Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.
Aqui a 1ª matéria, dividida em 7 partes: A verdade sobre meninos e meninas, que será publicada nos dias 04, 06, 08, 11, 13, 15 e 18 de Abril.
por Lise Eliot
Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)
Revista Mente e Cérebro
Ano XVII nº209 – Julho 2010
A preferência por jogar futebol ou brincar de casinha está longe de ser imutável. Elas são mesmo mais empáticas e eles agressivos ou apenas confirmamos o que esperamos ver? A ciência tem mostrado que, no nível neurológico, as diferenças sexuais são menores do que as pessoas costuma imaginar – mas podem se tornar mais marcadas quando as expectativas dos adultos as reforçam
Paus e Pedras
A agressividade física dos meninos é maior que a das meninas. É o que mostram muitos estudos, incluindo uma análise feita pelo psicólogo John Archer, pesquisador da Universidade de Lancashire Central, na Inglaterra. Essa discrepância relaciona-se à ação da testosterona no útero materno mas, surpreendentemente, não é influenciada pelo aumento no nível do hormônio nos adolescentes, pois ao chegarem à puberdade os meninos não se tornam mais violentos de uma hora para outra, como mostra o estudo de Ascher. E essa divergência sexual não é absoluta. As meninas de dois ou três anos muitas vezes, chutam, mordem e batem nas pessoas – não tanto quanto os meninos da mesma idade, mas com uma frequência três vezes maior do que as crianças mais velhas de ambos os sexos. Além disso, em suas brigas, elas recorrem à violência indireta. Por meio de fofoca, isolamento de colegas, cochichos e, mais recentemente, da agressão por mensagens de texto, as meninas deixam mais cicatrizes no psiquismo das adversárias que em seu corpo.
Assim, ambos os sexos competem e brigam: a variação está no caráter mais explícito ou encoberto desse comportamento. Como a agressão física é um tabu muito mais sério para elas, as garotas aprendem, desde o início do ensino fundamental, a manter essa tendência disfarçada com olhares de desdém e guerras de melhores amigas, raramente percebidas pelos pais e professores.
Porém, se admitirmos que os sentimentos competitivos são inerentes às crianças, poderemos encontrar maneiras de canalizá-los para atividades mais saudáveis. Nos últimos anos, a tendência entre os educadores tem sido manter a competição fora da sala de aula, pois o seu oposto, a cooperação, seria mais importante para a interatividade social .Entretanto, as rivalidades podem ser altamente motivadoras, em especial para aqueles que precisam reconhecer a competitividade em si mesmo e nos outros. Uma possível solução são as competições em equipe, nas quais os alunos trabalham em conjunto para vencer grupos adversários na solução de problemas de matemática, vocabulário, histórias e ciências.
Entre a agressividade e a empatia, há uma relação de oposição. É difícil agredir alguém de cujos sentimentos temos plena consciência. Assim, enquanto a pontuação de meninos e homens é maior quando se mede a violência física, as meninas e mulheres marcam mais pontos na maior parte das avaliações da empatia, ou seja,da consciência e da capacidade de compartilhar as emoções alheias, concluiu a psicóloga Nancy Eisenberg, da Universidade do Estado do Arizona, em estudos realizados nos anos 80.
Contudo, a diferença sexual na empatia é menor do que acredita a maioria das pessoas e é fortemente afetada pelo método de mensuração. Quando se pede a homens e mulheres que avaliem suas tendências nessa área, as mulheres se mostram muito mais propensas a concordar com afirmações do tipo: “Sou boa em descobrir como os outros vão sentir” ou “Gosto de cuidar das pessoas”. Quando testada por critérios mais objetivos, porém, como o reconhecimento das emoções numa série de fotos e rostos, a diferença entre homens e mulheres é muito menor, em torno de quatro décimos de um desvio padrão, o que significa que as mulheres são, em média, mais precisa do que apenas 66% dos homens.
Nas crianças, a variação é ainda menor: menos da metade da registrada nos adultos. Foi o que constatou o psicólogo Erin McClure, da Universidade Emory, depois de analisar mais de uma centena de estudos sobre diferenças sexuais no processamento de emoções faciais em bebês, crianças e adolescentes, num levantamento realizado em 2000. Portanto, embora as meninas já comecem um pouco mais sensíveis aos rostos e emoções alheias, a vantagem se amplia com a idade, sem dúvida devido a suas maiores habilidades de comunicação; prática em desempenhar papéis nas brincadeiras com bonecas e amizades mais íntimas em comparação com os meninos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário