Por Sara Zimmermann, jornalista
especializada em divulgação científica.
Da revista Mente & Cérebro n°
230, março/2012, págs. 25/31
De olho em você
Mas não seria simplista pensar que só
agimos de forma altruísta porque queremos retribuir algo? Alguns
cientistas supõem que o mecanismo que nos leva a ser generosos em
relação às pessoas com as quais não nos relacionamos
frequentemente está associado ao ganho de prestígio que essa
atitude propicia. Como mostram as estatísticas, as pessoas se
beneficiam com a reputação social que constroem: àquele que dá
também é dado.
Psicólogos coordenados pela
pesquisadora Melissa Bateson, da Universidade de Newcastle, na
Grã-Bretanha, estudaram esse tema em 2006, recorrendo a um truque
simples – colaram a foto de um par de olhos em uma máquina de
bebidas automática e contaram o dinheiros que os estudantes jogavam
em uma caixa de doações colocada ao lado. E veja só: o valor foi
três vezes maior do que entre os estudantes que, no lugar dos olhos,
viram imagem de flores.
Se alguém está olhando, o lado bom do ser
humano se mostra mais facilmente.
E quando se trata de uma situação sem
paliativos? Será que na luta nua e crua pela sobrevivência não
mostramos inevitavelmente nossa face egoísta? Para responder a essa
pergunta, cientistas das universidades de Brisbane, na Austrália, e
de Zurique pesquisaram em arquivos internacionais de navios. Como os
passageiros de cruzeiros se comportam quando o navio está afundando?
Resposta: depende muito de quanto demora para o navio afundar! O
Titanic desapareceu depois de duas horas nas profundezas do
oceano – tempo suficiente para manter as normas altruístas:
mulheres e crianças primeiro! Seu um acidente, por outro lado, dura
apenas poucos minutos, ocorrem tumultos muito mais frequentemente.
Há algo que parece deixar poucas
dúvidas: o egoísmo é humano. À parte problemas de transporte
público e descaso das autoridades, isso pode ser observado
regularmente nas ruas, onde milhares de pessoas não abem mão de
usar o próprio carro, em geral sozinhas, e escolhem toda manhã o
caminho mais curto até o trabalho. Resultado: engarrafamento. Se, no
entanto, uma tropa de mais de 10 mil formigas tiver de passar por um
gargalo, isso não representa um empecilho. O que os animais fazem
diferente de nós? Mantém a formação de marcha sem hesitar, o que
lhes poupa o “preço da anarquia”, segundo físicos que simulam
fluxo de movimento em computadores: quem quer passar à frente do
outro acaba demorando mais no final das contas!
Mesmo quando as
formigas estão andando em um grande tumulto, mantém sua meta maior:
a coletividade. Talvez tenhamos algo a aprender com esses pequenos
seres.
ALTRUÍSMO – capacidade de
empenhar-se para o bem-estar alheio sem pensar em um ganho pessoal
EGOÍSMO – motivação de obter um
ganho exclusivamente para si, muitas vezes prejudicando outros
EQUIDADE – reconhecimento do
princípio de que todas as pessoas têm direitos iguais.
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