segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dor nas costas, dor na alma_1/8

Por Jasmin Andresh, é bióloga e jornalista

Revista Mente e Cérebro n° 220, maio/2011

Matéria dividida em 8 posts - nos dias 31 de Outubro, 02, 04, 07, 09, 11, 14, 16 de Novembro.

A OMS estima que 80% da população mundial teve ou terá pelo menos um episódio de dorsalgia ao longo vida – e muitas vezes a causa é psicológica; felizmente, relaxamento muscular, psicoterapia, elaboração de um diário ou adaptação do local de trabalho reduzem o problema de forma efetiva.

Lumbago, hérnia de disco, lombalgia ou, quando a dor irradia para a perna, ciática. Esses termos referem-se a algumas das dorsalgias que afetam 36% dos adultos brasileiros de forma crônica, segundo estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado em 2010. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 80% da população mundial apresente pelo menos um episódio de dor nas costas ao longo da vida. Se o desconforto não diminui dentro de três meses mesmo com tratamento, é possível pensar em patologia crônica. O efeito sobre a qualidade de vida daqueles que enfrentam o problema é relevante: o sofrimento não é apenas físico, também traz conseqüências psíquicas e sociais. Limitações na vida diária – desde a impossibilidade de fazer comprar ou planejar o tempo livre a até a incapacidade de trabalhar – agravam o problema e, muitas vezes, desencadeiam ansiedade e depressão.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Maconha e memória

Folha de São Paulo - Gilberto Dimenstein

Seria ótimo que todos tomassem conhecimento da pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo mostrando que a maconha afeta em 30% a memória --o que é uma brutalidade-- dos jovens abaixo dos 15 anos, quando o cérebro ainda está em formação. É um alerta para os pais, educadores e especialmente para os jovens.

Sou daqueles que defendem há muito tempo a ideia de que a repressão policial ao consumo de maconha é mais prejudicial do que seu uso. Segundo os cientistas, essa droga causa menos danos do que álcool e cigarro, como sabemos.

Isso nos torna ainda mais responsáveis de divulgar, sem moralismos macabros, os perigos para a saúde do abuso da maconha, que afeta a concentração, prejudica os estudos e o trabalho. Ter a memória afetada precocemente significa danos no trabalho, cortando uma série de possibilidades.

As marchas a favor da descriminação da maconha deveriam colocar, na sua plataforma, aviso aos riscos da saúde.

Esse discurso não pode ficar restrito aos moralistas e não moralistas. Jovens diminuíram o consumo do cigarro porque objetivamente viram que ali se tirava um pedaço da vida.

Daí que não consigo engolir o uso de celebridades para estimular qualquer produto com propriedade psicoativa como o álcool.

Fonte: UNIAD

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A cachoeira - uma benção para a saúde!

Fleur-Lise Monastesse

Na época atual, em que fazemos o possível para encontrar uma nova higiene de vida, parece paradoxal que poucos estejam preocupados com a qualidade do ar que respiramos. Respiramos, todos os dias, cerca de 26.000 vezes (~18 respi­rações/minuto) e 'absorvemos' até 10.000 litros de ar, o que representa 15 kg de 'alimento sutil'.

Entretanto, estamos muito mais preocupados com os 3 kg de comida e bebida que ingerimos todos os dias. Na verdade, o ar é o primeiro alimento do ser humano e a qualidade da atmosfera influencia nosso organismo.

O ar que respiramos

Devido à poluição e ao desmatamento sistemátido das últimas décadas, o ar que hoje respiramos contém muito menos oxigênio do que há 20 anos. Estudos realizados com o ar retido em fósseis, demonstraram que a proporção de O2 no ar respirado por nossos ancestrais chegava a 38%. Após a II Guerra Mundial, esse índice já havia caído para 22% e, segundo cientistas suíços, que desde então vêm monitorando criteriosamente a atmosfera, o nível atual de O2 não passa de 19,6%, despencando para 12% em cidades muito poluídas. Assim, todo cuidar é pouco!

Ionização do ar

Mas há também uma outra poluição, menos conhecida, e que nos atinge: a poluição elétrica do ar pela concentração muito elevada de íons positivos.

Digamos, de maneira esquemática, que o ar contém íons com polaridades elétricas opostas: íons positivos, nocivos quando em excesso, e íons negativos que, con­trariamente a seu nome, são benéficos para o nosso organismo. São até chamados de 'vitaminas do ar'. O equilíbrio desses íons no ar que respiramos influi de maneira determinante em nossa saúde em geral e na nossa vitalidade em particular. De fato, o oxigênio assegura as funções vitais básicas, mas ele só passa dos pulmões para o sangue em presença de íons negativos.

As más condições da vida moderna provocam o rompimento do equilíbrio iônico e nos privam de muitos desses íons negativos tão benéficos para nossa oxigenação e nossa saúde. Essa carência de íons negativos é uma das causas das 'doenças da civilização': cansaço, nervosismo, dores de cabeça, depressão...

