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Por Pierangelo Garzia - Revista Mente & Cérebro n° 220, maio/2011, págs. 28 a 35
A psicanálise e a busca dos sentidos
Nos últimos anos, muitos especialistas têm discutido as nuances do conceito de religião. “Podemos defini-la como um sistema de significados centrado no sagrado que se torna a lente através da qual percebemos a realidade.”, propõe a psicóloga Israela Silberman, professora da Universidade Columbia, em artigo publicado no Journal of Socias Issues. Esse sistema, formado por crenças e expectativas, influencia a vida dos indivíduos, nas relações consigo mesmo e com os outros. E, para muitos, confere sentido à própria história do nascimento à morte e além.
No ensaio, O futuro de uma ilusão, de 1927, Freud diz que a religião surge da fragilidade humana e do reconhecimento, por parte do homem, de que é indefeso frente às forças da natureza e aos próprios anseio, que tantas vezes não compreende. William James aborda em As várias formas de experiência religiosa, de 1902, os aspectos da vivência psicológica, notando como isso pode ser fonte de serenidade para alguns e de tormento para outros. E Abraham Maslow descreve a tendência do homem a viver experiências transcendentais, consideradas de caráter religioso.
Em 1909, durante o VI Congresso Internacional de Psicologia, o pesquisador Theodore Flourmoy propôs dois princípios metodológicos para esse campo da psicologia: o da exclusão da transcendência (que prevê a abstenção dos juízos de valor metafísicos do conteúdo da crença) e o da interpretação biológica da religiosidade (segundo a qual a relação humana com sua crença deve ser estudada como um processo psicofísico, que se expressa por meio de comportamentos observáveis e interpretáveis).
“Freud sustentou que a origem do pensamento religioso estava vinculada, para cada indivíduo, às relações com o próprio pai”, diz o psicanalista Mario Aletti, professor e presidente da Sociedade Italiana de Psicologia da Religião. “Posteriormente, a psicanálise passou a valorizar ambas as figuras parentais e a trabalhar com a idéia da existência de outras relações simbólicas de filiação, nas quais o pai representa a ordem e o limite, mas também a promessa e a possibilidade de desenvolvimento”. O processo psicológico individual que nos leva a definir a ideia de Deus e inevitavelmente antropomorfizado, traduzido em uma linguagem metafórica e simbólica. “É comum que o crente identifique o ser divino com a idéia que tem de si mesmo, nesse sentido, a fé uma busca contínua por um objeto que é por definição latente, presente – mas não atingível, salienta o psicanalísta.
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