segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O dilema das aulas particulares_4/5


Por Daniela Macedo – daniela.macedo@abril.com.br

Revista Veja, 11 de Abril, 2012 – pgs 116 a 118




Transtorno ou travessura?

Os especialistas alertam para o excesso de diagnósticos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) entre crianças na fase escolar.
Com tantos estímulos – celulares, games, computadores -, as crianças multitarefas podem se entediar facilmente ao realizar tarefas que consideram monótonas. Quando obrigadas a permanecer sentadas por várias horas na sala de aula, então, a perda de paciência e concentração é quase inevitável – e, na esteira dela, vem as notas baixas. Daí para suspeita de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é, hoje em dia um passo. O questionário mais comumente usado para diagnosticar o distúrbio, porém, não é unanimidade entre os especialistas. A psicóloga Marilene Proença, da Universidade de São Paulo, explica: as perguntas não são contextualizadas nem sofrem adaptação para diferentes faixas etárias. Ou seja, questão como tem dificuldade de esperar sua vez?” e “fala em excesso:”, além de subjetivas, servem para avaliar crianças de 3 a 12 anos, que têm noções de tempo muito diversas e estão em estágios de sociabilidade distintos. Marilene Proença é membro da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional e do Fórum sobre Medicalização, grupo composto de pediatras, professores e outros profissionais de saúde e educação, que discute o uso de medicação para tratar comportamentos. “O limite ente atitudes típicas da infância e um distúrbio neurobiológico é em parte cultural nem sempre objetivo”, dia a psicóloga. O tratamento envolve medicamentos que têm forte impacto sobre o sistema nervoso central e podem causar efeitos adversos como dor de cabeça, náusea e taquicardia. “Um diagnóstico impreciso de TDAH implica usar medicação para resolver um problema que na maior parte das vezes é pedagógico”, diz Marilene. A recomendação, portanto, é de cautela: se houver suspeita de TDAH, o ideal é buscar o veredicto de vários profissionais antes de decidir-se pelo emprego de medicamentos.

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