Benedict Carey
(The New York Times)
Tradução de:
Celso Parciornik
Internet – A mudança cultural
pela qual passamos pode explicar os números. Hoje, jovens são
inundados por confissões pessoais e pela disponibilidade cada vez
mais pública de quase todo pensamento - via Facebook, Twitter e
outras mídias sociais. Se a postagem crônica em Facebook e Twitter
não é um exercício de neurose, então não é nada.
Além disso, características
atribuídas a neuróticos foram normalizadas, diz Peter N. Stearns,
historiador da Universidade George Mason em Virgínia. “Nos
tornamos tão acostumados a pessoas com preocupações constantes que
isso ficou obsoleto”.
O neurótico clássico continua entre
nós, claro – mas com mais companhia. Mais razão, segundo Stearns,
para preservar essa palavra que amplia a definição de normal no
melhor da tradição americana – preserva a privacidade, num
momento em que pode ser muito importante fazê-lo.
O historiador Edward Shorter argumenta
que em alguns casos, como desconectar distúrbios de ansiedade da
depressão, a precisão falha. Tristeza e preocupação são
parceiras íntimas para muitas pessoas que visitam psiquiatras e os
medicamentos conhecidos como antidepressivos são amplamente
receitados para ansiedade também.
O termo neurose abarca a ambos e
precede Freud em um século. Ele se referia originalmente a um
problema dos nervos, não da mente, em contrates direto com
“psicose”, que implica uma ruptura do pensamento lógico
característico da esquizofrenia. “Perdemos essa visão de doença
nervosa como uma doença do corpo inteiro, e agora a chamamos de
transtorno do humor, disse Shorter. “Dizer às pessoas que elas têm
um transtorno do humor as faz pensar que está tudo na cabaça,
quando, na verdade, o sentem em seu corpo”.
Honestamente, que não se atiraria na
chance de ter perspectivas menos danosas? Isso significa mais um voto
para neurose, como um estado mental ao qual podemos confiavelmente
retornar em tempos estranhos – se não no tratamento psiquiátrico,
ao menos entre amigos e colegas.