sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O mundo que queremos para todos nós é um mundo com mais saúde e menos dependência

Tabagismo - INCA - LUIZ CARLOS CORRÊA DA SILVA*

Artigo| Liberdade para os dependentes



O objetivo do primeiro tratado global de saúde pública, sob a responsabilidade da Organização Mundial da Saúde (OMS), é muito claro: "proteger as gerações presentes e futuras das devastadoras consequências sanitárias, sociais, ambientais e econômicas geradas pelo consumo e pela exposição à fumaça do tabaco".


No período em que o estado do RS debateu a ratificação deste tratado _ Convenção Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) _ houve uma grande mídia propalando que a OMS queria proibir o plantio de fumo o que deixaria milhões de pessoas sem sustento. Já se passaram mais de seis anos que o país ingressou nesse importante tratado internacional de saúde e nenhum agricultor foi prejudicado. Pelo contrário, observam-se benefícios pela progressiva redução da prevalência das doenças, o que é muito positivo para todos.


Estamos falando de saúde pública e da principal epidemia evitável que acomete a sociedade contemporânea. Estamos falando do principal fator de risco para as Doenças Crônicas Não Transmissíveis, principal causa de mortes na atualidade. O que está em jogo, é esta epidemia silenciosa que causa, no Brasil, 130 mil mortes por ano e custa aos cofres públicos pelo menos R$ 21 bilhões anuais para tratar as doenças causadas pelo tabagismo.


Os danos causados, silenciosamente, pelo tabagismo são incomparavelmente maiores que a Gripe A e demais doenças infecciosas juntas, e todas as causas externas de morte e agravos (acidentes de trânsito e violência em geral).


Mais recentemente, entidades ligadas à produção de fumo manifestaram preocupação com as discussões em torno dos artigos da CQCT que tratam de alternativas para a fumicultura (art. 17) e proteção ao meio ambiente e à saúde das pessoas (art. 18). Trata-se de mais uma tentativa dos aliados da indústria para confundir a população, os governantes, e a opinião pública com argumentos rasos de que a adoção das medidas de saúde vão prejudicar os fumicultores. Isso é uma grande inverdade. Caso esses argumentos fossem reais, qual seria a solução? Estimular a população brasileira e mundial a fumar cada vez mais para manter as pessoas produzindo e ampliando a produção de fumo? É óbvio que não.


O objetivo das entidades que defendem a implementação efetiva da CQCT no Brasil e no mundo é, não só melhorar a saúde e a qualidade de vida das pessoas, mas também dos agricultores que plantam fumo. O debate é positivo, pois é uma forma de pressionar as autoridades competentes a criarem políticas públicas que atendam ao desejo daqueles agricultores (e não são poucos) que gostariam de alternativas à produção de tabaco e carecem de políticas que favoreçam a produção e comercialização de alimentos.


As teses que afirmam que a Convenção Quadro vai prejudicar os agricultores mais parecem tentativas deliberadas de criar obstáculos à adoção de medidas que farão com que menos jovens comecem a fumar e mais fumantes consigam deixar de fumar. Esse tipo de argumento se alinha mais com interesses comerciais de grandes empresas transnacionais de tabaco, tanto das processadoras de folha de fumo como das fabricantes de cigarros do que com interesses de agricultores.


Portanto, para o agricultor que depende da produção de tabaco para sua subsistência, avançar no debate sobre alternativas e diversificação é uma questão crucial de sobrevivência. Afinal, o mundo que queremos para todos nós é um mundo com mais saúde e menos dependência, seja da substância nicotina, seja de um sistema integrado de produção que não dá alternativas aos próprios agricultores. Um mundo com mais liberdade para que todos possam optar pelo que querem produzir visando à valorização do seu trabalho e do bem comum.


* Pneumologista, coordenador do Programa de Tabagismo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre

Fonte : Editoria de Opinião

Nenhum comentário:

Postar um comentário