Benedict Carey
(The New York Times)
Tradução de:
Celso Parciornik
Algumas razões para “neurótico”
ter caído em desuso na linguagem coloquial são óbvias. A análise
freudiana perdeu seu domínio sobre o imaginário comum, assim como
na psiquiatria, e parte da linguagem de Freud perdeu o poder.
Os cientistas que definem distúrbios
mentais fatiaram a neurose em pedaços mais finos, como distúrbio do
pânico, ansiedade social e transtorno obsessivo-compulsivo – todos
termos que caíram no uso das pessoas comuns, para não mencionar os
grupos de usuários online, letras de rock e programas de TV.
Em 1994, após um debate áspero com
psicanalistas, os médicos que compilavam o Manuel de Diagnóstico e
Estatística, a enciclopédia da psiquiatria, tiraram a neurose do
livro. “Com o que sabemos hoje o termo parece obsoleto“, diz
Michael First, pesquisador de Columbia e ex-editor do manual.
“Com
o declínio geral da importância de Freud em nossa sociedade, o
termo foi ficando anacrônico.”
Mesmo assim, o desejo de precisão e o
declínio do pensamento freudiano não explicam por completo o
desaparecimento do neurótico. Os psiquiatras não moldam a linguagem
que usamos, afinal – nós todos o fazemos – e neurose tem ao
menos tanta aceitação quanto outros termos freudianos duráveis,
como ego e id.
A resposta pode residir em uma área na
qual o espírito do neurótico continua vivo: a pesquisa psicológica.
O “neuroticismo” é uma das “dimensões” do modelo de
personalidade. Ele é medido com um questionário simples, no qual as
pessoas reagem a declarações como “Eu me irrito facilmente” e
“Eu me aborreço com coisas”. Muitos desses questionários não
mudaram em adultos desde os anos ‘950. Mas estudos revelaram que,
entre universitários, os níveis de neuroticismo aumentaram até
20%.
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