segunda-feira, 4 de junho de 2012

Entre o Bem e o Mal_1/7


Por Sara Zimmermann, jornalista especializada em divulgação científica.

Da revista Mente & Cérebro n° 230, março/2012, págs. 25/31

Costumamos pensar que de um lado estão o egoísmo, o fascínio pelo poder e a competição desenfreada; do outro, o desprendimento, a solidariedade e o altruísmo. Esses extremos, porém, estão mais próximos e mesclados do que imaginamos. Pesquisadores acreditam que, inconscientemente, procuramos mante rum equilíbrio ético – um bom “saldo positivo” que nos permite cometer, às vezes, alguns “deslizes morais”.

Tom sai da agência bancária com sentimentos ambíguos. Acabou de doar R$ 100 para uma organização beneficente, mas percebe que não viu a fila quando se encaminhou para o caixa e simplesmente passou na frente de todos. Enquanto atravessa o saguão, sente os olhares reprovadores em sua direção. “Ah, que posso fazer, afinal, já realizei uma boa ação”, pensa. E termina se convencendo de que a sorte das pessoas que estão morrendo de fome na África é mais importante que os 90 segundos que roubou dos outros clientes do banco.

A liste de delitos “leves” praticados por egoísmo é longa e se traduz em gestos corriqueiros, como andar de ônibus sem pagar, tentar levar a melhor na estrada trafegando pelo acostamento para fugir do trânsito ou sonegar impostos. De maneira geral, julgamos o comportamento dos outros de forma mais severa do que avaliamos o nosso – e quando se trata de nos justificar tendemos a recorrer a todo tipo de argumento.

Porém, certamente a maioria das pessoas concorda em sacrificar algumas coisas pelo bem geral. Costumamos pagar impostos, doar sangue e ceder o lugar a idosos e gestantes, por exemplo. Isso não é prova suficiente de altruísmo? Mas algo é inegável: ninguém está sempre pronto a ajudar qualquer pessoas, em qualquer circunstância, nem age sempre e incondicionalmente de forma egoísta.

Porque em um mesmo dia somos capazes de atitudes generosas e no momento seguinte desprezamos nossos semelhantes, somos ríspidos ou até cruéis? “Nossas ações são constantemente acompanhadas de um autojulgamento moral”, afirma a psicóloga Sonya Sachdeve, pesquisadora da Universidade do Noroeste em Evanston, em Illinois. Segundo ela, quando nos lançamos sobre o balcão de uma loja disputando uma peça em promoção com outra pessoa ou seguramos a porta para alguém passar, acrescentamos essas ações a uma “lista mental” permanente de prós e contras – mesmo que não tenhamos consciência clara de sua existência. A pergunta geralmente não verbalizada que move essa “contabilidade psíquica” é uma só: sou bom ou mau? Na esteira dela surge outro questionamento: deve ser solidário ou apenas levar a melhor? A resposta depende de como está nossa autoimagem no momento.  

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