Fatores que influem sobre a concentração de íons negativos no ar

O ar é ionizado naturalmente de maneira contínua. Os íons negativos se formam sob a influência de causas naturais: a radioatividade natural do solo, a fotossíntese das plantas, os raios cósmicos e ultravioletas do sol, as tempestades e os raios, a chama de uma vela ou de uma lareira, o impacto da água em movimento (chuva, chu­veiro, mar, fonte), o atrito do ar nas plantas pontudas. Se temos a sensação de res­pirar melhor ao pé de uma cachoeira, depois de uma tempestade, na montanha, à beira-mar, na floresta, no sol, isso ocorre pela riqueza do ar em íons negativos.

Por outro lado, certos fatores naturais favorecem a redução de íons negativos e um excesso de íons positivos, tais como o ar antes de uma tempestade, a chegada de ventos quentes e secos, o nevoeiro, etc.

Diversos fatores artificiais também diminuem a concentração de íons negativos no ar: poluição, ar confinado (residência, carro, escola, escritório, transportes coletivos), ar condicionado, proximidade de um aparelho elétrico (aquecedor, aparelho de televisão, computador, forno de microondas), tecidos sintéticos (carpetes e roupas sintéticas), fumaças industriais, gás de escapamento dos carros, poeira, tabaco, aquecimento elétrico e até o ar que expelimos de nossos pulmões.

É por isso que, nesses diferentes locais e condições, podemos sentir fraqueza, cansaço, irritabilidade, dor de cabeça, insônia, vertigem. Mas, cuidado para não jogar a culpa de todos os males e do nosso mau humor sobre a qualidade do ar!
Local
Nº de íons negativos/cm³
Ao pé de uma cachoeira
50.000
Após uma tempestade
20.000
Na montanha (ideal 1500 m)
8.000
À beira mar
4.000
Na floresta
3.000
No campo
1.200
Numa cidade pequena
300
Numa cidade grande, poluída
100
No apartamento ou escritório
20
No carro
15
Ambientes com ar condicionado
Próximo ao 0

Vivemos em locais bem isolados, em ambientes fechados, onde a quantidade de íons negativos do ar é insuficiente. Portanto, é necessário reavivá-lo, purificá-lo e revita­lizá-lo por ionização.

Podemos recorrer à ionização natural, principalmente com plantas ou vasos em que brotamos (trigo-grama, girassol, etc.) e artificial (ionizadores) para obter uma concentração iônica sufi­iente de cerca de 2.000 íons negativos/cm3 a fim de eliminar os efeitos nocivos dos íons positivos e recuperar a sensação de bem-estar.

A ionização negativa artificial na vida diária

No carro, em casa, na escola ou no escritório, temos agora a possibilidade, graças a aparelhos geradores de íons negativos - os ionizadores - de estabelecer o equilíbrio iônico de nosso ambiente e desfrutar do mesmo ar que respiramos na mon­tanha ou à beira-mar. Eles podem contribuir, de maneira geral, para purificar o ar de poeira, bactéria, fumaça de cigarros, odores; evitar o contágio aéreo dos germes (pode atenuar contágio algumas doenças infecciosas); diminuir o estresse e o cansaço — o que melhora a forma física e o tônus cerebral; aumentar as defesas imunológicas e retardar o processo de envelhecimento. No carro, a ionização aumenta a atenção do motorista (mas não melhora sua forma de dirigir, he he) e ame­niza o problema dos transportes. A ionização nas empresas teria por efeito melhorar a saúde, a forma física e o rendimento do empregado e contribuir indiretamente para reduzir o número de faltas e acidentes de trabalho (veja referência no final do artigo).

Em suma, a ionização contribui para um aumento do bem-estar, uma melhor higiene e uma prevenção das doenças. Mas, cuidado: também não é uma panaceia!

Aplicação terapêutica

A ionização do ambiente, como vimos, traz numerosos benefícios contra as doen­ças da civilização e pode melhorar o bem-estar. A ionização do ambiente por inala­ção tem efeitos benéficos sobre certas doenças como alergias, sinusite, asma, hiper­tensão, enxaqueca e também ajuda no tratamento das cicatrizes cutâneas, das quei­maduras, etc. Apesar do grande número de publicações científicas, as aplicações terapêuticas da ionização não são ainda muito conhecidas pelos médicos. As pesqui­sas continuam e talvez um dia a ionização seja reconhecida como uma terapia den­tro do grupo de terapias naturais.

O proprietário de uma sala de esportes equipou-a com alguns ionizadores e nos disse: "A gente sente o ar mais puro e o cheiro de suor de ambiente fechado desapareceu. Há uma diminuição do cansaço e das cãimbras e uma sensação geral de bem-estar. Às vezes, quan­do esqueço de ligar os aparelhos, as pessoas vêm reclamar."

Segundo divulgado no American Journal of Psychiatry, estudos de Michael Terman, PhD, da Columbia University (EUA), mostram que os anions provocam mudança de humor sobre pacientes com depressão. Nesses estudos com pessoas que tinham depressão crônica e sazonal, chegou-se à conclusão de que os aparelhos geradores de anions, aliviaram os sintomas tanto quanto os antidepressivos, considerando ainda não haver efeitos colaterais.

