sexta-feira, 8 de junho de 2012

Entre o Bem e o Mal_3/7


Por Sara Zimmermann, jornalista especializada em divulgação científica.

Da revista Mente & Cérebro n° 230, março/2012, págs. 25/31

Mau humor e injustiça

Nos últimos anos, um novo conceito ganhou contorno e chamou a atenção dos pesquisadores: o da equidade, que é o reconhecimento do princípio de que todas as pessoas têm direitos iguais. Essa ideia sustenta uma lógica: quem se sente tratado injustamente age de forma mais egoísta. Isso pôde se comprovado por pesquisadores da Universidade Stanford em 2010. Psicólogos pediram a voluntários que pensassem em uma situação na qual haviam sido injustiçados. Após sofrerem punição sem motivo na sala de aula ou receberem uma nota supostamente equivocada, ao alunos ficaram mais dispostos agir de forma egoísta do que pessoas do grupo de comparação, que haviam pensado em outra coisa., Em um questionário, as “almas feridas” se decidiram mais frequentemente em se próprio favor: doar sangue? Não, nem pensar. Tomar um longo banho relaxante, apesar da falta de água? Sem problema. Separar o lixo? Os outros que o façam.

Mesmo depois do término oficial do experimento, os “prejudicados” largaram utensílios sobre a mesa ou “se esqueceram” de devolver a caneta do coordenador da pesquisa com mais frequência. Os cientistas reforçam que essa oscilação comportamental não pode ser explicada apenas pela frustração. Mau humor não cria egoístas. Somente quando também somos tratados de forma injusta nos sentimos livres das obrigações morais costumeiras.

A busca pela equidade está tão profundamente ancorada no ser humano que às vezes nos leva a agir de forma irracional. Em seus experimentos, o cientista econômico Ernst Fehr, da Universidade de Zurique, demonstrou que se um participante do estudo tem a possibilidade de castigar adversários pelo comportamento egoísta com uma multa em dinheiro, por exemplo, ele recorre a esse recurso mesmo que a ação lhe traga desvantagem.

A discussão atual sobre a mudança climática global é um bom exemplo de quanto os outros influenciam nosso comportamento. Aqui, parece que não se trata apenas de quais normas valem – por exemplo: “isolamento térmico é importante!” -, mas também quantos de nossos semelhantes as respeitam. 

Quem mora em uma região onde cada vez mais casas são isoladas termicamente vai se comportar de forma semelhante – mesmo que não esteja convicto disso. Nos jogos de trocas de laboratório, os doadores fazem ofertas injustas quando saem que outros fizeram o mesmo antes deles. Mas se os primeiros jogadores respeitam as regras de equidade, seus sucessores fazem o mesmo. Essa situação pode nos fazer pensar na importância que o exemplo dos adultos comprovadamente tem para as crianças.  

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