis. Janet S. Hyde, em American Psychologist, vol. 60, pgs. 581-592, 2005.

Gender development. Judith E. Owen Blakemore, Sheri A. Berenbaum e Lynn S. Liben. Psychology Press, 2008.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A verdade sobre meninos e meninas_6/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 1ª matéria, dividida em 7 partes: A verdade sobre meninos e meninas, que será publicada nos dias 04, 06, 08, 11, 13, 15 e 18 de Abril.

por Lise Eliot

Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br


A preferência por jogar futebol ou brincar de casinha está longe de ser imutável. Elas são mesmo mais empáticas e eles agressivos ou apenas confirmamos o que esperamos ver? A ciência tem mostrado que, no nível neurológico, as diferenças sexuais são menores do que as pessoas costuma imaginar – mas podem se tornar mais marcadas quando as expectativas dos adultos as reforçam


Em três dimensões

Se as meninas se saem melhor nas habilidades verbais, os meninos se destacam no domínio espacial – e na capacidade de visualizar e manipular objetos e trajetórias no tempo e no espaço tridimensional. As diferenças sexuais nas facilidades espaciais estão entre as maiores discrepâncias cognitivas. Em média, um homem é capaz de realizar rotações mentais (isto é, imaginar como seria o aspecto de um objeto complexo depois de girado) melhor do que 80% das mulheres.

Em 2008, dois grupos de pesquisa registraram uma diferença sexual na rotação mental em bebês a partir dos 3 meses de idade. Há ainda outros dados, indicando que a habilidade é influenciada pela testosterona intrauterina. Contudo, a dimensão real do desnível é muito menor nas crianças que nos adultos: aos 4 anos, os garotos superam cerca de 60% das meninas. Parece, portanto, provável que, neles, a melhora da habilidade se deva à ampla gama de interesses visuoespaciais – mira, construção, arremesso e orientação, usados num sem-número de jogos de direção e tiro – que os rapazes exploram muito mais. A ideia é confirmada por um estudo da neurobióloga Karin Kucian e de seus colegas do Hospital Infantil Universitário de Zurique. Em 2007, eles observaram que, em exames de ressonância magnética, o cérebro de meninos e o de meninas exibiam padrões similares de atividade neural na execução de uma tarefa de rotação mental que, como revelou um estudo desenvolvido pelos mesmos pesquisadores em 2005, desperta reações diferentes nos cérebros adultos masculino e feminino. Parece que o cérebro de meninos e o de meninas divergem quanto ao processamento espacial à medida que as crianças crescem e praticam diferentes habilidades.

As habilidades espaciais são importantes para o sucesso em várias áreas da ciência e da matemática avançada, incluindo o cálculo, a trigonometria, a física e a engenharia. As pesquisas da psicóloga educacional Beth Casey, do Boston College, mostram que o desnível das habilidades espaciais entre meninos e meninas é, em grande parte, responsável pela consistente vantagem masculina no desempenho matemático avaliado nos exames de admissão ao ensino superior e um evidente obstáculo para as moças que querem fazer engenharia ou outros cursos da área das ciências exatas.

Mesmo sendo tão importantes, as habilidades espaciais não são levadas em conta nos currículos escolares. Porém, muitos estudos já mostraram que, com treino, é possível aperfeiçoa-las até mesmo jogando videogame! Se os meninos já praticam tais habilidades em suas atividades extracurriculares, as meninas pode se beneficiar de uma maior exposição a quebra-cabeças tridimensionais, jogos de tiro e direção em ritmo acelerado e esportes como beisebol, softbol e tênis.

Meninos e meninas são diferentes, mas a maioria das diferenças sexuais psicológicas não é especialmente significativa. Por exemplo, a disparidade nas habilidades verbais, no desempenho matemático, na empatia e até mesmo na maior parte dos tipos de violência é, em geral, muito menor que o desnível na altura dos adultos: um homem de altura mediana, com cerca de 1,70 m, é mais alto do que mais de 90% das mulheres. Quando se trata de habilidades mentais, pessoas dos dois gêneros se igualam muito mais do que se afastam.