Nada como a natureza

Mas os ionizadores não nos dispensam de viver rodeados de ionização natural (fontes, árvores e plantas) ou de irmos respirar e caminhar regularmente na natureza.

Além disso, será necessário impor normas rigorosas para a fumaça das fábricas, os gases de escapamentos dos carros, os aparelhos elétricos, o tabagismo e privilegiar as fon­tes naturais de íons negativos benéficos — as florestas, os jardins públicos, as fon­tes e os chafarizes.

Bibliografia

Fonte: Revista ComTAPS, número 2, 1990. Site: www.taps.org.br
Hervé, R.: lonisation, santé, vitolité. Les ions négatifs en plus la fatigue en moins! Ed. Artulen, Paris.

Métadier, J.: L'ionisation de l'air et son utilisation. Ed. Maloine, Paris.

Bourdiol, R.J.: lon-négativo-thérapie. Ed. Maisonneuve.

Fonte; Doce Limão

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Em busca da Cura_9/9

Matéria dividida em 9 postagens – nos dias 05, 07, 10, 12, 14, 17, 19, 21 e 24 de Outubro

Por Pierangelo Garzia - Revista Mente & Cérebro n° 220, maio/2011, págs. 28 a 35

Saúde na palma da mão

A imposição de mãos, praticada em algumas religiões e em terapias complementares, tem efeitos positivos sobre o sistema imunológico. Pelo menos é o que revela um estudo conduzido pelo biólogo Ricardo Monezi, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A técnica consiste em colocar as mãos sobre uma área, sem encostá-las, com o objetivo de restabelecer a saúde e o equilíbrio do organismo. A pessoa que aplica o tratamento deve estar consciente da ação e mentalizar o restabelecimento do bem-estar do “paciente”.

Monezzi estudou os resultados da prática de mãos em 60 camundongos machos e sadios. Um terço do grupo recebeu o tratamento durante 15 minutos, por quatro dias consecutivos. Outros 20 tiveram luvas colocadas sobre as gaiolas pela mesma quantidade de tempo (para simular a imposição) e o restante dos animais, que integravam o grupo de controle, não foram submetidos a nenhum procedimento específico. Ao final do experimento, foram retiradas amostras do baço (que armazena células de defesa) dos animais para análise. Os fragmentos foram colocados em tubos de ensaio para confronto co células tumorais. O pesquisador observou que os roedores que passaram pela imposição demãos apresentaram aumento do número de células de defesa, como linfócitos e monócitos. Além disso, essas células revelaram o dobro de potencial para destruir as tumorais. As alterações não foram verificadas nos camundongos que receberam a simulação de tratamento nem no grupo de controle. O estudo não foi realizado em humanos para descarta a possibilidade de efeito placebo, ou seja, uma resposta condicionada do organismo. Faltam porém mais estudos que esclareçam esses resultados.

PARA SABER MAIS

Crer faz bem? - Paola Emilia Cicerone. Grandes Temas Mente e Cérebro – Fé: o lugar da divindade no cérebro, págs.18-21

O Poder da Oração – Daniela Ovadia. Grandes Temas Mente e Cérebro – Fé: o lugar da divindade no cérebro – págs. 22-29

No limite da vida – Detlef B.Linke. Grandes Temas Mente e Cérebro – Fé: o lugar da divindade no cérebro – págs. 64-73

Travessias do sofrimento – J.D.Nasio – Mente e Cérebro n° 188, págs.52-55, setembro de 2008

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Em busca da Cura_8/9

Matéria dividida em 9 postagens – nos dias 05, 07, 10, 12, 14, 17, 19, 21 e 24 de Outubro

Por Pierangelo Garzia - Revista Mente & Cérebro n° 220, maio/2011, págs. 28 a 35

A psicanálise e a busca dos sentidos

Nos últimos anos, muitos especialistas têm discutido as nuances do conceito de religião. “Podemos defini-la como um sistema de significados centrado no sagrado que se torna a lente através da qual percebemos a realidade.”, propõe a psicóloga Israela Silberman, professora da Universidade Columbia, em artigo publicado no Journal of Socias Issues. Esse sistema, formado por crenças e expectativas, influencia a vida dos indivíduos, nas relações consigo mesmo e com os outros. E, para muitos, confere sentido à própria história do nascimento à morte e além.

No ensaio, O futuro de uma ilusão, de 1927, Freud diz que a religião surge da fragilidade humana e do reconhecimento, por parte do homem, de que é indefeso frente às forças da natureza e aos próprios anseio, que tantas vezes não compreende. William James aborda em As várias formas de experiência religiosa, de 1902, os aspectos da vivência psicológica, notando como isso pode ser fonte de serenidade para alguns e de tormento para outros. E Abraham Maslow descreve a tendência do homem a viver experiências transcendentais, consideradas de caráter religioso.

