segunda-feira, 30 de julho de 2012

Quietos sim. E daí?_6/8


Por Susan Cain – Escritora e Consultora empresarial formada em direito pelas Universidades de princeton e Harvard. Este artigo foi adaptado do original “O Poder dos Quietos” (Agir, 2012) com a autorização da Editora.

Da revista Mente & Cérebro n° 233, Junho/2012

Marketing Pessoal

Possivelmente cometemos um erro grave ao abraçar o ideal da extroversão tão inconsequentemente. Algumas das maiores descobertas da ciência, os grandes insights, a arte, as invenções – desde a teoria da evolução até os girassóis de Van Gogh e os computadores pessoais – vieram de pessoas quietas que sabiam como se comunicar com seu mundo interior. Sem introvertidos, o mundo não teria, por exemplo, a teoria da gravidade, de Isaac Newton, os Noturnos, de Frédéric Chopin, Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, Peter Pan, de J.M.Barrie, 1984 e a A revolução dos bichos, de George Orwell, o Google, idealizado por Larry Page, ou mesmo o personagem Harry Potter, de J.K.Rowling.

Como escreveu o jornalista científico Winifred Gallaghe, “a glória da disposição que faz com que as pessoas parem para considerar estímulos em vez de render-se a eles é sua longa associação com conquistas intelectuais e artísticas. Nem o E=mc² de Einstein nem Paraíso perdido, de John Milton, foram produzidos por festeiros”.

Assim, nas escolas infantis, cada vez mais as mesas das salas de aula são arrumadas em forma de concha, uma disposição para encorajar o aprendizado em grupo, e pesquisas sugerem que a maioria dos professores pensa que o aluno ideal é extrovertido (mas não a ponto de atrapalhar a aula). Quando adultos, muitos de nós trabalham para empresas que insistem nos grupos, em escritórios sem paredes para valorizar “um bom relacionamento interpessoal”. E, não raro, para avançarmos na carreira, é preciso se autopromover – trata-se do famoso “marketing pessoal,”, mais decisivo para o sucesso do que a própria competência profissional.

Na contramão dessa cultura, os “quietos” sofrem profunda dor psicológica causada pelo preconceito contra eles. Quando crianças, por exemplo, muitos podem ter ouvido seus pais s e desculparem pela timidez do filho. É possível também que tenham sido estimulados a “sair da concha” - expressão, aliás, que não valoriza o fato de que alguns animais naturalmente carregam seu abrigo aonde que se vão, assim como alguns humanos. Quando adulto, talvez o introvertido sinta uma ponta de culpa quando recusa um convite para jantar por preferir ficar em casa para lendo um bom livro. Ou talvez goste de comer sozinho em restaurantes – mas poderia passar bem melhor sem os olhares de pena dos outros clientes, comovidos com sua “solidão”.

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