Por Gláucia Leal, jornalista,
psicóloga e psicanalista, editora de Mente e Cérebro
Fonte: Revista Mente & Cérebro, n°
233, junho/2012
"Em nossa cultura, os caracóis não são considerados animais valentes,
e ficamos constantemente exortando as pessoas a 'sair de sua concha',
mas levar sua casa com você aonde quer que vá
revela muitas coisas boas", diz Susan Cain
Até os bichos
“A coisa mais surpreendente e
fascinante que aprendi ao desenvolver o projeto desse livro foi que
há ‘introvertidos’ e ‘extrovertidos’ em todo o reino animal
– chegando até ao nível das moscas-das-frutas”, diz Susan. O
biólogo evolucionista David Sloan Wilson especula que os dois
“tipos” evoluíram usando estratégias de autopreservação muito
diferentes. Animais introvertidos se mantém à margem e sobrevivem
quando os predadores surgem. Os “extrovertidos” vagueiam e
exploram, por isso se saem melhor quando o alimento é escasso.
Fazendo uma analogia, é possível dizer que o mesmo acontece com os
seres humanos.
Talvez um dos maiores equívocos a
respeito dos introvertidos seja imaginar que seu jeito tímido
signifique rispidez ou falta de afeto pelas pessoas. “Nós não
somos antissociais, apenas somos socialmente diferentes”, diz
Susan, que considera fazer parte desse time. “Tenho diversas outras
características de introvertida, como pensar antes de falar, não
gosta de conflitos e facilidade de concentração , mas não consigo
viver sem minha família e amigos íntimos, porém, em muitos
momentos aprecio estar só”.
A introversão também abrange
qualidades irritantes, é claro. Por exemplo, a maioria das pessoas
que tem esse traço marcante – embora não todas – dificilmente
farão um discurso ou uma apresentação para uma plateia
desconhecida sem ficar aterrorizada, mesmo que já tenham passado por
experiência similar várias vezes. Por outro lado, a introversão
pode ser uma grande força, que garante uma vida interior rica, a
ponto de essas pessoas raramente ficarem aborrecidas por estarem
sozinhas. Surge aí um paradoxo; por conta disso, não costumam se
sentir solitárias, como se soubessem que, não importa o caos que
tom conta do ambiente, sempre é possível se voltar para a interior
de si mesmas.
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