Em 1909, durante o VI Congresso Internacional de Psicologia, o pesquisador Theodore Flourmoy propôs dois princípios metodológicos para esse campo da psicologia: o da exclusão da transcendência (que prevê a abstenção dos juízos de valor metafísicos do conteúdo da crença) e o da interpretação biológica da religiosidade (segundo a qual a relação humana com sua crença deve ser estudada como um processo psicofísico, que se expressa por meio de comportamentos observáveis e interpretáveis).

“Freud sustentou que a origem do pensamento religioso estava vinculada, para cada indivíduo, às relações com o próprio pai”, diz o psicanalista Mario Aletti, professor e presidente da Sociedade Italiana de Psicologia da Religião. “Posteriormente, a psicanálise passou a valorizar ambas as figuras parentais e a trabalhar com a idéia da existência de outras relações simbólicas de filiação, nas quais o pai representa a ordem e o limite, mas também a promessa e a possibilidade de desenvolvimento”. O processo psicológico individual que nos leva a definir a ideia de Deus e inevitavelmente antropomorfizado, traduzido em uma linguagem metafórica e simbólica. “É comum que o crente identifique o ser divino com a idéia que tem de si mesmo, nesse sentido, a fé uma busca contínua por um objeto que é por definição latente, presente – mas não atingível, salienta o psicanalísta.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Em busca da Cura_7/9

Matéria dividida em 9 postagens – nos dias 05, 07, 10, 12, 14, 17, 19, 21 e 24 de Outubro

Por Pierangelo Garzia - Revista Mente & Cérebro n° 220, maio/2011, págs. 28 a 35

Critérios do vaticano

Mesmo aceitando e prevendo que os milagres possam ocorrer, nos últimos anos a Igreja Católica tornou-se bastante criteriosa e severa em relação à confirmação desses fenômenos. Os procedimentos são cada vez mais passíveis de submissão ao método de investigação histórica e científica: coleta de testemunhos pessoais e clínicos e inúmeros exames médicos. Além disso, o caso é confiado a comissões de profissionais, formadas por especialista não necessariamente católicos.

Já no século 18, o papa Bento 14 redigiu diversos critérios – que depois foram modificados para se tornar mais austeros – de forma que os casos considerados “milagrosos” se limitavam , em média, a um a cada dois anos. Segundo as indicações de Bento 14, antes de tudo deveria ser considerada a existência de uma doença grave e ser descartada a suspeita de que a cura tivesse ocorrido por outros motivos (como um tratamento anterior que começasse a surtir efeito); o paciente deveria se recuperar de repente e de forma completa, não deveria ter recaídas. Além disso, cada caso que, na opinião dos doutores da Igreja, pudesse atender a esses requisitos, posteriormente deveria ser submetido ao exame de uma comissão de especialistas.

É impossível não perceber que, quanto mais rigorosas as investigações, menos são os milagrs provados. Alguns casos, porém, permanecem inexplicáveis – pelo menos para o conhecimento médico atual. “Embora o número de curas apresentadas para análise pelo comitê seja baixo, é indiscutível que, todos os anos, muitas pessoas voltas de peregrinações convencidas de terem obtido grandes benefícios; seus sintomas desapareceram ou ficaram ‘adormecidos’ por algum tempo”, afirma o historiador Bian Inglis.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Em busca da Cura_6/9


Matéria dividida em 9 postagens – nos dias 05, 07, 10, 12, 14, 17, 19, 21 e 24 de Outubro

Por Pierangelo Garzia - Revista Mente & Cérebro n° 220, maio/2011, págs. 28 a 35




Um caso de ELA curado na frança?

A melhora repentina d Antonia Raco, 51 anos, moradora de Lucca, Itália, com diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica (ELA), surpreendeu os médicos. “Seu quadro atual não é explicável com os meios de que disponho cientificamente”, declarou o neurologista Adriano Chiò delle Molinette, de Turim. A paciente, que havia passado quatro anos em uma cadeira de rodas em razão da doença neurodegenerativa para a qual, até hoje, não existe cura, recomeçou a andar depois de uma peregrinação a Lourdes. “Acredito que ainda vamos encontar uma explicação científica para o que aconteceu, um caso como este deve incentivar pesquisadores a reconsiderar a as formas “atípicas” da patologia para identificar eventuais quadros com possibilidade de regressão”, afirmou o médico, ressaltando que Antonia apresentava uma forma primária e mais comum da doença.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Em busca da Cura_5/9

Matéria dividida em 9 postagens – nos dias 05, 07, 10, 12, 14, 17, 19, 21 e 24 de Outubro

Por Pierangelo Garzia - Revista Mente & Cérebro n° 220, maio/2011, págs. 28 a 35

Para alguns pesquisadores, o milagre pode ser entendido como uma intromissão do futuro no presente que, apesar de incomum, é tangível, lícita e intangível

DOR DE ALMA

No início do século passado, Sigmund Freud, criador da psicanálise, já falava de forma bastante convincente de uma misteriosa ligação entre a mente e o corpo. Atualmente, cada vez mais especialistas – mesmo os que não são adeptos de teorias psicanalíticas – reconhecem que nosso cérebro tem recursos ainda inexplorados e relações desconhecidas entre psique, sistema imunológico e sistema nervoso, capazes de nos oferecerem pistas para esclarecer curas aparentemente milagrosas – que, na verdade, seriam expressões de potencialidades autorregeneradoras do próprio organismo. Sabe-se que o bem-estar físico tem efeitos sobre os sentimentos, e que estes, por sua vez, têm certa repercussão no corpo. A constatação, porém, é limitada. Não há informações exatas sobre como e quando as emoções atuam no processo de cura, particularmente de doenças neurológicas graves e câncer.

