sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Em busca da Cura_5/9

Matéria dividida em 9 postagens – nos dias 05, 07, 10, 12, 14, 17, 19, 21 e 24 de Outubro

Por Pierangelo Garzia - Revista Mente & Cérebro n° 220, maio/2011, págs. 28 a 35

Para alguns pesquisadores, o milagre pode ser entendido como uma intromissão do futuro no presente que, apesar de incomum, é tangível, lícita e intangível

DOR DE ALMA

No início do século passado, Sigmund Freud, criador da psicanálise, já falava de forma bastante convincente de uma misteriosa ligação entre a mente e o corpo. Atualmente, cada vez mais especialistas – mesmo os que não são adeptos de teorias psicanalíticas – reconhecem que nosso cérebro tem recursos ainda inexplorados e relações desconhecidas entre psique, sistema imunológico e sistema nervoso, capazes de nos oferecerem pistas para esclarecer curas aparentemente milagrosas – que, na verdade, seriam expressões de potencialidades autorregeneradoras do próprio organismo. Sabe-se que o bem-estar físico tem efeitos sobre os sentimentos, e que estes, por sua vez, têm certa repercussão no corpo. A constatação, porém, é limitada. Não há informações exatas sobre como e quando as emoções atuam no processo de cura, particularmente de doenças neurológicas graves e câncer.

Na opinião do neurologista e neurocientista Massimo Corbo, diretor do Centro Clínico Nemo para a Pesquisa e Cura das Doenças Neurodegenerativas do Hospital Niguarda, de Milão, o estado emocional pode influenciar significativamente o estado geral de um paciente. “Na prática médica observamos que pessoas com vida ativa, que mantêm relações sociais e projetos, em geral, conseguem enfrentar melhor as patologias”. Não se pode deixar de lado, porém, o fato de que muitas doenças do sistema nervoso central causam alterações emocionais. E ainda que não haja degeneração de circuitos neurais, como ser “positivo”, esperançoso e confiante quando temos dor? A própria relação entre desconforto físico e mental costuma ser muito tênue. Afinal, o que dói mais, o corpo ou a alma? O neurofisiolgista brasileiro Shigueo Yonekura, especialista em distúrbios do sono pelo Hospital das Clinicas da Universidade de São Paulo (HC_USP), pó exemplo, observa que cefaléia, dor facial e muscular podem ser sintomas de depressão. Estimativas apontam que 75% dos pacientes com o problema apresentam dores físicas. A insônia também é um sintoma importante do transtorno depressivo. Geralmente é uma insônia matinal com despertar precoce por volta das 4 h, com grandes dificuldades para voltar a dormir. Adormecer durante a noite também passa a ser complicado. Esse quadro costuma ser acompanhado de sintomas como desânimo, falta de energia, tristeza, perda do interesse sexual, muitas vezes associados a alterações do apetite e forte sentimento de fracasso, bem como dificuldades de tomar decisões, inquietação boca seca e constipação.

O professor do departamento de Neurociências da Universidade de Turim, Alessandro Mauro, diretor da Divisão de Neurologia e Reabilitação Neurológica do Hospital San Giuseppe de Piancavallo, em Verbania, considera a importância da emoção na formação das respostas endógenas – particularmente as imunitárias aos agentes patogênicos -, mas reconhece que dificilmente representa o elemento decisivo para determinar o prognóstico em longo prazo. Em sua opinião, a evolução das doenças e, particularmente, das degenerativas, é determinada por um conjunto complexo d elementos, entre os quais o estado emocional, que interagem de forma dinâmica, com uma intensidade que varia de acordo com o momento. “Na realidade, ainda sabemos pouco sobre as bases biológicas do processo mentais, portanto a descrição das relações entre as interações fisiológicas, patológicas ou não, é vaga. Penso que este estudo só terá sucesso se a mentalidade dualista de corpos e mente separados for abandonada, pois oferece respostas simplistas e dificulta o estudo científico de fenômenos mais complexos”.

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