por Laura Ming
Qual é o risco de não tratar a dor na depressão?
Enorme. É grande a probabilidade de o doente entrar em um círculo vicioso infernal. O cérebro funciona graças a uma rede precisa de conexões, em que um circuito depende de outro. Na depressão, alguns desses circuitos funcionam mal, o que leva à falta de vitalidade, aos problemas de sono e à dor, entre outros sintomas. Se apenas parte desses circuitos é tratada, é grande o risco de o circuito doente prejudicar o equilíbrio dos outros. E quanto mais o tempo passa, pior. Os circuitos responsáveis pela sensação de dor são diabólicos. Se não forem cortados, eles se fortalecerão. É como um músculo. Se usamos a musculatura, ela enrijece. Do contrário, atrofia. Uma pessoa que sente dor durante muito tempo tem circuitos de dor viciados e terá mais dificuldade de ser tratada.
Há casos em que o tratamento se torna inviável?
Para metade dos pacientes que me procuram, os remédios já não funcionam. É tarde demais: a área cerebral responsável por receber a informação de dor está danificada. É como se os circuitos cerebrais da dor estivessem “queimados”. A medicina ainda não descobriu como reverter esse quadro. O máximo a que se chegou até hoje foi uma redução no desconforto causado por essa dor.
Mas diminuir os sintomas já não é um avanço?
Na psiquiatria, um medicamento que apresente melhora de 50% dos sintomas já é aprovado pra tratamento. Nossa meta, contudo, deve sempre ser 100%. Do contrário é como se um médico se desse por satisfeito ao transformar a pneumonia de um paciente em tosse crônica. A depressão é uma doença tão complexa que nos habituamos a buscar apenas a diminuição dos sintomas. Com os antidepressivos mais modernos, em muitos casos, já conseguimos livrar o doente de todos os sintomas. Buscar a remissão da depressão é alinhar a psiquiatria com o resto da medicina.
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