Na opinião do neurologista e neurocientista Massimo Corbo, diretor do Centro Clínico Nemo para a Pesquisa e Cura das Doenças Neurodegenerativas do Hospital Niguarda, de Milão, o estado emocional pode influenciar significativamente o estado geral de um paciente. “Na prática médica observamos que pessoas com vida ativa, que mantêm relações sociais e projetos, em geral, conseguem enfrentar melhor as patologias”. Não se pode deixar de lado, porém, o fato de que muitas doenças do sistema nervoso central causam alterações emocionais. E ainda que não haja degeneração de circuitos neurais, como ser “positivo”, esperançoso e confiante quando temos dor? A própria relação entre desconforto físico e mental costuma ser muito tênue. Afinal, o que dói mais, o corpo ou a alma? O neurofisiolgista brasileiro Shigueo Yonekura, especialista em distúrbios do sono pelo Hospital das Clinicas da Universidade de São Paulo (HC_USP), pó exemplo, observa que cefaléia, dor facial e muscular podem ser sintomas de depressão. Estimativas apontam que 75% dos pacientes com o problema apresentam dores físicas. A insônia também é um sintoma importante do transtorno depressivo. Geralmente é uma insônia matinal com despertar precoce por volta das 4 h, com grandes dificuldades para voltar a dormir. Adormecer durante a noite também passa a ser complicado. Esse quadro costuma ser acompanhado de sintomas como desânimo, falta de energia, tristeza, perda do interesse sexual, muitas vezes associados a alterações do apetite e forte sentimento de fracasso, bem como dificuldades de tomar decisões, inquietação boca seca e constipação.

O professor do departamento de Neurociências da Universidade de Turim, Alessandro Mauro, diretor da Divisão de Neurologia e Reabilitação Neurológica do Hospital San Giuseppe de Piancavallo, em Verbania, considera a importância da emoção na formação das respostas endógenas – particularmente as imunitárias aos agentes patogênicos -, mas reconhece que dificilmente representa o elemento decisivo para determinar o prognóstico em longo prazo. Em sua opinião, a evolução das doenças e, particularmente, das degenerativas, é determinada por um conjunto complexo d elementos, entre os quais o estado emocional, que interagem de forma dinâmica, com uma intensidade que varia de acordo com o momento. “Na realidade, ainda sabemos pouco sobre as bases biológicas do processo mentais, portanto a descrição das relações entre as interações fisiológicas, patológicas ou não, é vaga. Penso que este estudo só terá sucesso se a mentalidade dualista de corpos e mente separados for abandonada, pois oferece respostas simplistas e dificulta o estudo científico de fenômenos mais complexos”.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Em busca da Cura_4/9

Matéria dividida em 9 postagens – nos dias 05, 07, 10, 12, 14, 17, 19, 21 e 24 de Outubro

Por Pierangelo Garzia - Revista Mente & Cérebro n° 220, maio/2011, págs. 28 a 35

A medicina reconhece casos de pacientes terminais que, contrariando prognósticos, sobreviveram por muitos anos – um mistério que a ciência ainda não consegue explicar

O milagre, por sua própria natureza, seria algo único e imprevisível. Porém, segundo o psicanalista italiano Emilio Servadio, que há anos estuda o tema, essa definição é duvidosa, pois está vinculada a um contexto histórico particular. O senso comum considera “milagre” qualquer fato que cause surpresa por ultrapassar o limite da previsão esperada dos acontecimentos ou por aparentar ir além das possibilidades da ação humana. Servadio contradiz esse conceito: para ele, a surpresa pode ser provocada por um truque ilusionista, como o aparecimento totalmente incompreensível de objetos nas mãos do mágico. Ele lembra que há pouco mai s de um século, voar com veículos mais pesados que o ar teria sido considerado um empreendimento impossível, talvez milagroso, assim como hoje pode parecer, por exemplo, a cura espontânea de uma doença grave. Logo, o milagre é um fenômeno que não pode ser explicado segundo as leis naturais conhecidas, de forma que ele só pode ser constatado em outro momento histórico, após complexa investigação. Não podemos deixar de pensar, portanto, que no caso de uma cura aparentemente milagrosa tenham interferido fatores próprios do organismo que apenas uma profunda investigação clínica – talvez, mas não necessariamente – esclareceria. Afinal, o avanço da medicina se baseia atualmente no estudo das doenças, mas também no processo de melhora, e ainda Ana manutenção do estado de saúde por meio da prevenção.

