sexta-feira, 6 de julho de 2012

Elogio à Timidez_3/7


Por Gláucia Leal, jornalista, psicóloga e psicanalista, editora de Mente e Cérebro
Fonte: Revista Mente & Cérebro, n° 233, junho/2012


ENCABULADA, MAS COM BOM HUMOR: no filme francês
Românticos Anônimos (2010), a atriz Isabelle Carré interpreta Angélique, uma brilhante confeiteira que busca desesperadamente lidar com suas emoções descontroladas para se mostrar mais sociável e viver uma história de amor

Talvez a maioria das pessoas até goste de pensar que valoriza a individualidade e as várias formas de ser, mas costumamos admirar principalmente aqueles que ficam à vontade quando recebem atenção nos grupos. Susan lembra que as escolas, os locais de trabalho e mesmo a maioria das instituições religiosas geralmente são projetados para pessoas que gostam de se expressar publicamente. E faz uma comparação: os introvertidos estão para os extrovertidos como as mulheres estavam para os homens na década de 50: são cidadãos com quantidade enorme de talento inexplorado. A autora também chama a atenção dos leitores para a existência do preconceito. “Durante as pesquisas para o livro um dos momentos mais comoventes que vivi foi quando conheci um pastor evangélico qae confidenciou que gostava de ficar sozinho, mas tinha vergonha disso e receava que ‘Deus não estivesse satisfeito’ com ele em razão dessa preferência, conta.

De fato, muitos introvertidos sentem que há algo errado com eles e tentam se mostrar mais sociáveis. No entanto, sempre que alguém tenta passar por algo que não é, inevitavelmente “perde uma parte de si mesmo”, ao longo do caminho. “Nesses casos, perde-se especialmente o senso de como gastar seu tempo: os introvertidos sempre vão a festas e eventos quando, na verdade, prefeririam ficar em casa, lendo, estudando, inventando, meditando, desenvolvendo projetos, pensando, cozinhando ou simplesmente se ocupando com atividades tranquilas”, observa Susan.

Ela acredita que de um terço à metade das pessoas em geral é introvertida – ou seja, se essa estimativa estiver correta, significa que a introversão é traço de um em cada dois ou três conhecidos seus. Mas, segundo a escritora, nem todos se mostram assim porque aprendem desde cedo a se esforçar para agir como extrovertidos.

“Nunca é uma boa ideia organizar a sociedade de modo a desvalorizar tantas pessoas em razão de uma característica, um modo de ser”, diz Susan Cain. Ela também salienta o fato de haver uma série de noções equivocadas que afetam igualmente introvertidos e extrovertidos. E cita um exemplo: atualmente a maioria das escolas e empresas organiza trabalhadores e estudantes em grupos, acreditando que a criatividade e a produtividade surgem de um local sociável. Em sua opinião, isso é um absurdo. “Nossos maiores artistas e pensadores, de Charles Darwin a Pablo Picasso, na maior parte do tempo trabalharam sozinhos”. Para Susan, as equipes muitas vezes representam verdadeiras armadilhas, já que nesse sistema é difícil saber o que cada um realmente pensa. “Somos animais tão sociais que instintivamente imitamos as opiniões dos outros, muitas vezes sem perceber que isso acontece quando discordamos conscientemente, pagamos um preço psíquico,”, afirma.

O neurocientista Gregory Berns, da Universidade de Emory, por exemplo, descobriu que pessoas que discordam da “sabedoria” do grupo mostram ativação aumentada na amígdala, um órgão do cérebro associado à dor da rejeição social . Berns denominou esse processo “dor de independência”. Susan cita as sessões de brainstorming, muitos populares em empresas atualmente. As reuniões para promover a “tempestade de ideias” foram introduzidas nas corporações americanas nos anos 50, por um executivo carismático do meio publicitário chamado Alex Osbom. Hoje, pesquisadores como o psicólogo organizacional Adrian Fumham contestam a eficácia dessa prática para a produção de ideias criativas e, embora não considerem de forma alguma abolir o trabalho em grupo argumentam que é importante usá-lo de forma mais criteriosa.  

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