Além disso, poucas dessas desigualdades são tão imutáveis ou estruturais quanto fazem crê teses populares surgidas nos últimos tempos. Para a maioria das diferenças, a primeira centelha é produzida por genes e hormônios, mas a chama é alimentada pelas culturas essencialmente distintas em que as crianças são criadas. A compreensão de como surgem as distinções entre os sexos pode diminuir a ameaça dos estereótipos e dar aos adultos idéias para ajudar a reduzir as discrepâncias mais preocupantes e permitir que, independentemente do gênero, as crianças desenvolvam seus diversos talentos.


quarta-feira, 13 de abril de 2011

A verdade sobre meninos e meninas_5/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 1ª matéria, dividida em 7 partes: A verdade sobre meninos e meninas, que será publicada nos dias 04, 06, 08, 11, 13, 15 e 18 de Abril.

por Lise Eliot

Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br

A preferência por jogar futebol ou brincar de casinha está longe de ser imutável. Elas são mesmo mais empáticas e eles agressivos ou apenas confirmamos o que esperamos ver? A ciência tem mostrado que, no nível neurológico, as diferenças sexuais são menores do que as pessoas costuma imaginar – mas podem se tornar mais marcadas quando as expectativas dos adultos as reforçam


Fofoca, cochichos e, mais recentemente, calúnias enviadas
por mensagens eletrônicas são estratégias de
discriminação em geral mais usadas pelas meninas

A deles é maior

Pouco se sabe sobre a base neural da diferença sexual na empatia, mas é provável que a amígdala, estrutura do tamanho de uma uva, presente nos dois hemisférios cerebrais, esteja envolvida nesse processo. Essa região é muito sensível a rostos. Segundo uma análise de vários estudos, desenvolvida em 2002, a amígdala é maior nos homens do que nas mulheres, fato que parece contradizer a menor habilidade masculina para reconhecer emoções faciais. Outros estudos revelam, porém, um desequilíbrio entre a ativação dessas áreas cerebrais em homens e mulheres. Ao recordar cenas de grande carga emocional, as voluntárias apresentam ativação mais intensa da amígdala esquerda, enquanto neles, a direita apresenta maior excitação, como revela um estudo de 2004, conduzido pelo neurobiólogo Larry Cahill, da Universidade da Califórnia em Irvine, confirmando um relatório elaborado pelo psicólogo Turhan Canli e seus colegas da Universidade Stanford, dois anos antes.

Ainda não se sabe, porém, se essa diferença no funcionamento da amígdala é apenas um reflexo da própria empatia ou se a mesma distinção neural entre os sexos está presente nas crianças. De fato, no que se refere às emoções, no início da vida, meninos e meninas não são tão diferentes; quando muito, sabe-se que os bebês do sexo masculino choram mais e fazem mais barulho do que os do feminino. Ao crescerem, os garotinhos – muito mais que elas – são ensinados a esconder suas manifestações de medo, tristeza e ternura. É consenso entre os cientistas que a aprendizagem social em grande medida molda a disparidade entre as reações emocionais de homens e mulheres. O resultado disso é que eles se tornam menos expressivos e sensíveis aos sentimentos alheios. É quase certo que tal treinamento imprima sua marca na amígdala, uma das estruturas mais plásticas do cérebro.

Deixemos de lado a lenda urbana de que “as mulheres falam três vezes mais palavras por dia do que os homens”. E vamos aos números reais: 16.215 para as mulheres e 15.669 para os homens, segundo um estudo conduzido pelo psicólogo Mathias Mehl da Universidade do Arizona, em 2007, do qual participaram 400 universitários monitorados por gravadores digitais. As mulheres de fato superam os homens na maioria das avaliações – habilidades de fala, leitura, escrita e ortografia desde o início da infância (e ao longo da vida). Mas a diferença em geral, é pequena e se altera com a idade.

As variações na linguagem surgem já nas primeiras fases do desenvolvimento. As garotinhas começam a falar cerca de um mês antes dos meninos e, ao entrar na pré-escola, estão por volta de 12% à frente deles nas habilidades de leitura. Ao longo do período escolar, a vantagem feminina na leitura e na escrita continua a se ampliar, até o último ano do ensino médio. Dados reunidos pelo Departamento de Educação dos Estados Unidos por várias décadas levam a uma conclusão alarmante: o número de meninas que se formam como boas leitoras é 47% maior do que o de meninos. E no que se refere à escrita o desnível é ainda maior.

