Matéria dividida em 3 posts – dias 28, 30 de Novembro e 02 de Dezembro
Por Alexandre Salvador e Filipe Vilicic
Com reportagem de Carolina Melo
Revista Veja - Edição 2226, págs.86 a 91, de 20.07.2011
Na frase genial do cientista brasileiro Miguel Nicolelis, “o cérebro é uma orquestra sinfônica em que os instrumentos vão se modificando à medida que são tocados”. Dificilmente alguém conseguirá explicar essa plasticidade com uma imagem mais exata e intrigante. Imagine-se um violino cerebral que, tocado de forma medíocre por anos a fio, vai se transformando aos poucos em um berimbau. Ou um piano martelado por um músico de uma nota só que, ao fim e ao cabo, vira um bumbo. A lição básica de Nicolelis é que o cérebro precisa de impulsos para se desenvolver – quanto mais variados, complexos, harmônicos e desafiadores eles forem, mais humanamente melhor o cérebro se tornará. Essa corrida para a perfeição não se completa nunca. Por definição. Quanto mais o cérebro se modifica pela qualidade dos impulso que recebe, melhor e mais eficiente ele se torna, o que aumenta sua prontidão pra processar informações, ainda mais intrincadas. Portanto, o cérebro é uma estrutura que aprecia desafios e se transforma com eles. Facilitar sua atividade pode, como mostra o estudo da pesquisadora Sparrow, torná-lo mais preguiçoso e menos ávido para se aperfeiçoar. Sparrow se debruçou mais sobre os efeitos na atividade cognitiva da facilidade que a internet oferece a seus usuários de encontrar praticamente qualquer informação histórica, científica ou literária já produzida pela humanidade e estocada de forma digital. Essa memória acessória externa descomunal em prontidão permanente e de fácil acesso é algo inédito na caminhada evolutiva do cérebro humano. Ela oferece u conforto tal que nenhuma geração passada teve nesse mesmo volume e riqueza de informações. Sparrow se pergunta – mas não responde totalmente na pesquisa que acabou de publicar – que tipo de efeito sobre a plasticidade do cérebro a internet e mais precisamente os mecanismos de buscas como o Google, pode exercer. Seria um efeito equivalente ao que tem para os músculos de um atleta ele deitar-se em um sofá com uma lata de refrigerante na mão e os olhos pregados na televisão? Ou, de outra forma, a facilidade de estocagem e recuperação de virtualmente qualquer tipo de informação pode, com o passar do tempo, atrofiar os instrumentos da orquestra cerebral humana especializados na busca e seleção de informações? Sem saber, talvez, Betsy Sparrow abriu uma linha nova de investigação científica que tem um grande futuro pela frente.
A pesquisa foi conduzida em quatro etapas, com alunos das universidades Harvard e Columbia. Os participantes tiveram de memorizar afirmações triviais, daquelas tipicamente encontradas no Goole. Os alunos informados de que não teriam um novo acessa às informações conseguiram memorizá-las em maior número do que o grupo que sabia que as frases estariam na internet. Segundo os autores do estudo, isso mostra que, quando as pessoas sabem que terão acesso fácil a uma informação, não se preocupam em memorizá-la.