Embora as crenças (ou descrenças) sejam aspectos importantes da vida de uma pessoa – e em grande parte determinem sua relação consigo e com os outros, influindo em hábitos que afetam sua saúde e até no grau de adesão ao tratamento -, anamneses (relatórios detalhados de sintomas de histórico do paciente) e fichas clínicas invariavelmente trazem informações limitadas sobre essa área. Raros são os serviços de saúde que levam em conta a relação do doente com sua fé. De acordo com alguns cientistas, esses dados deveriam ser observados. E a intervenção milagrosa, considerada como algo pouco provável – mas plausível. Para o físico nuclear Furio Gramatica, responsável pelo pólo tecnológico do hospital católico Instituto de Internação e Tratamento de Caráter Científico Santa Maria Nascente (RCCS, do italiano Instituto Di Ricovero e Cura a Carattere para a Pesquisa Nuclear, de Genebra, o Cern (a sigla vem do antigo nome da organização Conseil Europeenne pour La Recherceh Nucléaire), ele cita um de seus livros preferidos, Planolândia, um romance de muitas dimensões, escrito em 1822 e pulicado no Brasil pela Conrad, em 2002. O autor, o reverendo Edwin Abbott, apresenta em sua obra um mundo plano, onde os habitantes são figuras geométricas para as quais a realidade tem duas dimensões. Um dia, um quadrado inteligente e sensível sente uma batida de alguma coisa que não vê, um fenômeno aparentemente inexplicável para a concepção de realidade daquele mundo; trata-se de uma bola. Dessa forma, o protagonista descobre que sua concepção de realidade é míope. Ele passa então a difundir esta notícia excepcional entre seus semelhantes, mas ao mesmo tempo é tomado por louco e é preso. E mesmo restrito a quatro paredes, está livre para acreditar na existência de uma realidade mais ampla que transcende a experiência quotidiana.

Gramatica observa que assim como na física, a religião se baseia no raciocínio de que o universo é constituído por matéria e energia e essas categorias estão intimamente relacionadas. “Mas a realidade não é constituída somente pelo mundo das moléculas; na religião consideramos também a dimensão espiritual, que confere sentido `s outras duas”, afirma. Para o físico, o milagre é uma intromissão – incomum – do futuro no presente, um intercâmbio tangível, lícito e Inteligível. Ele não vê contradição entre ciência e fé, entre leis da natureza e milagres. O que falta, provavelmente, é entender melhor o universo – dentro e fora de nós.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Em busca da Cura_3/9

Matéria dividida em 9 postagens – nos dias 05, 07, 10, 12, 14, 17, 19, 21 e 24 de Outubro

Por Pierangelo Garzia - Revista Mente & Cérebro n° 220, maio/2011, págs. 28 a 35

Não raro, mesmo nos dias de hoje, ao ter de passar por intervenções clínicas é comum que pacientes e seus familiares – mesmo aqueles que não seguem uma religião específica – recorram a orações. Não por acaso a prece terem sido foco de muitas pesquisas sobre saúde e espiritualidade. Embora até o momento não tenha sido constatada uma relação comprovadamente inequívoca entre “orações por intercessão” (feitas por um grupo religioso para uma pessoa em especial e recuperação da saúde, a possibilidade de que haja efeito psicológico benéfico na prece parece bastante provável. As pesquisas de Koening indicam que a prática costuma trazer sensação de bem-estar, confiança e relaxamento. Ele acredita que o ato de rezar estimula mecanismos sutis do psiquismo que, se forem compreendidos mais a fundo, poderiam adquirir grande importância no tratamento das enfermidades. Em um estudo com 337 pacientes que estavam internados nos setores de clínica geral, cardiologia e neurologia do centro médico da Universidade Duke, quase 90% contaram que rezavam. Mas de 40% consideravam a fé como a principal fonte e conforto, esperança e significado, o que lhes oferecia melhores condições para enfrentar a doença. Esse ponto de vista foi ainda mais expressivo entre pacientes com doenças crônicas ou em estado considerado terminal.

Entretanto, na contramão dos indícios dos benefícios da crença espiritual, um estudo publicado no The American Heart Journal em 2006 sugere até que as preces podem, em alguns casos, afetar pacientes de maneira negativa. Conduzido pelo cardiologista Herbert Benson, do Mind Body Institute da Universidade Harvard, o trabalho durou dez anos, durantes os quais foram avaliados 1.800 pacientes que passaram por cirurgias cardíacas em hospitais americanos. Eles foram divididos em três grupos: os integrantes do primeiro sabiam que pessoas rezavam por eles; outro grupo recebia as preces sem saber, e os participantes do último grupo, de controle, não tinham pessoas orando por sua saúde. Voluntários de congregações cristãs direcionavam (usando os prenomes dos pacientes e as iniciais dos seus sobrenomes) a prece “por uma cirurgia bem-sucedida com uma recuperação rápida, saudável e sem complicações”. Ao fim do experimento, os pesquisadores compararam os resultados dos três grupos e não detectaram diferenças na recuperação dos pacientes. Observaram, porém, que os que sabiam que receberiam orações tiveram mais complicações pós-operatórias, como arritmias cardíacas. Segundo os pesquisadores, essa reação pode ter sido causada não pelos efeitos da prece em si, mas pela ansiedade e expectativa de uma melhora rápida favorecida pelas orações.