A distância, entretanto, parece diminuir na idade adulta. A pontuação média de uma mulher é superior à de apenas 54% dos homens, numa avaliação combinada de todas as habilidades verbais, conforme uma análise feita pela psicóloga Janet Hyde e seus colegas, da Universidade de Wisconsin-Madison. O fato de a variação ser tão pequena pode explicar por que os fundamentos neurais da diferença na linguagem e no domínio da leitura e da escrita ainda não foram descobertos. Em 2008, a neurocientista Íris Sommer e seus colaboradores do Centro Médico Universitário de Utrecht, na Holanda, desmentiram a teoria popular de que as mulheres usam os dois lados do cérebro no processamento da linguagem, enquanto os homens recorrem principalmente ao esquerdo. Na análise de 20 estudos de ressonância magnética funcional, os pesquisadores não identificaram nenhuma diferença no grau de lateralização da linguagem entre homens e mulheres.

Da mesma forma, as evidências de que meninas e mulheres apresentam estrutura neurológica mais adequada à leitura são escassas. Se a habilidade está relacionada a algo, trata-se simplesmente do quanto a criança lê por prazer fora da escola. E elas lêem mais que os meninos. Desde o nascimento, a exposição de uma criança à linguagem é o fator mais importante na determinação de suas habilidades verbais futuras. Estudos amplos, realizados em vários países, demonstram que o sexo determina no máximo 3% da variação na habilidade verbal das crianças na faixa de um a três anos, enquanto o ambiente e a exposição à linguagem são responsáveis por pelo menos 50%. Portanto, os meninos terão mais chances de desenvolver a linguagem, a leitura e a escrita desde cedo se forem expostos pelos pais a um ambiente rico em conversas, livros, canções e histórias. Livros de versos ou que explorem o alfabeto são ótimos para treinar a consciência fonológica – a conexão entre sons e letras que representa a primeira dificuldade na aprendizagem da leitura. Comparados às garotas, eles demonstram uma preferência maior por outros gêneros – especialmente pela não ficção e por histórias cômicas e de ação – assim, fazer com que leiam pode ser, em grande medida, uma questão de encontrar livros e revistas que lhes despertem o interesse. Escolas com bons programas de leitura conseguem eliminar a diferença no desempenho masculino e feminino, provando que o desnível causador de tantas preocupações é mais uma questão de educação e prática do que de potencial inato.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A verdade sobre meninos e meninas_4/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 1ª matéria, dividida em 7 partes: A verdade sobre meninos e meninas, que será publicada nos dias 04, 06, 08, 11, 13, 15 e 18 de Abril.

por Lise Eliot

Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br

A preferência por jogar futebol ou brincar de casinha está longe de ser imutável. Elas são mesmo mais empáticas e eles agressivos ou apenas confirmamos o que esperamos ver? A ciência tem mostrado que, no nível neurológico, as diferenças sexuais são menores do que as pessoas costuma imaginar – mas podem se tornar mais marcadas quando as expectativas dos adultos as reforçam



Paus e Pedras

A agressividade física dos meninos é maior que a das meninas. É o que mostram muitos estudos, incluindo uma análise feita pelo psicólogo John Archer, pesquisador da Universidade de Lancashire Central, na Inglaterra. Essa discrepância relaciona-se à ação da testosterona no útero materno mas, surpreendentemente, não é influenciada pelo aumento no nível do hormônio nos adolescentes, pois ao chegarem à puberdade os meninos não se tornam mais violentos de uma hora para outra, como mostra o estudo de Ascher. E essa divergência sexual não é absoluta. As meninas de dois ou três anos muitas vezes, chutam, mordem e batem nas pessoas – não tanto quanto os meninos da mesma idade, mas com uma frequência três vezes maior do que as crianças mais velhas de ambos os sexos. Além disso, em suas brigas, elas recorrem à violência indireta. Por meio de fofoca, isolamento de colegas, cochichos e, mais recentemente, da agressão por mensagens de texto, as meninas deixam mais cicatrizes no psiquismo das adversárias que em seu corpo.

Assim, ambos os sexos competem e brigam: a variação está no caráter mais explícito ou encoberto desse comportamento. Como a agressão física é um tabu muito mais sério para elas, as garotas aprendem, desde o início do ensino fundamental, a manter essa tendência disfarçada com olhares de desdém e guerras de melhores amigas, raramente percebidas pelos pais e professores.

