Revista Mente & Cérebro n° 220, maio/2011 - pg 3
Quem já acompanhou o sofrimento de uma pessoa querida abatendo-se dia após dia sob o efeito devastador de uma patologia neurodegenerativa, um câncer sem esperança de remissiva ou tenha testemunhado, impotente, a agonia de um animalzinho querido certamente ansiou por um milagre – ainda que, por princípio, não acreditasse nessa hipótese.
É compreensível que, em situações extremas, a tragédia íntima se junte ao clamor arqutípico, fazendo eco com a dor de tantos outros seres humanos que, pelo planeta afora, em variadas épocas, sofrem – sofreram e sofrerão – o confronto com a finitude inexorável. Não por acaso, uma das mais almejadas buscas humanas, ao longo do tempo, tem sido a habilidade de curar – tanto a si mesmo quanto ao outro.
Essa maravilhosa possibilidade é perseguida em mitos e lendas de várias culturs inclusive nos dias de hoje – quem nunca ouviu falar do personagem mutante Wolverine, que em o poder de se regenerar fisicamente? A capacidade miraculosa da cura teria de agir no âmbito molecular e conferindo aos beneficiados possivelmente a mais preciosa das dádivas: a combinação de tempo e saúde. Na verdade, é justamente na obtenção desse resultado que milhares de pesquisadores têm trabalhado tanto nas últimas décadas; na imbricação entre ciência e religião, porém, ainda há mais perguntas que respostas.
É impossível, porém, desprezar alguns dados côo os apresentados no artigo “Em busca da cura”, nesta edição. O acompanhamento de pessoas por mais de 20 anos mostrou, por exemplo, que a crença em “uma força maior” pode estar relacionada à melhora das funções imunológicas e à longevidade. Mas nem sempre a associação é tão linear; segundo outro estudo, pacientes cardíacos que sabiam que devotos rezavam por eles ficavam mais ansiosos que doentes nas mesmas condições que não tinham essa informação – e apresentavam mais complicações pós-operatórias. Ao mesmo tempo, casos (raros, é bem verdade) de desaparecimento de sintomas de forma inexplicável intrigam especialmente e levam a pensar que existam configurações de aspectos variados - e ainda enigmáticos – que predisponham o organismo à recuperação. Milagre? Talvez. Mas se há 150 anos alguém dissesse que seria possível voar de um país para outro em poucas horas, cruzando o oceano, ou que você falaria com outra pessoa, em tempo real, por meio de um aparelhinho que cabe na palma da mão, talvez imaginasse que isso só seria possível como resultado da intervenção divina. Faz sentido pensar, portanto, que o milagre seja “uma intromissão do futuro no presente”. Ou um jeito de dar contorno à ignorância e forjar um pouco de conforto...
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