Ao longo da história, cientistas, teólogos e pessoas comuns se perguntaram o que pode ser definido como “milagroso”. Segundo o geneticista Massimo Pigliucci, da Universidade Stony Brook, nos Estados Unidos, podemos chamar de milagre, por exemplo, casos de pacientes terminais de câncer que, apesar do prognóstico de poucos meses de vida, conseguem viver em boas condições por vários anos. Tais registros, no entanto, são bastante raros. “Essas estatísticas são feitas com base em grandes populações de pacientes: sobreviver além da média simplesmente significa que, por uma série de motivos complexos, como idade, estado geral de saúde, genética, pura sorte ou qualquer fator que nossa ciência ainda não consegue supor, a posição na curva que descreve a mortalidade causada por uma doença simplesmente se desvia da média, afirma Pigliucci.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Em busca da Cura_2/9

Matéria dividida em 9 postagens – nos dias 05, 07, 10, 12, 14, 17, 19, 21 e 24 de Outubro

Por Pierangelo Garzia - Revista Mente & Cérebro n° 220, maio/2011, págs. 28 a 35


O acompanhamento de pessoas por mais de 20 anos mostra que a crença em uma “força maior” pode estar relacionada à melhora das funções imunológicas e à longevidade.

Grande parte deles tem revelado que a fé e o exercício da espiritualidade podem estimular habilidades mentais capazes de melhorar a saúde. O Psiquiatra Harold Koening, diretor do Centro de Religião, Espiritualidade e Saúde da Universidade Duke, nos Estados Unidos, chegou a mapear 700 pesquisas sobre o tema. Cerca de 500 trabalhos apontavam ligações entre crença religiosa e bem-estar físico. Entrevistados que afirmaram acreditar em “uma força maior” apresentaram, em média, melhor função imunológica, níveis mais baixos de colesterol, boa qualidade do sono e menor pressão arterial em comparação aos que se declararam céticos. Koening destaca os resultados de dois estudos prospectivos sobre longevidade (que envolveram acompanhamento 23 anos e 31 anos, respectivamente, após o início da pesquisa); pessoas que exercem uma prática religiosa regular vivem em média sete anos mais – efeito semelhante ao de não fumar sobre a expectativa de vida.

A religiosidade também tem grande influência sobre as decisões dos pacientes que enfrentam tratamentos de saúde complicados. O Journal of Clinical Oncology publicou em julho do ano passado um estudo realizado com 100 pacientes com câncer de pulmão em estado avançado, seus parentes próximos e 257 oncologistas. Os pesquisadores pediram aos participantes para classificar, em ordem de importância, sete fatores que poderiam influenciar sua decisão de enfrentar a quimioterapia, considerando toas as incertezas e desconfortos do tratamento: recomendação do oncologista, fé em Deus, eficiência do procedimento para curar a doença, efeitos colaterais, recomendação do médica da família, pedido do cônjuge, pedido dos filhos. Os três grupos (pacientes, família e médicos) classificaram a recomendação do oncologista como mais importante. No entanto, enquanto os dois primeiros colocaram a fé em Deus em segundo lugar, os oncologistas consideraram esse quesito o menos importante. Esse estudo sugere que os profissionais de saúde muitas vezes subestimam o papel que a religiosidade tem sobre a postura dos pacientes.

O curioso, porém, é que a própria medicina e os processos terapêuticos têm raízes na magia e na religião. Os xamãs, os reis taumaturgos e os santos – como Cosme e Damião, os chamados “gêmeos curadores” – são os “antepassados” dos clínicos atuais. Os hospitais da Idade Média, inicialmente concebidos como refúgios para idosos, peregrinos e enfermos, eram construídos e administrados por religiosos. A prática de cultivar, conservar e estudar as propriedades medicinais das ervas (que deu origem à atual farmacologia) teve início nos mosteiros. Mulheres que desenvolveriam essa sabedoria, fugindo ao controle da Igreja Católica, eram consideras bruxas perigosas – seu saber era ameaçador. Afinal, a habilidade de aliviar sofrimentos conferia poder. O ato de cuidar e, em especial, de curar sempre foi considerado divino, sobrenatural, mágico – haja vista o prestígio que os médicos ainda detêm.


COSME E DAMIÃO, os "santos gêmeos": várias religiões
atribuem a eles profundos conhecimentos médicos e
poder para tratar doenças

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Em busca da Cura_1/9

Matéria dividida em 9 postagens – nos dias 05, 07, 10, 12, 14, 17, 19, 21 e 24 de Outubro

A Ciência ainda não explica o que os religiosos chamam de “Milagre”, mas estudos têm mostrado que, em alguns casos, a fé pode estimular habilidades mentais e ajudar a melhorar a saúde.