Porém, se admitirmos que os sentimentos competitivos são inerentes às crianças, poderemos encontrar maneiras de canalizá-los para atividades mais saudáveis. Nos últimos anos, a tendência entre os educadores tem sido manter a competição fora da sala de aula, pois o seu oposto, a cooperação, seria mais importante para a interatividade social .Entretanto, as rivalidades podem ser altamente motivadoras, em especial para aqueles que precisam reconhecer a competitividade em si mesmo e nos outros. Uma possível solução são as competições em equipe, nas quais os alunos trabalham em conjunto para vencer grupos adversários na solução de problemas de matemática, vocabulário, histórias e ciências.

Entre a agressividade e a empatia, há uma relação de oposição. É difícil agredir alguém de cujos sentimentos temos plena consciência. Assim, enquanto a pontuação de meninos e homens é maior quando se mede a violência física, as meninas e mulheres marcam mais pontos na maior parte das avaliações da empatia, ou seja,da consciência e da capacidade de compartilhar as emoções alheias, concluiu a psicóloga Nancy Eisenberg, da Universidade do Estado do Arizona, em estudos realizados nos anos 80.

Contudo, a diferença sexual na empatia é menor do que acredita a maioria das pessoas e é fortemente afetada pelo método de mensuração. Quando se pede a homens e mulheres que avaliem suas tendências nessa área, as mulheres se mostram muito mais propensas a concordar com afirmações do tipo: “Sou boa em descobrir como os outros vão sentir” ou “Gosto de cuidar das pessoas”. Quando testada por critérios mais objetivos, porém, como o reconhecimento das emoções numa série de fotos e rostos, a diferença entre homens e mulheres é muito menor, em torno de quatro décimos de um desvio padrão, o que significa que as mulheres são, em média, mais precisa do que apenas 66% dos homens.

Nas crianças, a variação é ainda menor: menos da metade da registrada nos adultos. Foi o que constatou o psicólogo Erin McClure, da Universidade Emory, depois de analisar mais de uma centena de estudos sobre diferenças sexuais no processamento de emoções faciais em bebês, crianças e adolescentes, num levantamento realizado em 2000. Portanto, embora as meninas já comecem um pouco mais sensíveis aos rostos e emoções alheias, a vantagem se amplia com a idade, sem dúvida devido a suas maiores habilidades de comunicação; prática em desempenhar papéis nas brincadeiras com bonecas e amizades mais íntimas em comparação com os meninos.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A verdade sobre meninos e meninas_3/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 1ª matéria, dividida em 7 partes: A verdade sobre meninos e meninas, que será publicada nos dias 04, 06, 08, 11, 13, 15 e 18 de Abril.

por Lise Eliot

Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

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A preferência por jogar futebol ou brincar de casinha está longe de ser imutável. Elas são mesmo mais empáticas e eles agressivos ou apenas confirmamos o que esperamos ver? A ciência tem mostrado que, no nível neurológico, as diferenças sexuais são menores do que as pessoas costuma imaginar – mas podem se tornar mais marcadas quando as expectativas dos adultos as reforçam


Carrinhos e Barbies

Sim, meninos gostam de caminhões, meninas de bonecas. Salvo raras exceções, se puderem escolher entre os bonecos Power Rangers, os carrinhos Hot Wheels, as bonecas Bratz ou um conjunto de beleza da Barbie, meninos e meninas em idade pré-escolar demonstram interesse pelos brinquedos mais obviamente masculinos ou femininos. Na verdade, a escolha de brinquedos voltados para um gênero ou outro é uma das mais marcantes diferenças entre os sexos, superadas apenas pela própria preferência sexual. Tais inclinações não são tão claras no início da infância e muitos estudos, mostram que os garotos mais jovens gostam de bonecas tanto quanto as meninas. (Todo bebê é fortemente atraído por rostos, por razões óbvias de sobrevivência). A predileção por determinado tipo de brinquedos só se manifesta quando as crianças estão maiores, intensificando-se durante os anos da pré-escola, para então, sofrer certo declínio.

