Os cientistas que definem
distúrbios mentais fatiaram a neurose em pedaços mais finos
Benedict Carey
(The New York Times)
Tradução de:
Celso Parciornik
Alguns arquétipos culturais saem do
palco com um floreio, outros pisando firme. Os colonialistas de
capacete, os poetas chapados por absinto e os gurus hippies
fundadores de utopias nos anos 1970 fizeram algum barulho, nem sempre
algum sentido, antes de serem engolidos pela história. Mas um tipo
moderno está seguindo para o passado sem estardalhaço, sem até sua
familiar lamúria – o neurótico.
Para uma geração de americanos do
pós-guerra, ser neurótico significava mais que ser ansioso, e era
diferente de exibir a histeria ou outros problemas de transtorno de
humor para os quais Freud usou o termo. Significava ser interessante
numa época em que a psicanálise reinava em meios intelectuais e
Woody Allen reinava nos cinemas.
O fato de ele pouco significar hoje em
dia é uma evidência da força com que a linguagem impulsiona a
percepção da batalha mental, tanto suas fontes como suas curas. Nos
últimos anos, os psiquiatras desenvolveram um vocabulário
especializado para descrever a ansiedade, o componente central da
neurose, e o público ganhou uma maior percepção de suas muitas
dimensões.
No processo, contudo, perdeu-se o
romantismo da neurose, além de sua concretização – a presença
incessante, queixosa, carente que um dia funcionou na mente coletiva
como uma voz interior que protegia contra o excesso de otimismo. Na
era atual, o neurótico seria uma companhia nervosa para dias
nervosos, pronto a oferecer doses de melancolia urbana hilariante.
“Eu ainda uso o termo de vez em
quando, mas ele não diz muito”, diz Barbara Milrod, professora de
psiquiatria no Weill Cornell Medical College. “Temos maneiras mais
específicas de descrever comportamento de inadaptação”.
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