quarta-feira, 11 de julho de 2012

Elogio à Timidez_5/7

Por Gláucia Leal, jornalista, psicóloga e psicanalista, editora de Mente e Cérebro
Fonte: Revista Mente & Cérebro, n° 233, junho/2012


"Em nossa cultura, os caracóis não são considerados animais valentes, 
e ficamos constantemente exortando as pessoas a 'sair de sua concha', 
mas levar sua casa com você aonde quer que vá
 revela muitas coisas boas", diz Susan Cain

Até os bichos

“A coisa mais surpreendente e fascinante que aprendi ao desenvolver o projeto desse livro foi que há ‘introvertidos’ e ‘extrovertidos’ em todo o reino animal – chegando até ao nível das moscas-das-frutas”, diz Susan. O biólogo evolucionista David Sloan Wilson especula que os dois “tipos” evoluíram usando estratégias de autopreservação muito diferentes. Animais introvertidos se mantém à margem e sobrevivem quando os predadores surgem. Os “extrovertidos” vagueiam e exploram, por isso se saem melhor quando o alimento é escasso. Fazendo uma analogia, é possível dizer que o mesmo acontece com os seres humanos.

Talvez um dos maiores equívocos a respeito dos introvertidos seja imaginar que seu jeito tímido signifique rispidez ou falta de afeto pelas pessoas. “Nós não somos antissociais, apenas somos socialmente diferentes”, diz Susan, que considera fazer parte desse time. “Tenho diversas outras características de introvertida, como pensar antes de falar, não gosta de conflitos e facilidade de concentração , mas não consigo viver sem minha família e amigos íntimos, porém, em muitos momentos aprecio estar só”.

A introversão também abrange qualidades irritantes, é claro. Por exemplo, a maioria das pessoas que tem esse traço marcante – embora não todas – dificilmente farão um discurso ou uma apresentação para uma plateia desconhecida sem ficar aterrorizada, mesmo que já tenham passado por experiência similar várias vezes. Por outro lado, a introversão pode ser uma grande força, que garante uma vida interior rica, a ponto de essas pessoas raramente ficarem aborrecidas por estarem sozinhas. Surge aí um paradoxo; por conta disso, não costumam se sentir solitárias, como se soubessem que, não importa o caos que tom conta do ambiente, sempre é possível se voltar para a interior de si mesmas.

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