As escolhas na infância são, em parte, moldadas apela ação da testosterona antes do nascimento: meninas que sofrem de um transtorno genético que as expõe a níveis elevados deste e de outros androgênios durante a gestação demonstram inclinação bem maior por caminhões e carros do que a média das garotas. Até mesmo macacos machos e fêmeas preferem brinquedos que se encaixam nos estereótipos de gênero, portanto, deve haver algo nos carros e bolas que desperta as tendências hormonais dos meninos, afastando-os de sua preferência inicial por faces e arranjando-os para objetos com os quais podem interagir de maneira mais física.

Partindo dessa tendência inata, as preferências infantis por determinado tipo de brinquedo são radicalizadas e moldadas por fatores sociais. Os pais estimulam as brincadeiras tidas como apropriadas ao gênero da criança, especialmente no caso dos meninos e, a partir dos três anos, os colegas começam a reforçar as normas de gênero de modo ainda mais intenso que os adultos. Em um exemplo dessa influência, as psicólogas Karin Frey, da Universidade de Washington, e Dane Ruble, da Universidade de Nova York, relataram que tanto meninos quanto meninas dos primeiros aos do ensino fundamental optavam por um brinquedo aparentemente menos desejável (um caleidoscópio), em vez de um incrível projetor de filmes da Fisher_Price depois de assistir a um comercial onde uma criança do mesmo sexo escolhia o primeiro e uma do sexo oposto preferia o segundo. Contudo, por volta dos cinco anos, as meninas começam a optar pó brinquedos “de menino” e “de menina” sem distinção. Entre os garotos, porém, essa mudança é rara – uma diferença que reflete normais sociais. Hoje, meninas que praticam esportes, usam calças e fazem construções de lego não são mais reprimidas, pelo contrário. Já os garotos não são estimulados a usar vestidos nem a brincar de casinha.

Preconceitos à pare, a diversificação de atividades é importante para a formação de muitos circuitos mentais e habilidades futuras. Equipamentos esportivos, veículos e jogos de construção estimulam as habilidades físicas e espaciais, enquanto bonecas, livros de colorir e fantasias favorecem o desenvolvimento de circuitos neurais ligados às capacidades verbais, sociais e da coordenação motora fina.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A verdade sobre meninos e meninas_2/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 1ª matéria, dividida em 7 partes: A verdade sobre meninos e meninas, que será publicada nos dias 04, 06, 08, 11, 13, 15 e 18 de Abril.

por Lise Eliot

Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)

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Ano XVII nº209 – Julho 2010

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A preferência por jogar futebol ou brincar de casinha está longe de ser imutável. Elas são mesmo mais empáticas e eles agressivos ou apenas confirmamos o que esperamos ver? A ciência tem mostrado que, no nível neurológico, as diferenças sexuais são menores do que as pessoas costuma imaginar – mas podem se tornar mais marcadas quando as expectativas dos adultos as reforçam


Pontapé Inicial

Em geral, os bebês do sexo masculino são mais ativos fisicamente e tal característica persiste por toda a infância. Mães e pais exaustos sabem bem que os meninos chutam, balançam os braços e correm pela casa bem mais que as garotas. A diferença pode se manifestar antes do nascimento, embora nem todos os exames pré-natais de ultrassom revelem diferenças de movimento fetal entre os sexos. Ainda assim, a disparidade é clara durante o primeiro ano e tende a aumentar, segundo uma análise de mais de cem estudos realizada pelo psicólogo Warren Eaton, da Universidade de Manitoba, no Canadá. A pesquisa revela que meninos são, em média, mais ativos do que 69% das meninas.

Esse desnível é maior do que a diferença em relação a habilidades verbais e matemáticas, porém, pequeno o bastante para permitir muitas exceções à regra, com destaque para os 31% de meninas que são mais ativas do que o menino médio. A agitação masculina parece ser desencadeada pelos hormônios sexuais – em especial, por uma relativa abundância de testosterona no útero materno. Contudo, a diferença de atividade física entre os sexos continua aumentando durante a infância, não obstante o fato de que, dos 6 meses à puberdade, não há nenhuma especificidade em relação aos níveis dos hormônios em crianças dos dois sexos – que leva a crer que a criação seja, provavelmente, o único elemento amplificador da disparidade.

