Por Susan Cain – Escritora
e Consultora empresarial formada em direito pelas Universidades de
princeton e Harvard. Este artigo foi adaptado do original “O Poder
dos Quietos” (Agir, 2012) com a autorização da Editora.
Da revista Mente &
Cérebro n° 233, Junho/2012
Coisa demais para o cérebro
resolver
Há alguns anos, o neurocientista
Matthew Lieberman, na época um aluno de pós-graduação em Harvard,
propôs o seguinte experimento: 32 pares de introvertidos e
extrovertidos, todos desconhecidos uns dos outros, conversaram por
alguns minutos ao telefone. Quando desligavam, pedia-se que
preenchessem questionários detalhados, avaliando como haviam se
sentido e se comportado durante o diálogo. “O quanto você gostou
de seu parceiro?” “O quanto você foi amigável?” “O quanto
gostaria de interagir com essa pessoas novamente?”. Também foi
pedido que os voluntários se colocassem “na pele” de seus
parceiros de conversa: “O quanto acha que ele gostou de você?”,
“O quanto ele foi sensível a você?”, “Quão encorajador lhe
pareceu?”.
Lieberman e seus colaboradores
compararam as respostas e ouviram os diálogos e fizeram seus
próprios julgamentos a respeito de quanto os participantes se
sentiam um em relação ao outro . Eles descobriram que os
extrovertidos eram muito mais preciosos do que os introvertidos em
perceber se seus parceiros haviam gostado de falar com eles.
Essas
descobertas sugerem que pessoas com esse traço são mais eficientes
em decodificar pistas sócias do que os introvertidos. Em um primeiro
momento, isso não pareceu surpreendente, já que prevalece a
hipótese popular de que extrovertidos são melhores na leitura de
situações sociais. Por meio de um desdobramento de sua
experiência,a porém, Lieberman mostrou que essa hipótese não está
correta.
O neurocientista e sua equipe pediram a
um grupo de pessoas que ouvissem as gravações das conversas que
haviam acabado de ter – antes de preencher um questionário. Eles
descobriram que nesse grupo não havia diferença entre introvertidos
e extrovertidos em sua habilidade de ler pistas sociais . Por quê? A
resposta é que os indivíduos que ouviram as gravações puderam
decodificar pistas sociais sem ter de fazer mais nada ao mesmo tempo.
Mais: introvertidos são decodificadores bastante bons, até melhores
que os extrovertidos. Mas esses estudos mediam quão bem os mais
retraídos observam dinâmicas sociais – e não quanto se envolvem
nelas, já que isso impõe demandas ao cérebro muito diferentes das
exigidas na observação. Participar requer uma espécie de
cumprimento mental de várias tarefas ao mesmo tempo: a capacidade de
processar muitas informações de curto praz de umas só vez sem se
distrair ou se estressar demais. Esse é o tipo de funcionamento
neurológico no qual extrovertidos geralmente têm facilidade.
Considere que a mais simples interação
social, mesmo entre duas pessoas, requer a realização de uma
impressionante quantidade de tarefas: interpretar o que o outro está
dizendo; interpretar sua linguagem corporal e as expressões faciais;
sutilmente se revezar entre falar e ouvir; responder ao que a outra
pessoa disse; perceber se está sendo compreendido; determinar se é
bem recebido e, se não, encontrar uma forma de melhorar a situação
ou retirar-se dela. Pense no que é necessário para processar tudo
isso de uma só vez! E isso numa conversa com uma só pessoa. Agora
pense na quantidade de tarefas simultâneas que é necessária em uma
configuração de grupo. Por isso, quando introvertidos assumem o
papel de observadores, escrevem romances ou se atêm a uma teoria,
por exemplo, não estão demonstrando falta de vontade e ou de
energia – simplesmente estão fazendo o que sua constituição
manda.
Para Saber Mais.
O Poder dos Quietos – Como os tímidos
e introvertidos podem mudar os mundo que não pára de falar. Susan
Cain. Agir, 2012
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