segunda-feira, 4 de abril de 2011

A verdade sobre meninos e meninas_1/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 1ª matéria, dividida em 7 partes: A verdade sobre meninos e meninas, que será publicada nos dias 04, 06, 08, 11, 13, 15 e 18 de Abril.

por Lise Eliot

Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br


A preferência por jogar futebol ou brincar de casinha está longe de ser imutável. Elas são mesmo mais empáticas e eles agressivos ou apenas confirmamos o que esperamos ver? A ciência tem mostrado que, no nível neurológico, as diferenças sexuais são menores do que as pessoas costuma imaginar – mas podem se tornar mais marcadas quando as expectativas dos adultos as reforçam



Assim que o ultrassom revela o sexo do bebê, os pais passam, mesmo sem perceber, a estipular uma série de características para seus filhos – e se pautam por essa informação para escolher a decoração do quarto, as roupinhas e até para pensar em como o bebê será e que caminhos poderá seguir. E depois ficam admirados quando percebem que o garotinho é louco por caminhões ou que a menina só que ser vestir com cor-de-rosa. A diferença parece óbvia. Os estereótipos, porém, nem sempre resistem a um exame científico. Os meninos são mesmo mais agressivos e as meninas mais empáticas ou apenas enxergamos o que esperamos deles? E, nos casos em que realmente existe diferença entre os sexos, as distinções seriam mesmo inatas?

O cérebro é um bom lugar para procurar respostas. Uma disparidade neurológica entre os gêneros explicaria importantes diferenças comportamentais. O surpreendente, porém, é que são muito poucas as diversidades em grande escala na estrutura e no funcionamento neural de meninos e meninas. Sim, eles têm cérebro (e cabeça) maior do que elas – desde o nascimento até a velhice. E o crescimento do cérebro feminino termina mais cedo. Mas nenhuma dessas descobertas explica por que os garotos são mais ativos e as meninas mais verbais, nem revela um fundamento plausível para a existência de desníveis nos resultados de testes de leitura, escrita e ciências.

As diferenças cerebrais são biológicas – mas não necessariamente inalteráveis. O fato crucial e frequentemente ignorado é que a própria experiência modifica a estrutura e o funcionamento neurológico. Esse processo, chamado pelos neurocientistas de plasticidade, é o fundamento de toda aprendizagem e de boa parte do amadurecimento do cérebro. Mesmo algo aparentemente tão simples quanto enxergar depende do desenvolvimento visual normal no início da vida.

Será que ser criado como menino ou menina também influencia a estrutura do cérebro? É claro que não nascemos idênticos: as diferenças genéticas e hormonais devem ditar os rumos do desenvolvimento dos cérebros masculino e feminino. Hoje sabemos que as primeiras experiências causam alterações permanentes na química e no funcionamento dos genes no interior das células, provocando efeitos significativos sobre o comportamento. Pesquisadores como o neurocientista Michael J. Meaney, da Universidade McGill, descobriram que a qualidade dos cuidados maternos está relacionada a muitas conseqüências neurais e psicológicas – da produção de novas células cerebrais a alterações nas reações de estresse e no funcionamento da memória. A diferença na criação de meninos e meninas também podem deixar marcas nos cérebros em desenvolvimento. A maioria das especificidades sexuais começa como mera inclinação de temperamentos e maneira de brincar, mas é amplificada quando os cérebros infantis são impregnados pelos ícones da cultura.

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