Por Sara Zimmermann, jornalista
especializada em divulgação científica.
Da revista Mente & Cérebro n°
230, março/2012, págs. 25/31
Costumamos pensar que de um
lado estão o egoísmo, o fascínio pelo poder e a competição
desenfreada; do outro, o desprendimento, a solidariedade e o
altruísmo. Esses extremos, porém, estão mais próximos e mesclados
do que imaginamos. Pesquisadores acreditam que, inconscientemente,
procuramos mante rum equilíbrio ético – um bom “saldo positivo”
que nos permite cometer, às vezes, alguns “deslizes morais”.
Tom sai da agência bancária com
sentimentos ambíguos. Acabou de doar R$ 100 para uma organização
beneficente, mas percebe que não viu a fila quando se encaminhou
para o caixa e simplesmente passou na frente de todos. Enquanto
atravessa o saguão, sente os olhares reprovadores em sua direção.
“Ah, que posso fazer, afinal, já realizei uma boa ação”,
pensa. E termina se convencendo de que a sorte das pessoas que estão
morrendo de fome na África é mais importante que os 90 segundos que
roubou dos outros clientes do banco.
A liste de delitos “leves”
praticados por egoísmo é longa e se traduz em gestos corriqueiros,
como andar de ônibus sem pagar, tentar levar a melhor na estrada
trafegando pelo acostamento para fugir do trânsito ou sonegar
impostos. De maneira geral, julgamos o comportamento dos outros de
forma mais severa do que avaliamos o nosso – e quando se trata de
nos justificar tendemos a recorrer a todo tipo de argumento.
Porém, certamente a maioria das
pessoas concorda em sacrificar algumas coisas pelo bem geral.
Costumamos pagar impostos, doar sangue e ceder o lugar a idosos e
gestantes, por exemplo. Isso não é prova suficiente de altruísmo?
Mas algo é inegável: ninguém está sempre pronto a ajudar qualquer
pessoas, em qualquer circunstância, nem age sempre e
incondicionalmente de forma egoísta.
Porque em um mesmo dia somos capazes de
atitudes generosas e no momento seguinte desprezamos nossos
semelhantes, somos ríspidos ou até cruéis? “Nossas ações são
constantemente acompanhadas de um autojulgamento moral”, afirma a
psicóloga Sonya Sachdeve, pesquisadora da Universidade do Noroeste
em Evanston, em Illinois. Segundo ela, quando nos lançamos sobre o
balcão de uma loja disputando uma peça em promoção com outra
pessoa ou seguramos a porta para alguém passar, acrescentamos essas
ações a uma “lista mental” permanente de prós e contras –
mesmo que não tenhamos consciência clara de sua existência. A
pergunta geralmente não verbalizada que move essa “contabilidade
psíquica” é uma só: sou bom ou mau? Na esteira dela surge outro
questionamento: deve ser solidário ou apenas levar a melhor? A
resposta depende de como está nossa autoimagem no momento.
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