Estudos feitos em laboratórios e parquinhos, por exemplo, indicam que as filhas são mais desencorajadas pelas mães do que os filhos a correr riscos físicos. É comum que os pais incentivem mais as crianças a se arriscar do que as mães, mas não há estudos que digam se essa postura paterna é mais voltada aos meninos. Os colegas também exercem pressão para que as crianças se conformem a padrões esperados, em grupos só de meninos, os garotos incentivam a atividade uns dos outros, enquanto as meninas mais ativas tendem a se acomodar quando estão entre as amigas mais pacatas. Elas começam a praticar esportes mais tarde, param mais cedo e, em geral, participam de menos equipes do que os meninos.

A diminuição do período de intervalo e a pouca ênfase às aulas de educação física, em muitas escolas, prejudicam ambos os gêneros. O resultado se vê no aumento da obesidade e dos diagnósticos de transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Os garotos, em especial, precisam de intervalos mais freqüentes para realizar atividades físicas que satisfaçam sua necessidade de movimentação, mas as garotas também se beneficiam dos efeitos mentalmente revigorantes dos exercícios físicos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A verdade sobre meninos e meninas_1/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 1ª matéria, dividida em 7 partes: A verdade sobre meninos e meninas, que será publicada nos dias 04, 06, 08, 11, 13, 15 e 18 de Abril.

por Lise Eliot

Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

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A preferência por jogar futebol ou brincar de casinha está longe de ser imutável. Elas são mesmo mais empáticas e eles agressivos ou apenas confirmamos o que esperamos ver? A ciência tem mostrado que, no nível neurológico, as diferenças sexuais são menores do que as pessoas costuma imaginar – mas podem se tornar mais marcadas quando as expectativas dos adultos as reforçam



Assim que o ultrassom revela o sexo do bebê, os pais passam, mesmo sem perceber, a estipular uma série de características para seus filhos – e se pautam por essa informação para escolher a decoração do quarto, as roupinhas e até para pensar em como o bebê será e que caminhos poderá seguir. E depois ficam admirados quando percebem que o garotinho é louco por caminhões ou que a menina só que ser vestir com cor-de-rosa. A diferença parece óbvia. Os estereótipos, porém, nem sempre resistem a um exame científico. Os meninos são mesmo mais agressivos e as meninas mais empáticas ou apenas enxergamos o que esperamos deles? E, nos casos em que realmente existe diferença entre os sexos, as distinções seriam mesmo inatas?

O cérebro é um bom lugar para procurar respostas. Uma disparidade neurológica entre os gêneros explicaria importantes diferenças comportamentais. O surpreendente, porém, é que são muito poucas as diversidades em grande escala na estrutura e no funcionamento neural de meninos e meninas. Sim, eles têm cérebro (e cabeça) maior do que elas – desde o nascimento até a velhice. E o crescimento do cérebro feminino termina mais cedo. Mas nenhuma dessas descobertas explica por que os garotos são mais ativos e as meninas mais verbais, nem revela um fundamento plausível para a existência de desníveis nos resultados de testes de leitura, escrita e ciências.

As diferenças cerebrais são biológicas – mas não necessariamente inalteráveis. O fato crucial e frequentemente ignorado é que a própria experiência modifica a estrutura e o funcionamento neurológico. Esse processo, chamado pelos neurocientistas de plasticidade, é o fundamento de toda aprendizagem e de boa parte do amadurecimento do cérebro. Mesmo algo aparentemente tão simples quanto enxergar depende do desenvolvimento visual normal no início da vida.

Será que ser criado como menino ou menina também influencia a estrutura do cérebro? É claro que não nascemos idênticos: as diferenças genéticas e hormonais devem ditar os rumos do desenvolvimento dos cérebros masculino e feminino. Hoje sabemos que as primeiras experiências causam alterações permanentes na química e no funcionamento dos genes no interior das células, provocando efeitos significativos sobre o comportamento. Pesquisadores como o neurocientista Michael J. Meaney, da Universidade McGill, descobriram que a qualidade dos cuidados maternos está relacionada a muitas conseqüências neurais e psicológicas – da produção de novas células cerebrais a alterações nas reações de estresse e no funcionamento da memória. A diferença na criação de meninos e meninas também podem deixar marcas nos cérebros em desenvolvimento. A maioria das especificidades sexuais começa como mera inclinação de temperamentos e maneira de brincar, mas é amplificada quando os cérebros infantis são impregnados pelos ícones da cultura.