quarta-feira, 13 de abril de 2011

A verdade sobre meninos e meninas_5/7

Série com 3 matérias, que serão publicadas em Abril e Maio de 2011, divididas em partes.

Aqui a 1ª matéria, dividida em 7 partes: A verdade sobre meninos e meninas, que será publicada nos dias 04, 06, 08, 11, 13, 15 e 18 de Abril.

por Lise Eliot

Professora adjunta de neurociências da Chicago Medical School da Universidade Rosalind Franklin e autora de Pink brain, blue brain – How small differences grow into troublesome gaps – And what we can do about it (Houghton Miffilin Harcourt, 2009)

Revista Mente e Cérebro

Ano XVII nº209 – Julho 2010

www.mentecerebro.com.br

A preferência por jogar futebol ou brincar de casinha está longe de ser imutável. Elas são mesmo mais empáticas e eles agressivos ou apenas confirmamos o que esperamos ver? A ciência tem mostrado que, no nível neurológico, as diferenças sexuais são menores do que as pessoas costuma imaginar – mas podem se tornar mais marcadas quando as expectativas dos adultos as reforçam


Fofoca, cochichos e, mais recentemente, calúnias enviadas
por mensagens eletrônicas são estratégias de
discriminação em geral mais usadas pelas meninas

A deles é maior

Pouco se sabe sobre a base neural da diferença sexual na empatia, mas é provável que a amígdala, estrutura do tamanho de uma uva, presente nos dois hemisférios cerebrais, esteja envolvida nesse processo. Essa região é muito sensível a rostos. Segundo uma análise de vários estudos, desenvolvida em 2002, a amígdala é maior nos homens do que nas mulheres, fato que parece contradizer a menor habilidade masculina para reconhecer emoções faciais. Outros estudos revelam, porém, um desequilíbrio entre a ativação dessas áreas cerebrais em homens e mulheres. Ao recordar cenas de grande carga emocional, as voluntárias apresentam ativação mais intensa da amígdala esquerda, enquanto neles, a direita apresenta maior excitação, como revela um estudo de 2004, conduzido pelo neurobiólogo Larry Cahill, da Universidade da Califórnia em Irvine, confirmando um relatório elaborado pelo psicólogo Turhan Canli e seus colegas da Universidade Stanford, dois anos antes.

Ainda não se sabe, porém, se essa diferença no funcionamento da amígdala é apenas um reflexo da própria empatia ou se a mesma distinção neural entre os sexos está presente nas crianças. De fato, no que se refere às emoções, no início da vida, meninos e meninas não são tão diferentes; quando muito, sabe-se que os bebês do sexo masculino choram mais e fazem mais barulho do que os do feminino. Ao crescerem, os garotinhos – muito mais que elas – são ensinados a esconder suas manifestações de medo, tristeza e ternura. É consenso entre os cientistas que a aprendizagem social em grande medida molda a disparidade entre as reações emocionais de homens e mulheres. O resultado disso é que eles se tornam menos expressivos e sensíveis aos sentimentos alheios. É quase certo que tal treinamento imprima sua marca na amígdala, uma das estruturas mais plásticas do cérebro.

Deixemos de lado a lenda urbana de que “as mulheres falam três vezes mais palavras por dia do que os homens”. E vamos aos números reais: 16.215 para as mulheres e 15.669 para os homens, segundo um estudo conduzido pelo psicólogo Mathias Mehl da Universidade do Arizona, em 2007, do qual participaram 400 universitários monitorados por gravadores digitais. As mulheres de fato superam os homens na maioria das avaliações – habilidades de fala, leitura, escrita e ortografia desde o início da infância (e ao longo da vida). Mas a diferença em geral, é pequena e se altera com a idade.

As variações na linguagem surgem já nas primeiras fases do desenvolvimento. As garotinhas começam a falar cerca de um mês antes dos meninos e, ao entrar na pré-escola, estão por volta de 12% à frente deles nas habilidades de leitura. Ao longo do período escolar, a vantagem feminina na leitura e na escrita continua a se ampliar, até o último ano do ensino médio. Dados reunidos pelo Departamento de Educação dos Estados Unidos por várias décadas levam a uma conclusão alarmante: o número de meninas que se formam como boas leitoras é 47% maior do que o de meninos. E no que se refere à escrita o desnível é ainda maior.

A distância, entretanto, parece diminuir na idade adulta. A pontuação média de uma mulher é superior à de apenas 54% dos homens, numa avaliação combinada de todas as habilidades verbais, conforme uma análise feita pela psicóloga Janet Hyde e seus colegas, da Universidade de Wisconsin-Madison. O fato de a variação ser tão pequena pode explicar por que os fundamentos neurais da diferença na linguagem e no domínio da leitura e da escrita ainda não foram descobertos. Em 2008, a neurocientista Íris Sommer e seus colaboradores do Centro Médico Universitário de Utrecht, na Holanda, desmentiram a teoria popular de que as mulheres usam os dois lados do cérebro no processamento da linguagem, enquanto os homens recorrem principalmente ao esquerdo. Na análise de 20 estudos de ressonância magnética funcional, os pesquisadores não identificaram nenhuma diferença no grau de lateralização da linguagem entre homens e mulheres.

Da mesma forma, as evidências de que meninas e mulheres apresentam estrutura neurológica mais adequada à leitura são escassas. Se a habilidade está relacionada a algo, trata-se simplesmente do quanto a criança lê por prazer fora da escola. E elas lêem mais que os meninos. Desde o nascimento, a exposição de uma criança à linguagem é o fator mais importante na determinação de suas habilidades verbais futuras. Estudos amplos, realizados em vários países, demonstram que o sexo determina no máximo 3% da variação na habilidade verbal das crianças na faixa de um a três anos, enquanto o ambiente e a exposição à linguagem são responsáveis por pelo menos 50%. Portanto, os meninos terão mais chances de desenvolver a linguagem, a leitura e a escrita desde cedo se forem expostos pelos pais a um ambiente rico em conversas, livros, canções e histórias. Livros de versos ou que explorem o alfabeto são ótimos para treinar a consciência fonológica – a conexão entre sons e letras que representa a primeira dificuldade na aprendizagem da leitura. Comparados às garotas, eles demonstram uma preferência maior por outros gêneros – especialmente pela não ficção e por histórias cômicas e de ação – assim, fazer com que leiam pode ser, em grande medida, uma questão de encontrar livros e revistas que lhes despertem o interesse. Escolas com bons programas de leitura conseguem eliminar a diferença no desempenho masculino e feminino, provando que o desnível causador de tantas preocupações é mais uma questão de educação e prática do que de potencial inato.

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