Por Pierangelo Garzia - Revista Mente & Cérebro n° 220, maio/2011, págs. 28 a 35



Santuário em Londres: todos os anos, mais de 1 milhão de peregrinos
visita o local onde teriam ocorrido as aparições da Virgem Maria

Seria preciso um milagre”. Ouvir essas palavras de um médico quando os recursos científicos já não são suficientes para combater uma doença costuma trazer enorme desalento. Nessas horas, independentemente da crença, muitos de nós gostaríamos de contar com uma intervenção providencial e inexplicável. No campo da medicina, a palavra “milagre” refere-se à remissão espontânea e surpreendente de uma patologia grave, degenerativa ou terminal. Algo extremamente raro e improvável, porém possível, como demonstram alguns casos. O registro mais recente de cura se explicação científica é o da dona de casa italiana Antonia Raco, de 51 anos. Diagnosticada com esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença neurodegenerativa, a paciente afirma que deixou de manifestar sintomas - que foi atestado pelos médicos – após ter feito uma peregrinação ao santuário de Lourdes, na França.

Episódios como esse, em geral associados à tradição cristã, costuma causar alvoroço ao serem divulgados pela mídia. Mas também há testemunhos de curas e materializações entre seguidores do guru indiano Sathya Sai Baba e entre adeptos das práticas espirituais que requerem a ação de curandeiros. A maioria das hipóteses científicas para explicar esses processo gira em torno do poder a sugestão, da reação emocional que pode desencadear respostas físicas ou de relações entre mente, cérebro e corpo ainda desconhecidas. Afinal, seguindo a leitura “científica” e laica, se a emoção pode nos deixar doentes, ela também poderia nos curar. Durante a maior parte do século 20, inúmeros profissionais da área de saúde mental afirmaram categoricamente que seguir alguma religião – e ter fé – tinha efeitos irrelevantes sobre o bom funcionamento do organismo. Práticas religiosas muitas vezes foram vistas como sintoma ou fator de deflagração de surtos psicóticos. Embora em certas circunstâncias de fato essa relação exista e ao longo da história santos, líderes espirituais e místicos fundadores de religiões tenham exibido comportamentos que hoje poderiam ser classificados como psicopatológicos, tal relação não pode ser generalizada. A despeito das polêmicas – ou talvez até motivados por elas -, a partir dos anos 1970 surgiram cada vez mais estudos que vinculam espiritualidade e saúde.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Milagre ou intromissão no futuro?

Carta da Editora
Gláucia Leal

Revista Mente & Cérebro n° 220, maio/2011 - pg 3

Quem já acompanhou o sofrimento de uma pessoa querida abatendo-se dia após dia sob o efeito devastador de uma patologia neurodegenerativa, um câncer sem esperança de remissiva ou tenha testemunhado, impotente, a agonia de um animalzinho querido certamente ansiou por um milagre – ainda que, por princípio, não acreditasse nessa hipótese.

É compreensível que, em situações extremas, a tragédia íntima se junte ao clamor arqutípico, fazendo eco com a dor de tantos outros seres humanos que, pelo planeta afora, em variadas épocas, sofrem – sofreram e sofrerão – o confronto com a finitude inexorável. Não por acaso, uma das mais almejadas buscas humanas, ao longo do tempo, tem sido a habilidade de curar – tanto a si mesmo quanto ao outro.

Essa maravilhosa possibilidade é perseguida em mitos e lendas de várias culturs inclusive nos dias de hoje – quem nunca ouviu falar do personagem mutante Wolverine, que em o poder de se regenerar fisicamente? A capacidade miraculosa da cura teria de agir no âmbito molecular e conferindo aos beneficiados possivelmente a mais preciosa das dádivas: a combinação de tempo e saúde. Na verdade, é justamente na obtenção desse resultado que milhares de pesquisadores têm trabalhado tanto nas últimas décadas; na imbricação entre ciência e religião, porém, ainda há mais perguntas que respostas.

É impossível, porém, desprezar alguns dados côo os apresentados no artigo “Em busca da cura”, nesta edição. O acompanhamento de pessoas por mais de 20 anos mostrou, por exemplo, que a crença em “uma força maior” pode estar relacionada à melhora das funções imunológicas e à longevidade. Mas nem sempre a associação é tão linear; segundo outro estudo, pacientes cardíacos que sabiam que devotos rezavam por eles ficavam mais ansiosos que doentes nas mesmas condições que não tinham essa informação – e apresentavam mais complicações pós-operatórias. Ao mesmo tempo, casos (raros, é bem verdade) de desaparecimento de sintomas de forma inexplicável intrigam especialmente e levam a pensar que existam configurações de aspectos variados - e ainda enigmáticos – que predisponham o organismo à recuperação. Milagre? Talvez. Mas se há 150 anos alguém dissesse que seria possível voar de um país para outro em poucas horas, cruzando o oceano, ou que você falaria com outra pessoa, em tempo real, por meio de um aparelhinho que cabe na palma da mão, talvez imaginasse que isso só seria possível como resultado da intervenção divina. Faz sentido pensar, portanto, que o milagre seja “uma intromissão do futuro no presente”. Ou um jeito de dar contorno à ignorância e forjar um pouco de conforto...