Por Gláucia Leal, jornalista,
psicóloga e psicanalista, editora de Mente e Cérebro
Fonte: Revista Mente & Cérebro, n°
233, junho/2012
ENCABULADA, MAS COM BOM HUMOR: no filme francês
Românticos Anônimos (2010), a atriz Isabelle Carré interpreta Angélique, uma brilhante confeiteira que busca desesperadamente lidar com suas emoções descontroladas para se mostrar mais sociável e viver uma história de amor
Talvez a maioria das pessoas até goste
de pensar que valoriza a individualidade e as várias formas de ser,
mas costumamos admirar principalmente aqueles que ficam à vontade
quando recebem atenção nos grupos. Susan lembra que as escolas, os
locais de trabalho e mesmo a maioria das instituições religiosas
geralmente são projetados para pessoas que gostam de se expressar
publicamente. E faz uma comparação: os introvertidos estão para os
extrovertidos como as mulheres estavam para os homens na década de
50: são cidadãos com quantidade enorme de talento inexplorado. A
autora também chama a atenção dos leitores para a existência do
preconceito. “Durante as pesquisas para o livro um dos momentos
mais comoventes que vivi foi quando conheci um pastor evangélico qae
confidenciou que gostava de ficar sozinho, mas tinha vergonha disso e
receava que ‘Deus não estivesse satisfeito’ com ele em razão
dessa preferência, conta.
De fato, muitos introvertidos sentem
que há algo errado com eles e tentam se mostrar mais sociáveis. No
entanto, sempre que alguém tenta passar por algo que não é,
inevitavelmente “perde uma parte de si mesmo”, ao longo do
caminho. “Nesses casos, perde-se especialmente o senso de como
gastar seu tempo: os introvertidos sempre vão a festas e eventos
quando, na verdade, prefeririam ficar em casa, lendo, estudando,
inventando, meditando, desenvolvendo projetos, pensando, cozinhando
ou simplesmente se ocupando com atividades tranquilas”, observa
Susan.
Ela acredita que de um terço à metade
das pessoas em geral é introvertida – ou seja, se essa estimativa
estiver correta, significa que a introversão é traço de um em cada
dois ou três conhecidos seus. Mas, segundo a escritora, nem todos se
mostram assim porque aprendem desde cedo a se esforçar para agir
como extrovertidos.
“Nunca é uma boa ideia organizar a
sociedade de modo a desvalorizar tantas pessoas em razão de uma
característica, um modo de ser”, diz Susan Cain. Ela também
salienta o fato de haver uma série de noções equivocadas que
afetam igualmente introvertidos e extrovertidos. E cita um exemplo:
atualmente a maioria das escolas e empresas organiza trabalhadores e
estudantes em grupos, acreditando que a criatividade e a
produtividade surgem de um local sociável. Em sua opinião, isso é
um absurdo. “Nossos maiores artistas e pensadores, de Charles
Darwin a Pablo Picasso, na maior parte do tempo trabalharam
sozinhos”. Para Susan, as equipes muitas vezes representam
verdadeiras armadilhas, já que nesse sistema é difícil saber o que
cada um realmente pensa. “Somos animais tão sociais que
instintivamente imitamos as opiniões dos outros, muitas vezes sem
perceber que isso acontece quando discordamos conscientemente,
pagamos um preço psíquico,”, afirma.
O neurocientista Gregory Berns, da
Universidade de Emory, por exemplo, descobriu que pessoas que
discordam da “sabedoria” do grupo mostram ativação aumentada na
amígdala, um órgão do cérebro associado à dor da rejeição
social . Berns denominou esse processo “dor de independência”.
Susan cita as sessões de brainstorming, muitos populares em
empresas atualmente. As reuniões para promover a “tempestade de
ideias” foram introduzidas nas corporações americanas nos anos
50, por um executivo carismático do meio publicitário chamado Alex
Osbom. Hoje, pesquisadores como o psicólogo organizacional Adrian
Fumham contestam a eficácia dessa prática para a produção de
ideias criativas e, embora não considerem de forma alguma abolir o
trabalho em grupo argumentam que é importante usá-lo de forma mais
criteriosa.
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