Por Sara Zimmermann, jornalista
especializada em divulgação científica.
Da revista Mente & Cérebro n°
230, março/2012, págs. 25/31
Mau humor e injustiça
Nos últimos anos, um novo conceito
ganhou contorno e chamou a atenção dos pesquisadores: o da
equidade, que é o reconhecimento do princípio de que todas as
pessoas têm direitos iguais. Essa ideia sustenta uma lógica: quem
se sente tratado injustamente age de forma mais egoísta. Isso pôde
se comprovado por pesquisadores da Universidade Stanford em 2010.
Psicólogos pediram a voluntários que pensassem em uma situação na
qual haviam sido injustiçados. Após sofrerem punição sem motivo
na sala de aula ou receberem uma nota supostamente equivocada, ao
alunos ficaram mais dispostos agir de forma egoísta do que pessoas
do grupo de comparação, que haviam pensado em outra coisa., Em um
questionário, as “almas feridas” se decidiram mais
frequentemente em se próprio favor: doar sangue? Não, nem pensar.
Tomar um longo banho relaxante, apesar da falta de água? Sem
problema. Separar o lixo? Os outros que o façam.
Mesmo depois do término oficial do
experimento, os “prejudicados” largaram utensílios sobre a mesa
ou “se esqueceram” de devolver a caneta do coordenador da
pesquisa com mais frequência. Os cientistas reforçam que essa
oscilação comportamental não pode ser explicada apenas pela
frustração. Mau humor não cria egoístas. Somente quando também
somos tratados de forma injusta nos sentimos livres das obrigações
morais costumeiras.
A busca pela equidade está tão
profundamente ancorada no ser humano que às vezes nos leva a agir de
forma irracional. Em seus experimentos, o cientista econômico Ernst
Fehr, da Universidade de Zurique, demonstrou que se um participante
do estudo tem a possibilidade de castigar adversários pelo
comportamento egoísta com uma multa em dinheiro, por exemplo, ele
recorre a esse recurso mesmo que a ação lhe traga desvantagem.
A discussão atual sobre a mudança
climática global é um bom exemplo de quanto os outros influenciam
nosso comportamento. Aqui, parece que não se trata apenas de quais
normas valem – por exemplo: “isolamento térmico é importante!”
-, mas também quantos de nossos semelhantes as respeitam.
Quem mora
em uma região onde cada vez mais casas são isoladas termicamente
vai se comportar de forma semelhante – mesmo que não esteja
convicto disso. Nos jogos de trocas de laboratório, os doadores
fazem ofertas injustas quando saem que outros fizeram o mesmo antes
deles. Mas se os primeiros jogadores respeitam as regras de equidade,
seus sucessores fazem o mesmo. Essa situação pode nos fazer pensar
na importância que o exemplo dos adultos comprovadamente tem para as
crianças.
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