Por Daniela Macedo –
daniela.macedo@abril.com.br
Revista Veja, 11 de Abril, 2012 – pgs
116 a 118
Transtorno ou travessura?
Os especialistas alertam para o excesso
de diagnósticos de transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH) entre crianças na fase escolar.
Com tantos estímulos – celulares,
games, computadores -, as crianças multitarefas podem se entediar
facilmente ao realizar tarefas que consideram monótonas. Quando
obrigadas a permanecer sentadas por várias horas na sala de aula,
então, a perda de paciência e concentração é quase inevitável –
e, na esteira dela, vem as notas baixas. Daí para suspeita de
transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é, hoje em dia
um passo. O questionário mais comumente usado para diagnosticar o
distúrbio, porém, não é unanimidade entre os especialistas. A
psicóloga Marilene Proença, da Universidade de São Paulo, explica:
as perguntas não são contextualizadas nem sofrem adaptação para
diferentes faixas etárias. Ou seja, questão como tem dificuldade de
esperar sua vez?” e “fala em excesso:”, além de subjetivas,
servem para avaliar crianças de 3 a 12 anos, que têm noções de
tempo muito diversas e estão em estágios de sociabilidade
distintos. Marilene Proença é membro da Associação Brasileira de
Psicologia Escolar e Educacional e do Fórum sobre Medicalização,
grupo composto de pediatras, professores e outros profissionais de
saúde e educação, que discute o uso de medicação para tratar
comportamentos. “O limite ente atitudes típicas da infância e um
distúrbio neurobiológico é em parte cultural nem sempre
objetivo”, dia a psicóloga. O tratamento envolve medicamentos que
têm forte impacto sobre o sistema nervoso central e podem causar
efeitos adversos como dor de cabeça, náusea e taquicardia. “Um
diagnóstico impreciso de TDAH implica usar medicação para resolver
um problema que na maior parte das vezes é pedagógico”, diz
Marilene. A recomendação, portanto, é de cautela: se houver
suspeita de TDAH, o ideal é buscar o veredicto de vários
profissionais antes de decidir-se pelo emprego de medicamentos.
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