segunda-feira, 23 de julho de 2012

Quietos sim. E daí?_3/8


Por Susan Cain – Escritora e Consultora empresarial formada em direito pelas Universidades de princeton e Harvard. Este artigo foi adaptado do original “O Poder dos Quietos” (Agir, 2012) com a autorização da Editora.

Da revista Mente & Cérebro n° 233, Junho/2012


A mulher que ousou dizer não

Montgromery, Alabama, Estados Unidos. Primeiro de dezembro de 1955. Começo da noite. Um ônibus para no ponto e uma mulher de uns 40 anos, cuidadosamente vestida, sobe nele. Ela anda de coluna ereta, apesar de ter passado o dia trabalhando no porão sombrio da alfaiataria da loja de departamentos da cidade. Seus pés estão inchados e os ombros doem. Ela se senta na primeira fileira de bancos reservado aos negros e assiste quieta ao ônibus encher-se de passageiros, até que o motorista ordena que ela ceda o lugar a um homem branco.

A mulher pronuncia uma única palavra que deslancha um dos mais importantes protestos pelos direitos civis do século 20, uma palavra que ajuda os Estados Unidos a se tornar um país melhor. A palavra é “não”.

O motorista ameaça mandar prendê-la. “Você pode fazer isso”, disse Rosa Parks. Um policial que acabara de chegar pergunta a ela por que não se levanta. “Por que vocês nos humilham?”, responde, simplesmente. “Não sei, mas a lei é a lei e você está presa.”

Na tarde de seu julgamento e condenação por atentado à ordem pública, a Associação para o Desenvolvimento de Montgromery promoveu um protesto a favor de Rosa na Igreja Batista de Holt Street, na parte mais pobre da cidade. Cinco mil pessoas se reuniram para apoiar o solitário ato de coragem daquela mulher. Elas se espremeram dentro da igreja até que os bancos não fossem mais suficientes. O resto esperou pacientemente do lado de fora, ouvindo através de alto-falantes. O reverendo Martin Luther KING Jr. Dirigiu-se à multidão: “Chega uma hora em que as pessoas ficam cansadas de serem empurradas para fora do brilho do sol de julho e de serem abandonadas em meio ao penetrante frio de uma montanha em novembro”.

Ele elogia a coragem de Rosa e a abraça. A mulher fica de pé em silêncio; apenas sua presença é o bastante para animar a multidão. A associação lança na cidade um boicote aos ônibus que dura 381 dias. As pessoas enfrentam quilômetros para chegar ao trabalho. 

Elas pegam carona com estranhos. Elas mudam o curso da história dos Estados Unidos. Muitos poderiam imaginar Rosa Parks como uma mulher imponente, com temperamento ousado, alguém que pudesse se impor ante um ônibus cheio de passageiros mal-encarados.

Mas quando ela morreu em 2005, aos 92 anos, a enxurrada de obituários a apresentou como uma senhora de baixa estatura, “doce e de fala mansa”. Os textos diziam que ela era “tímida e reservada”, mas tinha a “coragem de uma leoa”. Estavam repletos de frases como “humildade radical” e “bravura quieta”. O que significa ser quieto e ter bravura? 

Como é possível ser tímido e corajoso? A própria Rosa parecia ciente desse paradoxo, chamando sua autobiografia de Quiet strength (Força silenciosa) – um título que nos desafia a questionar ideias preestabelecidas. Afinal, por que o quieto não deveria ser forte?

Nenhum comentário:

Postar um comentário