Por Susan Cain – Escritora
e Consultora empresarial formada em direito pelas Universidades de
princeton e Harvard. Este artigo foi adaptado do original “O Poder
dos Quietos” (Agir, 2012) com a autorização da Editora.
Da revista Mente &
Cérebro n° 233, Junho/2012
Marketing Pessoal
Possivelmente cometemos um erro grave
ao abraçar o ideal da extroversão tão inconsequentemente. Algumas
das maiores descobertas da ciência, os grandes insights, a arte, as
invenções – desde a teoria da evolução até os girassóis de
Van Gogh e os computadores pessoais – vieram de pessoas quietas que
sabiam como se comunicar com seu mundo interior. Sem introvertidos, o
mundo não teria, por exemplo, a teoria da gravidade, de Isaac
Newton, os Noturnos, de Frédéric Chopin, Em busca do tempo perdido,
de Marcel Proust, Peter Pan, de J.M.Barrie, 1984 e a A revolução
dos bichos, de George Orwell, o Google, idealizado por Larry Page, ou
mesmo o personagem Harry Potter, de J.K.Rowling.
Como escreveu o jornalista científico
Winifred Gallaghe, “a glória da disposição que faz com que as
pessoas parem para considerar estímulos em vez de render-se a eles é
sua longa associação com conquistas intelectuais e artísticas. Nem
o E=mc² de Einstein nem Paraíso perdido, de John Milton, foram
produzidos por festeiros”.
Assim, nas escolas infantis, cada vez
mais as mesas das salas de aula são arrumadas em forma de concha,
uma disposição para encorajar o aprendizado em grupo, e pesquisas
sugerem que a maioria dos professores pensa que o aluno ideal é
extrovertido (mas não a ponto de atrapalhar a aula). Quando adultos,
muitos de nós trabalham para empresas que insistem nos grupos, em
escritórios sem paredes para valorizar “um bom relacionamento
interpessoal”. E, não raro, para avançarmos na carreira, é
preciso se autopromover – trata-se do famoso “marketing
pessoal,”, mais decisivo para o sucesso do que a própria
competência profissional.
Na contramão dessa cultura, os
“quietos” sofrem profunda dor psicológica causada pelo
preconceito contra eles. Quando crianças, por exemplo, muitos podem
ter ouvido seus pais s e desculparem pela timidez do filho. É
possível também que tenham sido estimulados a “sair da concha”
- expressão, aliás, que não valoriza o fato de que alguns animais
naturalmente carregam seu abrigo aonde que se vão, assim como alguns
humanos. Quando adulto, talvez o introvertido sinta uma ponta de
culpa quando recusa um convite para jantar por preferir ficar em casa
para lendo um bom livro. Ou talvez goste de comer sozinho em
restaurantes – mas poderia passar bem melhor sem os olhares de pena
dos outros clientes, comovidos com sua “solidão”.
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