Por Susan Cain – Escritora
e Consultora empresarial formada em direito pelas Universidades de
princeton e Harvard. Este artigo foi adaptado do original “O Poder
dos Quietos” (Agir, 2012) com a autorização da Editora.
Da revista Mente &
Cérebro n° 233, Junho/2012
A mulher que ousou dizer
não
Montgromery, Alabama, Estados Unidos.
Primeiro de dezembro de 1955. Começo da noite. Um ônibus para no
ponto e uma mulher de uns 40 anos, cuidadosamente vestida, sobe nele.
Ela anda de coluna ereta, apesar de ter passado o dia trabalhando no
porão sombrio da alfaiataria da loja de departamentos da cidade.
Seus pés estão inchados e os ombros doem. Ela se senta na primeira
fileira de bancos reservado aos negros e assiste quieta ao ônibus
encher-se de passageiros, até que o motorista ordena que ela ceda o
lugar a um homem branco.
A mulher pronuncia uma única palavra
que deslancha um dos mais importantes protestos pelos direitos civis
do século 20, uma palavra que ajuda os Estados Unidos a se tornar um
país melhor. A palavra é “não”.
O motorista ameaça mandar prendê-la.
“Você pode fazer isso”, disse Rosa Parks. Um policial que
acabara de chegar pergunta a ela por que não se levanta. “Por que
vocês nos humilham?”, responde, simplesmente. “Não sei, mas a
lei é a lei e você está presa.”
Na tarde de seu julgamento e condenação
por atentado à ordem pública, a Associação para o Desenvolvimento
de Montgromery promoveu um protesto a favor de Rosa na Igreja Batista
de Holt Street, na parte mais pobre da cidade. Cinco mil pessoas se
reuniram para apoiar o solitário ato de coragem daquela mulher. Elas
se espremeram dentro da igreja até que os bancos não fossem mais
suficientes. O resto esperou pacientemente do lado de fora, ouvindo
através de alto-falantes. O reverendo Martin Luther KING Jr.
Dirigiu-se à multidão: “Chega uma hora em que as pessoas ficam
cansadas de serem empurradas para fora do brilho do sol de julho e de
serem abandonadas em meio ao penetrante frio de uma montanha em
novembro”.
Ele elogia a coragem de Rosa e a
abraça. A mulher fica de pé em silêncio; apenas sua presença é o
bastante para animar a multidão. A associação lança na cidade um
boicote aos ônibus que dura 381 dias. As pessoas enfrentam
quilômetros para chegar ao trabalho.
Elas pegam carona com
estranhos. Elas mudam o curso da história dos Estados Unidos. Muitos
poderiam imaginar Rosa Parks como uma mulher imponente, com
temperamento ousado, alguém que pudesse se impor ante um ônibus
cheio de passageiros mal-encarados.
Mas quando ela morreu em 2005, aos 92
anos, a enxurrada de obituários a apresentou como uma senhora de
baixa estatura, “doce e de fala mansa”. Os textos diziam que ela
era “tímida e reservada”, mas tinha a “coragem de uma leoa”.
Estavam repletos de frases como “humildade radical” e “bravura
quieta”. O que significa ser quieto e ter bravura?
Como é possível
ser tímido e corajoso? A própria Rosa parecia ciente desse
paradoxo, chamando sua autobiografia de Quiet strength (Força
silenciosa) – um título que nos desafia a questionar ideias
preestabelecidas. Afinal, por que o quieto não deveria ser forte?
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