quarta-feira, 27 de abril de 2011

Ele disse, ela disse_2/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 2ª matéria, dividida em 7 partes: Ele disse, ela disse; que será publicada nos dias 25, 27, 29 de Abril e 02, 04, 06 e 09 de Maio.

por Deborah Tannen

Professora de linguística da Universidade de Georgetown e autora de You Were Always Mum's Favorite!: Sisters in Conversation Throughout

Their Lives (Random House, 2009), entre outros, ver mais bibliografia na postagem do dia 09 de Maio de 2011.

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br

Mulheres e homens usam linguagens próprias – por isso nem sempre o entendimento é tão simples. Enquanto o discurso deles tende a se concentrar na hierarquia e na competição pelo poder, o delas é voltado ao objetivo de se aproximar ou se afastar do interlocutor


Melhor ou igual?

Meu interesse pelas diferenças linguísticas entre mulheres e homens aumentou com a pesquisa sobre conversas entre pessoas de variadas origens étnicas e regionais que conduzi no início da minha carreira. Essas interações geralmente levavam à falta de entendimento porque os membros de cada grupo tinham suposições diferenciadas sobre o que deveria ser dito e a forma adequada de faze-lo. Também constatei um padrão paralelo nas conversas entre as mulheres e os homens: uma espécie de choque cultural baseado na diferença de gêneros.

Costumo ilustrar e definir esse fenômeno usando filmagens de vídeo de crianças em idade pré-escolar em um jardim de infância. Em uma cena, quatro garotinhos estão sentados juntos, conversando sobre a altura da qual conseguem rebater uma bola. “A minha vai até aqui”, declara um deles, elevando o braço acima da cabeça. “A minha chega até o céu”, garante o segundo, apontando mais alto. O terceiro contrapôs: “A minha vai mais longe que o céu”. Por fim, o quarto menino afirmou: “A minha chega até Deus!”. É óbvio que a conversa dos garotos é um jogo de hierarquia, no qual cada menino alega ser melhor que o anterior.

Na mesma escolinha duas meninas estão sentadas em uma mesa pequena, desenhando. De repente, uma delas ergue a cabeça e fala (provavelmente se referindo a lentes de contato): “Você sabia que a minha babá, chamada Amber, já tem lentes?”. A segunda garota parece surpresa no começo, mas se recompõe rapidamente e anuncia com visível prazer: “Minha mãe já tem lentes, meu pai também!”. A primeira garota ri, divertida, com a resposta espelhada, que até lexicalmente se ajusta à fala dela. A constatação de “similaridade” propicia às garotinhas satisfação semelhante à que os colegas do sexo masculino experimentam tentando se superar.

Embora os movimentos específicos de conversa – superação em contraste com a chegada ao mesmo ponto – sejam diferentes, o que esses discursos diversificados têm em comum é que são rituais “disfarçados”. Há uma espécie de pressuposição implícita sobre como as conversas devem se encaminhar. Em geral, não reconhecemos esses rituais até conversarmos com pessoas (de outras culturas) que não compartilham deles. Pais e educadores que reconhecem esses padrões relacionados com o sexo encontram mais facilidade para lidar com comportamentos infantis que, de outro modo, seriam irritantes. Por exemplo, uma mulher se lembrou de ter ouvido seu filho e dois outros garotos pequenos conversando no banco de trás do carro, enquanto ela dirigia. Um deles disse: “Quando fomos para a Disneylândia, ficamos lá três dias”. O segundo garoto afirmou: “Quando fomos para lá ficamos quatro dias”. Então o seu filho declarou: “Nós vamos morar na Disneylândia”. Ela ficou incomodada em ouvi-lo contar uma mentira deslavada. Será que ela deveria interromper o filho e corrigi-lo? Eu a acalmei e disse que os outros meninos sabiam que sua família não se mudaria para a Disneylândia. Mas o filho dela tinha vencido aquela parada.

Um pai me contou uma confusão semelhante ao ouvir uma conversa entre a filha pequena e uma amiga, que havia dito: “Eu tenho um irmão que se chama Benjamin e outro que se chama Jonathan”. A outra respondeu: “Eu tenho um irmão que se chama Benjamin e um irmão que se chama Jonathan também”. Mas não era verdade. O pai ficou pensando qual o motivo de ela ter dito aquilo. Expliquei que simplesmente sua filha oferecida à amiguinha uma experiência semelhante como um sinal de boa vontade, para reforçar a amizade.

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